segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Boas Novas, WAGGONER, Cap. 6, A Glória da Cruz


É provável que o leitor apressado chegue à conclusão que existe uma divisão natural entre o quinto e sexto capítulo, de tal um modo que a última parte se refere a aspectos práticos da vida espiritual, enquanto o primeiro expõe doutrinas teóricas. É um grande erro. Nada na Bíblia é mera teoria; tudo é ação. Não há na Bíblia qualquer coisa que não seja profundamente espiritual e prático. Ao mesmo tempo, tudo é doutrina. Doutrina significa ensino. O que conhecemos por “Sermão” do Monte é de fato pura doutrina, já que abrindo sua boca lhes ensinava, dizendo...” Alguns parecem sentir uma tipo de desprezo pela doutrina. Se referem a ela com leviandade, como se pertencesse ao reino da teologia especulativa e fixasse um contraste com o prático e diário. Os tais desonram sem conhecer a pregação de Cristo, que era pura doutrina, posto que Jesus sempre ensinou às pessoas. Toda a verdadeira doutrina é intensamente prática; é dado ao homem com o único propósito de que a ponha em prática.
A confusão precedente se deve a uma eleição questionável das condições. O que alguns chamam de doutrina, e que tacham – com razão – de não prática, não é de fato nenhuma doutrina, mas sim sermão vulgar. Não há no evangelho nenhum lugar para ele. Nenhum verdadeiro pregador do evangelho dará jamais “um sermão”. Se faz isto é porque decidiu fazer alguma coisa diferente do que pregar o evangelho durante algum tempo. Cristo nunca pregou sermões. O que fazia era oferecer doutrina a seus ouvintes, ensinar-lhes. E “todo aquele que prevarica, e não permanece na doutrina de Cristo, não tem a Deus. E o que permanece na doutrina de Cristo, tem o Pai e o Filho” (2 João 9). Assim, o evangelho é todo ele doutrina, é instrução que vem da vida de Cristo.
A última seção da epístola revela seu objetivo claramente. É não prover o material apropriado para a controvérsia, mas pôr um fim, levando os leitores a submeter-se ao Espírito. O propósito é restabelecer os que estão pecando contra Deus, enquanto eles tentam serví-lo por seu próprio e defeituoso modo, e os levar a serví-lo verdadeiramente, em novidade de Espírito. O argumento da seção precedente da epístola gira ao redor da verificação de que só é possível escapar das obras da carne (que é pecado), por meio da circuncisão da cruz de Cristo: servindo a Deus no Espírito, e não pondo a confiança na carne.
1 Irmãos, se alguém algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.
Quando os homens começam a fazer-se justos a si mesmos, o orgulho, a jactância e o espírito de crítica os levam à disputa aberta. Aconteceu deste modo aos gálatas, e acontecerá deste modo sempre. Não poderia ser de outra maneira. Cada indivíduo tem sua própria concepção da lei, a fim de ser ele mesmo o juiz. Não pode evitar examinar os irmãos tanto quanto a si e conferir se eles alcançam a altura devida, de acordo com sua medida. Se seus olhos críticos descobrem um que não caminha de acordo com a regra, cai imediatamente sobre o ofensor. Os que estão cheios de justiça própria se levantam em guardar a seus irmãos até o ponto de mantê-los distante de sua companhia, para não contaminar-se entrando em contato com eles. Em contraste marcado com este espírito, tão comum na igreja, achamos a exortação com que o capítulo começa. Em vez de ir à caça de faltas para condenar, temos que ir em busca de pecadores para salvar.
Deus disse a Caim: “Se fizeres certo, não serás aceito? Mas se não trabalhares bem, o pecado está à porta para dominar-te. Mas tu deves dominá-lo” (Gên. 4:7). O pecado é uma besta selvagem que se esconde, esperando a menor oportunidade para atacar e vencer ao descuidado. É mais forte que nós, mas fomos dotados de poder para o dominar. “Não reine o pecado em vosso corpo mortal” (Rom. 6:12). Porém, é possível (não necessário) que conquiste até o mais cuidadoso. “Meus filhos, isto lhes escrevo para que não pequeis. Mas se alguém pecar, temos advogado perante o Pai, Jesus Cristo o Justo. Ele é a vítima por nossos pecados. E não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro” (1 João 2:1 e 2). Deste modo, embora a pessoa possa tropeçar, é restabelecida; não é rejeitada.
O Senhor apresenta o trabalho por meio do pastor que procura a ovelha que se perdeu. O trabalho do evangelho tem uma natureza individual. Até mesmo pela pregação do evangelho milhares podem aceitá-lo em um só dia, o sucesso depende de seu efeito no coração de cada pessoa. Quando o pregador que fala a milhares chega individualmente a cada um deles, está fazendo o trabalho de Cristo. Deste modo, se alguém cai em uma falta, restabeleça-o com espírito de mansidão. Não há tempo que possa ser tão precioso, embora se considere desperdiçado, que o dedicado para salvar ainda que uma única pessoa. Algumas das verdades mais importantes e gloriosas das Escrituras, foram comunicadas por Cristo a uma única alma. O que se esforça procurando a ovelha solitária do rebanho, é um bom pastor.
"Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, e não atribuindo aos homens seus pecados. E nos encarregou a palavra da reconciliação” (2 Cor. 5:19). “Ele mesmo levou nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro” (1 Ped. 2:24). Não nos imputou nossos pecados, mas o levou todos eles em si mesmo. “A calma aplaca a ira” (Prov. 15:1). Cristo vem a nós com palavras de carinho para ganhar nosso coração. Nos chama para que nos acheguemos a Ele e achemos descanso, de forma que trocamos nosso jugo amargo de escravidão para o jugo fácil de sua carga leve.
Todos os cristãos são um em Cristo, o Representante do homem. Então, “como ele é, assim somos nós neste mundo” (1 João 4:17). Cristo estava neste mundo como um exemplo do que os homens deveriam ser, e do que os verdadeiros seguidores são quando se consagram a Ele. Diz aos seus discípulos: “Como me enviou o Pai, igualmente eu também vos envio” (João 20:21). É com este objetivo que os reveste de seu próprio poder por meio do Espírito. “Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (João 3:17). Então, não nos envia a condenar, mas a salvar. Daí a repreensão: “Se alguém tem caído em alguma falta... restaurai-o”. O âmbito da exortação não se reduz aos que nos associamos na igreja. Nos envia como embaixadores de Cristo de forma que roguemos a todo homem que se reconcilie com Deus (2 Cor. 5:20). Nenhuma outra ocupação no céu ou na terra comporta uma honra maior que a de ser embaixador de Cristo, e é de fato essa tarefa que é dada até ao mais insignificante e rejeitado pecador que se reconcilia com Deus.
" Vós que sois espirituais”
Só para estes é recomendada a restauração dos que caíram. Nenhum outro pode fazer isto. O Espírito Santo há de falar por meio dos que têm que repreender e corrigir. É o mesmo trabalho de Cristo, e é somente pelo poder do Espírito que alguém pode ser sua testemunha.
Mas isto, talvez, não seja um ato da maior presunção, que alguém possa restabelecer um irmão? Não equivale pretender que esse alguém é espiritual?
Verdadeiramente não é uma questão banal o estar em lugar de Cristo, perante o homem caído. O plano de Deus é que cada um se cuide: “Cuidando para que você também não seja tentado”. A regra que aqui é exposta é calculada para produzir um reavivamento na igreja. Assim que alguém caia em alguma falta, o dever de cada um não é ir espalhar a notícia, nem mesmo ir diretamente para o que caiu, mas perguntar-se à si mesmo: 'Como estou eu? Qual é minha situação? Acaso não sou culpado, se não da mesma falta, talvez de alguma outra igualmente reprovável? Não poderia ser que alguma falta em mim haja levado à sua falta? Estou andando no Espírito, de forma que possa reestabelecê-lo, em vez de afastá-lo ainda mais?' Isso resultaria em uma reforma completa na igreja, e bem poderia acontecer que quando os demais houvessem chegado à condição na qual possam ir ao que caiu, este tenha já escapado da armadilha do diabo.
Com relação à forma de tentar ao que caiu em transgressão (Mat. 18:15-18), Jesus disse: “Eu asseguro que tudo aquilo que ligares na terra, terá sido ligado no céu; e tudo aquilo que desligares na terra, será desligado no céu” (vers. 18). Significa que Deus se submete a qualquer decisão que uma reunião de crentes, que se considere sua igreja, possa tomar? Certamente que não. Nada que seja feito na terra pode mudar a vontade de Deus. A história da igreja nos dois mil anos passados, é um monte de erros e absurdos, uma carreira de exaltação própria e de pôr o eu no lugar de Deus.
Que quis dizer então Cristo com isso? Exatamente o que disse. Que a igreja tem que ser espiritual, cheia do espírito de mansidão; e que cada um, quando falando, tem que fazê-lo como porta-voz de Deus. Apenas palavra de Cristo deve estar no coração e na boca daquele que tenha de tratar com o transgressor. Quando assim acontece, dado que a palavra de Deus sempre é estabelecida nos céus, resulta que tudo aquilo que você ligar na terra “terá sido ligado no céu”. Mas isso não acontecerá a menos que seja seguindo a Escritura estritamente, na letra e no espírito.
2 Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo.
A “Lei de Cristo” se cumpre quando cada um leva a carga do outro, como a lei da vida de Cristo é levar cargas. “Levou ele mesmo nossas enfermidades, e carregou nossas doenças”. Todo aquele que queira cumprir sua lei há de continuar a mesma obra em favor dos cansados e abatidos.
"Pelo que convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos... Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados” (Heb. 2:17 e 18). Ele sabe o que é ser tentado penosamente, e sabe também como vencer. Ainda que “não conheceu pecado”, foi feito pecado por nós de forma que nos pode fazer justiça de Deus nEle (2 Cor. 5:21). Tomou cada um dos nossos pecados e os apresentou perante Deus como se fossem seus.
E é assim que vem a nós. Em vez de nos recriminar por nossos pecados, nos abre o coração e nos faz saber quanto sofreu com a mesma angústia, dor, pena e vergonha. Ganha com isto nossa confiança. Sabendo que Ele passou pela mesma experiência, que esteve prostrado nas mesmas dificuldades, prepara-nos para o ouvir quando nos apresenta a via de escape. Sabemos que fala por experiência.
Portanto, o mais importante ao resgatar pecadores, é mostrar que somos um com eles. É mostrando nossas próprias faltas que salvamos a outro. O que se sente sem pecado, não é certamente o que poderá restabelecer o pecador. Se você diz a alguém que caiu em transgressão: 'Como você pôde fazer uma coisa destas? Eu nunca fiz qualquer coisa semelhança em toda minha vida! Eu não entendo como alguém com o mínimo de respeito próprio pôde cair nisso!', se você fala deste modo a ele, você teria feito melhor ficando em casa. Deus escolheu um fariseu, e só a um, para ser seu apóstolo. E não foi enviado até não ter-se reconhecido como o principal entre os pecadores.
É humilhante confessar o pecado, mas o caminho da salvação é o caminho da cruz. É só mediante a cruz que Cristo pode ser o Salvador dos pecadores. Então, se temos que compartilhar a alegria, temos que também sofrer a cruz com Ele “menosprezando a vergonha”. Lembre-se: É somente confessando nossos próprios pecados que podemos salvar a outros de seus próprios pecados. Só assim podemos lhes mostrar o caminho da salvação. O que confessa seus pecados é o único que obtém purificação deles, podendo assim dirigir outros à Fonte.
3 Porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo.
4 Mas prove cada um a sua própria obra, e terá gloria apenas em si mesmo, e não noutro.
Note as palavras: “não sendo nada”. Não diz que nós não deveríamos acreditar tanto em algo que não tenhamos chegado a ser. Pelo contrário, é a verificação plena de um fato: que nós não somos nada. Não só um único indivíduo; também todas as nações reunidas, são nada perante o Senhor. Sempre que acreditamos que somos algo, estaremos nos enganando a nós mesmos. E fazemos frequentemente isto, em detrimento do trabalho do Senhor.
Você se lembra da “Lei de Cristo”? Embora Ele tudo fosse, “se despojou de si mesmo” de forma que pudesse ser feita a vontade de Deus. “O servo não é maior que o seu senhor” (João 13:16). Só Deus é grande. “Certamente é vaidade completa todo o homem que vive” (Sal. 39:5). Deus sempre é verdadeiro, embora “todo homem seja mentiroso” (Rom. 3:4). Quando reconhecemos o anterior, e vivemos conscientes dele, nos colocamos na situação na qual o Espírito Santo pode alcançar-nos, tornando possível que Deus trabalhe por nós. O “homem de pecado” é quem se exalta (2 Tes. 2:3 e 4). O filho de Deus é o que se humilha.
5 Porque cada qual levará a sua própria carga.
Se contradiz o versículo dois? De modo nenhum. A Escritura nos fala que levemos cada um a carga do outro, não que lancemos as nossas neles!” “Lança sobre o Eterno tua carga" (Sal 55:22). Cada um tem que pôr a carga sobre o Senhor. Ele leva a carga da humanidade inteira, não em massa, mas individualmente. Não colocamos nossas cargas nEle, juntando em nossas mãos ou em nossa mente, e os lançando para Alguém distante de nós. Deste modo é impossível. Muitos tem procurado desta forma ser libertado de sua carga de pecado, dor, angústia e castigo, sem conseguir. Voltavam a senti-la pairando cada vez mais pesada sobre eles, até deixa-los às portas do desespero. Onde estava o problema? Olharam a Cristo como alguém distante, e pensaram que correspondia a eles estender a ponte sobre o abismo. Mas isso não é possível. O homem (quando ainda éramos fracos) não pode tirar de si a carga, nem na distância pequena dos próprios braços. Por muito tempo mantivemos o Senhor afastado, embora só na longitude de nossos braços, privando-nos do descanso da pesada carga. É somente quando reconhecemos e confessamos que nada somos, e desaparecendo em nossa insignificância – deixando de nos enganarmos a nós mesmos –, é então quando Lhe permitimos levar nossa carga. Cristo sabe como manejá-la. E levando seu jugo, aprendemos dEle como levar as cargas de outros.
O que há, então, no propósito de levar nossa própria carga? É “o poder que opera em nós” que a leva! ”Com Cristo estou crucificado, e já não vivo eu, mas Cristo vive em mim” (Gál. 2:20). Trata-se de mim; mas não eu, se não Ele.
Aprendi o segredo! Não cansarei a qualquer outro fazendo-lhe participante de minha carga pesada, mas eu mesmo a levarei; mas não eu, e sim, Cristo em mim. Há muitos no mundo que ainda não aprenderam esta lição de Cristo, todo o filho de Deus achará ocasião de tomar as cargas de algum outro. A sua própria, confiará ao Senhor. Não é maravilhoso que “aquele que é poderoso” leve sempre nossa carga?
Aprendemos essa lição na vida de Cristo. Andava fazendo o bem porque Deus estava com Ele. Consolou aos tristes, curou os de coração quebrantado, libertou os que foram oprimidos pelo diabo. Nem um só dos que foram a Ele levando seus sofrimentos e enfermidades saíram sem alívio. “Assim se cumpriu o que disse o profeta Isaías: ‘Ele mesmo tomou nossas enfermidades e levou nossas dores’ ” (Mat. 8:17).
E depois, quando à noite as multidões se colocavam no leito, Jesus procurava as montanhas ou a floresta, para que em comunhão com o Pai (para quem vivia) pudesse obter provisão renovada de vida e força para sua própria alma. “Cada um examine seu próprio trabalho”. “Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados” (2 Cor. 13:5). “Porque embora crucificado em fraqueza, vive pelo poder de Deus. Também nós somos fracos, mas pelo poder de Deus, viveremos com ele pelo poder de Deus em vós” (vers. 4). Deste modo, se nossa fé prova que Cristo está em nós (e a fé demonstra a realidade do fato), teremos do que nos alegrar perante nós, e não ante outro. Nos alegramos em Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, e nosso gozo não depende de qualquer outra pessoa no mundo. Mesmo que todos desanimem e caiam, resistiremos, uma vez que “o fundamento de Deus permanece firme” (2 Tim. 2:19).
Então, que ninguém que se tem por cristão conforme-se em apoiar-se em algum outro. Embora sejas o mais fraco entre o fracos, sempre sejas um carregador de cargas, um obreiro juntamente com Deus, levando em Cristo sua própria carga e a de seu próximo, sem reclamações nem impaciência. Pode inclusive descobrir algumas das cargas pelas que seu irmão não expresse lamento algum, e também levá-las. E a mesma coisa pode fazer o outro. O fraco então, se regozijará assim: “Minha força e minha canção é o Eterno, o Senhor, que tem sido minha salvação” (Isa. 12:2).
6 E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui.
Sem dúvida alguma isso se refere principalmente aos recursos temporais. Se um homem se dedica inteiramente ao ministério da Palavra, é evidente que as coisas necessárias para sua manutenção devem vir daqueles a quem ensina. Agora então, o significado da exortação não se esgota aí. Quem recebe instrução na Palavra, deve compartilhar com o instrutor “em todas as coisas boas”. O tópico do capítulo presente é a ajuda mútua. “Levando cada um as cargas do outro”. Também aquele que instrui aos demais, e recebe deles o alimento material, tem que usar o dinheiro para assistir outros. Cristo e os apóstolos, que não possuíam nada – posto que Cristo era o mais pobre entre o pobres - e os discípulos, tinham deixado tudo para o seguir –, assistiram aos pobres com seus recursos minúsculos (João 13:29).
Quando os discípulos propuseram a Jesus que despedisse as multidões de forma que elas mesmas pudessem se prover, Ele respondeu: “Eles não precisam partir. Dai-lhes vós de comer” (Mat. 14:16). Jesus não estava brincando. Quis dizer o que disse de fato. Sabia que os discípulos não tinham nada que dar às pessoas, mas tinham tanto quanto Ele tinha. Eles não entenderam o poder das palavras, então, Ele mesmo tomou os pãezinhos e os deu aos discípulos, de forma que eles deram de comer aos famintos. Mas as palavras que lhes dirigiu significam que deveriam fazer exatamente como Ele. Quantas vezes nossa falta de fé na palavra de Cristo nos privou de trabalhar o bem e compartilhar o que temos. E é uma pena, porque “tais sacrifícios agradam a Deus” (Heb. 13:16).
Visto que quem ensina não somente compartilha a Palavra, mas também coopera com o apoio material; de um mesmo modo, os que recebem o ensino da palavra não deveriam limitar a liberalidade somente para as coisas temporárias. É um erro a suposição que os ministros do evangelho não estão nunca em necessidade de refrigério espiritual, ou que eles não podem receber isto até do mais fraco no rebanho. É impossível descrever até que ponto provêem encorajamento para a alma do instrutor os testemunhos de gozo e fé no Senhor dado pelos que recebem a Palavra. Não se trata de simples verificação que seu trabalho não foi em vão. Pode muito bem ser que o testemunho não contenha referências imediatas ao que foi dado, mas o alegre e humilde testemunho do que Deus tem feito pelo ouvinte, influenciará positivamente o instrutor, e frequentemente redundará no fortalecimento de centenas de almas.
7 Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.
8 Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.
Não é possível expressar com mais clareza essa declaração de princípios. A colheita, que será feita no fim do mundo, revelará se a semente era trigo ou joio (discórdia). “Semeai para vós segundo a justiça, colhei conforme o amor, preparai para vós um terreno novo: é tempo de procurar a Iahweh, até que ele venha e faça chover a justiça sobre vós” (Oséias 10:12, Bíblia de Jerusalém). “O que confia em seu próprio coração é louco” (Prov. 28:26). A mesma coisa é necessária dizer de quem confia em outros homens, como se deduz do verso 13 de Oséias 10: “Arastes impiedade, colhestes iniquidade. Tú comerás o fruto da mentira, porque confiaste em tua própria força, na multidão de seus próprios guerreiros”. “Maldito o que confia no homem, e que se apóia na carne”, seja a sua própria ou de algum outro homem. “Bendito o que confia no Eterno, e põe sua esperança Nele” (Jer. 17:5, 7).
Todo o que perdura vem do Espírito. A carne está corrompida, e é fonte de corrupção. Quem consulta nada mais que sua própria conveniência, obedecendo aos desejos da carne e da mente, apanhará uma colheita de corrupção e morte. “O espírito é vida por causa da justiça” (Rom. 8:10, Bíblia de Jerusalém), e o que consulta só a mente do Espírito, colherá eterna glória. “Se vives conforme a carne, morrereis. Mas se pelo Espírito deres morte às obras da carne, vivereis” (Rom. 8:13). Maravilhoso! Se vivemos, morremos; e se morremos, vivemos. Este é testemunho de Jesus: “O que quiser salvar sua vida, a perderá; e o que perde sua vida por causa de mim, a achará” (Mat. 16:25).
Isso não equivale a perda da alegria no presente. Não implica contínua depravação e penúria, a carência de algo que desejamos, com o propósito de obter outra coisa. Não significa que a existência presente deva ser uma morte em vida, uma agonia lenta. Longe disto! Isso é uma concepção errônea e falsa da vida cristã: uma vida que mais seria chamar morte. Não; todo o que vem a Cristo e bebe do Espírito, tem “nele uma fonte de água, que brota para a vida eterna” (João 4:14). A alegria da eternidade é agora dele. Seu gozo é completo dia após dia. É “plenamente saciado da plenitude de sua casa” (Sal. 36:8), bebendo do manancial do próprio deleite de Deus. Possui tudo, aquele que deseja, uma vez que o coração clama somente por Deus, e em quem mora toda a plenitude. Uma vez acreditara estar descobrindo a vida, mas agora sabe que de fato não estava fazendo mais que olhar para a tumba, para o sepulcro da corrupção. Agora é quando realmente começa a viver, e a alegria da nova vida é inefável e gloriosa”, de forma que canta:
A terna voz do Salvador
Nos fala comovida.
Ouça o Médico de amor,
aquele dá aos mortos vida.
Nunca os homens cantarão,
nunca os anjos em luz
nota mas doce entoarão
que o nome de Jesus.
(P. Castro, #124)
Um exército sagaz sempre tenta bater as posições inimigas de maior valor estratégico. Deste modo se esconde uma promessa significativa para os crentes, Satanás a distorce, transformando-a em motivo de desânimo. Muitos podem querer pretender que a palavra “O que semeia para sua carne, da carne colherá corrupção”, significa que, até mesmo depois de ter nascido do Espírito, devem continuar sofrendo as consequências de sua vida anterior de pecado. Alguns acabam supondo que até mesmo na eternidade eles levarão as cicatrizes dos pecados antigos e lamentando-se em palavras como estas: ‘Nunca poderei ser o que deveria ter sido se nunca tivesse pecado’.
Que calúnia da graça de Deus, e da redenção em Cristo Jesus! Não é essa a liberdade na qual Cristo nos faz livres. A exortação diz: “Como também você oferecia seus membros a impurezas e a iniquidade, apresente agora vossos membros para servir a justiça que conduz à santidade” (Rom. 6:19). Se o que sofre de tal modo a justiça, sempre deve estar limitado por causa dos hábitos ruins do passado, seria demonstrado que o poder da justiça é inferior ao do pecado. Mas a graça de Deus é tão poderosa quanto os céus.
Imagine alguém que foi condenado a prisão perpétua por seus crimes. Depois de ter ficado alguns anos na prisão, é perdoado e posto em liberdade. Algum tempo depois o encontramos, e descobrimos uma bola de ferro de trinta quilos algemada a seu tornozelo por meio de uma corrente espessa, de forma que só a duras penas pode rastejar de um lugar para outro. ‘Como? O que significa isto?’, – lhe perguntamos surpresos. ‘Não te permitiram partir livre?’.
‘Oh sim!’, nos responde, ‘Sou livre, mas tenho que levar esta bola como lembrança de meus crimes passados”.
Toda pregação inspirada pelo Espírito Santo é uma promessa de Deus. Uma delas, transbordando de graça, é esta: “Não te lembres dos pecados da minha mocidade, nem das minhas transgressões: mas, segundo a tua misericórdia, lembra-te de mim, por tua bondade, Senhor” (Sal. 25:7).
Quando Deus perdoa e esquece nossos pecados, nos proporciona um poder tal para escapar deles, que venhamos a ser como se nunca houvéssemos pecado. Mediante as “preciosas e grandíssimas promessas”, que nos tem dado, faz que “cheguemos a participar da natureza divina, e nos livremos da corrupção que está no mundo por causa dos maus desejos” (2 Ped. 1:4). O homem caiu quando comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal. O evangelho apresenta uma tal redenção da raça caída, que todas as negras memórias do pecado são apagadas. Os redimidos acabarão sabendo só o bem, com Cristo, que “não conheceu pecado”.
Os que semeiam para a carne, da carne colherão corrupção, como todos nós tivemos a ocasião de verificar pessoalmente. “Mas vós não viveis de acordo com a carne, mas de acordo com o Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós” (Rom. 8:9). O Espírito tem poder para nos liberar do poder da carne, e de todas as suas consequências. “Cristo amou a igreja, e se entregou a si mesmo por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra, para apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mancha nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Efe. 5:25-27). “Por suas feridas fomos sarados”. A memória do pecado, não dos pecados individuais, persistirá pela eternidade nas cicatrizes das mãos, nos pés e no lado de Cristo. Constituem o selo de nossa perfeita redenção.
9 E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecidos.
Nos cansamos muito facilmente de fazer o bem, quando não olhamos à Jesus. Perdemos o descanso, porque imaginamos que a prática contínua do bem deveria ser extenuante. Mas isso só é assim porque não temos compreendido plenamente a alegria do Senhor, a força que nos impede desfalecer. “Os que esperam no Eterno terão forças novas, erguerão o vôo como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se cansarão (Isa. 40:31).
Da mesma maneira que mostra o contexto, o tópico principal simplesmente não é o resistir à tentação em nossa própria carne, mas ajudar a outros. Precisamos neste ponto aprender a lição de Cristo, que “não se cansará nem desmaiará, até que estabeleça a justiça na terra” (Isa. 42:4). Embora muitos dos que curou nunca demonstraram o mínimo agradecimento, isto não o fez mudar em qualquer coisa. Veio fazer o bem, não para oferecer-se a avaliação dos outros. Então, “de manhã, semeies a tua semente, e a tarde não permitas descansar sua mão; porque não sabes o que é melhor, se isto ou aquilo, ou se as duas coisas são boas” (Ecl. 11:6).
Não é determinado saber quanto recolheremos nós, nem qual será a semeadura a partir da qual colheremos. Uma parte dela pode ter caído a beira do caminho e sendo arrebatada antes de poder lançar raízes; outra pode cair em terra pedregosa e pode secar; e até mesmo outra pode cair entre espinhos, sendo sufocada. Mas uma coisa é certa: colheremos! Não sabemos se prosperará a semeadura de amanhã, ou o que fez pela tarde, ou se ambos o farão. Mas não existe a possibilidade que ambas fracassem. Ou prosperará uma, ou outra... Ou ambas!
Isso não é incentivo suficiente para não cansarmos de fazer o bem? A terra pode parecer pobre, e a estação pouco promissora. Os piores pronunciamentos podem ser dados para a colheita, e podemos ser tentados a pensar que todo nosso trabalho foi


Atenção:

Estão faltando traduzir, no final deste último capítulo do livro Boas Novas, de Ellet J. Waggoner da páginas 135, no meio da página, até à página 144.

Nesta última página do livro (144), Waggoner termina o livro com um poema de autor desconhecido 

"Na cruz de Cristo eu me glorio,
Elevando-me por sobre os destroços do tempo;
Toda a luz da história sagrada
Se reúne em torno de sua cabeça sublime."

 Por isso,    
"Desde que eu, que estava destruído e perdido,
Tive perdão através do Seu nome e Palavra;
De modo nenhum, então, eu devo me gloriar,
Senão na cruz de Cristo, meu Senhor ".

Onde quer que eu vá, vou contar a história
Da cruz, da cruz,
Em nada mais a minha alma se gloriará,
Só na cruz, só na cruz.
E esse será meu constante tema,
Através do tempo e da eternidade,
Que Jesus provou a morte por mim
Na cruz, na cruz.

Autor desconhecido;
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Boas Novas, WAGGONER, Cap. 5, O Espírito Torna Fácil Ser Salvo


1 Estai pois firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão.
A relação entre o capítulo quarto e cinco é tão estreita, que custa imaginar a razão que levou a se dividir o texto nesse ponto.
A liberdade que Cristo oferece
Quando Cristo manifestou-se em carne, o trabalho dele consistiu em “proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos” (Isa. 61:1). Os milagres que realizou foram ilustrações práticas de sua obra, e bem podemos agora considerar um dos mais interessantes.
"Ensinava Jesus no sábado numa das sinagogas. E veio ali uma mulher possessa de um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; andava ela encurvada, sem de modo algum poder endireitar-se. Vendo-a Jesus, chamou-a e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade; e, impondo-lhe as mãos, ela imediatamente se endireitou e dava glória a Deus” (Luc. 13:10-13).
Quando o hipócrita dirigente da sinagoga reclamou porque Jesus tinha feito esse milagre no sábado, Ele lembrou-lhe como cada um deixava livre a seu boi ou asno no sábado, a fim de que bebessem, e acrescentou dizendo: "Por que motivo não se devia livrar do cativeiro, em dia de sábado, esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos?” (vers. 16).
Há dois aspectos dignos de menção: Satanás tinha amarrado a mulher, e esta estava “possessa de um espírito de enfermidade” que a incapacitava.
Note que esta descrição se ajusta bem à nossa condição, antes de encontrar a Cristo:
(1) Somos cativos de Satanás, estamos “cativos à vontade dele” (2 Tim. 2:26). “Todo o que comete pecado, é escravo do pecado” (João 8:34), e “o que pratica o pecado pertence ao diabo” (1 João 3:8). “Quanto ao perverso, as suas iniquidades o prenderão, e com as cordas do seu pecado será detido” (Prov. 5:22). O pecado é a cadeia com que Satanás nos amarra.
(2) Estamos possessos “de um espírito de enfermidade”, e de nenhuma maneira possuímos a força para nos endireitar, nem para libertar-nos por nós mesmos das cadeias que nos amarram. Foi “quando ainda éramos fracos” que Cristo morreu por nós (Rom. 5:6). O termo que é traduzido por fracos em Romanos 5:6 é o mesmo que é traduzido por ”enfermidade” no relato de Lucas. A mulher estava enferma ou debilitada, e essa é também a nossa condição.
Que fez Jesus por nós? Toma nossa fraqueza, e nos dá em troca sua força. “Não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas” (Heb. 4:15). “Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e levou nossas doenças” (Mat. 8:17). Ele se fez em tudo semelhante ao que nós somos, a fim de que possamos ser feitos em tudo ao que Ele é. Nasceu “debaixo da Lei para redimir os que estavam debaixo da Lei” (Gál. 4:4 e 5). Nos libertou da maldição, fazendo-se maldição por nós, para que nos fosse possível receber a bênção. Embora não conhecesse pecado, se tornou pecado por nós, “para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Cor. 5:21).
Para que Jesus livrou essa mulher de sua enfermidade? Para fazê-la caminhar em liberdade. Não foi certamente para que continuasse fazendo, por sua própria e livre vontade, as mesmas coisas que anteriormente tinha que fazer por obrigação, quando estava em seu estado de penosa escravidão. Com que propósito nos livra do pecado? Para que possamos viver livres do pecado. Devido a debilidade de nossa carne, somos incapazes de obrar a justiça da lei. Portanto, Cristo, que veio em carne, e que tem poder sobre a carne, nos fortalece. Nos provê seu poderoso Espírito para que a justiça da lei possa cumprir-se em nós. Em Cristo não andamos na carne, mas no Espírito. Não podemos saber de que maneira ele o faz. Só Ele o sabe, já que é Ele quem possui o poder. Mas nós podemos conhecer sua realidade.
Quando a mulher estava ainda presa e sem forças para endireitar-se, Jesus lhe disse: “Mulher, estás livre da tua enfermidade”. É um tempo verbal presente. Ele também diz isso à nós hoje. Proclama liberdade a todo cativo.
A mulher “andava encurvada, sem de modo algum poder endireitar-se”, porém, ela endireitou-se imediatamente ante a palavra de Cristo. Fez o que “não podia” fazer. “O que é impossível para os homens, é possível para Deus” (Luc. 18:27). “O Eterno sustém a todos os que caem, e levanta a todos os oprimidos” (Sal. 145:14). Não é a fé que produz os atos, mas ela é que reconhece o que já é um fato. Não há sequer uma só alma encurvada debaixo do peso do pecado que Satanás encadeou, que Cristo não sustenha e endireite. A liberdade lhe pertence. Simplesmente, deve fazer uso dela. Que a mensagem ressoe em todos os lugares. Que toda alma saiba que Cristo dá liberdade ao cativo. A boa nova encherá de alegria a milhares.
Cristo veio resgatar o que se havia perdido. Nos redime da maldição. Nos redimiu. Nos tem redimido. Então, a liberdade com que nos faz livres é aquela que existia antes que viesse a maldição. Ao homem foi dado o domínio sobre a terra. Não meramente ao primeiro homem criado, mas a toda a humanidade. “No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados (Gên. 5:1 e 2). “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra“ (Gên. 1:26-28). Vemos que o domínio foi dado a todo o ser humano, macho ou fêmea.
Quando Deus fez o homem, “lhe sujeitou [sob seus pés] todas as coisas” (Heb. 2:8). É certo que agora não vemos que todas as coisas são sujeitas ao homem, “vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem” (vers. 9). Jesus redime a todo homem da maldição do domínio perdido. Uma coroa implica um Reino, e a coroa de Cristo é a mesma que foi dada ao homem, quando Deus o recomendou dominar sobre a obra de suas mãos. Como homem, estando na carne, depois de haver ressuscitado e estar a ponto de ascender, Cristo declarou: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, ide” (Mat. 28:18 e 19). NEle nos é dado todo o poder que se perdeu pelo pecado.
Cristo – como homem – provou a morte para nós, e por meio da cruz nos redimiu da maldição. Se estamos crucificados com Ele, estamos igualmente ressuscitados e assentados com Ele nos lugares celestiais, com todas as coisas sob nossos pés. Se não sabemos isto, é porque não permitimos ao Espírito que nos revele. Os olhos de nosso coração têm que ser iluminados pelo Espírito, “para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos” (Efe. 1:18).
A exortação para os que morreram e ressuscitaram com Cristo, é: “Não reine o pecado em vosso corpo mortal, para obedecer a seus maus desejos” (Rom. 6:12). Em Cristo, temos autoridade sobre o pecado, de forma que não tenha qualquer domínio sobre nós.
Quando “nos libertou de nossos pecados com seu sangue ”nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai” (Apoc. 1:5 e 6). Glorioso domínio! Gloriosa liberdade! Libertação do poder da maldição, inclusive sendo rodeados dela! Libertação do presente século mau, da concupiscência da carne, da concupiscência dos olhos, e da arrogância da vida! Nem “o príncipe da potestade do ar” (Efe. 2:2), nem os “dominadores deste mundo tenebroso” (6:12) podem ter domínio algum sobre nós. É a liberdade e autoridade que teve Cristo quando ordenou: “Vai-te, Satanás” (Mat. 4:10). E o diabo o deixou imediatamente.
É uma tal liberdade que nada no céu nem na terra nos pode obrigar a proceder contra nossa eleição. Deus nunca nos obrigará, pois é quem nos dá a liberdade. E nenhum outro fora dEle pode obrigar-nos. É um poder sobre os elementos, de forma que sejam postos a nosso serviço, em vez de sermos controlados por eles. Aprenderemos a reconhecer Cristo e a cruz em todo o lugar, de forma que a maldição careça, para nós, de poder. Nossa saúde “apressadamente brotará” (Isa. 58:8), pois que a vida de Cristo se manifestará em nossa carne mortal. Uma liberdade gloriosa como nenhuma língua ou pena podem descrever.
"Permanecei, pois, firmes
"Pela palavra de Jeová foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito de sua boca”, “Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu” (Sal. 33:6, 9). A mesma palavra que criou o firmamento estrelado, nos fala assim: “Permanecei, pois, firmes”. Isto não é uma ordem que nos deixa no mesmo estado de impotência anterior, mas que leva em si mesma o cumprimento do fato. Os céus não se formaram por si mesmos, foram trazidos à existência pela palavra do Senhor. Permitamos-Lhe, pois, ser nosso instrutor. “Levantai vossos olhos para o alto, e vede quem criou estas coisas, quem criou seu exército de estrelas, quem a todas chama pelos seus nomes, por causa da grandeza de suas forças” (Isa. 40:26). “Ele dá energia ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor” (Isa. 40:29).
1 Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.
É necessário compreender que isso envolve muito mais que o simples rito da circuncisão. O Senhor fez com que esta epístola, que tanto fala da circuncisão, fosse preservada para nosso benefício, porque contém a mensagem do evangelho para todas as épocas, até mesmo se a circuncisão como rito não é em nossos dias objeto de nenhuma polêmica.
A questão é como obter a justiça – a salvação do pecado – e a herança que isto envolve. E pode ser obtida somente pela fé, recebendo a Cristo no coração e lhe permitindo viver sua vida em nós. Abraão teve essa justiça de Deus pela fé de Jesus Cristo, e Deus lhe deu a circuncisão como sinal disto. Teve para Abraão um significado muito especial, lembrava-lhe constantemente sua derrota quando tentou cumprir a promessa de Deus por meio da carne. O registro deste fato, tem para nós idêntico propósito. Mostra que “a carne nada aproveita”, e que portanto, não é necessário depender dela. Não é que estar circuncidado faria que Cristo ficasse sem proveito, porque mesmo Paulo estava, e em certo momento considerou oportuno que Timóteo fosse circuncidado (Atos 16:1-3). Mas Paulo não dava valor algum a sua circuncisão, nem para qualquer outro sinal externo (Fil. 3:4-7), e quando lhe propuseram a circuncisão de Tito como condição necessária para a salvação, não consentiu (Gál. 2:3-5).
O que devia ter sido apenas um sinal indicativo de uma realidade preexistente, foi considerado pelas gerações subsequentes como o meio para estabelecer essa realidade. Portanto, a circuncisão é erguida nesta epístola como símbolo de todo tipo de “obra” que o homem possa fazer, esperando obter assim a justiça. São “as obras da carne”, postas em contraste com o Espírito.
É estabelecida esta verdade: se uma pessoa faz algo com a esperança de ser salvo por ela, quer dizer, de obter a salvação por suas próprias obras, “de nada lhe aproveitará Cristo”. Se não se aceita a Cristo como um Redentor pleno, não o aceitamos em nada. Quer dizer, ou aceita a Cristo tal qual é, ou o rejeita. Não pode ser de outro modo. Cristo não está dividido, e não compartilha com nenhuma outra pessoa ou coisa a honra de ser Salvador. Então é fácil ver que se alguém fosse circuncidado com a intenção de ser salvo deste modo, estaria manifestando falta de fé em Cristo como o pleno e único Salvador do homem.
Deus deu a circuncisão como um sinal da fé em Cristo. Os judeus a perverteram transformando-a em um substituto da fé. Quando um judeu se gloriava em sua circuncisão, ele estava gloriando-se de sua própria justiça. Assim mostra o versículo quatro: “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei: da graça tendes caído”. Paulo não estava de modo algum depreciando a lei, mas a capacidade do homem para obedecê-la. Tão santa e gloriosa é a lei, e tão grande suas exigências que nenhum homem pode alcançar a sua perfeição. Somente em Cristo se faz a nossa justiça da lei. A verdadeira circuncisão é adorar a Deus em Espírito, alegrar-se em Jesus Cristo, e não pôr a confiança na carne (Fil. 3:3).
2 E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei.
3 Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei: da graça tendes caído.
‘Aí está!’, exclamará alguém, ‘isso demonstra que a lei é algo a evitar, já que Paulo afirma que os que são circuncidados estão obrigados a cumprir toda a lei, ao mesmo tempo que admoesta que ninguém se circuncide'.
Não tão depressa, amigo. Vejamos mais atentamente o texto. Observe o que Paulo diz, no original grego (vers. 3): “devedor é toda a lei a cumprir”. Você pode notar que o mal não é a lei, nem cumprir a lei, mas sim o estar em dívida com a lei. É importante apreciar a diferença. Ter comida e roupa é bom. Endividar-se para poder comer e vestir, é muito triste. E mais triste ainda é ter a dívida, e além disso faltar o necessário para comer e vestir.
Um devedor é aquele que deve algo. O que está em dívida com a lei, deve à justiça que a lei demanda. Então, todo aquele que está em dívida com a lei, está debaixo da maldição, “porque está escrito: 'Maldito todo aquele que não permanece em tudo o que está escrito no livro da Lei'“ (Gál. 3:10). Portanto, tentar obter justiça de qualquer outro modo que não seja pela fé em Cristo significa estar sob a maldição da dívida eterna. Está endividado pela eternidade, uma vez que não tem nada com que pagar. Porém, o fato de que seja devedor à lei – “devedor é toda a lei a cumprir” –, demonstra que deveria cumpri-la em sua totalidade. Como?: “Esta é a obra de Deus, que creiais nAquele a quem ele enviou” (João 6:29). Deixará de confiar em si mesmo e receberá e confessará a Cristo em sua carne, e então a justiça da lei se cumprirá nele, porque não andará de acordo com a carne, mas com o Espírito.
4 Porque nós pelo espírito da fé aguardamos a esperança da justiça.
Leia vários vezes este texto, mas leia-o detidamente. Não esqueça o que já estudamos a respeito da promessa do Espírito. Caso contrário, você corre o risco de equivocar seu significado.
Não suponhas que o texto significa que, tendo o Espírito, temos que esperar para obter a justiça. Não diz isso. O Espírito traz a justiça. “O espírito vive por causa da justiça” (Rom. 8:10). “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8). Todo o que recebe o Espírito, tem a convicção do pecado, e da justiça que o Espírito lhe fez ver que carece, e que somente o Espírito pode trazer-lhe.
Qual é a justiça que traz o Espírito? É a justiça da lei (Rom. 8:4). “Porque sabemos que a lei é espiritual” (Rom. 7:14).
O que há, então, sobre “a esperança da justiça” que aguardamos pelo Espírito? Note que não diz que por meio do Espírito aguardamos a justiça. O que diz é que “aguardamos a esperança da justiça que vem pela fé”, quer dizer, aguardamos a esperança que é dada ao possuirmos essa justiça. Refresquemos brevemente a memória a esse respeito:
(1) O Espírito de Deus é “o Espírito Santo da promessa”. A possessão do Espírito é o penhor ou garantia da promessa de Deus.
(2) O que Deus nos prometeu, como filhos de Abraão, foi uma herança. O Espírito Santo é a garantia daquela herança até que a possessão adquirida esteja redimida e nos seja entregue (Efe. 1:13 e 14).
(3) Essa herança prometida consiste nos novos céus e nova terra, nos quais mora a justiça (2 Ped. 3:13).
(4) O Espírito traz a justiça. É o representante de Cristo, a forma na qual Cristo, que é nossa justiça, vem morar em nossos corações (João 14:16-18).
(5) Portanto, a esperança que o Espírito traz é a esperança de uma herança no Reino de Deus, na nova terra.
(6) A justiça que o Espírito traz é a justiça da lei de Deus (Rom. 8:4; 7:14). O Espírito não a escreve em tábuas de pedra, mas em nossos corações (2 Cor. 3:3).
(7) Resumindo, podemos dizer que se em vez de crermos o suficiente para poder obedecer a lei, permitirmos que o Espírito faça morada em nosso coração e nos encha assim da justiça da lei, teremos a esperança viva em nosso interior. A esperança do Espírito – a esperança da justiça pela fé –, não contém elemento algum de incerteza. É algo positivamente seguro. Em nenhuma outra coisa há esperança. Quem não possui “a justiça que vem de Deus pela fé” (Fil. 3:9; Rom. 3:23), está privado de toda esperança. Somente Cristo em nós é “a esperança da glória” (Col. 1:27).
1 Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem virtude alguma; mas sim a fé que opera por caridade.
A palavra traduzida aqui como ”valor”, é a mesma traduzido por “poderão”, “podido” ou “puderam”, em Lucas 13:24; Atos 15:10 e 6:10, respectivamente. Em Filipenses 4:13, é traduzida a mesma palavra: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece". Então, é necessário entender o texto deste modo: 'A circuncisão não pode operar nada, nem a incircuncisão. Somente a fé que – obrando pelo amor –, pode fazê-lo'. E essa fé que obra pelo amor, se encontra somente em Jesus.
Mas o que nem a circuncisão ou a incircuncisão não podem cumprir? Nem mais, nem menos que a lei de Deus. Não está ao alcance de qualquer homem, seja qual seja o seu estado ou condição. O incircunciso carece de poder para guardar a lei, e a circuncisão em nada lhe pode ajudar a fazê-lo. Uma pessoa pode vangloriar-se de sua circuncisão, e outro de sua incircuncisão, mas ambos

Pág. 1130  A cruz é e sempre foi um símbolo de desgraça. ...
Tomar a cruz de Cristo, depender somente dEle para todas as coisas, é o que leva ao abatimento de todo orgulho humano. Os homens gostam de se sentirem independentes e autônomos. Mas pregando-se a cruz, finca manifesto que no homem não habita bem algum, e que tudo deve ser recebido como um dom, e imediatamente haverá alguém que se sinta ofendido
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Boas Novas, WAGGONER, Cap. 4, Adoção como Filhos

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1 Digo, pois, que todo o tempo em que o herdeiro é menino em nada difere do servo, ainda que seja senhor de tudo;

2 Mas está debaixo de tutores e curadores até ao tempo determinado pelo pai.

A divisão por capítulos que hoje conhecemos, é arbitrária, e custa imaginar que razão pode levar a situá-la neste caso entre o terceiro e o quarto. O capítulo anterior termina com uma afirmação a propósito de quem são os herdeiros. O capítulo quatro continua com considerações relativas a como poderemos vir a ser constituídos herdeiros.

Nos dias de Paulo, embora um menino pudesse ser herdeiro do maior dos reinos, até ter alcançado certa idade, em nada se diferenciava de um servo (ou escravo). Se não chegasse a certa idade, jamais possuiría a herança. Nesse caso, até que a herança chegasse, viveria como servo.

3 Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo,

4 Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,

5 Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.

A expressão “meninos” do versículo três, se refere a condição em que estávamos antes de receber “a adoção de filhos” (vers. 5). Representa nossa condição antes de ser redimidos da maldição da lei, ou seja, antes de nossa conversão. Se trata dos “meninos inconstantes, levados por qualquer vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente (Efe. 4:14). Em resumo: refere-se a nós em nosso estado antes da conversão, quando “vivíamos nos desejos da nossa carne... e éramos por natureza filhos da ira, igual aos demais” (Efe. 2:3).

“Quando éramos meninos”, “éramos servos debaixo dos rudimentos do mundo”. “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não são do Pai, mas do mundo. E o mundo e seus desejos passam” (1 João 2:16 e 17). A amizade do mundo é inimizade contra Deus. “Não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?” (Tiago 4:4). É “do presente século mau” que Cristo veio nos salvar. “Cuidem para ninguém vos engane por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição de homens, conforme os elementos do mundo, e não segundo Cristo” (Col. 2:8). A passagem “debaixo dos rudimentos do mundo” consiste em andar “segundo a corrente deste mundo”, viver “ao impulso dos desejos de nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos”, sendo “por natureza filhos da ira” (Efe. 2:1-3). É a mesma escravidão descrita em Gálatas 3:22-24: “Antes que chegasse a fé”, quando estávamos “confinados debaixo da lei”, encerrados “debaixo do pecado”. É a condição dos homens que estão “sem Cristo, separados da comunidade de Israel, estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo” (Efe. 2:12).

Todos podem ser herdeiros

Deus não tem descartado a raça humana. Pois ao primeiro homem criado o chamou de “filho de Deus” (Luc. 3:38), todos os homens podem ser igualmente herdeiros. “Antes que chegasse a fé”, desde que todos nos apartamos de Deus, “estávamos guardados pela Lei”, guardados por um severo vigilante, tidos em sujeição, a fim de podermos ser levados a aceitar a promessa. Que benção, que Deus concede também aos ímpios, ou a quem estiver na escravidão do pecado, como a seus filhos; filhos errantes e pródigos, mas sempre filhos, do começo ao fim! Deus tornou todos os homens “aceitos no Amado” (Efe. 1:16). O presente tempo de prova nos é dado com o propósito de nos oferecer uma oportunidade para que o conheçamos como nosso Pai, e que venhamos a ser-lhe verdadeiros filhos. A menos que retornemos a Ele, morreremos como escravos do pecado. “Quando se cumpriu o tempo”, Cristo veio. Em Romanos 5:6 encontramos uma expressão paralela: “Quando éramos fracos, a seu tempo Cristo morreu pelos ímpios”. A morte de Cristo opera a salvação tanto dos que vivem hoje como para seus contemporâneos, que viveram na Judéia, antes que se manifestasse em carne. Não teve um maior efeito nos que viveram naquela geração. Morreu uma vez por todos, mas seu impacto é o mesmo em qualquer época. “Quando se cumpriu o tempo”, se refere ao tempo no qual a profecia havia predito que se revelaria o Messias, mas a redenção é para todos os homens, em todas as épocas. Foi “conhecido ainda antes da criação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos” (1 Ped. 1:20). Se o plano de Deus houvesse sido o de se revelar em nossos dias, não haveria diferença alguma, de acordo com o propósito geral do evangelho. “Está sempre vivo” (Heb. 7:25), e sempre estará. “É o mesmo ontem, hoje e por todos os séculos” (Heb. 13:8). É “pelo Espírito eterno” que se ofereceu a si mesmo por nós (Heb. 9:14); portanto, esse sacrifício é eterno, presente e igualmente eficaz em qualquer era.

“Nascido de mulher”

Deus enviou seu Filho “nascido de mulher”: um homem autêntico. Viveu e sofreu todas as enfermidades e dores que afligem o homem. “O Verbo se fez carne” (João 1:14). Cristo sempre se referiu sempre a si mesmo como “o Filho do homem”, identificado-se assim para sempre com todo o gênero humano. Uma união que nunca será quebrada.

Sendo “nascido de mulher”, necessariamente teve que ser “nascido debaixo da Lei”, desde que essa é a condição de toda a humanidade. “Pelo que convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo” (Heb. 2:17). Tomou sobre si todas as coisas. “Levou nossas enfermidades e sofreu nossas dores” (Isa. 53:4). Tomou nossas enfermidades e levou nossas doenças” (Mat. 8:17). “Todos nós nos perdemos como ovelha, cada um se afastou por seu caminho: mas Jeová carregou nele o pecado de todos nós” (Isa. 53:6). [91] Nos redime vindo literalmente em nosso lugar, e levando a carga de nossos ombros. “Como não teve pecado, Deus o fez pecado por nós, para sermos feito justiça de Deus Nele” (2 Cor. 5:21).

No mais pleno sentido da palavra, e em um grau que raramente se pensa quando se usa a expressão, se converteu em substituto do homem. Permeia todo nosso ser, identificado-se tão completamente conosco, que tudo quanto nos toque ou afete, toca e afeta Ele. Não é nosso substituto no sentido em um homem substitui outro. No exército, por exemplo, é colocado um soldado na posição de outro que está em algum outro campo. Mas a substituição de Cristo é algo completamente diferente. É tão completamente nosso substituto que vem em nosso lugar e já não aparecemos mais. Desaparecemos, de forma que “já não vivo eu, mas Cristo vive em mim”. Coloquemos nossas necessidades nEle, não tirando-as de nós e colocando-a sobre Ele mediante penoso esforço, mas humilhando-nos no nada que realmente somos, de forma que nossa carga descanse somente nEle.

Podemos ver já a forma em que veio “redimir aos que estavam debaixo da Lei”. O faz no mais real e prático dos sentidos. Alguns supõem que essa expressão significa que Cristo livrou os judeus da necessidade de oferecer sacrifícios, ou de toda a obrigação de guardar os Mandamentos. Por si somente os judeus estavam “debaixo da lei”, então Cristo veio redimir só os judeus. Nós precisamos reconhecer que estamos – ou estivemos antes de ser crentes – “debaixo da lei”, pois Cristo veio redimir precisamente os que estavam “debaixo da lei”, e não a outros. Estar “debaixo da lei”, tal como temos visto, significa estar condenado pela lei como transgressores. Cristo não veio “chamar os justos, mas pecadores” (Mat. 9:13). Mas a lei condena exclusivamente os que estão sob sua jurisdição, e aqueles que estão sob a obrigação de obedecê-la. Considerando que Cristo nos livra da condenação da lei, é evidente que nos redime para uma vida de obediência à lei.

"A fim de que recebêssemos a adoção de filhos”

"Amados, agora já somos filhos de Deus” (1 João 3:2). “A todos que o receberam, aos que creram em seu Nome, lhes deu o direito de serem filhos de Deus” (João 1:12). É um estado radicalmente diferente do descrito em Gálatas 4:3 (“quando éramos meninos”). Naquela situação, poderia ser dito de nós “que este povo é rebelde, filhos mentirosos que não querem obedecer a Lei do Eterno” (Isa. 30:9). Ao crer em Jesus e receber “a adoção de filhos”, somos descritos como “filhos obedientes”, não conforme os maus desejos que obedecíamos em nossa ignorância (1 Ped. 1:14). Cristo disse: “Meu Deus, me deleito em fazer a tua vontade, e tua Lei está no meu coração” (Sal. 40:8). Portanto, uma vez que Ele Se fez nosso Substituto, literalmente tomando nosso lugar, não em vez de nós, mas entrando em nosso interior e vivendo Sua vida em nós e [92] por nós, conclui-se, necessariamente, que a mesma lei deve estar dentro de nossos corações quando recebemos a adoção de filhos.

6 E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.

7 Assim, já não és mais servo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo.

“Ó! quanta paz e felicidade vem com a entrada do Espírito dentro do coração, como um residente permanente, não como um mero convidado, mas como único proprietário. “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo,” de forma que “nos gloriamos nas tribulações,” tendo esperança que nunca desaponta, porque “o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado” (Rom. 5:1 a 5). Então podemos amar do modo que Deus ama; pois que partilhamos de Sua natureza divina. “O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rom. 8:16). “Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho” (1ª João 5:10).

Da mesma maneira em que há duas classes de “filhos” [ou “meninos”], também há duas classes de “servos”. Na primeira parte do capítulo se utiliza a palavra “menino” em referência aos que ainda não alcançaram “o tempo [idade] assinalado”, os que ainda não tem os sentidos exercitados para discernir o bem e o mal (Heb. 5:14). A promessa é para eles, e também “para todos os que estão distantes” (Atos 2:39), e ao aceitarem, virão a ser feitos participantes da natureza divina (2 Ped. 1:4), e portanto, verdadeiros filhos de Deus. No estado de “filhos da ira”, são servos do pecado; não de Deus. O cristão é um “servo”: um servo de Deus. Mas serve de uma forma completamente diferente daquela em que o servo do pecado serve a Satanás. O caráter do servo depende do Senhor a quem serve. Neste capítulo, se usa o termo “servo”, não referindo-se ao servo de Deus – que é em realidade filho –, mas ao servo ou escravo do pecado. Entre o escravo do pecado e o filho de Deus, há uma diferença abismal. O escravo não pode possuir nada, e carece de domínio sobre si mesmo. Essa é sua característica distintiva. Ao filho nascido livre, ao contrário, lhe é dado domínio sobre toda a criação como no princípio, levando em conta a vitória que obteve em si mesmo. “Melhor é o longânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espírito, do que aquele que toma uma cidade” (Prov. 16:32).

Quando o filho pródigo vagava longe da casa paterna, em nada diferia de um servo. Era em verdade um servo, encarregado das tarefas mais rotineiras e servis. Estava nessa condição quando decidiu retornar à casa do pai, sentindo-se indigno de melhor trato que o de um servo. Mas o pai avistou-o quando ainda estava distante, e correu a buscá-lo, recebendo-o como filho, e portanto, herdeiro, embora tivesse perdido todo o direito à herança. Do mesmo modo, perdemos todo o direito de sermos chamados filhos, desperdiçamos a herança. Porém, em Cristo, Deus nos recebe verdadeiramente como filhos, e nos dá os mesmos direitos e privilégios que tem Cristo. Embora Cristo esteja agora no céu, a direita de Deus, “sobre todo principado, autoridade, poder e domínio, e sobre tudo quanto tem nome, não só neste século, mas também no vindouro” (Efe. 1:20 e 21), não tem nada que não compartilha conosco, porque “...Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Efe. 2:4-6). Cristo é um conosco em nosso sofrimento, afim de que possamos ser um com Ele em sua glória. “Exaltou os humildes” (Luc. 1:52). “Levanta o pobre do pó e, desde o monturo, exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor são as colunas da terra, e assentou sobre elas o mundo” (1 Sam. 2:8). Nenhum rei na terra possui riquezas nem poder comparável ao do mais pobre mortal que reconhece o Senhor como seu Pai.

8 Mas, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses.

Escrevendo aos coríntios, o apóstolo Paulo disse: “Sabeis que, outrora, quando éreis gentios, deixáveis conduzir-vos aos ídolos mudos, segundo éreis guiados” (1 Cor. 12:2). O mesmo era válido aos gálatas: tinham sido pagãos, adoradores de ídolos, e escravos das mais degradantes superstições. Lembre-se que essa escravidão é a mesma que estudamos no capítulo precedente: a escravidão de estar encerrados “debaixo da lei”. É nesta escravidão que se encontra todo inconverso. No segundo e terceiro capítulo de Romanos lemos que “não há diferença, pois todos pecaram”. Os judeus mesmo, que não conheceram o Senhor por experiência pessoal, estavam nessa escravidão: a escravidão do pecado. “Todo o que comete pecado, é escravo do pecado” (João 8:34). “O que pratica o pecado pertence ao diabo” (1 João 3:8). “O que os pagãos sacrificam, sacrificam aos demônios, e não a Deus” (1 Cor. 10:20). O que não é cristão, é pagão, não há meio termo. Quando o Cristão apostata, se converte em pagão.

Nós mesmos andávamos “seguindo a corrente deste mundo, de acordo com o príncipe da potestade do ar, o espírito que agora opera nos filhos da desobediência” (Efe. 2:2). “Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros” (Tito 3:3). Também nós, “em outro tempo, quando não [conhecíamos ] a Deus, [servíamos] aos que por natureza não são deuses”. Quanto mais cruel o amo, mais opressiva é a escravidão. Que linguagem pode descrever o horror de ser escravos da própria corrupção?[corrupção em pessoa, personalizada por Satanás].

9 Mas, agora, conhecendo a Deus, ou antes, sendo conhecidos de Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?

Não é surpreendente que os homens prefiram continuar encarcerados? Cristo veio “proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos” (Isa. 61:1), dizendo aos prisioneiros: “‘Saí', e aos que estão em escuridão: 'Aparecei’” (Isa. 49:9). Mas alguns dos que ouviram essas palavras, havendo sido libertados, tendo visto a luz do Sol de justiça e tendo gostado das delícias da liberdade, eles preferem regressar à prisão. Desejam sentir o aperto das cadeias novamente, e escolhem o trabalho extenuante na mina do pecado. Uma cena nada excitante, certamente. O homem é capaz de mostrar apego às coisas mais repulsivas, incluindo a própria morte. Que descrição mais vívida da experiência humana!

10 Guardais dias, e meses, e tempos, e anos

11 Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco.

A esse respeito, não corremos um perigo menor que o dos pagãos. Qualquer um que confia em si mesmo, está rendendo culto a obra de suas mãos, em vez de a Deus. O faz tão certamente quanto a um que se prostra ante uma imagem ou escultura. Ao homem é muito fácil confiar em sua suposta sagacidade, em sua habilidade para administrar seus assuntos; ele acha fácil esquecer que até mesmo os pensamentos dos sábios são vãos, e que não há poder, exceto o de Deus. “Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor” (Jer. 9:23 e 24).

12 Irmãos, rogo-vos que sejais como eu, porque também eu sou como vós: nenhum mal me fizestes

13 E vós sabeis que primeiro vos anunciei o Evangelho estando em fraqueza da carne;

14 E não rejeitastes, nem desprezastes isso que era uma tentação na minha carne, antes me recebestes como um anjo de Deus, como Jesus Cristo mesmo.

15 Qual é, logo, a vossa bem-aventurança? Porque vos dou testemunho de que, se possível fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis.

16 Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?

17 Eles têm zelo por vós, mas não como convém; mas querem excluir-vos, para que vós tenhais zelo por eles.

18 É bom ser zeloso, mas sempre do bem, e não somente quando estou presente convosco.

19 Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós:

20 Eu bem quisera agora estar presente convosco, e mudar a minha voz: porque estou perplexo a vosso respeito.

O apóstolo foi enviado por Deus e por Cristo, para trazer-lhes uma mensagem de Deus, não dos homens. Tratava-se da obra de Deus. Paulo não era mais que o humilde instrumento, o “vaso de barro” que Deus havia escolhido como o meio para levar seu glorioso evangelho da graça. Então, Paulo não se sentiu ofendido quando seu evangelho foi rejeitado. “Nenhuma ofensa me fizeste”, lhes disse. Não lamentou os esforços que tinha dedicado aos gálatas no sentido de haver desperdiçado seu tempo, se não que temia por eles. Temeu que suas obras houvessem sido em vão, no que se referia ao próprio interesse desses irmãos.

Aquele que pode dizer de coração: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua misericórdia e da tua fidelidade” (Sal. 115:1), nunca se sentirá pessoalmente ofendido se a mensagem não é recebida. Quem se irrita quando sua mensagem é depreciada, ignorada, ou rejeitada com escárnio seu ensino, demonstra, ou se esquece de que eram as palavras de Deus que estavam pronunciando, ou que misturou ou substituiu por palavras de sua própria escolha.

No passado, esse orgulho pessoal levou a perseguições que corromperam a professa igreja cristã. Homens se levantaram falando coisas perversas para atrair os discípulos. Quando foram rejeitadas suas declarações e modos, se ofenderam e tomaram vingança contra os chamados “heréticos”. A pessoa devota deve fazer continuamente a pergunta: 'A quem estou servindo? 'Se for a Deus, se contentará em entregar a mensagem que Deus lhe recomendou, deixando a vingança para Deus, a quem pertence por direito.

O sofrimento físico de Paulo

A partir de declarações incidentais contidas na epístola, podemos deduzir certos detalhes históricos. Parando na Galácia por causa de um contratempo em sua saúde, Paulo pregou o evangelho “com demonstração do Espírito e de poder” (1 Cor. 2:4), de forma que os gálatas viram a Cristo entre eles, como crucificado; e aceitando-o, foram cheios de poder e gozo do Espírito Santo. Sua alegria e bençãos no Senhor foram objeto de testemunho público, e em consequência disto sofreram uma notável perseguição. Mas não se jactaram disso. Apesar da “débil” aparencia de Paulo (ver 1 Cor. 2:1-5 e 2 Cor. 10:10), o receberam como a um mensageiro de Deus, em razão das boas novas que lhes trouxe. Tão ansiosamente apreciaram as riquezas da graça que Paulo desdobrou ante eles, que teriam oferecido os próprios olhos, se com isso houvessem podido resolver seu sofrimento.

Paulo instou com os gálatas a que vissem de onde tinham caído, e para que pudessem apreciar a sinceridade do apóstolo. De dia tinha lhes comunicado a verdade, e haviam se alegrado nela; não era possível que estivesse se convertendo em um inimigo ao continuar expondo-lhes essa mesma verdade!

Mas essas referências pessoais contêm algo mais. Não podemos supor que Paulo estava ávido de simpatia pessoal, quando fez referência às suas aflições e às condições adversas debaixo das quais trabalhou entre eles. Nem por um momento perdeu de vista o propósito da epístola, que era mostrar-lhes que “a carne nada aproveita” (João 6:63), e que tudo o que é bom procede Espírito de Deus. Os gálatas haviam “começado com o Espírito”. Paulo deveria ser pequeno em estatura, e de aparência física fraca. Também, quando se encontrou com eles pela primeira vez, estava sofrendo de uma doença física concreta. Apesar de tudo, pregou o evangelho com tal poder, que todos puderam perceber próximo a ele a Presença real, ainda que invisível.

O evangelho não provém do homem, mas de Deus. Não lhes foi dado conhecê-lo pela carne; portanto, em nada estavam em dívida com ela, relativo às bençãos recebidas. Que cegueira! Que insensatez, o que pretenderam obter por meio de seus próprios esforços aquilo que só o poder de Deus pode iniciar! Já temos aprendido nós essa lição?

Onde está vossa alegria?

Todo aquele que tenha conhecido ao Senhor, sabe que há alegria em aceitá-lo. Espera-se uma face radiante, e um testemunho jovial (alegre), naquele que se converte. Assim havia acontecido com os gálatas. Mas agora, aquela expressão de agradecimento tinha dado lugar as discussões e disputas amargas. A alegria e o calor do primeiro amor se extinguiram gradualmente. Tal coisa nunca deveria ter acontecido. “O caminho do justo é como a luz do amanhecer que aumenta até chegar ao pleno dia” (Prov. 4:18). O justo vive pela fé. Quando se afasta da fé, ou a substitui por obras, a luz se apaga. Jesus disse: “Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo” (João 15:11). É impossível que a fonte da vida se esgote. O fluxo nunca diminui. Então, se nossa luz se debilita e nossa alegria caminha para uma rotina monótona e rígida, podemos ter a segurança que deixamos o caminho da vida.

21 Dizei-me, os que quereis estar debaixo da lei, não ouvis vós a lei?

22 Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da serva, e outro da livre.

23 Todavia o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa.

24 O que se entende por alegoria: porque estes são os dois concertos: um, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar.

25 Ora esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.

26 Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós.

27 Porque está escrito: Alegra-te e clama, tu que não estás de parto; porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido.

Muitos amam caminhos que todos – menos eles, podem ver que levam diretamente à morte. Tendo contemplado com seus próprios olhos as consequências de seu curso de ação, persistem, escolhendo deliberadamente “as delícias temporárias do pecado” em lugar “da justiça dos séculos” e “largura de dias”. Estar “debaixo da lei” de Deus é ser condenado por ela como pecador, encarcerado e condenado a morte. Porém, milhões de pessoas – e também os gálatas –, tem desejado e desejam tal condição. Se tão somente dessem ouvido ao que a lei diz! E não há nenhuma razão para que não o façam, desde que a lei se expressa com voz ensurdecedora. “O que tem ouvidos, ouça”.

Lemos: “Lança fora a escrava e seu filho, porque o filho da escrava não será herdeiro com o filho da livre” (vers. 30). A lei decreta a morte de todos os que acham prazer nos “elementos fracos e pobres” do mundo. “Maldito todo aquele que não permanece em tudo o que está escrito no livro da Lei” (Gál. 3:10). O pobre escravo há de ser lançado “fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes” (Mat. 25:30). “Pois eis que vem o dia e arde como fornalha; todos os soberbos e todos os que cometem perversidade serão como o restolho; o dia que vem os abrasará, diz o SENHOR dos Exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo”. Portanto, “Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe prescrevi em Horebe para todo o Israel, a saber, estatutos e juízos” (Mal. 4:1, 4). Todos que estão “debaixo da lei”, seja judeu ou gentil, cristão ou pagão, estão em servidão a Satanás – ou servidão à transgressão da lei –, e serão lançados “fora”. “Todo o comete pecado, é escravo do pecado. E o escravo não permanece para sempre na casa, o filho, sim, para sempre” (João 8:34 e 35). Agradeçamos pois a Deus por haver nos adotado como filhos.

Os falsos mestres tentaram persuadir os irmãos que se eles abandonassem a fé sincera em Cristo e confiassem em obras que eles próprios poderiam fazer, viriam a ser filhos de Abraão, e com isto herdeiros das promessas. “Não os filhos segundo a carne são os filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendentes” (Rom. 9:8). Dos dois filhos que teve Abraão, um foi gerado segundo a carne, e outro de acordo com a “promessa”: foi nascido do Espírito. “Pela fé, a mesma Sara, fora da idade, recebeu vigor para ser mãe, porque creu que era fiel o que havia prometido” (Heb. 11:11).

Agar era uma escrava egípcia. Os filhos de uma mulher escrava eram sempre escravos, mesmo que seu pai fosse livre. Então, tudo o que Agar poderia gerar era escravos.

Mas muito antes que nascesse o menino-servo Ismael, o Senhor tinha manifestado claramente a Abraão que seria seu próprio filho livre, nascido de Sara, sua esposa livre, que herdaria a promessa. Tais são as obras do Todo-Poderoso.

"Elas representam os dois pactos”

As duas mulheres, Agar e Sara, representam os dois pactos. Lemos que Agar é o monte Sinai, “que gerou filhos para a escravidão”. De igual forma que Agar poderia gerar só filhos escravos, a lei – a lei que Deus pronunciou no Sinai –, não pode gerar homens livres. Não pode fazer outra coisa a não ser mantê-los em servidão, “porque a Lei produz a ira”, “porque pela Lei se alcança o conhecimento do pecado” (Rom. 4:15; 3:20). No Sinai, o povo prometeu guardar a lei que lhes havia sido dada. Mas em sua própria força, careciam de poder para obedecê-la. O monte Sinai gerou “filhos para a escravidão”, posto que sua promessa de fazer-se justos por suas próprios obras não funcionou, nem pode funcionar jamais.

Consideremos esta situação: O povo estava na escravidão do pecado. Não tinham poder para quebrar aquelas cadeias. E a proclamação da lei em nada alterou essa situação. Se alguém está na prisão por ter feito um crime, não acha libertação para o fato de que lhe sejam lidos os estatutos. A leitura da lei que o levou à prisão poderá apenas fazer mais doloroso seu cativeiro.

Então, não foi Deus quem os levou à escravidão? Não, certamente, desde que não os induziu de modo algum a que fizessem aquele aquele pacto no Sinai. Quatrocentos e trinta anos antes havia feito um pacto com Abraão, que era perfeitamente suficiente sob todos os pontos de vista. Este pacto foi confirmado em Cristo, e portanto, era um pacto que vinha “de cima” (João 8:23). Prometia a justiça como um dom gratuito de Deus, pela fé, e incluiu a todas as nações. Todos os milagres que Deus realizou ao libertar os filhos de Israel da escravidão egípcia não eram mais que demonstrações de seu poder para os libertar (e livrá-los) da escravidão do pecado. Sim, a libertação do Egito foi, não só uma demonstração do poder de Deus, mas também de seu desejo de libertá-los da escravidão do pecado.

Deste modo, quando o povo foi ao Sinai, Deus se limitou a referir-lhes o que havia feito em seu favor, e lhes disse: “Se deres ouvido a minha voz e guardares meu pacto, vós sereis meu tesouro especial sobre todos os povos, porque minha é toda a terra” (Êxo. 19:5). A que pacto estava se referindo? Evidentemente, ao pacto que já existia previamente, a seu pacto com Abraão. Se somente guardassem o pacto de Deus, se guardassem a fé, e acreditassem na promessa de Deus, seriam um povo peculiar. Na qualidade de dono de toda a terra, era capaz de cumprir em benefício deles tudo quanto havia prometido.

O fato de que eles, em sua própria suficiência, se apressassem a carregar sobre si mesmos a responsabilidade de fazer-se realidade, não significa que Deus os induzira a fazer esse pacto.

Se os filhos de Israel que haviam deixado o Egito tivessem andado nos “passos da fé de nosso pai Abraão” (Rom. 4:12), jamais se teriam jactado de serem capazes de guardar a lei promulgada no Sinai, porque “não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé” (Rom. 4:13). A fé justifica. A fé torna justo. Se o povo de Israel tivesse tido a fé de Abraão, teriam manifestado a justiça dele. No Sinai, a lei que foi promulgada “por causa das transgressões”, poderia já estar em seus corações. Poderia ter demonstrado sua verdadeira condição sem necessidade dos trovões terríveis. Nunca foi o propósito de Deus, nem o é agora, que pessoa alguma obtenha a justiça por meio da lei que foi promulgada no Sinai, e todo aquele que cerca o Sinai assim o demonstra. Não obstante, a lei é verdadeira, e deve ser observada. Deus libertou o povo de Israel “para que guardassem seus estatutos, e cumprissem suas leis” (Sal. 105:45). Não obtemos a vida guardando os mandamentos, mas Deus nos dá a vida para que possamos guardá-los pela fé nEle.

O paralelismo entre os dois pactos

O apóstolo disse se referindo a Agar e Sara: “estas mulheres representam os dois pactos”. Hoje existem os dois pactos. Não é questão de tempo, mas de condição. Que ninguém se jacte de sua impossibilidade de estar debaixo do antigo pacto, confiando em que o tempo deste já passou. Realmente, o tempo passou, mas só no sentido de que “basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias” (1 Ped. 4:3).

A diferença é a mesma que encontramos entre uma mulher escrava e uma livre. A descendência de Agar, por mais numerosa que fosse, sempre seria formada por escravos; enquanto que a de Sara seria de filhos livres. Então, o pacto do Sinai traz escravidão “debaixo da lei” a todos os que se atêm nele, enquanto que o pacto proveniente do alto, traz libertação. Não traz libertação da obediência à lei, mas libertação de desobedecê-la. Não é fora da lei onde se encontra a liberdade, mas nela. Cristo redime da maldição, que consiste na transgressão da lei, de forma que possamos receber a benção. E a bênção consiste na obediência à lei. “Bem-aventurados os irrepreensíveis no seu caminho, que andam na lei do Senhor” (Sal. 119:1). Essa bênção é a liberdade. “andarei em liberdade, pois busquei os teus preceitos” (Sal. 119:45).

O contraste entre os dois pactos pode ser expresso brevemente deste modo: No pacto feito no Sinai, temos que nos ver com a lei em sí, enquanto que no pacto do alto, temos a lei em Cristo. O primeiro caso significa para nós a morte, pois a lei é mais afiada que uma espada de dois gumes, e não somos capazes de manejá-la sem consequências fatais. Mas no segundo caso, temos a lei “por meio de um mediador”. Na primeira situação é o que nós podemos fazer. Na segunda, o que pode fazer o Espírito de Deus.

Lembre-se que em nenhum lugar da epístola se questiona se a lei deve ser ou não obedecida. A única pergunta é: Como se alcança a obediência à lei? É por nossa própria obra, de forma que a recompensa não será um assunto de graça, mas de dívida? Ou será Deus trabalhando em nós, tanto o querer como o fazer, por sua boa vontade?

O contraste entre Sinai e Sião

Da mesma forma em que há dois pactos, também há duas cidades a que estes pertencem. A Jerusalém “atual” pertence ao pacto velho, do monte Sinai. Nunca será livre, mas será substituída pela Cidade de Deus, a Nova Jerusalém que descerá do céu (Apoc. 3:12; 21:1-5). Foi a cidade que Abraão anelou, “porque aguardava a cidade com fundações cujo arquiteto e construtor é Deus” (Heb. 11:10; Apoc. 21:14, 19 e 20).

Há muitos que colocam grandes esperanças – todas as suas esperanças –, na Jerusalém atual. “E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles” (2 Cor. 3:14). De fato, ainda esperam a salvação a partir do monte Sinai, e do antigo pacto. Mas não é ali que ela se encontra, “Ora, não tendes chegado ao fogo palpável e ardente, e à escuridão, e às trevas, e à tempestade, e ao clangor da trombeta, e ao som de palavras tais, que quantos o ouviram suplicaram que não se lhes falasse mais, pois já não suportavam o que lhes era ordenado: Até um animal, tocando o monte, seria apedrejado. Na verdade, de tal modo era horrível o espetáculo, que Moisés disse: Sinto-me aterrado e trêmulo! Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel” (Heb. 12:18-24). O que espera as bênçãos a partir da Jerusalém atual, está dependendo do antigo pacto e do monte Sinai, para escravidão. Mas quem adora dirigindo-se à Nova Jerusalém, esperando as bênçãos somente dela, agarra-se ao pacto novo, ao monte de Sião e a liberdade, pois “a Jerusalém de cima... é livre”. Do que é livre? Do pecado; e uma vez que “é a mãe de todos nós”, nos gera novamente, de forma que somos libertados também do pecado. Livres da lei? Sim, certamente, pois a lei não condena os que estão em Cristo.

Mas não permitas que ninguém te seduza com palavras vãs, assegurando-te de que podes agora pisar aquela lei que Deus proclamou com tal majestade, no monte Sinai. Achegando-nos ao monte Sião, a Jesus, o mediador do novo pacto, ao sangue da aspersão, somos libertados do pecado, da transgressão da lei. Em” Sião”, a base do trono de Deus é sua lei. De seu trono procedem os mesmos raios, trovões e vozes (Apoc. 4:5; 11:19) que procederam do Sinai, já que ali está a mesma lei. Mas se trata do “trono da graça” (Heb. 4:16), então, apesar dos trovões, podemos nos achegar a ele com a confiança de achar misericórdia e graça em Deus. Também acharemos graça para o momento oportuno na hora da tentação, posto que do trono, do Cordeiro “imolado” (Apoc. 5:6), flui o rio de águas da vida que nos traz, procedente do coração de Cristo, “a lei do Espírito que dá vida” (Rom. 8:2). Bebamos dele, mergulhemos nele, e seremos limpos de todo o pecado.

Por que o Senhor não levou o povo diretamente ao monte Sião, onde poderiam encontrar a lei como vida, em vez de os levar ao monte Sinai, onde a lei significou somente morte?

É uma pergunta muito lógica, e lógica também é sua resposta: Foi por sua incredulidade. Quando Deus tirou Israel do Egito, seu propósito era levá-los diretamente ao monte Sião. Após terem cruzado o Mar Vermelho, entoaram um cântico inspirado, e um de seus versos dizia: “Com a tua beneficência guiaste o povo que salvaste; com a tua força o levaste à habitação da tua santidade.” “Tu o introduzirás e o plantarás no monte da tua herança, no lugar que aparelhaste, ó Senhor, para a tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram” (Êxo. 15:13, 17).

Se houvessem continuado cantando, teriam chegado bastante próximo do monte Sião, pois “os resgatados do Senhor voltarão, e virão a Sião com júbilo: e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças: gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido” (Isa. 35:10). A travessia do Mar Vermelho o confirmava (Isa. 51:10 e 11). Mas logo esqueceram o Senhor, e em sua incredulidade se entregaram a murmuração. Por conseguinte, “foi dada [a lei] por causa das transgressões” (Gál. 3:19). Foram eles – sua incredulidade pecaminosa – que criou a necessidade de ir ao monte Sinai, em vez de ir ao de Sião.

Não obstante, Deus não os privou do testemunho de sua fidelidade. No Sinai, a lei estava nas mãos do mesmo Mediador – Jesus – a quem nos dirigimos quando vamos a Sião. Da pedra em Horeb (ou Sinai) brotou o manancial de águas vivas a partir do coração de Cristo, “e a Rocha era Cristo” (Êxo. 17:6; 1 Cor. 10:4). Perante eles esteve a realidade do monte Sião. Todo aquele cujo coração se voltasse ali ao Senhor, contemplaria sua glória sem véu, tal como Moisés, e sendo transformado por ela, encontraria o “ministério que traz justificação”, em lugar do “ministério de condenação” (2 Cor. 3:9). “Seu amor é para sempre”, e até mesmo das mesmas nuvens ameaçadoras de ira que procederam dos raios e trovões, brilha o glorioso rosto do Sol da Justiça, formando o arco-íris da promessa.

28 Mas nós irmãos, somos filhos da promessa como Isaque.

29 Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que era segundo o Espírito, assim é também agora.

30 Mas que diz a escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre.

31 De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.

Palavras de ânimo para toda a alma! Eras um pecador. Na melhor da hipóteses tentas ser cristão, e as palavras “Lança fora ao escravo” te fazem tremer. Compreendes que és escravo, que o pecado o mantém prisioneiro, e que te amarram os laços dos maus hábitos. Tens que aprender a não temer, quando fala o Senhor, quando proclama a paz com voz ensurdecedora! Quanto mais assustadora sua voz, mais paz podes estar seguro de obter. Anima-te!

O filho da escrava é a carne e suas obras. “A carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus” (1 Cor. 15:50). Mas Deus diz: “Lança fora a escrava e seu filho”. Se desejas que sua vontade seja cumprida em você, tal como se cumpre no céu, Ele fará o necessário para remover a carne e seus obras. Tua vida “será libertada da escravidão da corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rom. 8:21). Essa afirmação, que tanto te atemorizou, não é mais que a voz que ordena ao mau espírito que saia de ti, para não voltar nunca mais. Te declara vitória sobre todo pecado. Recebe a Cristo pela fé, e obtenha o poder de ser feito filho de Deus, herdeiro do Reino imortal, que permanece para sempre com seus habitantes.

"Mantenha-os, pois, firmes”

Onde temos que nos guardar? Na liberdade de Cristo, cujo deleite estava na lei do Senhor, pois a tinha em seu coração (Sal. 40:8). “Mediante Cristo Jesus, a lei do Espírito que dá vida, me libertou da lei do pecado e da morte” (Rom. 8:2). Guardemos ela somente pela fé.

Nessa liberdade não há nenhum vestígio de escravidão. É uma liberdade perfeita. É liberdade da alma, liberdade de pensamento, tanto quanto liberdade de ação. Não consiste simplesmente em nos capacitar a obedecer a lei, mas nos proporciona também a mente que acha deleite em cumprí-la. Não se trata de se observamos a lei, porque não encontramos outro modo para escapar ao castigo: isso seria a mais amarga das escravidões. É de fato a escravidão dela que nos livra do pacto de Deus.

A promessa de Deus, aceita pela fé, gera em nós a mente do Espírito, de forma que achamos o maior prazer na obediência a todos os preceitos da Palavra de Deus. A alma experimenta essa liberdade que possuem os pássaros em seu vôo sobre o cume das montanhas. É a gloriosa liberdade dos filhos de Deus, que têm a plenitude da largura, profundidade e altura do vasto universo de Deus. É a liberdade dos que não precisam ser vigiados, mas sim dos que são dignos de confiança em toda a situação, pois cada passo que dão não é mais que a ação da santa lei de Deus. Por que te conformas com a escravidão, quando é tua esta liberdade que não conhece limites? As portas da prisão estão abertas de par em par. Caminha na liberdade de Deus.

Do mundo escuro já saí:
de Cristo sou eu e Ele é meu;
seu caminho com prazer segui,
quero ser-lhe sempre fiel.

Sou feliz! Sou feliz!
e em sua graça desfrutarei.
Em liberdade e luz me encontrei
quando triunfou em mim a fé,
e a abundância carmesim,
saúde de minha alma enferma foi.

(T. M. Westrup, #330)

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