quarta-feira, 11 de abril de 2018

Lição 2 — Daniel e o tempo do fim, por Roberto Wieland




Para 7 a 14 de abril de 2018


Nosso guia de estudos para este trimestre fornece estudos de lições interessantes sobre os primeiros capítulos do livro de Daniel, mas “ocultos” (*na primeira) das Perguntas Para Discussão (*pág. 25 do guia dos professores), bem no final do estudo desta semana, se acha algo que é possivelmente um dos conceitos mais incompreendidos da mensagem de 1888 — a “culpa corporativa”, conforme exposto na oração de Daniel no capítulo 9, e o resultante “arrependimento corporativo”.
“Levando o fardo pelo bem de Israel, Daniel estudou de novo as profecias de Jeremias. Elas eram muito claras - tão claras que ele compreendeu por esses testemunhos registrados em livros ‘que o número dos anos, de que falou o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de acabar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos’(Dan. 9: 2).
Com fé fundada na segura palavra da profecia, Daniel pleiteou do Senhor o imediato cumprimento dessas promessas. Suplicou que a honra de Deus fosse preservada. Em sua petição ele se identificou plenamente com os que não tinham correspondido ao divino propósito, confessando os pecados deles como seus.1
“Que oração aquela que saiu dos lábios de Daniel! Que humildade de alma ela revela! ... O Céu respondeu àquela oração enviando seu mensageiro a Daniel. Neste dia de hoje, orações feitas da mesma maneira prevalecerão com Deus ‘A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos’ [Tiago 5:16]. ...
“Não temos nós igual grande necessidade de invocar a Deus como tinha Daniel? Eu me dirijo àqueles que creem que estamos vivendo no último período da história da Terra. Eu vos suplico que tomem sobre suas próprias almas um fardo por nossas igrejas, escolas e instituições. O Deus que ouviu a oração de Daniel ouvirá as nossas quando chegarmos a Ele em contrição. Nossas necessidades são igualmente urgentes, nossas dificuldades igualmente grandes, e precisamos ter a mesma intensidade de propósito, e com fé mover nosso fardo sobre o grande Portador de Fardos. Há necessidade de que os corações sejam tão profundamente movidos em nosso tempo como no tempo em que Daniel orou”.2
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A palavra “corporativo” não tem nada a ver com conselhos; comissões e empresas legalmente constituídas. É estritamente uma ideia bíblica tendo sua fonte no magnífico capítulo de Paulo sobre a Igreja e seus membros deverem ser unidos com Cristo. A Igreja é “o corpo de Cristo”, “não um membro, mas muitos”. “Como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também” (*1ª Cor. 12: 12).
Não há palavra em portugês para descrever isso; daí usamos um derivado latino, corporate, que vem do termo corpus, “corpo”. É impossível apreciar o que a união madura com Cristo ou a reconciliação com Ele significa sem compreender a ideia de Paulo. “Todos os membros, sendo muitos, são um só corpo” significa que eles mantêm um relacionamento corporativo entre si. “Todos nós fomos batizados em um (*Espírito, formando) um corpo” descreve a unidade corporativa da Igreja (1ª Cor. 12: 12-14).
Mas há mais do que unidade: “O pé, ... o ouvido, ... o olho ... Deus pôs cada um dos membros no corpo, conforme Lhe aprouve”. Aqui está a diversidade corporativa. “O olho não pode dizer à mão: ‘Não tenho necessidade de ti’”. Aqui está a necessidade corporativa. Nenhum membro pode desprezar o outro.
Deus construiu outra coisa no corpo: “Deus [compôs] o corpo, tendo dado mais abundante honra àquilo que faltava: de modo que não houvesse divisão no corpo”. Aqui está o equilíbrio do corpo. Qual o objetivo? “Que os membros devem ter o mesmo cuidado um pelo outro”, como as partes de um corpo humano têm uma preocupação corporativa. Se “um membro sofre, todos os membros sofrem com isso”. Aqui está a dor corporativa. Se “um membro for honrado, todos os membros se regozijarão com ele”. Aqui está a alegria corporativa (v. 15-26).
A ideia de a raça humana ser um todo corporativo “em Adão” estava profundamente imbuída no pensamento hebraico (1º Cor. 15:22). Daniel pede perdão pelos pecados de “nossos pais”, dizendo: “Nós ... não obedecemos à voz do Senhor nosso Deus”, embora ele mesmo fosse obediente (Dan. 9: 8-11). Jesus acusou o assassinato de Zacarias sobre os líderes judeus de Sua época, embora o ato tenha ocorrido cerca de 800 anos antes (Mateus 23:35; 2ª Crônicas 24:20). Tudo isso ilustra a identidade corporativa e a culpa corporativa.
Isso significa que o pecado que outro ser humano cometeu eu poderia cometer se Cristo não tivesse me salvado dele. A justiça de Cristo não pode ser um mero complemento de minhas próprias boas obras, um leve empurrão para me levar ao topo. Nossa justiça é toda dEle, ou não é nada.
Este foi o obstáculo em 1888 e ainda ofende muitos hoje. Além da graça de um Salvador, os pecados do mundo inteiro seriam meus se eu tivesse a “oportunidade” de estar no lugar de outras pessoas, para ser tentado como eles, em nas circunstâncias deles.
Essa ideia é expressamente declarada por Ellen White: “Deus conhece todo pensamento, todo propósito, todo plano, todo motivo. Os livros do céu registram os pecados que teriam sido cometidos se houvesse oportunidade”.3 Mostram esses “registros de computador” pecados que na verdade não existem profundos
Esses pecados “que teriam sido cometidos se houvesse oportunidade”, dos quais não nos arrependemos, representam nossa culpa não materializada. Outras pessoas os cometeram e temos sido gratos por não termos sido suficientemente pressionados pela tentação de nós mesmos os cometer. Segue-se que o arrependimento corporativo é o arrependimento dos pecados que teríamos cometido se tivéssemos a oportunidade. Isso é bastante profundo.
Wesley disse sobre um bêbado na sarjeta: “Ali sou eu, se não fosse pela graça de Cristo”. Quando a Igreja aprende a apreciar tal contrição, o amor de Cristo irá percorrer suas veias e transformá-la em uma Igreja verdadeiramente “cuidadosa”, a mais eficaz história de “corpo” ganhadora de almas que já conheceu (Zac. 8: 20-23).4
Ellen White discerniu a verdade. A grande comissão evangélica poderia ter sido completada antes que os horrores das I e II Guerras Mundiais fossem desencadeados no mundo.5 A razão é que a mensagem de 1888 foi o “começo” da chuva serôdia e do alto clamor; ela diz que foi “em grande parte” rejeitada pela liderança da Igreja. Assim, aqueles que acreditavam fervorosamente na doutrina do segundo advento realmente o atrasaram por gerações. A tristeza do que “poderia ter sido” encheu a alma de Ellen White de angústia.6
Se fôssemos ter outra sessão como tivemos em 1888, em que o Espírito Santo se manifestou com a chuva serôdia, poderíamos novamente insultá-lo? A menos que haja arrependimento por termos feito isso na primeira vez, a resposta deve ser sim. Devemos repetir os erros de nossos irmãos do passado, desde que não aceitemos um arrependimento corporativo que nos purifique de qualquer “propósito” ou “motivo” semelhante, por mais profundo que seja.
É esse arrependimento possível? Será que Deus alguma vez terá um povo que tenha aprendido a contrição a ponto de achar que todos os pecados da raça humana poderiam ser deles, exceto pela graça de um Salvador, e que, portanto, estão diante do trono “purificado”? Ele terá um povo que reconheça sua necessidade de 100% da justiça imputada de Cristo, que compreende plenamente o que seria sem ela?
Alguns infelizmente dizem não; Israel antigo falhou e assim deve Israel moderno. Mas a linha de fundo da profecia bíblica diz: “Então o santuário será purificado” (Daniel 8:14). Zacarias prediz uma experiência de arrependimento corporativo e denominacional, seguida por uma gloriosa experiência de purificação (Zacarias 12: 7-14; 13: 1). Tal experiência permeando a Igreja é arrependimento denominacional. Cristo pede por isso em Sua mensagem a Laodicéia. Não é hora de respondermos?
Como parte da raça humana, compartilhamos a culpa corporativa do assassinato do Filho de Deus, mas não somos responsabilizados ou “condenados” a menos que recusemos o dom do arrependimento (ver João 3: 16-19).7 Como adventistas do sétimo dia, também compartilhamos a culpa corporativa da rejeição de nossos antepassados ​​do início da chuva serôdia e do alto clamor, mas não seremos condenados por esse pecado se aceitarmos o dom do arrependimento. Por muito tempo, o Senhor Jesus tem nos implorado para responder.
É hora de fazer isso? Um mundo na escuridão e o grande universo além aguardam nossa decisão.

—Dos escritos de Roberto Wieland

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Notas de rodapé (De Ellen G. White)                                                          

1) Profetas e Reis, págs. 554, 555 (ênfase adicionada).

2) “A oração que Deus aceita,” Review and Herald, 9 de fev. de 1897.

3) Comentário Bíblico Adventista, vol. 5, pág. 1085

4) Veja também O Grande Conflito, págs. 611 e 612.

5) Veja também Conselhos para a Igreja, pág. 29; Boletim Diário da Associação Geral de 28 de fev. de 1893, págs. 419-421, e Evangelismo, pág. 696.

6) Testemunhos para a Igreja, vol. 8, págs. 104-106; Review and Herald de 15 de dez. de 1904.

7) Veja também Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, pág. 38

Notas:                                                                  
Veja, em inglês, o vídeo desta 13ª lição do 1º trim. de 2018, exposta pelo Pr. Paulo Penno, na internet, no sitio:

Esta lição em inglês está na internet no sitio: 1888message.org/sst.htm
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 Biografia do autor, Pr. Roberto Wieland:       
O irmão Roberto J. Wieland foi um pastor adventista, a vida inteira, missionário na África, em Nairobe e Kenia. Autor de inúmeros livros. Foi consultor editorial adventista do Sétimo Dia para a África. Ele deu sua vida por Cristo na África. Desde que foi jubilado, até sua morte, em julho de 2011, aos 95 anos, viveu na Califórnia, EUA, onde ainda era atuante na sua igreja local. Ele é autor de dezenas de livros. Em 1950 ele e o pastor Donald K. Short, também missionário na África, em uma das férias deles nos Estados Unidos, pediram à Associação Geral que fossem publicadas todas as matérias de Ellen G. White sobre 1888. 38 anos depois, em 1988, a Associação Geral atendeu o pedido, o que resultou na publicação de 4 volumes com um total de 1821 páginas tamanho A4, com o título Materiais de Ellen G. White sobre 1888.
Asteriscos (*) indicam acréscimos do tradutor.
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