sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Lição 9 - Pedro, Uma Coluna da Missão

“Foi pela presunção que Pedro caiu; e por arrependimento e humilhação seus pés foram firmados novamente. No relato de sua experiência todo pecador penitente pode achar encorajamento. Embora Pedro tivesse pecado gravemente, não foi abandonado. As palavras de Cristo: "Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça" (Luc. 22:32) estavam-lhe escritas no mais íntimo do ser. Em sua amarga agonia de remorso, esta oração, e a lembrança do terno e misericordioso olhar de Cristo, deram-lhe esperança. Depois da ressurreição, lembrou-se Cristo de Pedro e deu ao anjo a mensagem para as mulheres: "Ide, dizei a Seus discípulos e a Pedro que Ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali O vereis" (Mar. 16:7). O arrependimento de Pedro foi aceito pelo Salvador compassivo” (* “Salvador que perdoa os pecados”, sic).” Parábolas de Jesus, pág. 155 (ênfase em negrito acrescida).

"O alto clamor do terceiro anjo já começou na revelação da justiça de Cristo, o Redentor que perdoa os pecados" (Materiais de Ellen G. White sobre 1888, volume 3, pág. 1073; escrito em 1892; (ênfase em negrito acrescida).

O amor de Deus (Ágape) assim como Sua justiça é revelada em Jesus, o "Redentor/Salvador perdoador dos pecados”. A conversa entre Jesus e Pedro, registrada em João 21, demonstra a diferença entre amor humano e amor de Deus (Ágape)1. Neste incidente, Pedro demonstrou que ele reconhecia que Ágape vem só de Deus. O homem não pode gerar Ágape. Pedro finalmente reconheceu que o amor humano podia fracassar e não era digno de confiança.

O amor de Deus (Ágape) é o coração do puro evangelho do Novo Testamento e é o âmago dessa "mui preciosa mensagem" (*sic2) que "nos" veio em 1888 (*Test. Min. págs. 91 e 92). É confortante saber que Jesus está "trabalhando" tão arduamente como Ele fez (orou) por Pedro.

Segunda-feira: A confissão de Pedro: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mat. 6:16), foi divinamente inspirada. Também é uma demonstração do amor de um Deus que Se revelou à humanidade caída. Esta confissão é o fundamento da Igreja cristã de Deus. É a "chave" que abre os "portões do céu" a nós e permite que o Espírito Santo nos encha com Ágape. Ao permitimos que o amor do Deus flua através de nós a outros, a igreja de Deus cresce e é fortalecida.

Terça-feira: Ao Pedro se humilhar e permitir Ágape fluir a outros, ele tornou-se um missionário muito eficiente e coluna da igreja. É unicamente pela obra poderosa do Espírito Santo que a sombra de Pedro eficientemente podia curar as pessoas.

Este mesmo Espírito Santo trabalhou por outros para a "edificação" da "Igreja". Os acontecimentos nesta seção demonstram os Dons Espirituais de administração, gerência, e liderança, junto com a importância destes presentes no crescimento da Igreja. Devemos notar que os "membros e líderes” expuseram o Evangelho enquanto o Espírito Santo trouxe o "crescimento" e forneceu os dons para administrá-lo.

Quarta-feira: Mais tarde, Paulo escreveria: "Não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa" (Gal.3:28, 29).

Pedro deve ter amadurecido consideravelmente na sua experiência cristã para lhe ser confiada a visão que revelou Jesus como o "Salvador do mundo," não só da nação Judaica. Pedro deve ter entendido a "amplitude" de Ágape para aceitar esta visão mais ampla da sua missão e a missão da igreja. Pedro deve ter experimentado uma morte genuína do eu para aceitar este princípio muito importante do Evangelho.

Este princípio (Jesus como Salvador do mundo) é uma parte integral da mensagem de 1888, dada em Minneapolis. Infelizmente, muitos não podem "ver" nem podem aceitá-lo.3 Não se daria o caso de que o motivo é por que nós não temos um quadro claro do Ágape incondicional de Deus? Talvez nós não experimentamos uma morte genuína do eu e nos achamos incapazes de abandonar opiniões pré-concebidas.

As habilidades de liderança de Pedro eram um importante fator levar a igreja a aceitar o conceito de que os não-judeus podiam tornar-se cristãos e gozarem os benefícios da graça de Deus. Talvez alguns de nós teremos que assumir posições de liderança para trazer isto à igreja dos dias modernos.

Quinta-feira: O incidente registrado em Gálatas 2:11-14 é uma ilustração do fracasso do amor humano. Neste caso foi um fracasso do amor humano de Pedro. Ele perdeu a visão da "amplitude" do amor de Deus. Ele não foi enchido com Ágape naquele dia e tratou grosseiramente seus irmãos em Cristo que não eram judeus. Ao mesmo tempo ele era uma testemunha pobre a seus companheiros judeus ao revelar um mui insuficiente quadro do amoroso rosto de Deus.

“Os que aguardam a vinda do Esposo devem dizer ao povo: "Eis aqui está o vosso Deus" (Isa. 40:9). Os últimos raios da luz misericordiosa, a última mensagem de graça a ser dada ao mundo, é uma revelação do caráter do amor divino. Os filhos de Deus devem manifestar Sua glória. Revelarão em sua vida e caráter o que a graça de Deus tem feito por eles” (Parábolas de Jesus, pág. 415).

“Se tendes recebido a graça de Deus, a luz está em vós. Removei os empecilhos, e a glória do Senhor será revelada. A luz resplandecerá para penetrar e dissipar a escuridão. Não podeis deixar de brilhar dentro do círculo de vossa influência” (idem, pág. 420

“A revelação da glória do Senhor na forma humana, trará o Céu tão perto dos homens, que a beleza que adorna o templo interior será vista em todos em quem o Salvador habita. Os homens serão cativados pela glória de um Cristo que vive em nós. E em torrentes de louvor e ações de graças dos muitos assim ganhos para Deus, refluirá glória para o grande Doador” (Ibidem).

J. B. Jablonsk

Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da Silveira

O Pastor J. B. Jablonski é um idoso (70) ministro da igreja adventista, mas embora esteja aposentado é muito ativo no trabalho ministerial. Ele é apaixonado pelo ministério junto aos presos, ao qual ele dedicou sua vida, compartilhando a mensagem do Ágape de Cristo e Sua Justiça com os que estão encarcerados (muitos com prisão perpétua) em uma das maiores prisões da Califórnia. Ele é o pastor interino de uma de nossas igrejas na cidade de Hanford, Califórnia, USA.

Notas do tradutor:

1) O amor humano é, em essência, apenas egoísmo — e o amor divino Ágape, é auto-esvaziador, um amor que se auto-sacrifica, cheio de abnegação, que não procura o seu próprio interesse. Quebra as paredes divisoras dos nossos preconceitos e nos permite lidar com nosso semelhante como Ele lidou conosco. O amor Ágape.foi assim salientado por Jesus: “... vosso Pai que está nos céus . . . faz nascer o Seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos. Pois, se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? não fazem os gentios também o mesmo?” (Mateus 5.45-47). O amor (Ágape) é a essência da natureza divina. ‘Deus é ágape.’ (1a João 4: 8, 16).

A “mui preciosa mensagem” de 1888, que foi o começo da chuva serôdia, trouxe grande contribuição para destruir o egoísmo humano. Ela transfere nosso pensamento do nosso próprio interesse egocêntrico de salvação pessoal, para uma motivação diferente, de interesse pela honra e recompensa de Cristo e pela obra que Ele fez no Calvário. A motivação predominante que absorveu a igreja desde a rejeição da verdade na era de 1888, foi “o que devo fazer a fim de estar seguro de que passarei pelos portões de pérola?” Nossa oração tem sido, “Senhor, por favor, esteja seguro que eu e meus amados sejamos salvos!” O que é isto senão motivação egoística?

O grande amor altruísta que é Ágape é um amor que ousa desistir da salvação pessoal, e pode e deve manifestar-se em corações humanos pecaminosos, como Moisés pleiteou com Deus para apagar seu nome do livro da vida se Seu amor para com Israel não os pudesse salvar (Êxodo 32: 31, 32). Isso era Ágape manifestado em carne pecaminosa!

Outro exemplo do amor Divino, altruísta, incondicional, é o de Paulo, que em Rom. 9:1-3 disse: “Em Cristo digo a verdade, não minto (dando-me testemunho a minha consciência no Espírito Santo): Que tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração. Porque eu mesmo poderia desejar ser anátema de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne.”

Tal amor é artificial para nós, seres humanos, centralizados em nós mesmos, e é impossível para nós o alcançarmos por nós mesmos. O segredo é “compreender” e “contemplar” as grandiosas dimensões do amor de Cristo revelado na Sua cruz e, assim, sermos “enraizados e firmados em Ágape” e ser “cheios de toda a plenitude de Deus” que é uma preparação para a transladação na segunda vinda de Jesus.

2) Na tradução de Testemuhos para Ministros, pág. 91, do original em inglês para a nossa língua, foi omitido, pelo menos na edição de que disponho, o advérbio “mui”, “most”, em inglês, forma abreviada de “muito”, e que significa em alto grau, grandemente, e, precedendo adj. e adv., é a forma do superlativo absoluto: mui justo, mui perto, e no nosso caso, mui precioso. Pode parecer a você que isto é de insignificante importância, entretanto mui preciosa mensagem” é a forma pela qual a serva do Senhor e nós designamos a mensagem de 1888 e não simplesmente preciosa mensagem. Devemos dar à trombeta o mais certo sonido de que conhecemos, ver I Cor. 14:8;

3) A vontade reina soberana sobre a razão, assim se alguém não quer crer em uma mensagem ela não acreditará. No livro Mensagens aos Jovens, pág. 151 a 154 Ellen G. White fala sobre

Como colocar a nossa vontade ao lado de Deus:

“A vontade ... é o poder que decide, que opera nos filhos dos homens para obediência a Deus, ou para a desobediência. ... Vossas promessas são como cordas de areia, e olhais sob o mesmo aspecto irreal as palavras e obras daqueles em quem devíeis confiar. ... Podeis crer e prometer tudo, mas vossas promessas ou vossa fé não têm nenhum valor enquanto não puserdes a vontade ao lado da fé e da ação. Se combaterdes o combate da fé com todo o vosso poder de vontade, haveis de vencer. ... O conhecimento das promessas não cumpridas e dos votos que violastes vos enfraquece a confiança própria, bem como a fé dos outros em vós. ... Cumpre-vos sujeitar a vontade à vontade de Jesus Cristo; e, quando assim fizerdes, Deus tomará imediatamente posse, operando em vós o querer e o fazer segundo a Sua boa vontade. Toda a vossa natureza será então submetida ao domínio do Espírito de Cristo; e os vossos próprios pensamentos a Ele estarão sujeitos. ... Entregando a Cristo o vosso querer, ... Recebereis de Deus força ... Mediante a firme conservação da vontade do lado do Senhor, toda emoção será feita cativa da vontade de Jesus. ... Ele fará por vós aquilo que vos não é possível fazer por vós mesmos. ... Mas deveis lembrar-vos de que vossa vontade é a fonte de todas as vossas ações. ... Esta vontade, que constitui tão importante fator no caráter do homem, foi, pela queda, entregue ao domínio de Satanás. ... Quando Ele vos dá a mente de Cristo, vossa vontade se torna como a Sua vontade, e vosso caráter se transforma para ser semelhante ao caráter de Cristo. ... Não são os vossos sentimentos, vossas emoções, que vos tornam um filho de Deus, mas o fazer a Sua vontade.”

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Lição 8 - Pedro, da Loucura para a Fé

Nossa lição esta semana é sobre como Jesus é capaz de transformar discípulos inexperientes em líderes poderosos da igreja e testemunhas para o Reino do céu. O foco está em Pedro mas eu sugeriria que incluíssemos mais alguns dos discípulos. Nem todos se identificam com a personalidade de Pedro mas podem ser comparados com outros discípulos. O que é mais importante, o método de Jesus treinar missionários, se aplica a todos tipos de caráteres, assim incluindo não somente a capacidade de Jesus de transformar indivíduos mas diversos grupos também.

Quem exatamente eram estes discípulos que Jesus chamou para tornarem-se Seus líderes? Claramente Pedro é o mais conhecido. Ele é descrito como "impetuoso, presunçoso, propenso à violência, fraquejando sob pressão" (último § da lição dos adultos, pág. 54; edição dos professores, pág. 96). Os outros discípulos eram de caráter variado. Tiago e João tinham o mesmo temperamento e linguajar. Filipe era um inquiridor sincero em busca da verdade que o levou a estudar as escrituras (*em busca) das promessas concernentes ao Messias. Há Natanael que não era astuto, nele não havia dolo (*João 1:47), e tinha um espírito suave e meditativo. Tomé era conhecido como quem tinha dificuldade em crer (*João 20:27), mas teve um coração contrito, e estava pronto para morrer com seu Senhor (*João 11:16). Então havia Mateus, o cobrador de impostos, que não pensou nas conseqüências de ter uma festa para celebrar sua conversão e convidou seus amigos publicanos para encontrar o Salvador. Seguramente ele e Simão, o Zelote, teve seus momentos, o primeiro era anteriormente um "amante" de impostos e o último um "inimigo" de impostos! E para arrematar, no grupo havia André, irmão de Pedro que parece ter sido o primeiro a trazer outros para verem Jesus. Tiago, o filho de Alfeu e Tiago o menor, não são caracterizados na Bíblia. E por último, Judas o Traidor. Que (*grupo de) indivíduos tão heterogêneo como um todo, para serem transformados em missionários eficientes!

Como Cristo fez isto?

Para responder a esta pergunta nós precisamos notar que embora este grupo pareça muito heterogêneo para se desenvolver num grupo auxiliador de missionários, coesivo, eles tinham vários valores e desejos em comum. Este era um grupo de homens pios que procuravam o cumprimento das promessas de Deus e as esperanças de homens devotos. O fato que eles estavam com João batista, sugere que eles ansiavam por real justificação, estando enojados pelo que viam na casa de adoração de Deus. A exposição de João de adoração vazia, e um desejo por reavivamento, revela que eles queriam endireitar as coisas que estavam erradas entre o povo de Deus. Tal caráter não teria medo de sacrificar tudo, abandonando o convencional, e aceitando correção.

Então como Jesus inicia a transformação destes homens? Suas primeiras palavras aos discípulos eram, "vem e vê!" (*João 1:39). Desafiando este grupo de investigadores, dando a identificação do Messias, feita por João, era suficiente. Note que não há nenhum sermão em si. Jesus está confiante de que (1º) Ele é a Verdade que eles procuram, e (2º) reconhecerão essa Verdade quando o Espírito Santo a trouxer aos seus corações. Assim quando isto acontecer cada homem poderá dizer com convicção pessoal como fez Filipe, "Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José" (João 1:45). Mesmo com a pergunta de Natanael, “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” (João 1:46), Filipe responderá na maneira do Salvador, "vem e vê". O primeiro passo em transformação era que Jesus atrai cada homem para observa-Lo, 1 como foi prometido na escritura e como Ele cumpriu essas promessas.

Há uma gradual ligação dos discípulos a Jesus. No começo, os discípulos ocasionalmente acompanharam Jesus, mais tarde eles dedicaram sua plena atenção e tempo para segui-Lo onde quer que Ele fosse.2 Finalmente, aproximadamente no último ano do Seu ministério terreno, Jesus ativamente recrutou os doze para instrução específica. Tudo isto abrange a estrutura geral da educação dos discípulos. Mas isto só explica sua exposição aos princípios do Reino de Deus e não sua transformação pessoal de caráter.

Se estes homens devem testemunhar ao mundo do poder de Jesus para salvar do pecado, eles necessitam uma experiência pessoal. Isto Jesus lhes deu ao ministrar para eles às necessidades de outros. Quer curando doentes ou discutindo com os fariseus, Ele usou a oportunidade para ensinar, comparando e contrastando os falsos juízos da verdade do Seu reino com suas realidades. Aqui é onde Pedro aprendeu sobre a verdadeira missão do Messias (Mat.16), onde os discípulos viram o que a verdadeira fé em Deus podia fazer numa tempestade violenta (Mat. 14), e onde suas acariciadas expectativas do Messias estavam longe de ser verdadeiras quando Jesus respondeu a suas perguntas finais (João 13:36-38). Dito todo isto, alguém talvez pense que eles estavam preparados para ir a todo o mundo, mas não estavam. Necessitavam de uma experiência que selasse sua educação.

. >>>> O que distinguiu os verdadeiros seguidores de Jesus era que estavam dispostos a ser corrigidos. Isto levou ao arrependimento. Muitos ouviram Jesus alegremente e foram impressionados e inspirados, mas eles não estavam dispostos a abandonar o que os impedia de receber as bênçãos da salvação. Os discípulos tinham abandonado aparentemente todo, mas foram mistificados no cenáculo quanto ao reino como verdadeiramente era. Não foi senão na cruz, onde eles viram seu Messias morrer, que eles estavam prontos para ver a verdade, incluindo todas suas nutridas expectativas de grandeza. No cenáculo, no domingo à noite, Jesus apareceu a eles numa maneira totalmente diferente porque todas suas pré-suposições se tinham ido. Quando Ele repetiu o que Ele os ensinara no passado ENTÃO ELES O RECEBERAM! Em quarenta dias eles estavam fora pregando com poder, porque Jesus tinha substituído seus falsos juízos pela verdade e a verdade os libertou, para compartilhar com outros o que Ele tinha modelado e o que Ele tinha feito.

A mesma transformação dos discípulos é o que Jesus quer fazer em nossa vida. Em nosso reconhecimento de que nós somos como os discípulos, tanto individual como coletivamente, em necessidade de mudança, estando dispostos a ser corrigidos e livremente arrependendo-se do erro, a verdade que Jesus tem para a preparação final da Sua segunda vinda será mesmo mais gloriosa do que o pentecostes.

“A menos que torne a ocupação de sua vida contemplar o Salvador levantado, e pela fé aceite os méritos que é seu privilégio suplicar, não mais poderá o pecador ser salvo do que podia Pedro andar sobre as águas, a não ser que conservasse os olhos bem fixos em Jesus. Ora, é o propósito determinado de Satanás eclipsar a visão de Jesus e levar os homens a olhar para o homem, a no homem confiar, e serem educados a esperar auxílio do homem. Por anos tem estado a igreja olhando para o homem, e dele muito esperando, mas sem olhar para Jesus, em quem Se centraliza nossa esperança de vida eterna. Portanto, Deus deu a Seus servos3 um testemunho que apresentava a verdade como esta é em Jesus, e que é a terceira mensagem angélica, em linhas claras e distintas” (Testemunhos a Ministros, pág. 93).

Robert Van Ornam

Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da Silveira.

O Pastor Roberto Van Ornam fez curso superior em Religião, com ênfase em Teologia, na Universidade Adventista de Loma Linda, Califórnia, EUA. Serviu como missionário na Coréia do Sul e Quênia, áfrica Oriental. Nos últimos 26 anos, ele lecionou a estudantes do primeiro e segundo graus, a matéria “como estudar a Bíblia”. Atualmente leciona religião no colégio Adventista do Vale de Shenandoah, no estado americano da Virginia.

Notas do tradutor:

1) “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a Mim” (João 12:32); “Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, Olhando para Jesus, autor e consumador da fé..”. (Hebreus 12: 1 e 2). Se temos de olhar para Jesus devemos olhar para o nosso Sumo Sacerdote no Santuário celestial. “Para ver a tua força e a tua glória, como te vi no santuário” (Salmo 63:2). “O teu caminho, ó Deus, está no santuário” (Salmo 77:13).

2) No Comentário Bíblico Adventista, vol. 5, pág. 909 lemos: “Os seguidores não interromperam de imediato suas ocupações usuais e se tornaram discípulos no completo sentido da palavra. Não até um ano depois na primavera do ano 29 d.C., quando receberam o chamado para discipulado permanente (ver Lucas 5:1, 11), somente então poderia ser dito que ‘deixaram tudo, e O seguiram’, Lucas 5:11, ú. p.”.

Inicialmente todos vimos a Cristo por interesses pessoais, egoísticos. Os discípulos esperavam que Jesus restabelecesse o poder de Israel, e ansiavam por alguma importante posição no futuro governo. Mas por contemplarmos a Cristo somos transformados. Isto é o que ocorreu com os discípulos. “Nossa aproximação de Deus não deve ser por medo do inferno nem por desejo de recompensas mas pelo sincero desejo de reivindicarmos o caráter de Deus”. Entretanto inicialmente todos nós vamos a Cristo por motivos egoísticos, depois é que somos transformados.

"O Rei da Glória muito Se humilhou ao revestir-Se da humanidade. Rude e ingrato foi Seu ambiente terrestre. Sua glória foi velada, para que a majestade de Sua aparência exterior não se tornasse objeto de atração. Esquivava-Se a toda exibição exterior. Riquezas, honras terrestres e humana grandeza nunca poderão salvar ... . Jesus Se propôs que nenhuma atração de natureza terrena levasse homens ao Seu lado. Unicamente a beleza da verdade celeste devia atrair os que O seguissem. O caráter do Messias fora desde há muito predito na profecia, e era Seu desejo que os homens O aceitassem em razão do testemunho da Palavra de Deus" O Desejado de Todas as Nações, pág. 43, primeiros dois §§ do cap. 4).

3) Ellen White está falando aqui de Waggoner e Jones, os dois mensageiros de 1888; confira isto desde a pág. 91.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Lição 7 - O Apóstolo João

Temos o privilégio de estudar esta semana, um dos maiores missionários de Deus—João, o amado. 1 João 1:1, 3 diz, “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida ... O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo.”

O homem que escreveu estas palavras e o pescador que Jesus chamou em Lucas 5, foram homens substancialmente diferentes. De fato João e seu irmão Tiago eram bem diferentes. João naturalmente não possuía este caráter amoroso visto em 1 João 1:1, 3. Como um discípulo João era orgulhoso, ambicioso por título e posição, exclusivista, e ressentido quando ferido. Ele tinha um temperamento mal e possuía um desejo de vingança. A arte medieval pinta João como um humilde, suave, branquelo, efeminado, inclinado no ombro de Jesus. Mas tal não era o caso. De fato ele era um homem grosseiro, orgulhoso, intolerante, explosivo como seu irmão mais velho. Jesus percebeu isto e o cognominou e a seu irmão de "Boanerges," "Filhos do Trovão" (Marcos 3:17). Jesus, conhecendo os corações destes homens e vendo o que eles possivelmente se tornariam através do amor redentor, colocou-os no Seu círculo interior mais íntimo, e então o processo, a viagem de transformação de "Filhos do Trovão" para "o discípulo que Jesus amava" começou.

Os defeitos de caráter do João sobressaíram freqüentemente nesta “viagem”. Lucas 9 registra três destes episódios, que são instrutivos. Jesus acabara de levar seus três amigos íntimos de mais confiança, à montanha onde Ele foi transfigurado. O véu da Sua carne humana foi descerrado, dando-lhes uma visão da Sua glória. Mateus diz que a visão foi tão chocante que os discípulos caíram sobre os seus rostos (Mat. 17:6). Ninguém na terra tinha experimentado algo remotamente igual a isto desde que Moisés viu a Deus pelas costas depois que foi escondido na fenda da pedra da plena exposição da glória de Deus. Foi depois disto que Lucas registra: "E aconteceu que, completando-se os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém. ... E, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, ... para lhe prepararem pousada, ... Mas não o receberam, ... E Tiago e João, vendo isto, disseram: ‘—Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma” (Lucas 9:51-55). Afinal de contas, nós lemos como Elias fez isto, e nós sabemos como podemos fazê-lo, e não será um problema. Jesus repreendeu-os, porque Ele "não veio para destruir as almas dos homens mas para salvá-las" (vs. 56).

Deus é Ágape—O amor não Se exibe, não Se ensoberbece, não age rudemente, não busca os seus interesses, não é provocado, não folga com a injustiça, tudo suporta, tudo espera (1 Cor. 13:4-7). O amor humano é baseado no valor da pessoa, mas o amor de Deus cria valor nas pessoas. Ágape é dado livremente e está em busca ativa de toda humanidade.

Em outra ocasião Tiago e João argumentavam sobre quem seria o maior no reino e ocuparia a posição de honra mais alta. Jesus, sabendo o orgulho e ambição que motivaram esta petição, disse, "Os reis dos gentios dominam sobre eles ... Mas não sereis vós assim; antes o maior entre vós seja como o menor; e quem governa como quem serve. Pois qual é maior: quem está à mesa, ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, entre vós Sou como aquele que serve” (Lucas 22:25-27). Mateus adiciona, "O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mat. 20:28). De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. O amor humano procura subir mais alto, mas Ágape aventura-Se em descer (Fil. 2:5-8). O amor humano procura imortalidade como uma recompensa, mas o Filho de Deus estava disposto a perder a vida eterna (O Salmo 22 nos fala pungentemente sobre isso).

Por todo o Evangelho de João, ele nunca, nem uma vez menciona seu próprio nome. O apóstolo recusa falar de si mesmo relativamente a si. Em vez disso ele fala de si relativamente a Cristo. Ao invés de escrever seu nome, o que focalizaria atenção em si, ele se refere a si mesmo como "o discípulo que Jesus amava," dando glória a Jesus para amar tal homem. A apelação de João de si não é arrogância nem ele quer dizer que é o único discípulo que Jesus amava. Antes era totalmente uma admiração da maravilha de que Cristo o tivesse amado (*mísero pecador). Jesus amava todos Seus discípulos "até ao fim" (*I João 13:1), mas parece que havia uma maneira especial em que João compreendeu esta realidade, e ele foi humilhado por ele. Ellen White diz em Atos dos Apóstolos, página 543: "Aquele que permanece mais próximo de Cristo é o que tem bebido mais profundamente do Seu espírito de amor — amor que não trata com leviandade, não Se ensoberbece, ... não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal” (1 Cor. 13:4, 5). Ela também diz em página 545, "João podia falar do amor do Pai como nenhum outro dos discípulos poderia faze-lo". O amor de Cristo transformou este "Filho de Trovão" num filho de amor e graça.

O desejo de muita santidade e obediência procura fixar a fruta, quando em verdade temos um problema de raiz. A única motivação que nos fará obediente a todos os mandamentos de Deus e trará a justiça eterna é Ágape. Nestes últimos dias uma motivação mais alta prevalecerá na igreja—interesse por Cristo e Sua recompensa. Motivação egocêntrica baseada em temor do inferno ou esperança do céu não é suficiente para preparar a noiva de Cristo para as bodas do casamento do Cordeiro. Em O Maior Discurso de Cristo, página 108, Ellen White diz, "O reino de graça de Deus está sendo agora estabelecido, visto que corações que têm estado sobrecarregados de pecado e rebelião se rendem à soberania do Seu amor".

João, o discípulo que Jesus amava menciona o amor no seu Evangelho e epistolas mais de 80 vezes. Ele tem uma mensagem para nós em I João 3:1, 2: "Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus. ... Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos.” João diz que este amor está além de palavras, mas pede que vejamo-lo porque quando o fizermos nós "seremos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Cor. 3:18). Esta transformação produzirá a geração que será trasladada, pois "vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou” (Apoc. 19:7).1 Louvado seja Deus

Deus abençoe-nos ao estudarmos e compartilhamos a lição desta semana.

Lyndi Schwartz

(Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da Silveira.

Linda Schwartz e seu marido, Brian, são médicos no Hospital Adventista na cidade de Kettering em Ohio. Ambos são ativos membros da segunda maior igreja adventista do estado. Ela é professora da escola sabatina, e ele além das atividades na igreja local é o presidente da mesa administrativa do Comitê de Estudos da Mensagem de 1888 (localizada anexo à Andrews University, 8784, Valley Vew Drive, Berrien Spings, 49103, Michigan, USA, fone (269) 473-1888.

1)
No livro "Os Movimentos do Êxodo e do Advento, em Tipo e Antítipo.” Escrito pelo pastor Taylo G. Bunch em 1937, à pág. 149 (pág. 225 na edição de 1997), no capítulo 30, no subtítulo “Uma Divina Visitação”, analisando Isaias 52:1-10, ele diz. "Aqui é retratada a divina visitação e fim do cativeiro do moderno Israel. 'Quando Jeová retorna a Sião' (Standard Version, verso 8). 'Quando o Senhor converter a Sião' (Bíblia Douai). 'Todas as vossas sentinelas estão clamado num cântico de triunfo, pois veem o Eterno face a face ao Ele retornar a Sião' (versão de James Moffatt). (*'Quando o Senhor fizer Sião voltar', Almeida Fiel). Esta é uma descrição da mensagem laodiceana e os benditos resultados de sua aceitação. Sião está adormecida e sem as vestes da justiça de Cristo. Deus a chama para despertar e levantar-se do pó e 'assenta-te em meu trono' (Standard Version, verso 2). A Igreja está inconvertida e despreparada para a vinda do Noivo. A glória do Senhor a abandonou por causa da condição laodiceana, mas agora o Senhor 'retorna' com poder pentecostal e a chuva serôdia é derramada e a obra terminada. Essa gloriosa visitação do poder divino e da obra de reavivamento e reforma é também descrita em Miquéias 7:15-20 e Joel 2:1, 12-32. Quando o povo do Advento volver-se ao Senhor de todo o coração, 'Ele voltará e se arrependerá, e deixará após Si uma bênção'” (*Joel 2:14).

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Lição 6 - O Salvador Compassivo

A lepra era uma doença vergonhosamente horrível. Em Mateus 8:2 um leproso vem a Jesus e diz, "se quiseres, podes tornar-me limpo."

Esse leproso sabia como acionar todos os botões (*certos) para receber a plena atenção de Jesus: "se quiseres, podes..."

A única condição para este pobre leproso ser "limpado" era a "vontade" de Jesus; e essa "vontade" está sempre, 24 horas por dia, sete dias por semana, noite e dia, ao lado do leproso.

Então por que Ele não cura todos os leprosos no mundo?

Bem, por uma causa, nem todos pedem que os cure; por outro lado, eles não saberiam como usar o presente da purificação sem pesquisar, profundamente, o pecado em suas vidas por toda a vida.

Mas este leproso já experimentara a cura de alma que somente Jesus dá; ele cria. Agora seu único restante problema era a lepra no seu afligido corpo.

Para curar o pobre sofredor, o que deve Jesus fazer?

Estalar Seus divinos dedos e dizer, "—Lepra, saia dele"! E prontamente ela se vai.

Era assim fácil?

Nós não compreendemos quanto custou a Jesus para realizar esses milagres de cura. Não era fácil para Ele. Teve que tomar a lepra sobre Si!

Isaias 63:9 diz isso "Em toda a angústia deles Ele foi angustiado". E 53:4 diz que "Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si” (*Isa. 53:7 e Mat. 8:1). Ele carregou a lepra do leproso no próprio corpo—em outras palavras, Jesus tornou-Se um leproso ao carregar a lepra para longe.

Quando Ele curou a sogra de Pedro naquele sábado depois dos serviços da igreja, Ele tomou a febre dela sobre Si para que ela pudesse ser curada e levantar-se e servir o jantar ao Convidado do Pedro e (*demais) convidados (Mat. 8:14, 15).

Na cruz a carga acumulada de toda a culpa do mundo e dor pressionaram sobre Sua alma divina e esmagou Sua divina vida. Sentiu-se como afogando-Se num mar de pecado: "Livra-me, ó Deus, pois as águas entraram até à minha alma. Atolei-me em profundo lamaçal, onde se não pode estar em pé; entrei na profundeza das águas, onde a corrente me leva” (Salmo 69:1, 2).

Esta é a linguagem de um Homem que está Se afogando.

Sim, era!

"Ele afogou-Se" ali, por nós.

Afogamento é uma maneira terrível de se morrer (quase aconteceu comigo uma vez, no lago Toho na Flórida quando eu era rapaz). É terrível sentir que nada há sob seus pés quando você ainda não aprendeu a nadar.

Sim, de acordo com Salmo 69, podemos dizer, honestamente, que Jesus "afogou-Se" por nós, em nosso lugar. Quando as escuras águas se fecham sobre você e você tenta ver se em algum lugar dá pé e nada há sob você e você se sente afundando até às profudezas como aconteceu com o Titanic (assim você se sente)—isto é pavoroso.

Jesus foi "em tudo foi tentado (provado), mas sem pecado" (Heb. 4:15). Ele sentiu de antemão esse terror de alma, de modo que gritou na Sua agonia, "por que Me desamparaste"? (*Mat.27:46 e Marcos 15:34).

Como respondemos o "por que"?

A resposta é: de modo que nós nunca precisemos ter que sentir o mesmo.

—Robert J. Wieland

Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da Silveira

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

E o Verbo Se Fez Carne

Na lição de 4ª feira, o título, DEUS CONOSCO, implica em que Cristo ligou completamente a Divindade à humanidade. Ele, “é a escada que Jacó viu, tendo a base na Terra, e o topo chegando à porta do Céu, ao próprio limiar da glória. Se aquela escada houvesse deixado de chegar à Terra, por um único degrau que fosse, teríamos ficado perdidos. Mas Cristo vem ter conosco onde nos achamos. Tomou nossa natureza e venceu, para que, revestindo-nos de Sua natureza, nós pudéssemos vencer. ... Por Sua divindade, firma-Se ao trono do Céu, ao passo que, pela Sua humanidade, Se liga a nós” (DTN, págs. 311 e 312). “Cristo, com Seus próprios méritos construiu uma ponte através do abismo que o pecado causou. Ele liga o homem em sua fraqueza e desamparo, à fonte do poder infinito” (P.P., pág. 184).

Assim, para efetiva eficácia do plano da salvação, convinha” isto é, era necessário, o Comentário Bíblico, vol. 7, pág. 407 diz: “foi obrigado, tinha que, devia,”)que em tudo fosse semelhante aos irmãos” (Heb. 2:17) foi preciso que o Deus Santo Se desse (João 3:16) sem reservas, assumindo a nossa carne, sem isenção alguma, tal qual a carne humana era quando Ele veio, sem ter pecado, e Ele ainda mantem esta mesma natureza humana caída, o que Lhe possibilita habitar em nós, em nossa carne, tal qual a nossa carne é hoje, porque Ele é nós, Ele é a humanidade, Ele é o 2º Adão.

Preste atenção, pois, no artigo de Ellet J. Waggoner, que apareceu em The Present Truth, A Verdade Presente, em 19/12/1895, com o título:

E o Verbo Se Fez Carne

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, (e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai), cheio de graça e de verdade” (João 1:14).

Deus na Carne —Nós sabemos que o Verbo estava no princípio com Deus, "e o Verbo era Deus" (*João 1:1). Portanto quando somos informados de que "o Verbo Se fez carne", sabemos que é o mesmo como se disséssemos, "Deus foi feito carne". Isto é terreno sagrado, e ninguém deve presumir pensar nele, muito menos falar ou escrever dele em qualquer outra linguagem senão a das próprias Escrituras. Mal incontável resultou da tentativa de definir e explicar Deus em credos humanos.

Que Carne? "Nem toda a carne é uma mesma carne, mas uma é a carne dos homens, e outra a carne dos animais, e outra a dos peixes e outra a das aves” (I Coríntios 15:39). Naturalmente não há nenhuma possibilidade para se pensar que o Verbo foi feito de qualquer outra carne senão a dos homens; mas o ponto a ser notado é que há somente uma carne de homem, de modo que, quando o Verbo foi feito carne, Ele tomou uma natureza comum a todo homem, alto e baixo, rico e pobre. Ele "foi feito da descendência de Davi segundo a carne” (Romanos 1:3, KJV). Ele é "Jesus Cristo Homem" (I Timóteo 2:5).

A Natureza da Carne —“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes.” Gálatas 5:19-21. Nenhum homem tem qualquer razão para desprezar outro. Sempre que nós ouvimos de um crime brutal, ou vemos um homem brutamente degradado pelo pecado, nós podemos saber que é, simplesmente, a obra natural da carne, que nós compartilhamos em comum com esse homem. Esta visão é necessária diante de nós, para capacitar-nos a compreender o maravilhoso amor que levou o puro e santo Deus a vir em tal carne. Esta foi a exatamente a carne na qual o Verbo foi feito.

"Mas Sem Pecado" —Embora o Verbo tenha sido feito carne, a mesma carne pecaminosa que temos, Ele era "cheio de graça e de verdade" (João 1:14). Ele "como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hebreus 4,15). “Deus O fez pecado por nós” mas Ele "não conheceu pecado" (II Coríntios 5:21). Ele foi feito para ser pecado, mas Ele "não cometeu pecado, nem na Sua boca se achou engano” (I Pedro 2:22; *vs.20 na Almeida Fiel). São estas duas coisas combinadas que fez dEle um Salvador compadecido, em quem nós livremente podemos confiar. Ninguém pode se simpatizar com o fracasso de outrem, se ele não foi tentado da mesma maneira. Além do mais, os que são culpados de qualquer pecado são os mais rápidos e mais ferozes em condenar outros pelo mesmo pecado. Pecadores desculpam pecado, mas não têm nenhuma compaixão por companheiros-pecadores. São somente os que são purificados do pecado, que podem exercitar amor pelos que erram. Cristo foi tentado ao máximo, e sempre foi puro da mais leve mancha de pecado; portanto podemos confiar nEle como Um que sabe e que tem cuidado de nós.

Capaz de Ajudar — "Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel Sumo Sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo” (Hebreus 2:17,18). E Ele “portanto, pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus” (Hebreus 7,25). Algumas pessoas às vezes imaginam que porque Cristo nunca pecou, Ele não pode plenamente Se simpatizar conosco em nosso pecado; mas este é exatamente o motivo porque Ele pode. Ele conhece a força da tentação como ninguém mais, pois Ele sentiu todo o poder de Satanás. Aquele sobre quem o inimigo exerceu todo seu poder em vão, conhece a extensão desse poder mais do que quem cede a ele. O homem que rema contra a correnteza conhece melhor sua força do que aquele que flutua com ela; e o homem que com êxito se opõe à corrente conhece melhor sua força do que o que é varrido por ela. Então Cristo não só conhece todas as nossas necessidades e Se preocupa com elas, mas Ele é apto para salvar.

Em Benefício de Quem? — Supõe-se comumente que o Verbo foi feito carne na pessoa de Jesus de Nazareth há 1.800 anos (*em 1895 quando este artigo foi escrito), a fim que Ele possa aprender as condições e necessidades do homem, e assim possa Se simpatizar com ele e ajudá-lo. Que isto é uma idéia equivocada pode ser visto por uma momentânea reflexão, bem como por simples declarações da Escritura. O salmista diz, "Ele conhece a nossa estrutura; e lembra-Se de que somos pó” (Salmo 103:14). E também, "Senhor tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó SENHOR, tudo conheces” (Salmo 139.1-4). É dEle que os homens devem depender para um conhecimento de si. "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração e provo os rins” (Jeremias 17:9 e 10). “Eu sei, ó SENHOR, que não é do homem o seu caminho; nem do homem que caminha o dirigir os seus passos” (Jeremias 10:23). Todo isto era verdade 1.800 anos antes de Cristo como 1.800 anos depois. Deus conhece os homens também, e Se simpatiza com eles tanto, há quatro mil anos como Ele o faz hoje. Quando os filhos de Israel estavam no deserto, "em toda a angústia deles Ele foi angustiado” (Isaias 63:9). O profeta podia dizer uma verdade, setecentos anos antes de Cristo, "Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si” (Isaias 53:4). Deus estava em Cristo, não para que Ele conhecesse os homens, mas a fim de que os homens saibam que Ele os conhece. Em Jesus nós vemos quão amoroso e simpatizante Deus sempre foi, e temos um exemplo do Ele fará em qualquer homem que plenamente se render a Ele.

Ainda na Carne"Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus” (I João 4: 2, 3). Para confessar a Cristo, não é suficiente acreditar que Ele uma vez viveu e sofreu e morreu e ressuscitou. Nós não devemos confessar simplesmente que Ele veio na carne, mas que Ele "vem na carne". Ele é um Salvador presente. Como em todas as aflições dos antigos israelitas Ele foi afligido, também agora "não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas” (Hebreus 4:15). Ele ainda sente tudo que nos toca, porque Ele ainda está na carne. Mesmo nos lugares celestiais. Ele ainda é "o homem Jesus Cristo" (I Timóteo 2: 5). Ele é o nosso precursor, isso é, um dos irmãos que foi antes preparar um lugar para o descanso. Quando Ele voltar, virá na carne porque a Sua carne não viu corrupção e a mesma carne que entrou na sepultura também ascendeu ao céu. "Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas” (Efésios 4: 10).

Em Cada Homem—O Verbo foi feito carne e habitou entre nós, literalmente, "acampou em nós". Mas desde que toda carne humana é a mesma, e Cristo tomou a carne comum à humanidade, para mostrar como intimamente Deus Se identificou com a família humana, segue que Ele está em todos, exatamente na extensão que qualquer O permita. Lembre-se disso "a vida era a luz dos homens” (*João 1:4), e "que ilumina a todo o homem que vem ao mundo(*vs. 9). "Ele não está longe de cada um de nós,” o que significa que Ele está muito perto de cada um de nós, tão perto que "nEle vivemos, e nos movemos, e existimos" (Atos17: 27,28). A demonstração do fato de que o Verbo está em toda carne, é visto em que todos sabem que são pecadores, e que mesmo os piores homens têm às vezes remorso de consciência, e desejo e mesmo determinação de viver melhor. Este é o trabalho do Espírito, O representante de Cristo, esforçando-Se com eles. Mais ainda, temos as palavras de Moisés, em Deuteronômio 30: 11-14, citado pelo Apóstolo Paulo em Romanos 10: 6-8. Destes dois textos nós vemos que “o Verbo” de que Moisés fala é Cristo, o mesmo Verbo de que João escreve. Então lemos, "O Verbo está junto de ti, na tua boca e no teu coração (Romanos 1: 8). Isto não é falado aos que são perfeitos, mas aos que estão sendo exortados a ouvir e guardar os mandamentos de Deus. "A Palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires" (Deut. 30: 14). Ela não está ali porque nós obramos, mas a fim de que nós possamos obrar. Mas outra vez nós lemos, "Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais condenados” (II Coríntios 13: 5). O condenado é o que é rejeitado como imprestável. Mas Deus não rejeita ninguém que não O tenha primeiro rejeitado. Ele nunca abandonará qualquer homem que tem um desejo da Sua presença. Ele não deixa os homens entregues a si mesmos até que eles O expulsem para longe. Cristo, portanto, o Verbo que é Deus, está em cada alma que vem ao mundo, aí permanecendo até que seja expulso.

Confessando a Cristo—Já lemos que todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus. Agora leia mais uma vez Romanos 10:6-8, que nos diz que o Verbo, isto é, Cristo, está junto de nós, na nossa boca, e no nosso coração, e leia mais adiante, "se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus O ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (*vs. 9). Confessar a Cristo, portanto, é reconhecer que Ele está em nós com poder, a saber, o poder da ressurreição, e que Ele tem o direito de aí estar, tendo-nos comprado pela Sua morte; e isso significa render-nos a Ele plenamente (porque Ele não usará de qualquer força), para que Sua vida possa ser manifestada em nós em sua perfeição, e não intermitentemente nos intervalos quando não a reprimimos. "Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas” (Provérbios 3:6). Então podemos dizer, "estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gálatas 2:20).

Livre Curso para o Verbo —Já lemos que o Verbo está muito perto de nós, na nossa boca e no nosso coração, esperando para ser reconhecido. O que é requerido é que Cristo possa morar no coração pela fé, Efésios 3:17. “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus” (*Romanos 10:17). Se ouvimos a Palavra e cremos nela, então Cristo, a Palavra, mora no coração pela fé; e nos que crêem ela opera eficazmente. Mas apesar do fato de que o Verbo está vivo e ativo, poderoso, nada pode fazer em nós contrário à nossas vontade, porque ela é amor. Portanto de nós depende se o Verbo atuará eficazmente em nós ou não. Então o apóstolo Paulo pediu que os irmãos orassem por ele e seus companheiros, para que a Palavra do Senhor possa ter livre curso e seja glorificada, como também entre os tessalonicenses, II Tessalonicenses 3:1. O Verbo é água viva, e deve ser permitido livre fluxo, senão cessa de ser vida para nós.

Conter o Verbo —Em Romanos 1:18 nós lemos de “homens que detêm a verdade em injustiça". Isso não diz que eles têm meramente a verdade em injustiça, mas que eles a seguram. Deve ser permitido correr; eles a seguram. Se essa repressão é persistida, o Espírito do Verbo finalmente será expulso, e a luz que está nos homens tornar-se-á escuridão. Mas se confessamos os nossos pecados, como o Verbo os mostra a nós, o Verbo de Deus crescerá poderosamente, e prevalecerá. Veja Atos 19:18-20.

O Resultado Prático —vimos que Cristo, o Verbo que é Deus, é inseparável da Palavra escrita. Se cremos nas Escrituras, Cristo mora no coração pela fé. O mistério de Deus feito carne deve ser repetido em nós. "Cristo em vós, a esperança de glória" (Col. 1:27), é o mistério do Evangelho. Desde que Cristo está na Palavra, quando é recebido em fé, nós temos o Verbo feito carne, a nossa mesma carne, por permitir-nos cumprir todos os requisitos da Palavra. Cristo disse, “Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração” (Salmo 40:8). Ele é "o mesmo ontem, e hoje, e eternamente" (Hebreus 13,8). Portanto se Ele mora no nosso coração pela fé, Ele produzirá em nós a mesma obediência à lei que Ele prestou quando esteve entre os homens. A justiça da lei se cumprirá em nós. Seremos praticantes da Palavra, e não ouvintes apenas; seus preceitos serão coisas da vida, vitalizando a nossa carne; e viveremos por cada palavra que procede da boca de Deus.

The Present Truth, A Verdade Presente, 19/12/1895