quinta-feira, 13 de março de 2008

Lição 11 - Mais Lições sobre Discipulado

Nossa lição analisa duas questões: temor de perseguição, e o perigo dos ensinos dos fariseus. À primeira vista, estes temas podem não parecer relacionados. Entender os líderes judeus trará luz ao nosso estudo dos temores dos discípulos de Jesus. Nos ajudará a entender o temor que nos afeta a todos, e nos mostra a necessidade de uma mensagem que nos livrará desses temores de modo que, verdadeiramente nós possamos viver pela fé.

Os discípulos tinham deixado tudo (seu trabalho, as suas famílias, a segurança do anonimato) e seguiram a Jesus. Considerando tudo que era íntimo para eles (os ensinos de Jesus, Seus milagres, tudo que abrangia o Seu ministério) pensaríamos que os discípulos estariam maduros na fé por estas experiências. Mas eram medrosos. Quer fosse a tempestade no mar, ou um demoníaco, ou a pressão para adaptarem-se à autoridade dos fariseus, todas estas situações revelam que os discípulos não estavam firmes na fé. Sua experiência lembrava a do Israel antigo durante o êxodo. Tinham experimentado tanto, mas permanecido duros e insensíveis à direção divina; por quê?

Quando Jesus deu Suas instruções finais aos discípulos (João 13-16), as perguntas que Ele foi forçado a responder sumarizam a falta de fé madura dos discípulos. Olhe as indagações feitas por Pedro (João 13:36-14:4), Tomé, (14:5-7), Filipe (14:8-21), e Judas, não o Iscariote (14:22-31). Elas expõem uma falta de conhecimento claro sobre Jesus e Sua missão. Se os discípulos tinham gastado tanto tempo com Ele, por que demonstraram conhecimento espiritual e confiança tão pequenos?

Havia quatro áreas em que os discípulos estavam espiritualmente ignorantes. (1) Previsão: Mesmo que Jesus os tendo advertido do que estava para vir, eles nunca pareciam pensar que aconteceria; (2) Uma clara percepção da verdade: Sua idéia do Messias e Sua missão eram anuviadas pelas próprias expectativas (como os fariseus); ficaram procurando um Messias que nunca tinha sido prometido; (3) Real conhecimento de si próprios: Embora nem todos eram tão falantes quanto Pedro, eles mostraram ignorância do que eram em caráter; (4) Disciplina de experiência: Sim, tinham respondido ao chamado de Jesus, sacrificado muitas coisas, e visto e participado de muitos acontecimentos de graça salvadora, entretanto careciam de fé para ficar firmes quando defrontados com a oposição. Note o padrão: Os discípulos confiavam no Homem (*Jesus), mas lutavam com suas expectativas e agendas pessoais, que estavam fora de sincronização com as palavras de Jesus.

Considere os fariseus. Começaram como um grupo durante (*o tempo das) guerras dos macabeus, quando opressão estrangeira das culturas helenística e romana (pagã) tentou dominar a verdade que tinha sido confiada a Israel. Porque permaneceram firmes na verdade como encontrada na Torá (*do hebráico תּוֹרָה, que é o Pentateuco para o cristianismo) o grupo tornou-se conhecido como os "pios" (fariseus, *devotos, religiosos). Dedicaram-se a Deus e assumiram a responsabilidade de dirigir Israel de volta a Ele. Seus ensinos foram calculados para exaltar a Lei e cumprir a missão que Deus tinha querido que Israel alcançasse. Muitas de suas crenças estavam de acordo com os ensinos de Jesus. Ensinavam que Deus amava o Seu povo e esperava que vivessem uma vida de obediência. Todo mundo tem o poder de escolher entre o bem e o mal, e a Tora (a Bíblia) deve ser seu guia.

Por que então os fariseus faziam tanta oposição a Jesus? A resposta simples é que Jesus não guardava a lei como eles a entendiam. Eles eram tão preocupados com os detalhes (legalismo) que não conseguiram ver os maiores aspectos da fé. Viam a obediência à lei como um dever da pessoa em cumprir o concerto entre Deus e Israel. Posto de maneira simples, eles nunca tinham deixado o Velho Concerto. Por causa disto, os fariseus sentiram que Jesus destruía tudo que eles tinham trabalhado para sustentar, e subvertia seu "chamado" para guiar o povo à "verdade" da justificação por obras.

A conexão entre os temores dos discípulos e o fermento dos fariseus pode agora ser vista. Os dois grupos estavam limitados por seu prévio aprendizado. Suas expectativas impediram-nos de ver a realidade como Jesus a apresentava. Idéias preconcebidas os estavam cegando à verdade que mudaria suas vidas. A diferença entre os discípulos e os fariseus estava somente em como eles se viam em relação a Jesus, como, amigo ou inimigo.

Os discípulos foram atraídos a Jesus porque estavam famintos por justiça. Seus temores começaram quando tornaram-se incapazes de interligar o que eles pensavam que sabiam, com o que eles observavam e experimentavam na presença de Cristo, especialmente quando envolvia ensino sobre Sua rejeição e morte. Isto levou a uma perturbação de suas vidas, mas, embora confusos, permaneceram porque não havia nenhum outro lugar para ir. Tinham provado a verdade e nada podia tomar o seu lugar. O mesmo foi experimentado pelo mileritas no Grande Desapontamento.

Os fariseus responderam de forma diferente a Jesus com suas idéias preconcebidas, porque, ao menos em parte, eles temeram possível perda de honra e autoridade perante o povo. Como podiam abandonar este poder? Jesus deve ser rejeitado porque ameaçou destruir tudo o que os fariseus acreditavam. Jesus salientou o curso equivocado de sua "missão" para tornar Israel obediente à lei de Deus por meio do velho concertismo, mas recusaram ver isto. Esta foi a experiência de pouco mais que alguns de nós, quando o Alto Clamor e a Chuva serôdia começaram em 1888.1

Os fariseus não permitiriam submeter-se a Jesus. Como Caifás o põe: "convém que um só homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação" (João 11:49, 50). Os fariseus pensavam que Se o povo cresse em Jesus, eles perderiam a sua autoridade e finalmente a sua nação. A "terra prometida" tinha se tornado a razão de sua vida. O Deus da promessa que os dirigiu e os susteve foi esquecido, rejeitado, e então crucificado. Assim, se permitissem influenciá-los, o fermento dos fariseus teria segado os discípulos à coisa que daria às suas esperanças verdadeiro cumprimento.

É interessante que, na véspera do Sua crucificação, Jesus falou claramente a Seus discípulos sobre crer, não tanto "fazer". As "boas obras” viriam em conseqüência da fé. Jesus manteve Seus discípulos focalizados em crer nEle, não somente acreditando nos fatos sobre Ele, mas tendo fé nELE, como uma pessoa em quem eles podiam ter confiança. Mesmo em sua confusão havia o conhecimento esmagador de que eles nunca tinham visto nem ouvido alguém como Jesus. Eram testemunhas oculares da Sua vida e ministério. Esses eram fatos reais! Foi necessário destruir as falsas esperanças e sonhos dos discípulos de seu Messias para desenvolver fé e confiança nEle como uma pessoa. Então, nada os pararia, porque o amor lança fora o temor (I João 4:18).

Robert Van Ornam2



Tradução, ênfases e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da Silveira.



Notas do tradutor:

1) 1888 Re-Exminado, escrito, originalmente como um documento confidencial para a Associação Geral, pelos pastores Roberto J. Wieland e Donald K. Short (ambos com mais de 100 anos, em conjunto, no ministério de nossa igreja, a maior parte como missionários na África). Posteriormente foi liberado para publicação, entretanto não cremos devam alguns de seus temas ser apresentados em discussão nas unidades evangelizadoras, porque requerem estudo mais delongado. Aqui as apresentamos para apreciação pessoal daqueles preocupados com a aplicação do tema abordado na lição e no comentário acima. Selecionamos alguns §§ do cap. 3, com o título


O Alto Clamor que Virá de Modo Surpreendente:

“Por décadas, antes de 1888, a igreja e sua liderança antecipavam ansiosamente os "tempos do refrigério", quando a longamente esperada chuva serôdia viria. Essa era uma expectação acariciada entre nós um século atrás, assim como a longamente esperada vinda do Messias se dava entre os judeus ao tempo de João Batista.

Contudo, poucos pareciam reconhecer que a chuva serôdia e o alto clamor seriam primariamente uma compreensão mais clara do evangelho [ou seja, viriam com uma mensagem]. ...” (*Não um grande barulho trovejante) ...

“... Não estávamos preparados para a pequena e suave voz de uma revelação de graça como a verdadeira motivação da terceira mensagem angélica. O poder sobrenatural que esperávamos deve ser conseqüência de nossa aceitação daquela luz maior do evangelho. Essa deve iluminar a terra com glória.(*Apoc 18:1).

Houve um terrível perigo de que os líderes judeus pudessem rejeitar seu Messias quando viesse "subitamente". E houve igual perigo de que os líderes responsáveis de nossa igreja desprezassem o alto clamor quando começasse. Já em 1882 Ellen White havia advertido de que poderiam algum dia ser incapazes de reconhecer o verdadeiro Espírito Santo:

“ ... Ellen White havia antecipado o tempo em que o Senhor assumiria a liderança e suscitaria instrumentalidades humanas em que Ele pudesse confiar: Quando tivermos homens tão dedicados como Elias, e possuindo a fé que ele possuía, veremos que Deus Se revelará a nós como o fez aos homens santos do passado. Quando tivermos homens que, conquanto reconhecendo suas deficiências, pleiteiem com Deus em fé ardorosa, como fez Jacó, veremos os mesmos resultados.’ (4T 402).

“Especificamente, o presidente da Associação Geral (G. I. Butler, por carta) em 1885 foi advertido de que a menos que ele e alguns outros ...sejam despertados ao senso de seu dever, não reconhecerão a obra de Deus quando se fizer ouvido o alto clamor do terceiro anjo. Quando luz sair para iluminar a terra, em vez de virem em auxílio do Senhor, desejarão amarrar Sua obra a fim de ajustar-se a suas idéias limitadas. Permitam-me dizer-vos que o Senhor operará nesta última obra de um modo bastante fora do comum e de maneira que será contrária a qualquer planejamento humano. . . . Os obreiros se surpreenderão com os meios simples que Ele empregará para pôr em andamento e aperfeiçoar a Sua obra de justiça.’ (1º de outubro de 1885; TM 300). ... O Senhor seria forçado em 1888 a passar por alto ministros experientes a fim de empregar agentes mais jovens ou mais obscuros ... (Veja também: OE, antiga edição, pág. 126, e 5T, págs. 81, 82).

Aqueles testemunhos de 1882 revelam uma inspirada previsão. Era como se Ellen G. White escrevesse a história de 1888 antecipadamente!

...

“Como o Alto Clamor Não Foi Reconhecido

“Já em abril de 1890, Ellen White, tendo maior entendimento, aplicou a linguagem de Apocalipse 18 para a mensagem de 1888: Vários têm-me escrito perguntando se a mensagem [de 1888] de justificação pela fé é a terceira mensagem angélica, e tenho respondido: '—É a terceira mensagem angélica em verdade'. O profeta declara: 'Depois destas coisas vi descer do céu outro anjo que tinha grande autoridade, e a terra se iluminou com a sua glória [Apoc. 18:1].’ (RH, 1º de abril de 1890).

“Em 1892, ela estava pronta para declarar inequivocamente que a mensagem era realmente o início do longamente aguardado alto clamor:O alto clamor do terceiro anjo já se iniciou na revelação da justiça de Cristo, o Redentor que perdoa o pecado. Este é o começo da luz do anjo cuja glória encherá a terra toda.’ (RH, 22 de novembro de 1892).

...

‘O Pastor Butler, o oficial mais responsável da igreja, destacou-se em sua oposição à preciosa luz do alto clamor. ... Em sua cega oposição ao alto clamor podemos ver o trágico cumprimento da advertência inspirada que lhe foi enviada em 1º de outubro de 1885 (cf. TM, pág. 300):... Nunca me esquecerei da experiência que tivemos em Mineápolis, ou das coisas que foram-me então reveladas com respeito ao espírito que controlava homens, as palavras proferidas, as ações praticadas em obediência aos poderes do maligno... Eles eram movidos na reunião por outro espírito, e ignoravam que Deus havia enviado esses jovens homens... para apresentarem-lhes uma mensagem especial que trataram com ridicularia e desprezo, deixando de reconhecer que inteligências celestiais estavam velando por elas... Eu sei que naquele tempo o Espírito de Deus foi insultado. (Ct. 24, 1892).

“Assim a liderança desta igreja, ansiosamente esperando ser vindicada perante o mundo no longamente esperado alto clamor, na verdade desdenhou o Espírito de graça e desprezou as riquezas de Sua bondade.

Tornemos claro que esse pecado de insultar o Espírito Santo não prendeu o corpo da igreja coletivamente no pecado imperdoável. O pecado dos antigos judeus contra o Espírito Santo consistiu em atribuir a Sua obra a Satanás (Marcos 3:22-30). Não queremos dizer que os nossos irmãos em geral, da era de 1888, foram a esse ponto, conquanto alguns indivíduos possam tê-lo feito. (Insultá-Lo já foi suficientemente mau!). Ellen White continuou a ministrar a esta igreja até sua morte em 1915, assim indicando sua crença de que o perdão é possível, e de que a solução ao nosso problema não é a desintegração ou abandono denominacional, mas o arrependimento denominacional e a reconciliação com o Espírito Santo.


A Verdadeira Razão Por Que a Mensagem Foi Rejeitada

“ ... Aceitar a mensagem era demasiada humilhação. As implicações eram de que Deus estava de algum modo descontente com a condição espiritual daqueles que eram os "canais apropriados" para a luz especial do céu. Observem a análise de Ellen White quanto ao cerne do problema: ‘Se os raios de luz que brilharam em Mineápolis tivessem podido exercer o seu poder convincente sobre aqueles que tomaram posição contra a luz, se todos tivessem renunciado a seus caminhos e submetido sua vontade ao Espírito de Deus naquele tempo, teriam recebido as mais ricas bênçãos, desapontado o inimigo, e permanecido como homens fiéis, verdadeiros a suas convicções. Eles teriam tido uma rica experiência; mas o eu declarou: ‘Não’. O eu não estava disposto a ser afetado; o eu lutou pelo predomínio, e todas aquelas almas serão novamente provadas nos pontos em que falharam então. . . O eu e a paixão desenvolveram características odiosas.’ (Carta 19, 1892).

Alguns têm estado cultivando ódio contra os homens a quem Deus tem comissionado para levarem uma mensagem especial ao mundo. Eles começaram essa obra satânica em Mineápolis. Posteriormente, quando viram e sentiram a demonstração do Espírito Santo testificando que a mensagem era de Deus, odiaram-na ainda mais, porque era um testemunho contra eles.’(TM, págs. 78, 80; edição de 1895).

... ‘Vi que Jones e Waggoner tiveram sua contrapartida em Josué e Calebe. Como os filhos de Israel apedrejaram os espias com pedras literais, vós apedrejastes esses irmãos com pedras de sarcasmo e ridículo. Vi que vós voluntariamente rejeitastes o que sabíeis ser a verdade. Apenas porque ela era por demais humilhante para a vossa dignidade. Vi alguns de vós em vossas tendas arremedando e fazendo toda a sorte de galhofas desses dois irmãos. Vi também que se tivéssemos aceito a mensagem deles teríamos estado no reino após dois anos daquela data, mas agora temos de retornar ao deserto e ficar 40 anos.’ E.G.White, Escrito de Melbourne, Austrália, 09.05.1892. (*Este ano, 2008, completamos 3 vezes este período: 120 anos desde a mensagem de Mieápolis. Deus deu aos antediluvianos este mesmo período de tempo. Será que isto tem alguma relação?)

... “Obviamente, a mensagem de 1888 foi muito mais do que uma mera reiteração de uma doutrina negligenciada. Os delegados à Assembléia chegaram inesperadamente a defrontar a Cristo face a face quando depararam face a face a Sua mensagem. ‘O que é justificação pela fé? É a obra de Deus em lançar a glória do homem no pó’ (TM., pág. 456; COR, pág. 104). O confronto envolvia a humilhação de suas almas até esse pó, e não estavam preparados para tanto. ...

“Em suma, podemos ver como o amor de Cristo que derrete corações e o orgulho do clero profissional são incompatíveis. Eles estavam montados sobre o êxito, e a humildade de coração tornou-se-lhes uma pedra de tropeço.

“Poderia este ser ainda nosso problema hoje?”

Negritos, sublinhados e adições, marcadas com asteriscos, de João Soares da Silveira.


2) O Pastor Roberto Van Ornam fez curso superior em Religião, com ênfase em Teologia, na Universidade Adventista de Loma Linda, Califórnia, EUA. Serviu como missionário na Coréia do Sul e Quênia, áfrica Oriental. Nos últimos 26 anos, ele lecionou a estudantes do primeiro e segundo graus a matéria “Como Estudar a Bíblia”. Atualmente leciona religião no colégio Adventista do Vale de Shenandoah, no estado americano da Virginia.