A mensagem de 1888 corretamente coloca uma grande ênfase, com referência à Sua humanidade, no fato de que Cristo veio na semelhança de carne pecaminosa. No entanto, a divindade de Cristo é também essencial ao entendimento (*da mensagem de) 1888 do plano de salvação. A principla ênfase da mensagem (*de justificação pela fé, em 1888) estava mais na preexistência de Cristo com Deus do que no fato de ser Ele um ser Criador.
Outro requisito da lei que foi transgredido pelo pecado de Adão e Eva, foi perfeita obediência. “Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: ‘Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para faze-las.’” (Gal. 3:10). Só por unir humanidade com divindade podia Cristo satisfazer o segundo requisito da lei, isso é, Sua perfeita obediência. Esta perfeita obediência, efetuada por Jesus, é nossa, pela Sua fé que é dada a nós.
A lição da segunda-feira nos dirige a João 3:13: "Ninguém subiu ao céu, senão O que descendeu do céu, o Filho de homem". Alguém talvez possa perguntar sobre Enoque e Elias que já estavam no céu quando Cristo fez esta declaração a Nicodemos. Um verdadeiro entendimento da união da divindade com a humanidade em Cristo compreende que Enoque e Elias estavam no céu só por causa de sua posição em Cristo, e o que Ele realizaria como concertado na cruz.
Todos crentes são descritos como sentando-se nos lugares celestiais (Efésios 1:20), mas só por nossa posição em Cristo pode alguém reivindicar isto. Mesmo no céu, cada pessoa redimida eternamente deverá sua presença a sua posição
—Arlene Hill
Tradução de João Soares da Silveira.
Arlene Hill, autora desta introspecção, é uma fiel adventista, professora da Escola Sabatina numa das igrejas adventistas da cidade de Reno, estado de Nevada, EUA. Profissionalmente foi advogada no estado da Califórnia, estando hoje aposentada;
Notas da autora:
1) Seventh-day Adventist believe: A Biblical Exposition of 27 Fundamental Doctrines. (Hagerstown, MD.: Review and Herald Pub. Assn., 1988), p. 36; citado na obra Tocado por nossos Sentimentos do Pr. Jean R. Zurcher, Review and Herald Publishing Assn., 1999), p. 31
4) O livro “O desejado de Todas as Nações” foi escrito em 1898, entretanto 8 anos antes Ellet Joseph Waggoner em um único artigo declarara: “A vida está inerente nEle”; “Ele possui a imortalidade”; “Ele tem vida em Si próprio”; “Ele tem todos os atributos da divindade”; “Ele é o grande ‘EU SOU o que Sou.” Assim nos parece que não faremos justiça em dizer ter sido Waggoner semi-arianista e muito menos arianista.
Muito esclarecedor é o livro Tocado por Nossos Sentimentos, do pr. Jean R. Zurcher, que fala de Ellet José Waggoner,e Ellen G. White (Está às pág. 34, em diante, págs. 20 e 21 da nossa edição em português).
Abreviaturas usadas no texto que se segue: DTN = Desejado de Todas as Nações, Ellen G. White; GC = O Grande Conflito, Ellen G. White; ST = Signs of the Times, (Sinais dos Tempos), periódico Adventista anteriormente chamado de The Signs of the Times; CSJ = Cristo e Sua Justiça (Christ and His Righteousness) Escrito por Ellet Joseph Waggoner em 1890; R&H = Review and Herald (Periódico equivalente à Revista Adventista Brasileira); Man. = Manuscrito de EGW
Começando à pág. 34 o pr. Jean R. Zurcher nos fala de
Ellet J. Waggoner foi o primeiro teólogo adventista a apresentar a Cristologia sistemática referente à divindade e à humanidade de Jesus Cristo. . . .
Depois de revelar talento para escrever, ele foi chamado para trabalhar como editor-assistente da revista Signs of the Times, em 1884, sob a direção de seu pai. Dois anos mais tarde, tornou-se editor-chefe, cargo que manteve até 1891. De 1892 até 1902, Waggoner trabalhou na Inglaterra, primeiramente como editor da Present Truth, e depois como primeiro presidente da Associação do Sul da Inglaterra. . . .
Waggoner era um teólogo muito fecundo. Escreveu vários e importantes livros, numerosos panfletos e centenas de artigos para revistas. No entanto, ficou mais conhecido pelo papel que desempenhou na sessão da Conferência Geral de 1888, em Mineápolis, juntamente com seu colega Alonzo T. Jones. . . . A Justificação pela fé, para Waggoner, . . . somente poderia ser compreendida através das lentes da Cristologia.
Já em 1884, Waggoner publicou uma série de artigos na Signs of the Times, nos quais afirmava sua fé na divindade de Cristo, Criador de todas as coisas, a quem os anjos adoram exatamente como fazem a Deus, o Pai. “Ele (Deus) deu Seu Filho Unigênito – por quem todas as coisas foram feitas e a quem os anjos adoram com reverência igual à rendida a Deus – para que o homem pudesse ter vida eterna.” (ST, 28/8/1884).
Na sessão da Conferência Geral de Mineápolis, em 1888, Waggoner apresentou uma série de palestras sobre a divindade de Cristo, um assunto que estava na agenda da Conferência. Embora não tenha deixado versões escritas de suas apresentações, Waggoner publicou uma série de quatro artigos sobre o assunto, imediatamente após a sessão. (ST 25/03/1989, 1, 8 e 15/04/1989). Isso sugere que eles foram relatos de suas palestras. Eles também são vistos nas primeiras quatro seções do livro Christ and His Righteousness (Cristo e Sua Justiça), publicado em 1890. Esse livro contém a maioria das idéias prevalecentes na Cristologia de Waggoner.1
Nesse tempo, muitos líderes da igreja ainda acalentavam conceitos semi-arianos ou adocianistas, concernentes à natureza divina de Cristo, daí a importância da questão levantada por Waggoner: “Cristo é Deus?”
Para provar que Ele realmente era Deus, Waggoner citou muitos versos nos quais Cristo era chamado Deus. Para benefício daqueles que ainda negavam isso, ele explicou que o nome de Deus “não foi dado a Cristo em conseqüência de alguma grande realização, mas é Seu por direito hereditário,” (CSJ, págs. 11 e 12). “Cristo é a ‘expressa imagem’ da pessoa do Pai (Heb. 1:3)... Conquanto Filho de Deus, auto-existente, Ele tinha por natureza todos os atributos da divindade”. (Idem, pág. 12). O próprio Cristo ensinou de maneira categórica que Ele era Deus (João 14:8 e 9; 10:33; 8:58) (Idem, pág. 13–15). Waggoner enfatizava a importância da declaração de Paulo em Col. 1:19: “Porque aprouve a Deus que nEle habitasse toda a plenitude.” E 2:9: “Porque nEle habita corporalmente toda a plenitude da divindade.” Waggoner qualifica isso como “o mais absoluto e inequívoco testemunho” (Idem, pág. 16), noção que foi repetida quinze vezes em seu estudo.
Não basta simplesmente dizer: “Jesus Cristo é Deus.” Os apóstolos descrevem-nO também como “Criador”. Waggoner cita Colossenses 1:15-17, afirmando que “não há coisa alguma no Universo que deixou de ser criada por Cristo... Tudo depende dEle para existir ... Ele sustém todas as coisas pela palavra do Seu poder”. (Idem, pág. 17). Em Hebreus 1:10, o próprio Pai diz ao Filho: “Tu, ó Senhor, no princípio fundaste a Terra e os céus são obra das Tuas mãos.” (Idem, pág. 18).
Quem, então, pode se atrever a negar “a divindade de Cristo e o fato de que Ele é o Criador de todas as coisas”. (Idem, pág. 19). Insistir, como “muitas pessoas” fazem, que “Cristo é um ser criado”, baseando-se em um único verso, como Apocalipse 3:14, é simplesmente negar Sua divindade. (Idem, pág. 19-21). O mesmo é válido quando alguém se apóia na expressão de Paulo, declarando que Cristo era “o primogênito de toda a Criação” (Col. 1:15). O seguinte versículo, observa Waggoner, mostra claramente que Ele é “o Criador e não a criatura”. (Idem, pág. 21).
Porém, mesmo Waggoner cria que “houve um tempo quando Cristo derivou e saiu de Deus, do seio do Pai (João 8:42; 1:18), mas que esse tempo vai tão distante nos dias da eternidade, que para a finita compreensão ele é praticamente sem princípio”. (Idem, pág. 21-25). Finalmente, Waggoner enfatizou que “uma vez que Ele é o Unigênito Filho de Deus, é da mesma substância e natureza de Deus, e possui, por nascimento, todos os atributos de Deus... Ele tem imortalidade por direito próprio, e pode conferi-la a outros”. (Idem, pág. 22). Isso porque, Waggoner conclui: “Ele é apropriadamente chamado Jeová, o Eu Sou”. (Idem, pág. 23).
A insistência de Waggoner sobre o fato de ser Cristo da mesma substância de Deus e possuir vida em Si mesmo, não era, indubitavelmente, uma novidade aos olhos de muitos dos delegados na sessão de Mineápolis. Sua posição sobre a natureza divina de Cristo era, provavelmente, parte da razão para a oposição de muitos delegados à sua mensagem sobre a justificação pela fé. Ele, evidentemente, achou que era essencial afirmar a igualdade de Cristo com Deus, pois somente a vida de Deus em Cristo tinha o poder de salvar pecadores, justificando-os por Sua graça.
Sua contribuição nesse ponto, como também a respeito da natureza humana de Cristo, foi decisiva. Froom reconhece isso prontamente: “Em 1888, Waggoner estava sendo pioneiro, e sem os benefícios das muitas afirmações posteriores dela [Ellen White]”, “não apenas sobre a eterna preexistência de Cristo, como também de Sua existência individual e Sua infinitude, igualdade e onipotência”. (Froom, pág. 296).
Ellen White assim se expressou após ouvir Waggoner: “A plenitude da divindade
Ellen Gould White (1827-1915)
Educada na fé metodista, Ellen White nunca teve problema em tratar da divindade de Cristo, Sua preexistência e igualdade com o Pai. É, em larga medida, graças a ela e a seus escritos que a doutrina da Trindade foi definitivamente estabelecida. Não iniciada nas complexidades da teologia, ela cuidadosamente evitava cair na armadilha das controvérsias cristológicas anteriores. Igualmente, ela nunca tomou parte em confrontações diretas com seus associados mais chegados que mantinham errôneas idéias sobre a pessoa de Cristo. Isso não impediu que sua influência fosse decisiva.
. . .
Em Mineápolis, Ellen White sustentou o princípio da Sola Scriptura, promovido por Waggoner, para resolver o problema enfrentado pelos delegados sobre a divindade de Cristo, a justificação pela fé e a lei
“O Dr. Waggoner”, ela disse, “apresentou seus pontos de vista de maneira clara e direta, como um cristão deve fazer. Se ele estiver em erro, vocês deveriam, de modo calmo, racional e cristão, buscar mostrar-lhe pela Palavra de Deus onde ele está em desarmonia com seus ensinos... Tomemos nossa Bíblia e com humilde oração e espírito suscetível de ensino, vamos ao grande Mestre do Mundo... A verdade precisa ser apresentada tal qual ela é
Por ter seguido esse método desde o começo, Ellen White nunca teve problemas com a divindade de Jesus. Ela afirmava a igualdade de Cristo com Deus. (Enciclopédia Adventista, 287). Descrevia-O como “a Majestade do Céu... igual a Deus” (EGW, Man. 4, 1863). “Soberano do Céu, um em poder e autoridade com o Pai” (EGW, GC, 459). “de uma só substância, possuindo os mesmos atributos” do Pai (ST 27/1/1993), “o Unigênito Filho de Deus, que estava com o Pai desde as eras eternas” 2, “O Senhor Deus... revestido das vestes da humanidade” (Idem, pág. 379). “Infinito e Onipotente; Eterno e auto-existente Filho’ (Evang. Pág. 615)”
Em sua maior obra, O Desejado de Todas as Nações, publicado primeiramente em 1898, Ellen White escreve nas linhas iniciais do livro: “Desde os dias da eternidade o Senhor Jesus Cristo era um com o Pai; era ‘a imagem de Deus’, a imagem de Sua grandeza e majestade, ‘o resplendor de Sua glória’. Foi para manifestar essa glória que Ele veio ao mundo... para ser ‘Deus conosco (DTN, pág. 19). Escreveu mais: “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada... A divindade de Cristo é para o crente a segurança da vida eterna.” (Idem, pág. 530).
Num artigo publicado em 1900, Ellen White insistiu: “Cristo é o Filho de Deus, preexistente por Si mesmo. . . . Falando de Sua preexistência, Cristo reporta a mente através dos séculos incontáveis. Afirma-nos que nunca houve tempo
Semelhantemente, em outro artigo datado de 5 de abril de 1906, Ellen White afirmou pela última vez aquilo que se tornou a crença oficial da Igreja Adventista sobre o assunto da divindade de Cristo:
A influência de Ellen White foi decisiva para ajudar a dissipar as crenças semi-arianas que ainda remanesciam entre alguns membros da igreja. Ela foi apoiada por Ellet J. Waggoner e mais tarde por William W. Prescott 3 e Arthur G. Daniells 4.
1) Ver deste mesmo autor o ensaio “Ellet J.Waggoner’s Teaching on Reghteousness by Faith” (O Ensino de Ellet J. Waggoner sobre a Justiça pela Fé), apresentado na reunião dos depositários White, Wasnhington D.C., e Janeiro de 1988.
2) Fundamentos da Educação Cristâ, pág. 382;
3) William W. Prescot, (1855-1944) Enciclopédia Adventista, pág. 1148 Editor da Review and Herald (1902-1909), e vice-presidente da Associação Geral. Autor de A Doutrina de Cristo. Primeiro ensaio adventista em Teologia sistemática sobre a Pessoa de Cristo;
4) Arthur G. Daniels (1858-1935), Enciclopédia adventista, pág.373. Presidente da Associação Geral (1901-1922). Publicou em 1926 Cristo, Nossa Justiça. Este livro exerceu notável influência sobre o corpo ministerial.