sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Lição 7 – Vivendo Como Filhos de Deus

Esta semana nós damos uma olhada no pecado e como Deus lidou com ele. Assim como nos dias do João quando escreveu esta carta, existiam muitos falsos ensinos concernentes ao pecado e como vencê-lo. O ponto principal e é a questão de nosso "relacionamento" com Jesus. Na lição de domingo o guia de estudos deste trimestre corretamente declara (*acertadamente) que "O novo nascimento é obra Sua [de Deus], não nossa," mas então joga a verdade numa confusão declarando que "não precisamos nos preocupar com nosso estado como filhos de Deus, desde que mantenhamos um relacionamento sadio(1) com Ele". Esta mudança coloca todo o peso da carga sobre os meus ombros, e legalismo ou antinomianismo é frequentemente o resultado como dependo de mim satisfazer os requisitos de Deus.

Dois pontos a se considerar aqui. Primeiro: como criaturas de Deus, nós sempre temos um relacionamento com Ele, não importa se somos pecadores ou vencedores. Mesmo Satanás e seus anjos caídos têm um "relacionamento" com Deus. Certamente, não é um bom relacionamento, mas eles não obstante têm um "relacionamento" com seu Criador. Segundo: Jesus disse que Seu jugo é suave e Seu fardo é leve (Mat. 11:28-30). Isto é uma metáfora apropriada. O jugo de boi propositalmente é feito com um arco maior que o outro, e o fazendeiro põe seu boi mais forte no lado que suportará o maior peso. O boi mais fraco entra no arco pequeno, e seu peso é mais leve porque seu irmão mais forte puxa mais a carga. Como o boi mais fraco mantem seu "relacionamento" com seu irmão mais forte? Simplesmente submetendo-se à vontade do seu companheiro de jugo mais forte. Oh sim, o boi mais fraco pode lutar, pode puxar numa direção diferente, e ele pode esfolar-se contra o jugo. Ele teimosamente pode recusar a obedecer quando o fazendeiro dá o comando a seu boi líder. Mas se ele não resiste, e se seguir os passos ao lado do seu irmão mais forte, então seu peso é de fato leve e seu trabalho não é duro.

Na carta que estamos estudando o Apóstolo João se referia à heresia de gnosticismo(2), que negava que Jesus realmente tomou sobre Si carne humana caída. “E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus: mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já ele está no mundo" (1ª João 4:3). Nas palavras de abertura da sua carta, João declarou "nós O tocamos, nós O vimos"! Jesus é real, não algum fantasma nem produto da imaginação. Quando João disse que Cristo veio "na carne" usou a palavra grega “sarx,” que só pode ser entendida como a forma concreta de carne pecaminosa com que toda humanidade nasceu. Qualquer que nega isto exibe o "espírito do anticristo". "A humanidade do Filho de Deus é tudo para nós. É a corrente de ouro que liga nossas almas (sic) a Cristo, e por Cristo a Deus. Este deve ser o nosso estudo" Ellen G. White, The Youth's Instructor (O Instrutor da Juventude), de 13 de Outubro de 1898(3). A Sra. White também declarou que "o estudo da encarnação de Cristo é um campo frutífero" e altamente o recomendou, mesmo à juventude. Contemplar a natureza de Cristo não deve ser deixado a teólogos de PhD. Mas ela também declarou, "Ao contemplar a encarnação de Cristo na humanidade, nós ficamos confundidos perante um mistério insondável, que a mente humana não pode compreender" The Signs of the Times (Sinais das Tempos), de 30 de julho de 1896). A natureza que Cristo assumiu deve ser nosso gratificante estudo, mas não espere atingir a (*total) compreenção da expressão do amor de Deus pela humanidade perdida. Toda eternidade não será tempo suficiente para sondar as profundidades do admirável e insondável Ágape de Deus.
Se Cristo não tomou nossa carne pecaminosa caída que necessitou ser redimida então não houve nenhuma finalidade ter Ele vindo na carne absolutamente. Na Sua capacidade como Deus certamente tem o poder para lidar com o pecado, e "destruir as obras do demônio" por meramente fulminar Satanás e todos seus seguidores da existência. Mas tal não é a maneira de Deus agir.

A expiação deveria ser realizada através de cada aspecto de vida de Cristo não somente Sua morte e ressurreição, que pagou a penalidade pelo pecado e provou o poder de Deus sobre a morte. Defrontando o demônio no seu próprio terreno, na carne que era suscetível à tentação, pelas leis da hereditariedade, Cristo venceu tudo e ganhou a vitória sobre o pecado na mesma carne em que nós temos que encarar o demônio. Esta é uma poderosa e maravilhosa boa nova! Como nosso Irmão mais velho e mais forte, Jesus tomou o jugo sobre Si e suporta o peso. "Só por ter Ele Se submetido à lei da hereditariedade poderia alcançar o pecado na medida plena e verdadeira como o pecado verdadeiramente é. ... Para livrar-nos do pecado, não é suficiente que sejamos salvos dos pecados que nós realmente cometemos; mas devemos ser salvos de cometer outros pecados. E para que isto se possa realizar, tem que ser combatida e conquistada esta tendência hereditária para pecar; devemos torna-nos possuidores do poder de livrar-nos de pecar—um poder capaz de conquistar esta tendência hereditária em nós. ... E para guardar-nos de pecar, Sua justiça nos é comunicada na nossa carne; assim como a nossa carne, com sua tendência de pecar, Lhe foi comunicada. Assim Ele é o Salvador completo"(4). Ao tomar sobre Sua natureza sem pecado, nossa natureza pecaminosa, caída natureza, com todas suas tendências hereditárias, Jesus provou a divindade (*o caráter) de Deus (veja também O Desejado de Todas as Nações. Págs. 49, 117, 123, e 311). A expiação resolveu um número de problemas com aquele único ato divino.

"O único plano que podia ser delineado para salvar a raça humana foi o que apelou para a encarnação, humilhação, e crucificação do Filho de Deus, a Majestade de céu. Depois que o plano de salvação foi ideado, Satanás não mais podia ter argumento algum sobre o qual basear sua sugestão de que Deus, por ser tão grande, não podia preocupar-Se com tão insignificante criatura como o homem". Signs of the Times (Sinais das Tempos), de 20 de Janeiro de 1890). Nós só podemos ficar em pasmado completo silêncio diante de tal amor. E nesse admirável silêncio nós começamos a desenvolver um apropriado sentido de apreciação que nos motivará a vindicar o nome de Deus pelo poder do Espírito Santo obrando em nossa vida para vencer cada tentação que Satanás possa imaginar jogar sobre nós. Se Deus deu tanto assim, como posso eu continuar a resistir e a lutar contra Seu suave jugo? (Veja Caminho a Cristo, págs. 27, 47, 63, e O Desejado de Todas as Nações, pág. 176).

E então há essa ardilosa palavra "absoluto". Muitos dizem que nós não podemos ter "perfeição absoluta" porque só Deus é "absolutamente perfeito". Nossas lições deste Trimestre enfatizam a "absoluta impecabilidade de Jesus" numa página, e então referindo a 1ª João 3:6 e 9 declara, concernente a admoestação do João para cessar de pecar, "isto soa bastante imperioso". De fato, é absoluto. João de modo algum aprova a idéia de uma vida de continuo pecar para a pessoa que reivindica seguir a Cristo. A natureza que Cristo assumiu na Sua encarnação não deixa nenhuma brecha para qualquer de nós reivindicarmos que um determinado pecado é por demais poderoso para conquistar. Vencer o pecado em nossa vida, agora mesmo, não é um assunto trivial nem periférico — é o ponto crucial no entendimento do que a mensagem do Evangelho é verdadeira. É tempo de pararmos com subterfúgios sobre o assunto do pecado em nossa vida. Devemos ser decisivos sobre nosso envolvimento com o mundo e seus pecados. Enquanto nós entretermos a noção de que nós não podemos fazer nada senão tropeçar, iremos na maioria das vezes,seguramente continuar tropeçando. No entanto, Paulo advertiu-nos: "Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências" (Rom. 13:14). (*outra versão diz, “não façais provisão para a carne...” ) "Embora o pecado seja real, os cristãos não têm nenhuma escolha senão livrarem-se dele em suas vidas, não importa a que custo".

E qual é o custo? Morte. A morte do eu por submissão plena a Cristo: "... Cristo não pode entrar plenamente, a menos que haja uma submissão plena a Ele. Deixe que haja alguma morte aqui. Deixe que haja alguma real morte do eu. Isso é o que significa; significa morte". (A. T. Jones, Boletim da Conferência Geral de 1893, pág. 299, edição original).

— Ann Walper
Notas
1) No original da lição em inglês não há nenhum dos termos (healthy, sound, wholesome) que pudesse ensejar a inclusão do adjetivo “sadio” para qualificar o nosso relacionamento com Ele. Veja como a frase está em inglês:
“Também, nós não precisamos nos preocupar com nosso estado como filhos de Deus, contanto que mantenhamos nosso relacionamento com Ele.” Assim, a tradução correta desta frase do, não deveria incluir a palavra “sadio”.
Nos parece que o estado de confusão aumenta quando temos que nos preocupar não só em mantermos um relacionamento com Ele, mas que este relacionamento tem que ser sadio. Tudo torna-se um esforço que nos exaure, pois nós não conseguimos alcançá-lo em absoluto.
No auxiliar para os professores, pág. 89 daquela lição, lemos de “três obrigações inerentes à condição de filho de Deus:
“Primeira: eles vivem na esperança da segunda vinda de Cristo. Isso requer uma vida de pureza, assim como Jesus é puro (v.3). Se é para os crentes serem semelhantes a Jesus quando Ele vier (v.2) devem ser semelhantes a Ele aqui.”
Nós acrescentaríamos que isto só é possível se Cristo viver em você. Continuando:
“Segunda: ao filhos de Deus que permanecem nEle não continuarão pecando (v. 6,9). João ensina ... libertação do cativeiro do pecado. Ninguém pode afirmar ser cristão e ainda continuar a pecar. A direção da vida do cristão deve mudar.”
Diríamos que o cristão deve permitir que Cristo mude a direção da sua vida.
Mais à frente, no mesmo §, “Uma vida santificada é sinal de que alguém é filho de Deus.” Mas não nos esqueçamos de que esta santificação é obra dEle, não nossa. Qualquer fio de urdidura humana neste tecido maculará a justiça de Cristo em nós.
Você e eu somos míseros pecadores. Só há uma maneira de crermos que Ele possa atuar em nossa vida, e é o fato de reconhecermos que o que Ele fez uma vez Ele pode fazer outra vez. Em verdade Ele está desejoso de o fazer. Ele já veio a este mundo e habitou em carne humana caída, pecaminosa e venceu nesta mesma carne que você eu temos. Somente crendo nisto podemos crer que Ele é apto para fazê-lo novamente. Se simplesmente duvidarmos O obstaremos de agir em nós.

2) Nos dicionários e livros de história o gnosticismo designa o movimento histórico e religioso cristão que floresceu durante os séculos II e III, cujas bases filosóficas eram as da antiga “gnose” (palavra grega que significa conhecimento). Mas aqui João se refere à negação do docetismo da realidade da humanidade caída que Cristo assumiu na encarnação. No grego a palavra docetismo significa “parecer, dar a impressão”. Diziam que “Cristo só parecia que tinha um corpo, era só um fantasma, um espectro.” SDABC, Vol V., pág. 912
Entretanto não se deixe levar pela afirmação de que tal se refere tão somente àquele tempo e povo, os docetistas. O SDABC, Vol. VII, pág. 661, diz que “a verdade que [João] enuncia precisa ser enfatizada em todos os tempos, e mais do que nunca em nossos próprios dias. ... quando os homens, mais que nunca, tentam explicar os milagres.”

3) Em português está em Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 244). No original em inglês lemos como colocamos acima—liga nossas almas a Cristo,

3) A. T. Jones, O Caminho Consagrado para a Perfeição Cristã, págs. 48, 49; ênfase do original. Em Português existiu uma tradução feita na Alemanha, é a que eu tenho, na qual o texto acima citado está nas páginas 38 e 39. O melhor é você localizar o capítulo “A Lei da Herança”. O texto está nas duas primeiras págs. deste capítulo.

Nota adicional:

Através da irmã Neusa Dilo recebi um comentário do irmão Henderson H. L. Velten

Prezados irmãos,
...
Alguém comentou esta semana:
"A lição explica satisfatoriamente a aparente contradição entre 1ª João 3:6, 8, 9 e 1:8, 10-2:1. Apenas realço que o verbo pecar, no texto para o estudo de hoje, é registrado, no original grego, no presente do indicativo, um tempo verbal que costumeiramente aponta “para ações contínuas”. De fato, os tempos verbais gregos não se limitam à circunstância de tempo, mas exprimem também a natureza da ação. Assim, por utilizar o presente do indicativo em expressões negativas quanto à maneira pela qual o cristão se relaciona com o pecado, João deixa claro que ele, em momento algum, adota a posição perfeccionista dos dissidentes (veja o comentário à lição de 13 de julho). Ele não afirma que o crente absolutamente não peca (isso é perfeccionismo), mas que não peca habitualmente, por apego ao pecado. Existe uma grande diferença, observável inclusive no modo como o apóstolo trata o assunto, entre pecar por hábito, o que envolve amor, afeição pelo pecado, e o pecado que o crente comete por ser pecador."
Em outras palavras, o que esta pessoa está afirmando é que o uso do verbo "pecar" no Presente do Indicativo mostra que o que João está querendo dizer é que o cristão não peca por hábito, mas que pode pecar de vez em quando. Agora, imaginem se o verbo ali, em 1 João 3:6 e 9, fosse "matar" e também estivesse no Presente do Indicativo, do jeitinho como está o verbo "pecar" (no começo do verso 6). Então o verso diria: "Qualquer que permance nEle não mata". Deveríamos interpretar isso como se João estivesse dizendo que o nascido de Deus não tem o hábito de matar, mas que mata de vez em quando?!
E se o verbo fosse "roubar"?! Deveríamos interpretar isso como se João estivesse dizendo que o nascido de Deus não rouba habitualmente, mas que rouba de vez em quando?! E se o verbo fosse "fumar" ou "embriagar-se"?! Como interpretaríamos?! Cuidado, irmãos! Para não lhe "enrolarem" recorrendo às línguas originais. A bem da verdade, não importa o modo ou o tempo verbais empregados no Hebraico ou no Grego! A explicação que muitos vão dar para à passagem é aquela que eles querem dar! Eles vão encaixar a mesmíssima explicação para qualquer modo ou tempo verbal que seja!
Digo isso porque o verso 6 de 1 João 3 usa também o Perfeito do Particípio ("todo aquele que peca não nO viu" = "todo aquele que tem pecado não nO viu") e o verso 9 usa também o Infinitivo ("e não pode pecar"), além do Presente do Indicativo. João usou, portanto, o mesmo verbo "pecar" no Particípio, no Indicativo e no Infinitivo, para expressar a mesma idéia!!!
Aí vem o indivíduo e diz que o Presente do Indicativo indica ação habitual. Isso não está correto, mas admitamos, por um momento, que estivesse certo. Qual seria a resposta que ele daria à pergunta: "e se João não quisesse indicar uma ação habitual?! Qual modo ele deveria ter usado, então?!" Ele terá de responder: "Nenhum modo verbal. Ele não poderia ter dito isso de qualquer jeito!" Ou seja, no fundo, no fundo, para eles não importa qual modo ou tempo verbais o autor bíblico usou! Ele fará João dizer o que ele deseja de qualquer maneira!A grande verdade é que João foi muito claro: "Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a Sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus."