quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Liçao 8, Palavras de sabedoria, por Arlene Hill

Para 14 a 21 de fevereiro de 2015

Em seu livro Animal Farm [A Revolução dos Bichos], George Orwell descreve a desintegração de sua imaginária sociedade animal, dizendo que “todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que outros”. Nós empregamos esta frase comum para descrever uma situação em que se espera que pensemos ser iguais, mas na realidade não o somos. É frustrante, mas, por um acordo tácito, ninguém se propõe a discutir o assunto.
Deus não é enganoso assim. Ele nos diz que somos todos iguais, mas o motivo não é lisonjeiro. Provérbios 20: 9 nos diz que todos os seres humanos são iguais, porque ninguém pode reivindicar: “Eu tenho purificado o meu coração, estou limpo do meu pecado”. Somos todos igualmente pecadores que se apresentam ao pé da cruz em necessidade de graça.
Ao longo dos séculos, a Igreja cristã tem lutado com o ensinamento bíblico claro de que toda a humanidade é igualmente culpada. Se isso for verdade, apresenta-se o problema de quem será salvo e é aí que as coisas ficam confusas. Teorias foram desenvolvidas para explicar como pessoas igualmente culpadas de algum modo poderiam diferenciar-se diante de Deus a fim de que Ele as possa levar para o céu. Bem cedo, a igreja cristã primitiva desenvolveu um complexo sistema de confissão, penitência e indulgências para aqueles que podiam pagar por elas. O sistema não era totalmente confortador, pois se fazia impossível verificar se os esforços de alguém seriam suficientes para agradar a Deus. Esta situação também perpetuou o sistema, pelo menos até que Martinho Lutero tomou sua famosa posição de que a humanidade é salva pela graça, sem as obras. Por um tempo, parecia que a Igreja estava se afastando do erro rumo à verdade.
No entanto, o problema de quem chega ao céu persistiu. A ideia de que a graça tinha sido oferecida a todos era insustentável, porque isso poderia significar que todo mundo é salvo. A Bíblia ensina claramente o contrário disso.
O problema foi inicialmente resolvido quando João Calvino desenvolveu sua interpretação e exposição das Escrituras encontradas em suas Institutas da Religião Cristã (1536). Ela enfatiza a soberania de Deus na seleção de candidatos para a salvação e está intimamente associado com o puritanismo que é mais bem resumido pela sigla em inglês TULIP:
(1) Depravação total da humanidade.
(2) Eleição incondicional (unconditional, em inglês) por Deus daqueles que serão salvos.
(3) Expiação limitada em que nada foi feito por aqueles que não são eleitos.
(4) Graça irresistível, em que uma vez que Deus elege alguém, este indivíduo não pode rejeitá-la.
(5) Perseverança dos santos.
Assim, os “eleitos” são mais iguais do que aqueles entre os que não fazem parte dos eleitos. A ideia é que a morte de Cristo na cruz só incluiu essas pessoas eleitas, e nada foi realizado pelos outros. Assim, não importa o que façam ou deixem de fazer, eles não podem ser salvos.
Os ensinamentos de Jacobus Arminius e seus seguidores foram resumidos em cinco pontos que se destinavam a contrariar a ortodoxia calvinista predominante de sua época. São eles:
(1) Deus desde toda a eternidade predestinou para a vida eterna aqueles que Ele previu que permaneceriam firmes na fé até o fim.
(2) Cristo morreu por toda a humanidade, não somente pelos eleitos.
(3) Por meio do livre arbítrio, o homem coopera na sua conversão.
(4) Os seres humanos podem resistir à graça divina.
(5) É possível para os seres humanos cair da graça divina.
Uma forma modificada de arminianismo caracterizou o avivamento metodista do século XVIII e domina boa parte da teologia evangélica na América hoje.
A mensagem da expiação que A. T. Jones e E. J. Waggoner trouxeram para a Igreja adventista em 1888 capta o que é verdade no calvinismo e o que é verdade no arminianismo, mas rejeita o que é erro em ambos.
João 3:16 nos diz que Deus tomou, toma, e ainda continua a tomar a iniciativa na salvação do homem. A este respeito, o calvinismo é verdadeiro. Mas João 3:18, 19 ensina que aqueles que por fim se perderão tomaram e continuam a tomar a iniciativa de sua própria condenação (*rejeição). A este respeito, o calvinismo está errado.
Embora Deus seja o Soberano do universo, ao contrário do que o Calvino ensinou, o sacrifício de Cristo garantiu liberdade de escolha a todos os habitantes da terra (Lev. 25:10). A este respeito, o arminianismo está certo. No entanto, também ensina que o sacrifício de Cristo não faz qualquer bem a ninguém, a não ser que primeiro creia, aceite e obedeça, negando assim que Cristo é realmente o Salvador de toda a humanidade somente àqueles que fazem algo primeiro.
“‘Pela justiça de Um veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida’. [Rom. 5:18]. Não há exceção aqui. Tal como a condenação veio sobre todos, assim a justificação vem a todos. Cristo provou a morte por todos. Ele deu-Se a Si mesmo por todos. Não, Ele se deu por cada homem. O dom gratuito a todos veio. O fato de ser um dom gratuito evidencia que não há exceção. Se ele veio apenas àqueles que têm alguma qualificação especial, então não seria um dom gratuito. . . . não há a mínima razão para que todo homem que já viveu não deva ser herdeiro da vida eterna, a menos que não a deseje. Tantos desprezam o dom oferecido tão livremente” (E. J. Waggoner, Waggoner Sobre Romanos, p. 101, grifo nosso).
“‘Você está querendo ensinar salvação universal?’ alguém pode perguntar. Queremos ensinar apenas o que a Palavra de Deus ensina—que ‘a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens’ (Tito 2:11, RV). Deus operou a salvação para todos os homens e a eles a concedeu, mas na sua maioria a desprezam e a lançam fora. O juízo vai revelar o fato de que a salvação completa foi dada a cada um e que os perdidos deliberadamente jogaram fora sua posse da primogenitura” (Waggoner, The Glad Tidings, Gálatas Tornado Claro, pp. 13 e 14).
Esta verdade maravilhosa permanece controvertida. Que importa isso, uma vez que o sacrifício foi feito? Assim, muitas pessoas têm sido mantidas longe de terem qualquer coisa a ver com a religião, porque “nunca poderiam ser suficientemente boas para Deus aceitá-las”. Elas ouviram que diante de Deus todos são iguais, mas há uma mensagem de fundo que deixa transparecer que alguns são mais iguais do que outros. Quem dera soubessem que Deus lhes deu a vitória, mesmo antes de nascerem, não por causa de seu mérito, mas porque Deus é o Deus de amor. Isso levanta todo o peso que recai sobre as pessoas em nome da religião.
Arlene Hill
A irmã Arlene Hill é uma advogada aposentada da Califórnia, EUA. Ela agora mora na cidade de Reno, estado de Nevada, onde é professora da Escola Sabatina na igreja adventista local. Ela foi um dos principais oradores no seminário “É a Justiça Pela Fé, Relevante Hoje?”, que se realizou na sua igreja em maio de 2010, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, localizada no endereço: 7125 Weest 4th Street , Reno, Nevada, USA, Telefone 001 XX (775) 327-4545; 001 XX (775) 322-9642. Ela também vai ser oradora do seminário “Elias, convertendo corações”, nesta semana, nos dias 6 e 7 de fevereiro de 2015, a ser realizado na igreja adventista Valley Center Seventh-day Adventist Church localizada no endereço: 14919 Fruitvale Road, Valley Center, Califórnia.

Nota do tradutor:

  1. Estas cinco categorias não compreendem o calvinismo na totalidade. Eles simplesmente representam alguns dos seus principais pontos.
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