quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Lição 3 — Jó não tinha razões para temer a Deus?



 Para 8 a 15 de outubro de 2016.

Porventura Jó teme a Deus por nada? perguntou Satanás. Deus havia levantado a questão da autenticidade do caráter de Jó descrevendo-o como “perfeito e . . . justo”  e temente a Deus, odiando o “mal” (Jó 1: 8). Deus defendeu a Jó.
Satanás acusou Jó de motivos contaminados em seu serviço a Ele. O amor de Jó estaria corrompido porque Deus o abençoava com prosperidade em casa e também nos negócios. Retire isso e verá como Jó vai Lhe amaldiçoar e negar.
É absolutamente certo que Deus prometeu e de fato “abençoa” o Seu povo (Gên. 12:1-3). Suas bênçãos não são apenas espirituais, mas também materiais. Mas o que acontece quando o povo de Deus cai sob tempos difíceis e experiências de sofrimento, descompassos financeiros, e até mesmo tragédia familiar e morte? A quem culpam?
Esta é uma indagação milenar. Será a questão levantada por Satanás na controvérsia com Cristo no fim dos tempos quando da questão da marca da besta. As pessoas que proclamam as mensagens dos três anjos são descritas como aqueles que “temem [amam] a Deus” porque “é chegada a hora do Seu juízo” (Apo. 14:7). Finalmente, no final da história do evangelho, esses mensageiros “angélicos” não apenas proclamam o mais claro evangelho eterno, mas o seu caráter representa bem o que pregam. Como tal, eles “dão-Lhe glória” e ajudam Deus a vencer o Seu juízo pois “é chegada a hora” do mesmo.
É a essência da mensagem de 1888 que Cristo produz uma corporação de “toda nação, e tribo, e língua, e povo” (vs. 6), de gente motivada por uma apreciação mais profunda do que levou Jesus a morrer por eles na Cruz. Jesus foi aparentemente abandonado por Seu Pai quando levava os pecados do mundo na Cruz e experimentou condenação máxima da verdade da morte e abandono por Deus, na verdade, a segunda morte. Isso era tudo, porque a fé de Jesus foi motivada por Seu amor pelo Pai em fazer a Sua vontade e Seu amor por um mundo perdido, de pecadores que precisavam de um Salvador.
Satanás afirma que inventou o pecado, que em sua raiz é satisfação do ego, rebelião e inimizade contra a pessoa e a lei de Deus. Ele acusa a Deus de que é impossível que os pecadores sirvam a Deus, quer por ações ou motivos altruístas. E aponta a fatos observáveis quanto à realidade da rebelião contínua na vida dos professos seguidores de Deus na Terra.
A questão no grande conflito com Satanás não é apenas se o Filho de Deus poderia suportar o teste final de lealdade para com Seu Pai na cruz, mas se Cristo pode produzir uma vitória sobre o pecado no coração e na vida de uma parcela de pessoas da Terra. Qualquer coisa menos do que isso vai significa uma derrota para Deus e Cristo no grande conflito com Satanás, e uma falha do ministério de nosso Sumo Sacerdote no santuário celestial.
O poder não faz o que é certo. Deus poderia forçar o Seu povo a obedecê-Lo. O serviço deles, então, seria por temor de um tirano ou ditador. Estes são os próprios princípios do governo de Satanás em que emprega medo, intimidação, coerção, e, sim, até mesmo ameaças de morte.
A acusação de Satanás, “Porventura Jó teme a Deus por nada?” (1:9) é finalmente dirigida contra Deus. Seus seguidores são comprados e pagos pelos “benefícios” que Ele lhes propicia. Satanás desafia a Deus, “estende a Tua mão ... toca tudo o que ele tem” (vs. 11). Satanás coloca a Deus em posição de assumir a culpa pelas perdas catastróficas de Jó.
E realmente parece como se Deus fosse o responsável. Não disse Ele a Satanás, “tudo o que ele [Jó] tem está no teu poder”? (Vs. 12). Por que Deus não continuou Sua defesa de Jó? Por que Deus retira a Sua proteção e permite que Jó fique sob os caprichos de Satanás? Isso não faz de Deus, em última instância, o responsável pelo sofrimento? Esta é a maneira como as coisas aparentam ser. Para Jó esta foi a sua realidade e teodiceia. Por que Deus permite o mal?
Mas o que Jó não sabia é a “história por detrás” que conhecemos do Livro de Jó. Foi “Satanás [que] saiu” (vs. 12) para perpetrar todo o sofrimento que se abateu sobre Jó. Homens maus, “os sabeus”, roubaram o gado de Jó (vs. 15). A percepção do mensageiro foi de que o raio que atingiu ovelhas e pastores de Jó (vs. 16) teria sido um “ato de Deus”. Foram os ímpios “caldeus” que saquearam os camelos de Jó (cf. vs. 17). Foi um tornado (um ato da natureza) que destruiu a casa de Jó e matou os seus filhos (vs. 19). Aqui Satanás exibe suas táticas de medo, usando as forças do mal e “atos da natureza” para coagir a vontade de Jó em negar a Deus.
Mas Deus não pode recorrer a tais medidas. Se Ele assim o fizesse, não seria melhor do que Satanás — um ditador malévolo.
Assim, Deus demonstra os princípios de Seu governo na única maneira coerente com o Seu caráter de Ágape. O amor de Deus é força na fraqueza. Deus toma a culpa por todas as calamidades de Jó — “tu [Satanás] Me incitasses contra ele [Jó]” (2:3).
Deus ainda vai mais longe. Ele demonstra fraqueza, permitindo Job ser exposto à maldade de Satanás, sem proteção divina (vs. 6). Eu digo, sem a proteção divina, mas há um limite. Deus não permitirá que Job seja tentado além do que ele é capaz, 1ª Cor. 10:13. Deus estabelece o limite poupando a vida de Jó.
Deus poupou a vida de Jó, mas Ele não poupou a vida de Seu Filho. As experiências de Jó podem ser um tipo dos sofrimentos de Cristo em prolepse para a igreja do Antigo Testamento, mas o que Cristo enfrentou em Sua cruz foi muito além do que Jó suportou.
E é isso que a mensagem de 1888 nos ajuda a ver. Resolve o problema da teodiceia para nós hoje — por que Deus permite o sofrimento em nossas vidas.
Deus é soberano e está no controle. Ele é Todo-Poderoso. Mas o Deus da cruz revela a Sua força na fraqueza. Esta é a razão para a Encarnação. O Deus de todo o universo tinha de Se tornar fraco a fim de derrotar o mal. Só com as fragilidades da humanidade poderia Ele derrotar Satanás. Na cruz do Calvário, o Deus Criador demonstrou o Seu amor, verdade e justiça. O Deus que sofre, pendurado na cruz, é um Deus vitorioso! Somente o Cordeiro pode superar o dragão no livro de Apocalipse. Que paradoxo! O pecado começou com orgulho, mas foi vencido pela humildade (Isa. 14:12-15; Fil. 2:5-11).
A cruz revela a Deus como vulnerável. Ele Se abre para experimentar dor e sofrimento derradeiros. “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo” (2ª Cor. 5:19). “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito” (João 3:16). Ele é o Deus sofredor e crucificado.
E por quê? A fim de ganhar os nossos corações por tal amor sofredor.
Há aqueles que dizem que na cruz Cristo derrotou Satanás no grande conflito. Sim, com certeza Ele o fez. Mas seria um evangelho antilei da cruz ensinar que a cruz é uma demonstração suficiente da derrota de Satanás diante do mundo e do universo. Pois o fato é que o pecado tem continuado por 2.000 anos depois da cruz.
O ministério Sumo Sacerdotal de Cristo no santuário celeste deve produzir vitória indiscutível no caráter de Seus professos seguidores. Qualquer coisa menos do que isso será uma vitória para Satanás com a qual ele pode acusar a Deus de perpetuar o mal sem fim com o Seu governo sem lei.
Mas estou convencido de outra forma. Deus precisa de nós para que ganhe o Seu caso; assim como Ele precisou de Jó, quando Satanás acusou a Deus perante os “filhos de Deus” (Jó 2:1).
Somente o próprio Jó, que é mais fraco do que o diabo, pode refutar o argumento de Satanás, derrotá-lo e, assim, provar que Deus é justo quando Ele o está justificando, postando-Se ao seu lado. Jó venceu o diabo não porque fosse tão bom ou tão forte (ele sabia que era um pecador —Jó 7:21; 10: 6; 14:17), mas por causa da completa confiança e fé no Deus que lhe deu força e vitória (Jó 13:15; 19: 25-27; 42:5).
Quando Jó era fraco, ele era forte. Paulo o diz eloquentemente: “Quando sou fraco, então é que sou forte” (2ª Cor 12:10). “...Podemos nos gloriar na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo, com as suas concupiscências, está crucificado para nós, e nós para o mundo” (E. J. Waggoner, “O Poder de Cristo”, The Present Truth, 16 de julho de 1891).
O santuário no Céu será purificado quando os corações do povo de Deus forem purificados sobre a Terra. “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”! (Rom. 1:16).

—Paul Penno
                Notas:                                                   
Esta introspecção, em inglês, está na Internet em: http://1888mpm.org
Depois clique em SABBATH SCHOOL TODAY / Ouline, 2016 / 4th quarter / The book of Jobe.

Definições:                                                                   
1) Teodiceia: A vindicação da bondade e justiça de Deus, em face da existência do mal.

2) Prolepse: A atribuição dos sofrimentos de Jó com antecedência e em antecipação dos sofrimentos de Cristo.

Biografia do autor, Pastor Paulo Penno:
Paulo Penno foi pastor evangelista da igreja adventista na cidade de Hayward, na Califórnia, EUA, da Associação Norte Californiana da IASD, localizada no endereço 26400, Gading Road, Hayward, Telefone: 001 XX (510) 782-3422. Ele foi ordenado ao ministério há 42 anos e foi jubilado em junho de 2016, Após o curso de teologia ele fez mestrado na Universidade de Andrews. Recentemente ele preparou uma Compreensiva Pesquisa dos Escritos de Ellen G. White. Recentemente também ele escreveu o livro “O Calvário no Sinai: A Lei e os Concertos na História da Igreja Adventista do 7º Dia,” e, ao longo dos anos, escreveu muitos artigos sobre vários conceitos da mensagem de justificação pela fé segundo a serva do Senhor nos apresenta em livros como Caminho a Cristo, DTN, etc. O pai dele, Paul Penno foi também pastor da igreja adventista, assim nós usualmente escrevemos seu nome: Paul E. Penno Junior. Ele foi o principal orador do seminário “Elias, convertendo corações”, nos dias 6 e 7 de fevereiro de 2015, realizado na igreja adventista Valley Center Seventh-day Adventist Church localizada no endereço: 14919  Fruitvale Road, Valley Center, Califórnia.
   
Atenção, asteriscos (*…) indicam acréscimos do tradutor.
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