quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Lição 5 — Maldito o Dia, por Paulo E. Penno



Para 22 a 29 de outubro de 2016

O que é a “maldição” para Jó? O que é a “maldição” para Cristo? Se pudermos entender a última “maldição”, estaremos mais perto de apreciar a mensagem de 1888 como uma expiação compartilhada com Cristo em vez de um sacrifício vicário (como se Ele fosse como nós, aparentemente, mas não na realidade). Compreender a expiação compartilhada de Cristo é a chave para entender por que sofremos; este tema será desenvolvido na lição da próxima semana.
Jó não amaldiçoou a Deus como Satanás disse que ele faria e como sua esposa o exorta a fazer, mas chegou nas beiradas e “amaldiçoou o seu dia” de nascimento (Jó 3:1).
Na raiz da existência de Jó há um dia esquecido por Deus, que é noite. A vida é tão dolorosa que Jó quer que as raízes da sua existência tivessem sido tomadas pela morte e a escuridão, de modo que ele nunca tivesse existido na presença de Deus. Ele desejaria que Deus rebobinasse a fita da criação e desfizesse a parte que levou à sua existência (vs. 5).
A razão profunda para a agitação de Jó é que ele não pode entender os seus sofrimentos. Ele não consegue entender por que um crente, um homem piedoso e devoto, deve sofrer com tal intensidade física e mental. Este problema inexplicável abala os alicerces de seu universo moral e ordenado. É por esta razão que ele não pode e não vai descansar até que tenha encontrado alguma solução para esta questão cósmica (vs. 20).
Jó sente instintivamente que deveria ter importância, mas todos os seus sofrimentos sugerem que não. Sua pressuposição, de fato sua convicção passada, é de que ele viveu a vida numa relação de aliança com o Todo-Poderoso, a Quem temia com reverência amorosa. E acreditava que o Todo-Poderoso considerava-o com amor. Se assim é, Jó deduz que deveria, como um ser humano criado à imagem de Deus e um crente em relação com Deus, ter um significado consequente (Jó 7:12).
Jó se considera um pecador arrependido que compreende o significado dos sacrifícios que oferece. Ele acredita num Deus que perdoa aqueles que se arrependem e creem. Pensa que não deve ser punido por seus pecados uma vez que os sacrifícios que oferecia eliminou o seu pecado (vs. 21).
O descanso é baseado na ordem cósmica, uma criação em que há limites apropriados, em que a virtude é recompensada e o vício punido, em que há justiça, e no qual a bondade triunfa. Jó anseia por compartilhar esse descanso com Deus. Naquele momento a sua experiência está no polo oposto.
Jó se sente como um homem numa máquina de suporte de vida que anseia que ela seja desligada. No Seol finalmente haveria paz. Jó está obcecado com a morte como a única maneira de sair do problema, porque a vida é tão fútil.
Jó não pode descansar com as coisas como são. Ele não vai descansar. Em sua fraqueza, miséria e sofrimento há ainda uma energia dentro dele que se manifesta e o leva a descobrir a Deus, que o tratou dessa forma. Embora diga que não tem esperança, sua inquietação o trai. Um homem inquieto não é um homem derrotado; um homem em perplexidade não é um homem sem esperança, resignado à sua sorte. Se realmente não há esperança, não há razão para perguntar “Por quê?” (Vs. 20).
Jó está protestando que o Todo-Poderoso o está atacando como se ele fosse a personificação do mal sobrenatural. Uma imagem terrível de Deus que se segue, como o Vigilante hostil de quem Jó não pode escapar (Jó 7:12).
Mesmo quando Jó consegue pegar no sono, não pode escapar. Ele vai para a cama pensando que pode obter um momento de descanso, mas Deus lhe envia pesadelos (vs. 14). A pressão é insuportável. Jó prefere ser estrangulado até a morte (vs. 15). Se sou tão insignificante para Você, como pareço ser, por que não me deixa em paz? (vs. 16).
 “Se eu pecar, o que eu faço para Você, Você Vigilante da humanidade?” “Claro, eu peco, eu não sou perfeito. Mas será que o meu pecado realmente justifica esta implacável ‘vigilância hostil’ constante? Por que Você é para mim como o Big Brother, pegando no meu pé, me fazendo ‘marcação’?” (Você tem dúvidas, por vezes, se é insignificante no grande plano de salvação de Deus?)
Por parecer não haver qualquer resposta do céu, Jó prossegue num apelo desesperado e paradoxal para ser esquecido por Deus. Ele diz a Deus em essência, “Me deixe em paz!” (vs. 16).
Você já leu um livro, “Como se Dar Bem com Alguém Que Vive no Inferno”? Eu também não; mas gostaria que um assim fosse escrito. Há pessoas miseráveis que tornam todos à sua volta infelizes (cônjuges, vizinhos, parentes). Não entendem como Deus as ama pessoalmente. Por isso sentem como se Deus as tivesse abandonado. Isso é o que significa “viver no inferno”, pois o inferno é o extremo (*o promontório) do abandono por Deus. Naturalmente, o seu sentimento negro e miserável se expressa em seu azedume.
Eles não estão no inferno, pois desde que o mundo começou somente um Homem já esteve lá. A coisa real ainda não chegou. O inferno só vem no final dos 1.000 anos de Apocalipse 20.
A solidão de Jó prenunciou uma maior solidão. Sua escuridão também antecipa uma escuridão mais profunda. Dois mil anos atrás outro crente irrepreensível estava em escuridão profunda, pendurado numa cruz no meio do dia. Mais profunda do que a escuridão da noite. Mais profunda, mesmo do que a escuridão de Jó. E de Seus lábios saiu o grito de abandono, “Meu Deus, Meu Deus, por que Me desamparaste?” (Mar. 15:34). Num modo estranho, o fato de a escuridão da alma de Jó antecipar a escuridão da cruz nela há esperança de resgate.
A raiz de todo o medo, mesmo abaixo da superfície consciente, é a de ser “abandonado” por Deus, estar perdido, no próprio “inferno” em si, o que a Bíblia chama de “maldição da lei” final (Gal. 3:13).
É o nosso problema universal. Mas, como o Filho de Deus, Cristo sofreu e venceu esse mesmo medo, livrando-nos disso, “fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”. Isto é de Deuteronômio 21:23, onde Moisés disse que qualquer um que termina num madeiro é “maldito de Deus”. Jesus era totalmente sem pecado, mas Ele foi “feito . . . pecado por nós, Aquele que não conheceu pecado” (2ª Cor. 5:21).
Seus sofrimentos na cruz não eram apenas dor física. Na realidade total (sem anestesia entorpecente) o Filho de Deus, divino, contudo, humano, sentiu o horror final: “Por que Me desamparaste?” É por isso que Pedro disse em Atos 2:31 que Ele foi para o inferno para nos salvar. Não existe maior dor da alma possível. Ele sofreu cem por cento “o salário do pecado, [que] é a morte”, do tipo real (Rom. 6:23). (*A segunda morte).
Então diga a quem pensa que está no inferno que isso não é verdade. Não importa o quão miserável pode ser, há uma maneira de sair disso para a luz do céu na Terra.
Perceba que, quando Jesus gritou em Sua agonia na cruz: “Por que Me desamparaste?” Ele não estava murmurando algumas frases vazias que Seu roteiro pedia — Ele estava dizendo a verdade. Ele se sentiu totalmente abandonado por Deus. Seu coração estava quebrantado.
Ele sentia em nível máximo o que significa ser amaldiçoado por Deus, pois Gál. 3:13 nos diz que Ele sentiu totalmente a maldição: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-Se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”.
Quando, uma pessoa infeliz, deprimida, pode compreender a realidade do que Cristo experimentou por ele ou ela, uma ligação é estabelecida entre as duas almas — a de Cristo e a do pecador. Nessa ligação, a pessoa se identifica com Cristo. Então o que acontece é, “Estou crucificado com Cristo; não obstante eu vivo; não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o Qual me amou e Se entregou por mim” (Gál. 2:20.
Bem-vindo ao céu na Terra. A fé é uma identidade de coração com Ele. Tornamo-nos corporativamente um com Ele pela fé. Suas preocupações tornam-se nossas; Sua experiência se torna nossa pela unidade de coração com Ele. Assim, “recebemos a reconciliação” (Rom. 5:11).
Seres humanos pecadores aprendem a acreditar, “vencer tal como [Ele] venceu” (Apo. 3:20). Identificam-se com Ele como uma noiva se identifica com o seu noivo, tornam-se “um” com Ele de coração. “O amor [Ágape] lança fora o temor” (1ª João 4:18). Assim, em todas as más notícias do nosso dia encontramos um caminho para uma boa notícia.
Paul E. Penno

Notas:  


O vídeo do Pastor Paul Penno desta lição será publicado na Internet mais para o final da semana. Por favor, verifique no seu canal do YouTube: Pastor Paul Penno's video of Sabbath School Lesson # 5 | "Curse The Day”



Esta introspecção, em inglês, está na Internet em:  http://1888mpm.org
Depois, clique em SABBATH SCHOOL TODAY / Ouline, 2016 / 4th quarter / The book of Jobe.

Biografia do autor, Pastor Paulo Penno:

Paulo Penno foi pastor evangelista da igreja adventista na cidade de Hayward, na Califórnia, EUA, da Associação Norte Californiana da IASD, localizada no endereço 26400, Gading Road, Hayward, Telefone: 001 XX (510) 782-3422. Ele foi ordenado ao ministério há 42 anos e foi jubilado em junho de 2016, Após o curso de teologia ele fez mestrado na Universidade de Andrews. Recentemente ele preparou uma Compreensiva Pesquisa dos Escritos de Ellen G. White. Recentemente também ele escreveu o livro “O Calvário no Sinai: A Lei e os Concertos na História da Igreja Adventista do 7º Dia,” e, ao longo dos anos, escreveu muitos artigos sobre vários conceitos da mensagem de justificação pela fé segundo a serva do Senhor nos apresenta em livros como Caminho a Cristo, DTN, etc. O pai dele, Paul Penno foi também pastor da igreja adventista, assim nós usualmente escrevemos seu nome: Paul E. Penno Junior. Ele foi o principal orador do seminário “Elias, convertendo corações”, nos dias 6 e 7 de fevereiro de 2015, realizado na igreja adventista Valley Center Seventh-day Adventist Church localizada no endereço: 14919  Fruitvale Road, Valley Center, Califórnia.
     
Atenção, asteriscos (*…) indicam acréscimos do tradutor.
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