terça-feira, 1 de novembro de 2016

Lição 6 — Maldição sem causa, por Paulo Penno



Para 29 de outubro a 5 de novembro de 2016

É um poderoso, persuasivo e, de certa forma, bonito sermão que Elifaz prega a Jó. “Meu amigo Jó, eu quero lhe trazer todos os recursos de conforto e sabedoria conhecidos no mundo dos moralmente bons e religiosos. Quero serenamente incentivá-lo a ser coerente com as suas crenças, ser realista sobre a nossa condição mortal, ser humilde e não ter ideias acima de si mesmo, e de bom grado submeter-se à disciplina amorosa de um Deus bom”.
Elifaz indaga, “É possível que os seres humanos estejam em relacionamento correto com Deus, postarem-se diante de Deus limpos e puros em Sua presença?” (Jó 4:17). A resposta da religião humana: Não há nenhuma maneira em que os seres humanos imperfeitos mortais possam ficar limpos e justos na presença de Deus.
Temos nosso fundamento de pó (4:19). Podemos ser esmagados tão facilmente quanto você esmaga uma traça. Acordamos uma manhã cheios de esperança e força, mas à noite estamos mortos, voltando ao pó de onde viemos (4:20). “Então, seja realista, Jó”, diz Elifaz, “Nós somos mortais, Deus é imortal, e nunca os dois se encontrarão”  (4:21).
Elifaz suscita a questão de saber se pode haver um ser sobrenatural, celestial, que irá mediar entre os mortais impuros, feitos de pó, e o Deus imortal. Ele diz que isso não pode ser (5:1). O céu é simplesmente por demais inacessível aos mortais. “Então”, diz Elifaz, “não há por que ficar todo ardente e incomodado com tudo isso, e, especificamente, sobre o que aconteceu com você. Seria insensato, ficar de cabeça quente, impulsivo” (5:2).
Elifaz transmite o seu apelo. “Vi o que acontece com os tolos, pessoas que ficam iradas e incomodadas com a injustiça, parecem ser resolvidas e seguras”. Como um homem sábio, Elifaz observou que a casa do tolo era amaldiçoada (5:3).
Elifaz observa que coisas ruins acontecem a pessoas que recebem ideias acima da sua condição no que respeita a Deus. “Esteja avisado, Jó, e não aja assim”. O desastre advém ao tolo. Problemas não aparecem simplesmente do nada (do chão), mas são o resultado do pecado humano (5:6).
Elifaz começa a dar o seu conselho claro a Jó. “Se eu fosse você”, ele diz: “iria volver o rosto a Deus e buscar a Sua face” (5:8). Eu confio nEle. E eu não iria tentar ser por demais inteligente”.
Ele é o Deus que levanta as pessoas humildes e pobres (5:11). Mas é também o Deus que não podemos compreender (5:9). Faz muitas coisas, e não podemos procurar compreendê-las. Então não vamos tentar ser muito inteligentes e arrogantemente achar que podemos ser mais sábios do que Deus.
Eles acham que podem suplantar a Deus e ser mais sábios do que Deus. Mas Deus sempre frustra os seus esquemas. “Ele apanha os sábios na sua própria astúcia” (5:13). Esta afirmação é verdadeira (1ª Cor. 3:19). Deus faz tropeçar os homens e mulheres que tentam ser muito espertos para o seu próprio bem.
Elifaz pensa que Jó está em perigo de fazer isso, e por isso avisa: “Não faça isso, ou o fim para essas pessoas é que quando pensam tudo está claro, não podem entender o que está acontecendo em absoluto, e estão caminhando em trevas” (Jó 5:14).
O que há de errado com o conselho de Elifaz? O que há de errado em exortar Jó a ser coerente, realista, humilde e submisso a Deus? O que há de errado em exortar Jó a ser coerente com as suas crenças, de ser realista sobre nossa condição mortal, ser humilde e não ter ideias acima de si mesmo, e de bom grado submeter-se à disciplina amorosa de um Deus bom? A verdade é que descrentes e crentes sofrem igualmente.
O fato é que todos os pecados do mundo dos pecadores perdidos foram suportados pelo Salvador. Ele pagou a penalidade e tem suportado a ira para cada um dos seus pecados, conscientes e inconscientes, passados, presentes e futuros. Segue-se que nenhum sofrimento dos crentes e descrentes pode, no fim de contas, ser um castigo por seu pecado. À luz da cruz, tudo é imerecido. E ainda assim o mundo sofre.
Cristo não cometeu pecado; mas Ele sofreu o abuso e dor mais vis, até mesmo a nossa “segunda morte”. Ele é chamado de “príncipe dos doentes.” Mas o que sofreu é o que nós teríamos sofrido, se não tivesse sofrido em nosso lugar:
 “Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele; e pelas Suas pisaduras fomos sarados. Todos nós como ovelhas, nos desviamos, voltando-nos cada um ao seu próprio caminho: mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos” (Isa. 53:4-6). Isso poderia muito bem ser traduzido em linguagem moderna: “O Senhor fez cair sobre Ele a sorte de todos nós”.
Deus não Se tem acomodado em sublime indiferença, sem sentir nada de nossa desgraça. A ideia que declara que o mal é irreal, que Deus não pode sentir isso, é contrariada na Bíblia. Deus Se sente mal. Ele é infinitamente perturbado por isso, precisamente porque Ele mesmo não é mau. Ele está tão preocupado com isso que mergulhou no mar do pecado humano, tomou sobre Si a sua penalidade completa e, portanto, purificou a corrente da humanidade que irá aceitar a Sua salvação.
Então haverá qualquer significado para os sofrimentos que ainda suportamos? Sim, muito. A ideia de 1888 de receber a expiação de Cristo oferece uma resposta para o sentido dos nossos sofrimentos, que nenhuma filosofia humana, como a de Elifaz, pode proporcionar. Paulo apela aos que amam a verdade: Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo Seu corpo, que é a igreja(Col. 1:24).
E. J. Waggoner escreveu: “... Os sofrimentos são de Cristo, ... Ele os sente, e sendo dEle, é capaz de em nós suportá-los, e não precisa tremer pelo resultado. Para sermos salvos temos de ser identificados com Ele, e para sermos identificados com Ele devemos ser participantes dos Seus sofrimentos. Foi como os mártires se capacitaram a suportar com coragem as terríveis provações pelas quais entregaram as suas vidas. Seus sofrimentos foram os sofrimentos de Cristo, uma parte do que foi ‘deixado para trás’ depois que ressuscitou dos mortos, e Ele as suportou em seus corpos. ‘Verdadeiramente Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores’. As aflições podem ser chamadas nossa, mas é Ele que as suporta”. [1]
Quando os olhos da fé visualizam os sofrimentos de Cristo, imediatamente percebemos um parentesco com Ele; nos tornamos um com Ele; isso “para conhecê-Lo ... e à comunicação de Suas aflições, sendo feito conforme à Sua morte” (Fil. 3:10). Nossos sofrimentos estão em “comunhão” com os Seus sofrimentos no que compartilhamos com Ele o privilégio de demonstrar a vitória da fé sobre o mal. Nada é em vão. O verdadeiro discípulo deve compartilhar a vida de seu Mestre. Jesus disse: “Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: Não é o servo maior do que seu senhor. Se eles Me perseguiram, também vos perseguirão a vós” (João 15:20).
Perseguição e sofrimento são muito difíceis de suportar se pensarmos que é Deus quem os inflige. Mas, se sabemos que o agente é Satanás, podemos suportá-los com alegria porque percebemos uma “comunhão” com Cristo. O sofrimento já não é inútil e sem sentido. Se fôssemos transportados para um lugar de recompensa (céu) sem que tenhamos experimentado o sofrimento nesta vida, iríamos nos sentir miseravelmente fora de lugar na presença de Jesus, que teve que suportar tanta perseguição e sofrimento por nossa causa. Os seres humanos que querem ter comunhão com Deus em qualquer nível também devem ter comunhão com Ele no sofrimento. Só então serão capazes de apreciar o Seu dom da salvação.

Paul E. Penno
           Notas finais                                                                                                         
[1] E. J. Waggoner, “The Sufferings of Christ,” The Present Truth, (A Verdade Presente), 6 de Junho de 1895; ênfase acrescida.

                Notas:                                                                                                  
O vídeo, em inglês, do Pastor Paul Penno sobre esta lição, gravada com um sábado de antecedência,

Esta introspecção, em inglês, está na Internet, acesse:  http://1888mpm.org
Depois, clique em SABBATH SCHOOL TODAY / Ouline, 2016 / 4th quarter / The book of Jobe.

Paulo Penno foi pastor evangelista da igreja adventista na cidade de Hayward, na Califórnia, EUA, da Associação Norte Californiana da IASD, localizada no endereço 26400, Gading Road, Hayward, Telefone: 001 XX (510) 782-3422. Ele foi ordenado ao ministério há 38 anos. Após o curso de teologia ele fez mestrado na Universidade de Andrews. Recentemente ele preparou uma extensiva antologia dos escritos de Alonzo T. Jones e Ellet J. Waggoner, a qual está incluída na Compreensiva Pesquisa dos Escritos de Ellen G. White. Recentemente também ele escreveu o livro “O Calvário no Sinai: A Lei e os Concertos na História da Igreja Adventista do 7º Dia,” e, ao longo dos anos, escreveu muitos artigos sobre vários conceitos da mensagem de 1888. Ele foi jubilado em julho de 2016. O pai dele, Paul Penno foi também pastor da igreja adventista, assim nós usualmente escrevemos seu nome: Paul E. Penno Junior. Ele foi o principal orador do seminário “Elias, convertendo corações”, nos dias 6 e 7 de fevereiro de 2015, realizado na igreja adventista Valley Center Seventh-day Adventist Church localizada no endereço: 14919 Fruitvale Road, Valley Center, Califórnia.
Atenção, asteriscos (*…) indicam acréscimos do tradutor.
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