Para 5 a 12 de
novembro de 2016
Muitas
pessoas têm a ideia de que Deus é uma Deidade vingativa apenas esperando uma
chance de golpeá-las com os Seus relâmpagos de retribuição por seus pecados. E
se Deus é assim, um julgamento com Ele, como juiz, certamente seria uma
perspectiva terrível. A Bíblia, no entanto, descreve um Deus e um julgamento
que diferem surpreendentemente desse equívoco comum.
Também
às vezes representamos a Jesus como amoroso, presente entre nós, e um Pai
severo. Mas de acordo com a Bíblia, o Pai tanto nos ama e está ansioso pela
nossa salvação eterna quanto o Filho. “Porque
Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito” (João
3:16). “Deus estava em Cristo,
reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando as suas ofensas” (2ª
Coríntios 5:19).
Esta
foi uma das grandes verdades bíblicas reveladas na mensagem de 1888. E. J.
Waggoner, um dos “mensageiros”, a expõe desta maneira:
“‘Pela justiça de um, o dom gratuito veio
sobre todos os homens para justificação da vida’. Não há nenhuma exceção
aqui.Como a condenação veio sobre todos, assim a justificação vem sobre
todos.Cristo provou a morte por cada homem. Entregou-Se a Si mesmo por todos.
Não, ele Se entregou por cada homem. O dom gratuito veio a todos. O fato de ser
um dom gratuito é uma prova de que não há exceção: se se tratasse apenas de
pessoas com alguma qualificação especial não seria um dom gratuito. É um fato,
portanto, claramente enunciado na Bíblia que o dom da justiça e da vida em
Cristo alcançou a todos os homens na Terra. Não há a menor razão por que todo
homem que já viveu não seja salvo para a vida eterna, a não ser que não o
queira. Muitos rejeitam o dom
oferecido tão livremente”.1
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O
livro de Jó, provavelmente o livro mais antigo do mundo, descreve um paciente,
aparentemente terminal, falando com seus “amigos” que estão certos de que o
sofredor merece o seu destino, um paciente que protesta que ninguém poderia
pecar o suficiente para merecer esse tipo de punição (certamente, não ele).
À
medida que a discussão começa, Elifaz avisa o sofredor Jó que sua agonia é
justamente infligida porque ele deve ser culpado de um pecado terrível. Aqui estão algumas
transcrições:
“Lembra-te
agora qual é o inocente que jamais pereceu? . . . Porque do pó não procede a
aflição, nem da terra brota o trabalho. Mas o homem nasce para a tribulação,
como as faíscas se levantam para voar. Porém eu buscaria a Deus . . . Eis que
isto já o havemos inquirido, e assim é; ouve-o, e medita nisso para teu bem”.
Deus
está castigando Jó, diz Elifaz, e Jó pode melhor servir ao seu próprio
interesse arrependendo-se. Não é um bom raciocínio? Era o melhor que as mentes
humanas poderiam suscitar naquele tempo, e é ainda a maneira que muita gente
raciocina hoje. A humanidade sofredora deve simplesmente implorar a
misericórdia de um Deus sem coração que não sofre, Ele próprio.
Conforme
a discussão continua, no entanto, Jó consegue penetrar na falácia interna de
tal conceito. Sem a nossa Bíblia para ajudá-lo, ele finalmente arrazoa o seu
caminho fora das sombras. Por trás do sofrimento humano está um Deus que também
sofre.
“Porque as flechas do Todo Poderoso estão em
mim, cujo ardente veneno suga o meu espírito; os terrores de Deus se armam
contra mim. ... Quem dera que se cumprisse o meu desejo, e que Deus me desse o
que espero! E que Deus quisesse quebrantar-me, e soltasse a sua mão, e me
acabasse! Isto ainda seria a minha consolação, e me refrigeraria no meu
tormento, ... Qual é a minha força, para que eu espere? Ou qual é o meu fim,
para que tenha ainda paciência? ... falarei na angústia do meu espírito;
queixar-me-ei na amargura da minha alma. A minha vida abomino” (6: 4, 8-11; 7:11, 16).
Então
Bildade une-se à discussão e pressiona o espinho do desespero ainda mais
profundo. Jó deve ter pecado
terrivelmente, ele argumenta:
“Deus
nunca torce a justiça, ele nunca deixa de fazer o que é certo, seus filhos
devem ter pecado contra Deus, e por isso os castigou como eles mereceram. ... Deus
nunca abandonará os fiéis”
(8: 3, 4, 20).
“Sim”,
responde Jó, “ouvi tudo isso antes. ...
Já não me importo, estou farto de viver, nada importa, inocente ou culpado,
Deus nos destruirá. ... Deus deu ao mundo os ímpios, e todos os juízes ficaram
cegos, e se Deus não o fez, quem foi?” (9:1, 21-24).
Ah, Jó! Você
está meio certo e meio errado. Há injustiça — você está certo. Mas Deus não a
causou; aí você está errado. Há uma resposta para a pergunta que você ainda não
sabe. Nós, que podemos ler o prólogo do livro, sabemos o que é: Deus não trouxe
o sofrimento de Jó, Satanás o fez. Mas Jó ainda não pode romper sua dor para
perceber isso.
Zofar
tem estado escutando calmamente, decidindo o que dizer. Quando ele se une à
discussão, o seu comentário é o ataque mais cruel de todos. Ele diz a Jó: “Deus está te punindo menos do que mereces”
(11: 6).
Mesmo
sem sofrimento físico, é insuportável sentir-se totalmente condenado e
abandonado por Deus. Jó não consegue entender por que Deus se virou contra ele.
Imagina-se como uma criança desamparada, escondida no porão até que seu pai se
supera à embriaguês e chama: “Jó, meu filho querido, onde você está? Volte”.
“Quem
dera que me escondesses na sepultura, e me ocultasses até que a tua ira se
fosse; e me pusesses um limite, e te lembrasses de mim! Morrendo o homem,
porventura tornará a viver? Todos os dias de meu combate esperaria, até que
viesse a minha mudança. Chamar-me-ias, e eu te responderia, e terias afeto à
obra de tuas mãos” (14: 13-15).
Enquanto
isso, a repugnante doença de Jó é tão ruim que até mesmo sua família não quer
se aproximar dele. Pior
ainda, ele sente que Deus o abandonou também:
“Pôs
longe de mim a meus irmãos, e os que me conhecem, como estranhos se apartaram
de mim. Os meus parentes me deixaram, e os meus conhecidos se esqueceram de
mim. Os meus domésticos e as minhas servas me reputaram como um estranho, e vim
a ser um estrangeiro aos seus olhos. Chamei a meu criado, e ele não me
respondeu; cheguei a suplicar-lhe com a minha própria boca. O meu hálito se fez
estranho à minha mulher; tanto que supliquei o interesse dos filhos do meu
corpo. ... Todos os homens da minha confidência me abominam, e até os que eu
amava se tornaram contra mim. ... a mão de Deus me tocou” (19:
13-21).
Zofar
responde: Isto é obra de Deus; Seus pecados alcançaram você finalmente.
Qualquer um doente como você está obtendo somente o que merece.
Jó e
seus amigos tinham tanto razão quanto estavam errados. Doença e morte vêm como
resultado do pecado. Mas não é Deus que inflige essa tortura aos seres humanos.
Há uma
briga nos bastidores entre Deus e Satanás sobre a questão da culpa ou inocência
do homem. Jó é um pecador — como todos somos. Mas ele tem um Redentor que tomou
o seu pecado sobre si mesmo. Em Cristo, Jó é inocente; a justiça de Cristo é
dele. De jeito nenhum ele merece esse sofrimento. É Satanás, o adversário, que
lhe inflige.
Assim,
o drama de Jó se torna a saga da humanidade. Ele manterá sua fé em Deus apesar
de seu sofrimento? Ele honrará o seu Senhor? Sim ele o fez.
Um elo
divino vincula Jó, sofrendo sozinho em seu monte de dejetos, com outro
Sofredor, morrendo sozinho em Sua cruz. Podemos ousar vê-Lo como Ele é — o
Príncipe dos sofredores que, embora “não
conhecesse pecado”, foi feito “pecado
por nós . . . para que sejamos feitos justiça de Deus nEle”? (2ª Cor. 5:21,
KJV). Ele tornou-Se um de nós para “provar
a morte por todos os homens” (Heb. 2: 9). Não só o horror da morte devido a
uma doença terminal, mas algo muito pior — o horror do que a Bíblia chama de “segunda morte” (Apo. 2:11; 20:14).
Qual é
a diferença? Todo paciente que sofre pode morrer com esperança iluminando sua
alma porque Cristo é “a verdadeira Luz
que ilumina a todo homem que vem ao mundo” (João 1: 9). A garantia amorosa
do perdão pode penetrar a alma desesperada, e nas trevas uma luz começará a
brilhar. A morte perderá o seu terror. O Espírito Santo sussurra a certeza de
que “o Senhor colocou sobre Ele (Cristo)
a iniquidade de nós todos” (Isa. 53: 6), e o sofredor pode dormir,
confiante de que a paz do céu enche a sua alma, e que ele ressuscitará na
primeira ressurreição dos santos.
Mas
quando o Filho de Deus morreu, clamou: “Meu
Deus, meu Deus, por que me desamparaste?” (Mat. 27:46). Este não era o
grito de um ator que memorizou o seu texto para recitá-lo no palco. Cristo
provou o tipo de angústia que os perdidos sem luz sentirão em sua hora final
após a segunda ressurreição.
Todo
paciente no mundo precisa ver esse Substituto divino e saber que Cristo não é
apenas um espectador indiferente ao seu tormento, Alguém que não sofre também.
Cristo compartilha a dor. Mais do que isso, Ele sofre agonia além do nosso
limite de suportar. O sono e a morte podem nos libertar, mas Cristo sofre
porque Ele Se identifica com toda a dor humana por todo o mundo.
Os
discípulos de Cristo uma vez Lhe perguntaram se um homem que nascera cego tinha
pecado, ou tinham os seus pais pecado. Sua resposta os atordoou: “Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim
para que se manifestem nele as obras de Deus”. Então Ele o curou e o
homem “voltou vendo” (João 9:1-7).
Jesus não quis dizer que Deus tinha criado o homem cego de propósito; Antes,
Deus invalidou a cegueira para demonstrar o Seu poder salvador. A graça de Deus
se especializa em transformar maldições em bênçãos.
“Com os sofrimentos de Cristo, há também
alegria e glória, somos esculpidos nas palmas de Suas mãos (Isaías 49:16), mas
com as marcas dos pregos de Sua cruz há também feixes de luz. Em nossa
tribulação, somos confortados pelo Deus de toda consolação. ‘Porque, como as aflições de Cristo são
abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de
Cristo’ (2ª Cor. 1:5). Ao ser participantes dos sofrimentos de Cristo,
somos identificados como Filhos de Deus (Heb. 12:7, 8): “Se fordes reprovados pelo nome de Cristo, bem-aventurados sois, porque
o Espírito de glória e de Deus repousa sobre vós” (1ª Ped. 4:14). Há glória
com os Seus sofrimentos em nós, e como os nossos sofrimentos são dEle, assim
também a Sua glória é nossa, e quando essa glória se revelar, também nos
alegraremos ‘com grande regozijo’” (1ª
Pedro 4:13).2
Deus
nos adverte de que “o salário do pecado é
a morte”, e só faz sentido “fugir da
ira vindoura”, a “ira” que o
pecado traz sobre nós mesmos (Rom. 6:23, 3:7). Mas até que a morte “seja tragada em vitória”, Deus — deve
sofrer conosco quando sofremos, porque Ele não pode parar de nos amar.
—Texto composto dos
escritos do Pr. Roberto Wieland
Notas de rodapé:
1) Ellet J.
Waggoner, Waggoner on Romans, (Waggoner sobre Romanos) 1896, pág. 101.
2) Waggoner, "The Sufferings of Christ," (Os
Sofrimentos de Cristo) The Present Truth, de 6 de Junho de 1895. You may
read or download the entire article at: http://www.1888mpm.org/blog/sufferings-christ
O irmão Roberto J. Wieland foi um pastor
adventista, a vida inteira, missionário na África, em Nairobe e Kenia. É autor
de inúmeros livros. Foi consultor editorial adventista do Sétimo Dia para a
África. Ele deu sua vida por Cristo na África. Desde que foi jubilado, até sua
morte, em julho de 2011, aos 95 anos, viveu na Califórnia, EUA, onde ainda era
atuante na sua igreja local.
Ele é autor de dezenas de livros.
Em 1950 ele e o pastor Donald K. Short, também missionário na África,
em uma das férias deles nos Estados Unidos, fizeram dois pedidos à Conferência
Geral:
1º) que fossem publicadas todas as matérias de
Ellen G. White sobre 1888, e
2º) que fosse publicada uma antologia dos escritos
de Waggoner e Jones e sua mensagem que receberam mais de 200 recomendações de
Ellen G. White.
38 anos depois, em 1988, a Conferência
Geral atendeu o primeiro pedido, o que resultou na publicação de 4 volumes
com um total de 1821 páginas tamanho A4, com o título Materiais
de Ellen G. White sobre 1888.
Notas:
O vídeo, em inglês, do
Pastor Paul Penno sobre esta lição, gravada com um sábado de antecedência,
está
na Internet em: https://www.youtube.com/watch?v=D4cmzo1b-Sk
Esta introspecção, em
inglês, está na Internet, acesse: http://1888mpm.org
Depois, clique em SABBATH SCHOOL TODAY / Outline, 2016 / 4th
quarter / The book of Jobe.
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