quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Lição 11 — Do meio da tempestade, por Roberto Wieland



Para 3 a 10 de dezembro de 2016

Em nosso estudo desta semana, gostaríamos de nos concentrar na lição de quinta-feira, “Arrependendo-se no pó e na cinza”. O autor da nossa lição faz a declaração de que Jó, depois de ter-se “chocado pelo que Deus lhe havia mostrado”, “viu a si mesmo segundo o que realmente era, ... detestando-se e arrependendo-se no pó e na cinza”.
Ellen White escreveu: “’O Senhor respondeu a Jó dum redemoinho’ (Jó 38: 1), e revelou ao Seu servo a força do Seu poder. Quando Jó teve um vislumbre do seu Criador, abominou-se a si mesmo e se arrependeu no pó e na cinza. Então o Senhor pôde abençoá-lo abundantemente, e fazer os seus últimos dias os melhores de sua vida”.1 Isso nos faz lembrar uma declaração semelhante com referência ao Seu povo nos tempos modernos:
 “A menos que se arrependa e se converta, a Igreja que está agora a levedar-se com sua apostasia, comerá do fruto de seus próprios atos, até que se aborreça por si mesma. Quando resistir ao mal e escolher o bem, quando buscar a Deus, com toda a humildade, e alcançar sua alta vocação em Cristo, permanecendo na plataforma da verdade eterna, e pela fé lançar mão dos dons que para ela se acham preparados, então será curada. Aparecerá então na simplicidade e pureza que Deus lhe deu, separada de embaraços terrenos, mostrando que a verdade com efeito a libertou. Então seus membros serão na verdade os escolhidos de Deus, os Seus representantes”.2
Ellet J. Waggoner, um dos “mensageiros” de 1888, escreveu que “onde quer que no Velho Testamento se fale de alguém sendo quebrantado pelo Senhor, encontramos em associação com isso arrependimento, submissão ou amargura de alma, pó e cinza. Quando se humilharam perante o Senhor, puseram poeira sobre as suas cabeças, e o que significa isto: ‘Eu não sou nada mais do que pó’. No Salmo penitencial 51, é dito perto do seu fim: Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus’. A palavra ‘contrito’ significa ser esfregado até que se torne pó, pois o Senhor não despreza o pó, porque pode fazer muito com ele, e um bom trabalhador não despreza o seu material. Pó é algo que o Senhor toma para fazer tudo: do pó Ele fez crescer todas as coisas, e do pó fez o homem para governar as obras das Suas mãos, por isso o Senhor não despreza o pó”.3 
Poderia esta “história” do Velho Testamento e dos escritos de Ellen G. White e de um dos “mensageiros” de Deus ser-nos pertinentes, vivendo nos “últimos dias”?
Com muito destaque na mensagem de 1888 acha-se a ideia de deixar de resistir ao nosso Senhor. Ellen White a captou. Só depois da Assembleia de 1888 ela declarou claramente: “Poderá o pecador resistir a esse amor, poderá recusar-se a ser atraído para Cristo. Se, porém, não se opuser, será levado para Ele ... arrependido de seus pecados”.4 Nisto está a essência da purificação do santuário!
A ideia de purificação do santuário de 1888 transmite uma nova motivação para seguir a Cristo. A verdade do Ágape fornece a força — “o Ágape de Cristo nos constrange” (2ª Cor. 5:14). O temor do “juízo investigativo” é “expulso”. Isso é parte do cósmico Dia da Expiação — um tempo para a final união com Cristo. Isso livra do medo tanto quanto Ele mesmo foi liberto do medo em Sua vida terrena.
A verdade do Santuário conduz diretamente à Noiva de Cristo se preparando. Essa “unicidade” é adicionalmente delineada na Escritura como um desenvolvimento que nunca ocorreu em toda a história passada: “vindas são as bodas do Cordeiro e já Sua esposa se preparou”. Uma bênção especial é pronunciada sobre aqueles que são convidados “às bodas do Cordeiro” (Apoc. 19:6-9). Como indivíduos, todos (incluindo os dos últimos dias) são “convidados às bodas”. Mas como um corpo corporativo, a Igreja do grande Dia da Expiação se torna a Noiva de Cristo.
Para que a Noiva “se prepare” para as “bodas do Cordeiro”, ela deve acolher a revelação de sua verdadeira necessidade. A Noiva é uma unidade corporativa, portanto, o seu arrependimento é um arrependimento corporativo.
Tal arrependimento não é apenas tristeza pelo pecado e seus resultados, mas um verdadeiro aborrecimento dele. Produz um afastamento real do pecado. A lei nunca pode fazer isso por ninguém; o milagre é administrado pela graça. “A lei produz a ira”, transmitindo apenas um terror de julgamento, mas a graça opera um arrependimento que faz com que as “coisas velhas” passem; “Eis que tudo se fez novo” (Rom. 4:15, 2ª Cor. 5:17). O pecado que já foi amado é agora odiado, e a justiça que uma vez foi odiada agora é amada. “a benignidade de Deus te leva ao arrependimento” (Rom. 2:4).
Longe de ser uma experiência negativa, tal arrependimento é o fundamento de toda alegria verdadeira. Como cada crédito deve ter um débito correspondente para equilibrar os livros, para que os sorrisos e felicidade da vida sejam significativos, devem ser fundamentados sobre as lágrimas de Outro sobre quem foi colocado “o castigo da nossa paz” e com cujas “pisaduras fomos sarados” (Isa. 53:5). O arrependimento não se trata de nossas lágrimas e tristezas equilibrando os livros da vida; é a nossa apreciação do que Lhe custou suportar as nossas enfermidades e levar sobre Si as nossas dores (Isa. 53: 4).
Ellen White diz: “A cada passo avançado na experiência cristã, nosso arrependimento se aprofundará, e isso é para aqueles a quem o Senhor perdoou, aos que Ele reconhece como Seu povo, e Ele diz: ‘Então vos lembrareis dos vossos maus caminhos, e dos vossos feitos, que não foram bons; e tereis nojo em vós mesmos das vossas iniquidades e das vossas abominações’ (Eze. 36:31).5
Um arrependimento como este está além de nossa capacidade de criar ou iniciar. Deve vir como um presente de cima. Deus exaltou a Cristo “para dar a Israel o arrependimento” (Atos 5:31). E aos gentios também Ele “deu arrependimento para a vida” (Atos 11:18). Ele é menos generoso conosco hoje? Tal experiência parece quase totalmente fora de lugar nestes últimos dias. Uma Igreja sofisticada pode recebê-la? 
O arrependimento de Laodiceia descerá às raízes mais profundas dessa “inimizade natural contra Deus”. Esta fase mais profunda do arrependimento é o arrependimento de pecados que não podemos ter cometido pessoalmente, mas que teríamos cometido se tivéssemos a oportunidade.6 A raiz de todo pecado, seu denominador comum, é a crucificação de Cristo. Um arrependimento para este pecado é apropriado porque os livros do céu já registram esse pecado escrito contra nossos nomes.
O apelo a Laodiceia para o arrependimento é a essência da mensagem da justiça de Cristo. Qualquer que seja o pecado de que as outras pessoas são culpadas, elas obviamente tiveram a “oportunidade” de cometê-los; de alguma forma as tentações foram-lhes dominantes. A percepção mais profunda que o Espírito Santo nos traz é que, por natureza, não somos melhores do que os outros. A justiça de Cristo nos é 100% imputada; nós não temos nem 1 por cento que é nosso por natureza. Quando a Escritura diz que “todos pecaram”, significa, como a Bíblia Nova traduz, “todos igualmente pecaram” (Romanos 3:23). Cavando bem em baixo para arrancar fora as raízes – essa é agora “verdade presente”.
Não há maneira por que possamos apreciar as alturas da gloriosa justiça de Cristo até que estejamos dispostos a reconhecer as profundezas de nossa própria pecaminosidade. Uma confissão de pecado que só arranhe a superfície pode produzir apenas um perdão superfícial ou de verniz. E isso, naturalmente, produz a mornidão espiritual.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem algo de que se arrepender no “pó e cinza”? Sim, Ellen White escreve: “Sobre todos repousa a culpa de crucificar o Filho de Deus”.7

- Dos escritos de Robert J. Wieland

Notas:
1) Ellen G. White, Profetas e Reis, pág. 164;
2) Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, vol. 8, págs. 250 e 251;
3) Ellet J. Waggoner, "Estudos do Livro de Hebreus, Nº 5," 14 de fevereiro de 1897;
4) Ellen G. White, Caminho a Cristo, pág. 27;
5) Ellen G. White, Parábolas de Jesus, págs. 160, 161.
6) Comentário de Ellen G. White no vol. 5 do Comentário Bíblico Adventista, pág. 1085 (Originalmente em Signs of the Times, de 31 de julho de 1901).
7) Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 745.


Notas:                                                                                

O vídeo, em inglês, do Pastor Paul Penno sobre esta lição, gravada com um sábado de antecedência,
está na Internet em: https://youtu.be/rWjQaImAJPw

Esta introspecção, em inglês, está na Internet, acesse:  http://1888mpm.org
Depois, clique em SABBATH SCHOOL TODAY / Outline, 2016 / 4th quarter / The book of Jobe.

Biografia
 O irmão Roberto J. Wieland foi um pastor adventista, a vida inteira, missionário na África, em Nairobe e Kenia. É autor de inúmeros livros. Foi consultor editorial adventista do Sétimo Dia para a África. Ele deu sua vida por Cristo na África. Desde que foi jubilado, até sua morte, em julho de 2011, aos 95 anos, viveu na Califórnia, EUA, onde ainda era atuante na sua igreja local. Ele é autor de dezenas de livros. Em 1950 ele e o pastor Donald K. Short, também missionário na África, em uma das férias deles nos Estados Unidos, pediram à Conferência Geral que fossem publicadas todas as matérias de Ellen G. White sobre 1888. 38 anos depois, em 1988, a Conferência Geral atendeu o pedido, o que resultou na publicação de 4 volumes com um total de 1821 páginas tamanho A4, com o título Materiais de Ellen G. White sobre 1888.

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