Para 8 a 15 de setembro de 2018
Pode-se facilmente imaginar como deve ter sido o
sentimento de Paulo em estar entre os seus irmãos quando se recusaram
repetidamente a entender as boas novas que ele estava tentando transmitir-lhes.
Que situação frustrante! Não importa como mudou a maneira de abordar a sua
apresentação da verdade, pois bateu contra a parede de tijolo de opiniões
preconcebidas (Atos 13: 42-45; 14: 2; 19; 15: 1, 2; 17: 5, 6; 32; etc.). Em
seguida, vem um confidente de confiança que o aconselha a apenas comprometer um
pouco, ninguém achará que isso importe a longo prazo”. Quantas vezes somos
tentados a comprometer a verdade por conveniência ou correção política? Vemos isto acontecendo ao nosso redor na Igreja
hoje.
Por causa do orgulho e da teimosia das opiniões
preconcebidas, o compromisso e sua confusão resultante atormentaram a Igreja de
Deus desde o início, e continuarão até que finalmente alguns poucos fiéis
acordem, limpem a névoa de seus óculos espirituais e se arrependam de sua
cegueira laodiceana.
“Por causa de uma falha em apreciar a mensagem de 1888,
lá atrás na década de 1890 havia uma tendência a confundir O Segredo Cristão de uma Vida Feliz, da autora Hannah Whitall
Smith, com verdadeira justiça pela fé” (cf. Boletim da Associação General de
1893, págs. 358, 359). ... Através das décadas tem havido exemplos proeminentes
dessa confusão sobre os conceitos católicos romanos de piedade e da ‘vida
interior’”.1
A maioria de nós já ouviu o ditado: “uma gota de arsênico
vai envenenar toda a xícara de chá”. Vários eventos em nossa história
contribuíram com suas gotas de arsênico para o pensamento coletivo. A “gota de
arsênico” que os cristãos judeus estavam tentando acrescentar era que a
circuncisão, ou quaisquer “obras da lei” tinham mérito.
“É um erro grave da parte daqueles que são filhos de Deus
procurar contornar o fosso que separa os filhos da luz dos filhos das trevas,
cedendo princípios, comprometendo a verdade.”2
Embora a Igreja primitiva, sob o poder da obra do
Espírito Santo em seus corações, em sua primeira assembleia de “associação
geral” em Jerusalém, tivesse chegado a um consenso sobre a questão do “como” da
salvação—somente através da fé (ver Atos 15:20-29), permaneceu um importante
ponto de dissensão entre os crentes judeus e gentios. Os seguidores judeus de
Jesus haviam sido admoestados a não colocar o ônus da circuncisão (ou “obras”)
sobre os gentios convertidos.
Antigos egípcios, etíopes, sírios e fenícios praticavam a
circuncisão. Por que Deus ordenou Abraão a circuncidar os homens em sua casa? O
propósito de Deus não era imitar os pagãos, mas colocar um propósito espiritual
em uma prática comum. A intenção de Deus era sempre lembrar a Abraão e seus
descendentes que as obras da carne não podem cumprir a promessa de Deus e, de
fato, produzirão apenas mais injustiça. Abraão ouviu Sara e pensou que poderia
produzir o “filho da promessa” através de uma mulher escrava. Assim como os seus
descendentes fizeram no Sinai quando pensaram que através de seus próprios
esforços podiam fazer “tudo o que o Senhor ordenou”, Abraão precipitadamente
assumiu toda a responsabilidade sobre si mesmo para produzir o filho da
promessa. Esse erro de cálculo resultou em um desastre que ainda estamos
enfrentando até hoje.
Desde a entrada do pecado neste mundo, a maior parte da
humanidade depende do “eu” para criar um escudo a partir dos resultados do
pecado. A nudez de Adão foi coberta com o trabalho de suas próprias mãos em
moldar uma roupa de folha de figueira. Caim pensou que as obras de suas mãos em
cultivar o solo deviam ter sido suficientes como oferta pelo pecado. Abraão
pensou que ele era homem o suficiente para produzir o filho prometido sem
exercer fé no poder criador de Deus—apenas lhe fosse dado uma mulher fértil e
ele poderia realizar o fato.
“Quem confia em si mesmo está adorando as obras de suas
próprias mãos em vez de Deus, tão verdadeiramente quanto qualquer que faz e se
curva a uma imagem esculpida.”3 Mas “para o que trabalha é
a recompensa não contada da graça, mas da dívida” (Rom. 4:4). “Se
trabalhássemos pela justiça, estaríamos exercendo apenas nossa própria natureza
humana pecaminosa, e assim não chegaríamos mais perto da justiça, mas iríamos
para mais longe dela”. “Então, vemos que confiar nas obras da lei não significa
que alguém esteja cumprindo a lei”.4
No momento em que Cristo veio ao nosso mundo, os judeus
perderam de vista o verdadeiro significado da circuncisão. Tornou-se nada mais do
que uma tradição religiosa, um rito significando entrada na tribo de Israel.
Eles supunham que isso os diferenciava como o “povo escolhido” de Deus. Presumiram
que a circuncisão e as “obras da lei” faziam deles um povo especial aos olhos
de Deus. Mas “Deus deu a circuncisão como um sinal de fé em Cristo. Os judeus a perverteram em
um substituto para a fé”.5
A referência do apóstolo Paulo à circuncisão em sua carta
aos gálatas e em outros lugares, foi usada “como o símbolo de todo tipo de ‘trabalho’
feito por homens com a esperança de obter justiça. É ‘as obras da carne’, em
oposição ao Espírito.” “Aquilo que devia ser apenas o sinal de um fato já existente foi tomado pelas gerações
subsequentes como o meio de
estabelecer o fato.”6
O argumento na Igreja primitiva, como ainda para muitos
hoje, é o “como” da salvação. “A questão é como obter justiça—a salvação
do pecado—e a herança que vem com ela. O fato é que ela pode ser obtida somente
pela fé—recebendo a Cristo no coração e permitindo que Ele viva a vida de
Cristo em nós.”7
Gên. 15:6 nos diz que Abraão “creu no SENHOR, e Ele o
contou [a fé de Abraão na promessa de Deus] isso por justiça”. Foi somente
quando Sara também se rendeu e passou a viver pela fé na promessa de Deus, que
foi capaz de conceber—quando finalmente acreditou que Deus era fiel em cumprir a
Sua própria promessa a eles. “Pela fé,
até mesmo a própria Sara, quando não podia ter filhos, recebeu o poder de
conceber filhos, mesmo tendo passado da idade, pois considerava que Aquele que
havia prometido era fiel. Portanto, de um homem—na verdade, de um tão bom quanto
um morto—veio uma prole tão numerosa quanto as estrelas do céu e tão inumerável
como
os grãos de areia à beira-mar” (Heb.
11:11, 12, Holman Christian Standard Bible).
Deus deu a circuncisão a Abraão como um sinal do fato de
que “não temos nada e nada somos, e Ele tem tudo e é tudo e dá tudo”.8
A circuncisão “tinha um significado especial para Abraão, continuamente
lembrando-o de seu fracasso quando tentou por meio da carne cumprir a promessa
de Deus. O registro disto serve ao mesmo propósito para nós. Mostra que a carne
‘não aproveita nada’ ‘e não é, portanto, para dela se depender”. 9
Deve ser decidido para sempre que as tentativas da
humanidade de produzir justiça através de qualquer quantidade de “obras da lei”
só podem resultar num senso egocêntrico de realização que se presume merecer
recompensa. Tal tem sido a ideia do paganismo na construção da torre de Babel.
No entanto, a verdade bíblica é muito diferente. “Se você reunisse tudo o que é
bom e santo e nobre e amável no homem e então apresentasse o assunto aos anjos
de Deus como participando da salvação da alma humana ou em mérito, a proposição
seria rejeitada como traição”.10
Muitos hoje argumentam que “a fé é minha obra”—é o
esforço humano posto em crer na promessa de Deus para nos salvar do pecado.
Isso é verdade? “Há perigo em considerar justificação pela fé como colocar
mérito na fé. Quando aceita a justiça de Cristo como uma dádiva gratuita, você é
justificado livremente através da redenção de Cristo. O que é fé? ... É um
consentimento do entendimento às palavras de Deus que une o coração em
disposição de consagração e serviço a Deus, o Qual deu o entendimento, moveu o
coração, primeiro atraiu a mente para ver a Cristo na cruz do Calvário. A fé é submeter
a Deus as faculdades intelectuais, o abandono da mente e vontade a Deus, e fazer
de Cristo a única porta para entrar no reino dos céus”.11
Por favor, entenda o que isso diz: é Deus quem dá entendimento;
é Deus quem move o coração e leva a mente ao alcance da realidade do que
aconteceu na cruz do Calvário. Como Abraão, tudo o que podemos fazer é entregar
nossa vontade e dizer: “Amém”—cremos e concordamos com Deus de que a salvação é
tudo Dele e nada de nós.
—Ann Walper
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Notas
Finais:
1) Robert J.
Wieland, The Knocking At The Door (O Toque à Porta), pág. 73 (1983);
2) Ellen G. White, Review and Herald, de 24 de julho de 1894;
3) Ellet J. Waggoner, The Glad Tidings (As Boas
Novas), pág. 94, idição CFI (2018);
The Glad Tidings, um estudo verso a verso de Gálatas, apresenta uma bela demonstração do
poder inerente a uma pura mensagem da Escritura de justiça pela fé. Para encomendar
sua cópia em inglês, por
favor, vá para: http://www.cfibookdivision.com/
4) Ídem, pág.
56, ênfase do original;
5) Ídem, pág. 110, ênfase do original;
6) Íbidem;
7) Ídem, pág. 109;
8) Ídem, pág. 71;
9) Ídem, pág. 109;
10) Ellen G. White,
Fé e Obras, p. 24.
111) Ìdem, pág. 25;
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Notas:
Veja, em
inglês, o vídeo desta 10ª lição do 3º trim. de 2018, exposta pelo Pr. Paulo Penno, na
internet, no sitio: https://youtu.be/FhrBdDz7JuI
Esta lição em inglês está na internet no sitio: http://1888message.org/sst.htm
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Biografia da autora:
A irmã Ana Walper é
uma adventista dedicada à pesquisa bíblica e às atividades da igreja.
Atualmente ela é diretora dos departamentos de liberdade religiosa; escola
sabatina; saúde e temperança, e é coordenadora de uma das unidades
evangelizadoras da escola sabatina. É também ativa instrutora bíblica.
Profissionalmente é enfermeira padrão, e durante as férias escolares ela
trabalha como enfermeira voluntária em acampamentos da juventude adventista nos
estados de Tenneessee
e Kentucky nos EUA. Ela é também escritora independente
já por 16 anos em jornais de sua cidade sobre as boas novas de Cristo e Sua
Justiça.
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Atenção:
Asteriscos (*) indicam acréscimos do tradutor.
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