terça-feira, 11 de setembro de 2018

Lição 11—A Prisão de Paulo em Jerusalém, por Ann Walper



Para 8 a 15 de setembro de 2018


Pode-se facilmente imaginar como deve ter sido o sentimento de Paulo em estar entre os seus irmãos quando se recusaram repetidamente a entender as boas novas que ele estava tentando transmitir-lhes. Que situação frustrante! Não importa como mudou a maneira de abordar a sua apresentação da verdade, pois bateu contra a parede de tijolo de opiniões preconcebidas (Atos 13: 42-45; 14: 2; 19; 15: 1, 2; 17: 5, 6; 32; etc.). Em seguida, vem um confidente de confiança que o aconselha a apenas comprometer um pouco, ninguém achará que isso importe a longo prazo”. Quantas vezes somos tentados a comprometer a verdade por conveniência ou correção política? Vemos isto acontecendo ao nosso redor na Igreja hoje.
Por causa do orgulho e da teimosia das opiniões preconcebidas, o compromisso e sua confusão resultante atormentaram a Igreja de Deus desde o início, e continuarão até que finalmente alguns poucos fiéis acordem, limpem a névoa de seus óculos espirituais e se arrependam de sua cegueira laodiceana.
“Por causa de uma falha em apreciar a mensagem de 1888, lá atrás na década de 1890 havia uma tendência a confundir O Segredo Cristão de uma Vida Feliz, da autora Hannah Whitall Smith, com verdadeira justiça pela fé” (cf. Boletim da Associação General de 1893, págs. 358, 359). ... Através das décadas tem havido exemplos proeminentes dessa confusão sobre os conceitos católicos romanos de piedade e da ‘vida interior’”.1
A maioria de nós já ouviu o ditado: “uma gota de arsênico vai envenenar toda a xícara de chá”. Vários eventos em nossa história contribuíram com suas gotas de arsênico para o pensamento coletivo. A “gota de arsênico” que os cristãos judeus estavam tentando acrescentar era que a circuncisão, ou quaisquer “obras da lei” tinham mérito.
“É um erro grave da parte daqueles que são filhos de Deus procurar contornar o fosso que separa os filhos da luz dos filhos das trevas, cedendo princípios, comprometendo a verdade.”2
Embora a Igreja primitiva, sob o poder da obra do Espírito Santo em seus corações, em sua primeira assembleia de “associação geral” em Jerusalém, tivesse chegado a um consenso sobre a questão do “como” da salvação—somente através da fé (ver Atos 15:20-29), permaneceu um importante ponto de dissensão entre os crentes judeus e gentios. Os seguidores judeus de Jesus haviam sido admoestados a não colocar o ônus da circuncisão (ou “obras”) sobre os gentios convertidos.
Antigos egípcios, etíopes, sírios e fenícios praticavam a circuncisão. Por que Deus ordenou Abraão a circuncidar os homens em sua casa? O propósito de Deus não era imitar os pagãos, mas colocar um propósito espiritual em uma prática comum. A intenção de Deus era sempre lembrar a Abraão e seus descendentes que as obras da carne não podem cumprir a promessa de Deus e, de fato, produzirão apenas mais injustiça. Abraão ouviu Sara e pensou que poderia produzir o “filho da promessa” através de uma mulher escrava. Assim como os seus descendentes fizeram no Sinai quando pensaram que através de seus próprios esforços podiam fazer “tudo o que o Senhor ordenou”, Abraão precipitadamente assumiu toda a responsabilidade sobre si mesmo para produzir o filho da promessa. Esse erro de cálculo resultou em um desastre que ainda estamos enfrentando até hoje.
Desde a entrada do pecado neste mundo, a maior parte da humanidade depende do “eu” para criar um escudo a partir dos resultados do pecado. A nudez de Adão foi coberta com o trabalho de suas próprias mãos em moldar uma roupa de folha de figueira. Caim pensou que as obras de suas mãos em cultivar o solo deviam ter sido suficientes como oferta pelo pecado. Abraão pensou que ele era homem o suficiente para produzir o filho prometido sem exercer fé no poder criador de Deus—apenas lhe fosse dado uma mulher fértil e ele poderia realizar o fato.
“Quem confia em si mesmo está adorando as obras de suas próprias mãos em vez de Deus, tão verdadeiramente quanto qualquer que faz e se curva a uma imagem esculpida.”3 Mas “para o que trabalha é a recompensa não contada da graça, mas da dívida” (Rom. 4:4). “Se trabalhássemos pela justiça, estaríamos exercendo apenas nossa própria natureza humana pecaminosa, e assim não chegaríamos mais perto da justiça, mas iríamos para mais longe dela”. “Então, vemos que confiar nas obras da lei não significa que alguém esteja cumprindo a lei”.4
No momento em que Cristo veio ao nosso mundo, os judeus perderam de vista o verdadeiro significado da circuncisão. Tornou-se nada mais do que uma tradição religiosa, um rito significando entrada na tribo de Israel. Eles supunham que isso os diferenciava como o “povo escolhido” de Deus. Presumiram que a circuncisão e as “obras da lei” faziam deles um povo especial aos olhos de Deus. Mas “Deus deu a circuncisão como um sinal de fé em Cristo. Os judeus a perverteram em um substituto para a fé”.5
A referência do apóstolo Paulo à circuncisão em sua carta aos gálatas e em outros lugares, foi usada “como o símbolo de todo tipo de ‘trabalho’ feito por homens com a esperança de obter justiça. É ‘as obras da carne’, em oposição ao Espírito.” “Aquilo que devia ser apenas o sinal de um fato já existente foi tomado pelas gerações subsequentes como o meio de estabelecer o fato.”6
O argumento na Igreja primitiva, como ainda para muitos hoje, é o “como” da salvação. “A questão é como obter justiça—a  salvação do pecado—e a herança que vem com ela. O fato é que ela pode ser obtida somente pela fé—recebendo a Cristo no coração e permitindo que Ele viva a vida de Cristo em nós.”7
Gên. 15:6 nos diz que Abraão “creu no SENHOR, e Ele o contou [a fé de Abraão na promessa de Deus] isso por justiça”. Foi somente quando Sara também se rendeu e passou a viver pela fé na promessa de Deus, que foi capaz de conceber—quando finalmente acreditou que Deus era fiel em cumprir a Sua própria promessa a eles. “Pela fé, até mesmo a própria Sara, quando não podia ter filhos, recebeu o poder de conceber filhos, mesmo tendo passado da idade, pois considerava que Aquele que havia prometido era fiel. Portanto, de um homem—na verdade, de um tão bom quanto um morto—veio uma prole tão numerosa quanto as estrelas do céu e tão inumerável ​​como os grãos de areia à beira-mar” (Heb. 11:11, 12, Holman Christian Standard Bible).
Deus deu a circuncisão a Abraão como um sinal do fato de que “não temos nada e nada somos, e Ele tem tudo e é tudo e dá tudo”.8 A circuncisão “tinha um significado especial para Abraão, continuamente lembrando-o de seu fracasso quando tentou por meio da carne cumprir a promessa de Deus. O registro disto serve ao mesmo propósito para nós. Mostra que a carne ‘não aproveita nada’ ‘e não é, portanto, para dela se depender”. 9
Deve ser decidido para sempre que as tentativas da humanidade de produzir justiça através de qualquer quantidade de “obras da lei” só podem resultar num senso egocêntrico de realização que se presume merecer recompensa. Tal tem sido a ideia do paganismo na construção da torre de Babel. No entanto, a verdade bíblica é muito diferente. “Se você reunisse tudo o que é bom e santo e nobre e amável no homem e então apresentasse o assunto aos anjos de Deus como participando da salvação da alma humana ou em mérito, a proposição seria rejeitada como traição”.10
Muitos hoje argumentam que “a fé é minha obra”—é o esforço humano posto em crer na promessa de Deus para nos salvar do pecado. Isso é verdade? “Há perigo em considerar justificação pela fé como colocar mérito na fé. Quando aceita a justiça de Cristo como uma dádiva gratuita, você é justificado livremente através da redenção de Cristo. O que é fé? ... É um consentimento do entendimento às palavras de Deus que une o coração em disposição de consagração e serviço a Deus, o Qual deu o entendimento, moveu o coração, primeiro atraiu a mente para ver a Cristo na cruz do Calvário. A fé é submeter a Deus as faculdades intelectuais, o abandono da mente e vontade a Deus, e fazer de Cristo a única porta para entrar no reino dos céus”.11
Por favor, entenda o que isso diz: é Deus quem dá entendimento; é Deus quem move o coração e leva a mente ao alcance da realidade do que aconteceu na cruz do Calvário. Como Abraão, tudo o que podemos fazer é entregar nossa vontade e dizer: “Amém”—cremos e concordamos com Deus de que a salvação é tudo Dele e nada de nós.

Ann Walper

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Notas Finais:                                                        

1) Robert J. Wieland, The Knocking At The Door  (O Toque à Porta), pág. 73 (1983);                 

2) Ellen G. White, Review and Herald, de 24 de julho de 1894;     

3)  Ellet J. Waggoner, The Glad Tidings (As Boas Novas), pág. 94, idição CFI (2018);
The Glad Tidings, um estudo verso a verso de Gálatas, apresenta uma bela demonstração do poder inerente a uma pura mensagem da Escritura de justiça pela fé. Para encomendar sua cópia em inglês, por favor, vá para: http://www.cfibookdivision.com/ 

4) Ídem, pág. 56, ênfase do  original;                                                 

5) Ídem, pág. 110, ênfase do original;                                               

6) Íbidem;                                                                                           

7) Ídem, pág. 109;                                                                              

8) Ídem, pág. 71;                                                                                

9) Ídem, pág. 109;                                                                         

10) Ellen G. White, Fé e Obras, p. 24.                                               
111) Ìdem, pág. 25;                                                                            
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Notas:                                                                                               

Veja, em inglês, o vídeo desta 10ª lição do 3º trim. de 2018, exposta pelo Pr. Paulo Penno, na internet, no sitio: https://youtu.be/FhrBdDz7JuI

Esta lição em inglês está na internet no sitio: http://1888message.org/sst.htm
   
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Biografia da autora:

A irmã Ana Walper é uma adventista dedicada à pesquisa bíblica e às atividades da igreja. Atualmente ela é diretora dos departamentos de liberdade religiosa; escola sabatina; saúde e temperança, e é coordenadora de uma das unidades evangelizadoras da escola sabatina. É também ativa instrutora bíblica. Profissionalmente é enfermeira padrão, e durante as férias escolares ela trabalha como enfermeira voluntária em acampamentos da juventude adventista nos estados de Tenneessee e Kentucky nos EUA. Ela é também escritora independente já por 16 anos em jornais de sua cidade sobre as boas novas de Cristo e Sua Justiça.

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Atenção: Asteriscos (*) indicam acréscimos do tradutor.

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