quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O Caráter de Daniel.



Com respeito ao caráter de Daniel e seus três companheiros é bom examinarmos Daniel 1: 17-20. É interessante notar que o pano de fundo do que ocorre em Daniel Capítulo 1, foi uma questão de regime alimentar. Daniel e seus companheiros recusaram tocar no tipo de alimento que lhes era oferecido. Eles cresceram sob um conjunto inteiramente diferente de princípios, e não tocariam aqueles alimentos proibidos.

“Entre as iguarias que se serviam ao rei estavam a carne de porco e outros alimentos declarados impuros pela lei de Moisés e terminantemente proibidos aos hebreus como alimento. Aqui Daniel foi colocado perante difícil prova. Devia ele apegar-se aos ensinamentos de seus pais sobre comidas e bebidas, e desagradar o rei, com a provável perda não apenas de sua posição mas da própria vida; ou desconsiderar os mandamentos do Senhor e conservar o favor do rei, garantindo-se dessa forma vantagens intelectuais e as mais sedutoras perspectivas mundanas?

“Daniel não hesitou muito. Decidiu firmar-se em sua integridade, fosse qual fosse o resultado. Ele resolveu firmemente ‘não contaminar-se com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia". Dan. 1:8” (Conselhos sobre o Regime Alimentar, pág. 30).

Daniel poderia ter encontrado uma desculpa plausível para pôr de lado seus estritos hábitos de temperança; mas para ele a aprovação de Deus era mais estimada do que o favor do mais poderoso potentado terrestre - mais estimada mesmo do que sua vida. Havendo por sua delicada conduta alcançado o favor de Aspenaz (*vs. 3), o funcionário que tinha a seu cargo os jovens hebreus, Daniel pediu que lhes fosse permitido não comer das iguarias do rei, nem beber do seu vinho. Aspenaz temia que se concordasse com este pedido viesse a cair no desagrado do rei, pondo sua vida em perigo. Como acontece com muitos hoje, ele supunha que um regime de abstenção tornaria esses jovens pálidos, de aparência doentia e deficientes em força muscular, ao passo que a alimentação luxuriante da mesa do rei os tornaria corados e belos, dando-lhes capacidade física superior” (idem, pág. 31).

Em resposta a seu pedido, tiveram permissão de se alimentarem de uma comida vegetariana, chamada, no verso 12, na Almeida, de “legumes”. Em inglês: na Versão Literal para os Jovens, de 1862 aparece “vegetais”; na Versão Básica de 1965, “grãos”; mas, na versão King James, e demais versões inglesas, temos o termo “pulse”, pulso (em português), ou pulsação. Figurativamente portanto, pode significar vida. No hebraico “Zero’im”, “coisas semeadas,” alimento derivado de plantas. Em verdade era comida viva, cereais brotados, germinados, como era tradicional entre o povo de Israel.

A obrigatoriedade de se constar nos rótulos de produtos industrializados, por causa da doença celíaca, o fato de terem glúten, ou não, é uma das muitas facetas negativas dos grãos secos, maduros, como alimento saudável. Neste estágio os grãos contêm excesso de ácidos. “Experimentos com ratos em uma dieta exclusivamente de cereais (*secos) demonstraram que eles sucumbem rapidamente sob este regime” (A Ciência da Nutrição, Herbert M. Shelton, Natural Hygiene Press, pág. 161).

E isto é o que a humanidade, como um todo, faz, em grande parte, hoje.

A base da alimentação do homem, como um todo, no mundo hodierno, continua sendo, em que pese os esforços nutricionais dos países mais desenvolvidos, os grãos secos e seus derivados, mormente os farináceos. Esta é a dieta quase que exclusiva em algumas regiões orientais. A bem da verdade os que se dizem “vegetarianos” hoje em dia deveriam, a rigor, cunhar um adjetivo relativo a cereais, pois isto é o que realmente consomem em maior parte.

Shelton cita o Dr. Emmet Densmore (grande médico higienista do início do século XX) como sendo o primeiro a levantar a voz contra o uso dos cereais. Ele aponta que “o homem é um animal frugívero, não adaptado ao uso de cereais, e o Dr.Emmet remontou às origens de muitos males causados pelo uso dos grãos, mesmo os integrais, como alimento. ... Os únicos animais dos quais pode ser dito serem comedores de grãos são os pássaros.” (idem pág. 159 e 160).

Deus dotou as aves granívoras de moela, um órgão composto de músculos muito fortes, e com a superfície interna revestida de uma espécie de epiderme quase cartilaginosa, e que funciona como um aparelho mastigador. Por sua vez ao o homem cozinhá-los os faz descer goela a baixo, sem a devida mastigação e insalivação.

“Mas mesmo as aves não alimentam seus filhotes com grãos, e sim, geralmente, com insetos e moluscos, enquanto os próprios adultos se alimentam com frutas e cereais” (idem, pág. 160). Ademais “as aves, no seu habitat natural, consomem a maior parte das sementes em seu estado verde, ou ‘leitoso’, quando são alcalinas e não acidas” (idem, pág. 164). Neste estado estes grãos são muito similares aos grãos germinados.

Quando usados em abundância, como alimento básico (staple food), os grãos germinados dão às células do corpo nutrição de alta qualidade, e ajudam a limpá-las dos dejetos tóxicos. Seu uso constante leva à benéfica ausência de fermentação intestinal, e afastam o fantasma das doenças degenerativas. O processo de germinação torna os nutrientes mais digeríveis, causando menos gases do que os grãos que lhe deram origem.

“Ao germinar, alguns nutrientes da semente, seja de um cereal (trigo, cevada ou aveia), das leguminosas (feijões) ou oleaginosa (linhaça, girassol, etc.) multiplicam-se. É o caso da vitamina C, que é praticamente inexistente no grão de trigo, mas que, uma vez germinado, aumenta 600% (seiscentos por cento) o seu teor. ... Os germinados são pobres em calorias, mas contêm quantidades apreciáveis de vitaminas A e C, e o complexo B, vitamina E, ferro, além de muitas enzimas e proteínas.” Conceição Trucom, cientista química (www.docelimao.com.br).

O melhor uso que se faz dos cereais é brotando-os, ao invés de cozinhá-los diretamente em seu estado seco. “O grão germinado é o momento inicial quando apenas uma pequena haste aparece; são as fases mais ricas em nutrientes no desenvolvimento vegetal. Eles são facilmente digeridos e assimilados e correspondem em suas características fisiológicas a um processo pré-digestivo pelo qual as proteínas são decompostas em aminoácidos, os carboidratos complexos em açúcares e as gorduras em ácidos graxos. Há também o aumento da presença de minerais, enzimas, fitormônios (*hormônios vegetais) e antibióticos naturais” (idem)

Os germinados e brotos servem para as mais diversas preparações culinárias. Podem ser consumidos crus, em sucos, saladas e sanduíches, misturados com outros legumes, refogados, adicionados a molhos, sopas e de outras formas que a criativa culinária moderna descobrir. Eu os como cozidos por 5 a 10 minutos no vapor, mas já fiz deles pão também, com adição mínima de farinha para produzir a liga. Juntamente com as dorcas da igreja central da cidade de Araçatuba, SP, no ano de 2004, fizemos diversos experimentos, por muitas semanas, cada vez reduzindo mais e mais a quantidade de farinha até atingirmos o mínimo ideal possível. Ainda tenho, em algum lugar, a receita que redigimos à época.

Os orientais os usavam. Provavelmente todos os povos ali aprenderam com os judeus. Assim Deus relembrou isto a Ezequiel, no capítulo 4, no cerco de Jerusalém. “Pegue os cereais e os coloque numa vasilha” (vs. 9). Não era panela a fim de cozinha-los, mas um vaso onde eram re-hidratados. Este era, em verdade, um costume judaico e que se difundiu por todo oriente. No passado, o alimento não cozido era o principal nas comunidades cristãs-essênias e muitos outros povos o utilizaram.

Que o regime de germinados, como alimento básico (“staple food”), não é deficiente, vê-se de dois aspectos: foi receitado por Deus, e o foi por 390 dias, mais de um ano, (final do vs. 9).1 É verdade, entretanto, que a quantidade de germinados prescrita por Deus (vinte siclos por dia, = oito oz. = 227 gramas2) denota um regime de escassez devido às condições da provação por que estavam passando, Jer. 4:16. Isto foi permitido e profetizado por diferentes vezes: 5:6; 14:13 e Lev. 26:26.

Passei a fazer uso de germinados, já há muitos anos, e tive visíveis resultados positivos, cancelando diversos males que me atormentavam. Mas a minha porção não é tão minguada quanto à de Ezequiel.

Onde comprá-los? Em sua cidade você sempre deve procurar, de preferência, produtores orgânicos cujo comércio é destinado à alimentação humana. Nunca se deve cultivar aquelas destinadas ao plantio, pois nestes casos as sementes são tratadas com produtos altamente tóxicos.

Coloca-se os cereais (integrais) de molho por 8 horas (a aveia, a soja e o grão-de-bico apenas 1 hora), e, depois os lave enxaguando-os numa peneira 3 ou 4 vezes ao dia. No segundo dia a maioria já brotou. Uma vez que os grãos ou semente (crus e saudáveis) são colocados na água (sem cloro), eles se re-hidratam, e “inicia-se o processo de liberação de todas as etapas para a germinação e o desabrochar das informações genéticas de perpetuação daquele vegetal. Interessante observar que o mais elevado ponto de vitalidade no ciclo de vida de uma planta ocorre quando ela está em pleno processo de germinação, daí seus grandes benefícios nutricionais.” Os conservantes que Deus colocou nos cereais secos para preservá-los até à semeadura (mesmo que séculos depois) são removidos. Os brotos tornam-se plantas vivas. “Zero’im”, no hebraico, “coisas vivas”, foi o que Daniel pediu ao chefe dos eunucos (Aspenaz, 3:1, ou Melzar, http://www.ellenwhitebooks.com) e não “legumes”, propriamente dito, como consta nas versões em português.

____________________


“Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.” (1ª Cor. 3.16-17).

Nas Sagradas Escrituras, transparece o constante interesse do Senhor quanto à saúde de Seus filhos. E Ele não Se esquiva de nos alertar quanto às terríveis conseqüências, que advirão sobre os que descuidam da saúde e do devido cuidado com seu corpo: “... Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gálatas 6.7).

“Nenhum de vós tem visto a necessidade da reforma de saúde, mas quando as pragas de Deus estiverem ao vosso redor, então vereis os princípios da reforma de saúde e a estrita temperança em tudo – essa temperança unicamente é o fundamento de todas as graças que vêm de Deus, de todas as vitórias a serem ganhas” (Ellen G. White, Temperança, pág. 201).

“É o corpo um meio muito importante pelo qual a mente e a alma se desenvolvem para a edificação do caráter. Essa é a razão por que o adversário das almas dirige suas tentações no sentido do enfraquecimento e degradação das faculdades físicas. Seu sucesso neste ponto significa muitas vezes a entrega de todo ser ao mal. As tendências da natureza física, a menos que postas sob o domínio de um poder mais alto, seguramente obrarão ruína e morte. O corpo deve ser posto em sujeição às faculdades mais altas do ser. As paixões devem ser controladas pela vontade que, por sua vez, deve ela mesma estar sob o controle de Deus. O régio poder da razão, santificada pela graça divina, deve controlar a vida. Poder intelectual, vigor físico e longevidade dependem de leis imutáveis. Mediante a obediência a essas leis, pode o homem ser um conquistador de si mesmo, conquistador de suas próprias inclinações, conquistador de principados e potestades, dos "príncipes das trevas deste século", e das "hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais", Efés. 6:12, (Profetas e Reis, págs. 488 e 489).

Poucos meses depois da assembléia da Conferência Geral de 1888 Ellen White escreveu ainda, “este é o meio pelo qual Deus trabalhou por Daniel; e Ele não Se propõe a agir diferentemente agora. O homem deve cooperar com Deus em conduzir o plano da salvação” (RH, 2 de Abril de 1889). ... “Os jovens hebreus não supuseram que as bênçãos de Deus eram um substituto para os esforços requeridos deles, ... eles discerniram que através da graça de Deus o destino deles dependia da vontade e ação deles. ... Para tornar a graça de Deus nossa, devemos agir. ... A graça de Deus é dada para operar em nós a vontade e a ação, mas nunca como um substituto por nossos esforços. Nossas almas devem ser despertadas para cooperar. O Espírito Santo opera em nós, para que nós possamos agir. Esta é a lição prática que o Espírito Santo está lutando para nos ensinar” (O Instrutor da Juventude, 20 de Agosto de 1903) (apud, Comentário Bíblico Adventista, vol. 4, pág. 1167).

Há muitos entre os professos cristãos hoje que denunciariam Daniel como tendo sido demasiado minucioso, julgando-o estreito e fanático. Consideram de mínima conseqüência a questão de comer ou beber, para que se reclame uma posição assim decidida - posição que envolve o provável sacrifício de toda vantagem terrena. Mas os que assim arrazoam verificarão no dia do juízo que viraram as costas a expressas exigências de Deus, tendo colocado sua opinião como norma do que é direito ou errado. Descobrirão que o que lhes parecia sem importância não era assim considerado por Deus. Suas exigências devem ser obedecidas religiosamente. Os que aceitam qualquer dos Seus preceitos e a eles obedecem por ser-lhes assim conveniente, ao passo que rejeitam outros porque sua observância demandaria sacrifício, rebaixam a norma do direito, e por seu exemplo levam outros a levianamente considerar a santa lei de Deus. "Assim diz o Senhor" (Zac. 8:3) deve ser nossa regra em todas as coisas. ...

O caráter de Daniel é apresentado ao mundo como um silencioso exemplo do que a graça de Deus pode fazer de homens caídos por natureza e corrompidos pelo pecado. O registro de sua vida nobre, abnegada, é um encorajamento para a nossa comum humanidade. Daí podemos angariar força para nobremente resistir à tentação e, firmemente, na graça da mansidão, permanecer ao lado do direito sob a mais severa prova.

Deseja você também sintonizar seu aparelho de comunicação – sua mente – com o Céu, intensificando a intimidade com o Criador, ouvindo-Lhe, mais nítida e distintamente, a voz a nos falar à consciência, a fim de refletir mais perfeitamente Seu caráter de amor?

Assim, Ele poderá verter sobre nós a Sua sabedoria e Seu amor, instante a instante. Cuidemos, pois, fielmente do “templo do Espírito Santo”, pois nos foi assegurado que 'é sagrado'! "Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus" (1ª Cor. 10.31). Como podemos Lhe ser fiéis também quanto a esse fundamental aspecto da temperança?

—João Soares da Silveira


Os acréscimos em citações, marcados com asteriscos, são nossos.


Notas de roda-pé:

1) Não se espante o leitor ao deparar no vs. 12, no cerco de Jerusalém, com fezes humanas como combustível para cozer ao fogo. “No aperto do bloqueio não havia mais madeira para se queimar, e, ao o sítio continuar, mesmo as fezes de animais foram queimadas. Assim os homens foram forçados a usar, como combustível, dejetos humanos secos das privadas e latrinas de Jerusalém” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 4, pág. 591).

No verso 13, “o sentido de ‘pão imundo’ é, provavelmente, que em cativeiro seria impossível para os judeus observarem todos os preceitos dados por Moisés concernentes à dieta” (ibidem).


2) Confira as medidas acima no Comentário Bíblico Adventista, vol. 4, pág. 591, tendo como parâmetro a tabela de peso constante do vol. 1, pág. 164. Nestas citações encontramos 20 siclos como sendo 227 gramas. “O siclo é uma medida de peso usada no antigo Egito e na Judéia que variava de 6 a 12 gramas” (Dicionário Caldas Aulete, pág. 1779). No caso da pág. 591 do Comentário , temos 11,35 gramas por ciclo.