quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Lição 12 — A Epístola de João para a Senhora Eleita

Há controvérsia sobre se esta breve carta (2ª João) foi escrita a uma líder, mulher numa igreja, ou à igreja personificada como a noiva de Cristo. Parece que a segunda carta de João é dirigida a uma mulher e a uma igreja local em que ela serviu. Uma razão é por causa do uso do pronome "você". A carta começa e se encerra com "você" ao dirigir-se no singular à mulher. Este pronome é usado em forma plural entre os dois usos singulares. No entanto, o ponto da carta não é a quem João escreveu, mas, antes, é o conteúdo que é importante. Hoje, assim como quando a carta foi escrita, fala a nós individualmente e corporativamente sobre aproximadamente dois princípios por que nós devemos viver.

Os dois princípios primordiais são amor e verdade, são eternos e estendem-se desde o tempo de João até ao nosso, e vai ainda além. Amar e andar na verdade são relacionados à guarda dos mandamentos. A essência do amor é obediência à lei, e é pela fé, feita no espírito de liberdade, puramente por amor a Deus. A obediência pode ser prestada somente pelos que são justificados pela fé. Amor e verdade são unidos especificamente "à doutrina de Cristo" na qual o crente habita (vs. 9-10). É a respeito dAquele que veio em carne humana como o Salvador do mundo (1ª João 4:14, 1-3). Sua doutrina é também o que Ele ensinou. Ele ensinou a verdade porque Ele é a verdade (João 14:6).

No verso 7 da segunda carta de João, ele dá a razão para seu rogo urgente para que os santos conduzam-se na esfera de mandamento do Deus, para amarem-se uns aos outros — a presença de heresia na Igreja. A verdade deve ser proclamada e mantida assim como vivida. Essa heresia nega o pilar fundamental da salvação: "A doutrina de Cristo". Esta doutrina em que nós devemos crer é "Jesus Cristo é vindo na carne". Esta forma verbal, "é vindo" é um particípio presente, e é traduzido como vindo, descreve Cristo como ainda sendo manifestado na nossa carne. Mais cedo, em 1ª João 4:2, aprendemos que a Encarnação foi apresentada como um fato histórico definido pelo uso do tempo perfeito: "Jesus cristo veio na carne" (*"Has come", SDABC, Vol. 7, pág. 660). Na sua segunda carta João escreve de Cristo vindo à nossa carne como um fato continuado (*"A frase,literalmente diz: 'os que não confessam Jesus Cristo vindo na carne', A forma do verbo no grego enfatiza a verdade da encarnação desvinculada do tempo, em contraste co 1ª João 4:2, onde o fato histórico é enfatizado" (*SDABC, vol. 7 págs. 687 e 688). Ambos fatos os enganadores categoricamente negam. No entanto, se Cristo não pôde, nem assim entrou na nossa carne caída há 2.000 anos, como pode Ele, pelo Seu Espírito, morar em nossa carne caída hoje? Só se Ele veio na nossa mesma carne quando encarnou-Se pode Ele fazer o mesmo agora.

Em 2ª João 7 nós temos o emprego da Encarnação aplicada aos crentes. Eles revelam em sua vida o efeito de crer na doutrina do fato histórico da Encarnação. Isto indica mais que confirmação de recepção verbal. Creem que Cristo veio em carne humana para revelar uma vida cristã de verdade e amor.

É interessante anotar-se que a palavra "amor" é usada nesta carta tanto como um substantivo (vs. 3 e 6) bem como um verbo (vs. 1 e 5). O substantivo define o que é amor, enquanto o verbo descreve o que uma pessoa faz. Por exemplo, em 1ª João nós aprendemos que "Deus é amor" (substantivo) e que "ama" (verbo) (veja 1ª João 4:8, 16, 7, 11, 19). Como consequência pretendida do amor de Deus, crentes respondem a Ele em amor e a outros porque Ele primeiramente nos amou (4:19-21). A palavra usada para amor nas duas cartas é Ágape. Não devemos ser enganados por ninguém que misture Ágape com o amor de eros, que se exalta a si mesmo.

Foi com assombro que eu li a primeira encíclica pontifical do papa Bento XVI, de 25 de dezembro de 2005. Era intitulada DEUS CARITAS EST ("Deus é Amor" ou "Caridade"). Ele expressou sua doutrina de amor (caritas) a seus seguidores e ao mundo. Ele misturou o amor de Deus, Ágape, com eros. Veja o que ele escreveu: "Deus ama, e seu amor certamente pode ser chamado de eros, mas é também totalmente Ágape". Para apoio desta amalgamação de Ágape e eros ele refere-se, na nota ao pé da página 7, a Dionisio o Areopagita (*Atos 17;31), que "chama Deus tanto eros como Ágape” (*Isto deve ser da tradição católica, segundo escreveu Eusébio, SDABC, vol. 6, pág. 356). Isto está errado. O Deus da Bíblia é Ágape. Nunca eros. Nunca!

Eros é auto glorificador. Leva alguém a pensar que ele é um deus acima do Deus de céu (2ª Tess. 2:4). Mas o Deus do céu é Ágape, que Se oculta. Seu amor não é um de superioridade condescendente. Seu modo de agir foi descer a fim de nos salvar. O Soberano e Infinito Santo Deus manifestou-Se em carne humana. Cristo que tomou a nossa carne sobre Si, e que continua voltando na carne, é a verdade de Deus. Esta é a suprema demonstração do amor de Deus. Os enganadores e anticristos dos dias de João não concordavam que Cristo entrou na esfera de carne humana.

Isto nos traz mais diretamente à prova da "doutrina de Cristo". A grande pergunta é: "Deus realmente tornou-Se homem na Pessoa de Jesus Cristo"? Neste ponto, a discussão de João muda para o perigo dos falsos mestres. Os crentes não devem simplesmente amar (vs. 5, 6); eles também devem manter a verdade (vs. 7-11). Portanto, devem estar cientes de preceitos heréticos. João previamente descreveu o(s) "anticristo(s)" como pessoa(s) com um inadequado entendimento de Jesus Cristo, tanto na Sua divindade como na Sua humanidade (1ª João 2:18, 22; 4:2-3).

Não somente Roma mistura eros com Ágape, mas nega que Cristo tomou sobre Si nossa natureza caída. Em vez da "doutrina de Cristo" o papado apresenta a doutrina da " Imaculada Concepção" de Maria de modo que Cristo pudesse tomar dela uma natureza humana sem pecado, supostamente para exaltá-Lo, mas não realmente. Roma ensina que Maria era como nós no sentir fome, sede, cansaço, mas era isenta de natureza humana caída e assim era única na vida e natureza humana sem pecado. Isto, por outro lado, diretamente guia o sistema doutrinal de Roma, especialmente concernente à cristologia e consequentemente à soteriologia, a doutrina da salvação. Uma das pedras de tropeço dos cristãos são os muitos enganadores que sutilmente turvam a verdade sobre o tipo de natureza humana que Jesus tomou sobre Si na encarnação.

O cardial Gibbons1 escreveu que Cristo tomou Sua natureza, supostamente humana, de Maria: "... por nascer da virgem, assim tomando sobre Si, de seu ventre materno, uma natureza humana da mesma substância que a sua" (A Fé de Nossos Pais, págs. 198, 199; ênfase acrescida).

O arcebispo Fulton Sheen2 separou tanto Maria como Jesus, excluíndo-os da natureza humana caída: "Maria foi separada e posta à parte da humanidade carregada de pecado... (*Diz ele que) se não tivesse ocorrido a Concepção Imaculada, então Cristo teria sido dito ser menos belo, pois Ele teria tomado o Seu Corpo de alguém que não era humanamente perfeito ! ... Como poderia [Cristo] ser sem pecado se nasceu da humanidade carregada de pecado? Se um pincel é mergulhado em (*tinta) preta torna-se preto, e se um pano aceita a cor da tintura, não iria Ele, aos olhos do mundo, também partilhar da culpa em que toda humanidade compartilhou? Se viesse a esta terra pelo campo da fraqueza moral, Ele certamente teria alguma mancha no manto da Sua natureza humana" The World's First Love (O Primeiro Amor do Mundo), págs. 15, 16, 48; ênfase acrescida.

Estes dois homens falam de uma humanidade fantasma, uma alucinação. Se Deus pudesse entrar na vida humana mortal só com uma natureza humana fantasma, o corpo ficaria eternamente desprezado; então não poderia haver nenhuma comunhão real entre o divino e o humano; nenhuma salvação real. Mas pelo contrário, Jesus tornou-Se o que nós somos para fazer-nos à Sua imagem.

Nestes últimos dias, Deus enviou uma mensagem do evangelho em amor e verdade para ser proclamada ao mundo (*a mensagem de 1888 da justiça de Cristo, que Ellen G. White chama de “a mui preciosa mensagem”, Testemunhos para Ministros, págs. 91’ e 92 no original em inglês). Envolve Cristo como Conquistador das tendências de natureza humana caída assim como o Cordeiro de Deus que carrega nossos pecados cometidos. Disto A. T. Jones (*um dos dois mensageiros de 1888) escreveu: "Oh!, Ele é um Salvador completo. É um Salvador dos pecados cometidos, e o conquistador das tendências para cometer pecados” ("A Terceira Mensagem Angélica", Boletim da Conferência Geral de 1895, sermão de nº 14). Concernente a importância da "doutrina de Cristo," isso é, a natureza humana, caída, que Cristo tomou, Jones ensinou que "... a salvação de Deus para os seres humanas repousa somente nisto" (obra citada, sermão nº 13).

E. J. Waggoner (*o outro mensageiro de 1888) antes disto fez a conexão entre nossa justificação e a natureza humana de Cristo: "Deus enviou Seu Filho na semelhança3 de carne pecaminosa, para condenar o pecado na carne, para que Ele pudesse justificar-nos" ("Estudo Bíblico do livro de Romanos” nº 12, Boletim da Conferência Geral de 1891).

Como o Apóstolo João salientou, não só devemos praticar a verdade em amor, nós somos chamados a defendê-lo nesse mesmo amor. Nunca irá um crente começar a dar apoio a mentiras em nome do amor (Fil. 1:9-11). Praticar a verdade, andar na verdade e amor, requer um coração que creia na verdade da mensagem de Cristo encarnado e num estilo de vida consequente que revele a mensagem da encarnação, mostrando amor a outros (2ª João 5-6). Isto só pode ser realizado por Cristo vivendo em nós — na nossa carne caída — hoje como a esperança da glória (Col. 1:27). A fé e ação vão mão-em-mão (veja 1ª João 3:23). A verdade como é em Jesus, "a doutrina de Cristo," é algo a se crer, amar, e viver.

Para se resumir e concluir: Na primeira parte de segunda carta de João, ele escreveu sobre a verdade e amor; no restante da sua carta ele realçou a necessidade da verdade em contraste com o erro. As duas seções da sua carta se entrelaçam. O afastamento da verdade resulta no fracasso do amor. Então João apresenta uma escura descrição de secessão (*separação) herética e suas consequências nos versos 7 a 11. Isto forma a base do ardoroso apelo de João por amor e unidade nos versos 4 a 6. Que isto se dê conosco.

Da verdade encorajadora, João passou para a erro oposto advogado pelos enganadores. A palavra enganador implica muito mais do que ensinar doutrina falsa. Também inclui induzir pessoas a viver de modo errado. João deixou claro que verdade e vida caminham juntas. O que nós acreditamos determina como comportarmo-nos. Doutrina errada e vida errada sempre vão juntas. Por outro lado, correta doutrina e vida correta também caminharão juntas, se o amor à verdade, como está em Jesus, estiver presente.

Gerald L. Finneman

Gerald L. Finneman é um pastor adventista, já tendo atuado nos estados de Michigan, Pensilvânia e Califórnia nos EUA. Ele prepara materiais para encontros evangelísticos, incorporados com os conceitos das Boas-Novas da Mensagem de Justificação pela fé. Além de pastor da IASD ele atualmente é também o presidente do Comitê de Estudos da Mensagem de 1888.


Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da Silveira.


Notas do tradutor:

1) Tiago Gibbons, Arcebispo de Baltimore, foi o segundo cardeal proclamado na Igreja Católica Apostólica Romana, nos Estados Unidos da América, em 7 de junho de 1886 pelo papa Leão XIII como o Cardeal-presbítero de Santa Maria de Trastevere. Foi um dos precursores da moderna Doutrina Social da Igreja.

2) Fulton J. Sheen, bispo da diocese de Rochester, N.York, USA, viveu de 1895 – 1979, foi um atuante líder da Igreja Católica nos Estados Unidos da América. Era excelente comunicador, seu programa “A Vida Compensa Ser Vivida” tinha grande audiência. Para ele a “Prerrogativa de Maria a separava do resto de nós,” isto é, o status dela como sendo santa, não tendo o nosso DNA, a tornava diferente de nós, a fim de gerar um Ente Santo.


3) Se, pela palavra "semelhança" aqui Paulo quisesse significar dessemelhança, então ele teria finalizado o verso dizendo "par condenar o pecado na semelhança da carne pecaminosa", e, aí, então, não poderia dizer "para que pudesse justificar-nos".


4) Para a lição de terça feira, 15/09/09 veja o artigo que se segue, Cuidado com os Anticristos.


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