quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Lição 6 - Fé Atuante, por Paulo Penno



Para 1 a 8 de novembro de 2014


O que é fé genuína? Tiago lida com essa questão importante na última parte do capítulo 2. A mensagem de 1888 nos ajuda a ver nas Escrituras o verdadeiro motivo para a fé. Isto está implícito em nossa lição de quarta-feira (5 de novembro), mas a ideia não foi totalmente desenvolvida: “A verdadeira fé é ‘a fé que opera pelo amor’ (Gál. 5: 6.)".
Vamos começar pelo fim. É lá que se encontra a ilustração de Tiago que explica a relação entre fé e obras. Um cadáver sem respiração não produz nada (Tiago 2:26). Assim, "fé" sem "obras" é morta. Obviamente, o sopro da vida é o princípio vital do corpo humano. O Doador da vida é o próprio Deus. Da mesma forma, Jesus é o “Autor e Consumador de nossa fé” (Heb. 12: 2). Tiago não está colocando fé contra obras ou vice-versa; ele contrapõe uma fé viva contra uma fé morta.
Tiago se envolve em conversa com um "homem vão" (Tiago 2:20). Este homem vazio é um autoproclamado cristão que defende uma separação entre fé e obras. Ele diz: Acredite “há um só Deus" (Tiago 2:19), e isto é suficiente para a salvação.
Mas Tiago contraria a ortodoxia cristã vazia, dizendo: “Também os demônios creem e estremecem?" (vs. 19, ú.p.).
Não é a essência da fé crer em Deus? Não diz Hebreus que aquele que se aproxima de Deus deve "crer que Ele existe"? (Heb. 11: 6). Mas crer que Deus existe não vai suficientemente longe, porque quando os demônios pensam em Deus diz Tiago que isto faz com que eles tremam. A fé dos demônios não mudar seu comportamento em nada. Eles continuam a odiar a Deus e a guerrear contra Ele e Seus seguidores.
Então, qual é o objetivo de Tiago? Você pode falar tudo o que quiser sobre o quanto você crê que há um só Deus, mas se tudo o que você pode fazer é proclamar a sua ortodoxia (*pureza de opinião e doutrina), você não é nada mais do que um falador vazio. Na realidade, você não é melhor do que os demônios.
Na opinião de Tiago fé genuína atua. A fé é a principal causa da evidência secundária vista nas obras. Ele cita dois exemplos do Antigo Testamento para apoiar a sua conclusão: Abraão e Raabe. Aparentemente você não poderia ter dois polos mais opostos do que Abraão, o amigo de Deus, e Raabe, a meretriz; mas ambos tiveram a fé que opera. Eles são exemplos de justificação por obras.
Pense em Abraão, por exemplo. Considerando que Tiago tem como certo que os seus leitores judeus vão saber as circunstâncias do sacrifício de Isaac feito por Abraão, ele simplesmente vai direto ao ponto. Abraão foi justificado pelas obras, quando ofereceu Isaque no altar (Tiago 2:21).
Deus havia dito a Abraão para fazer isso. O que Abraão não sabia era que Deus precisava que ele, Abraão, fizesse isso. No grande conflito, Satanás acusou Abraão de adorar a Deus com segundas intenções, de proveito próprio. Abraão encontrou-se de repente projetado no palco do universo para que todos os seres inteligentes pudessem vê-lo. Estava ele disposto a sacrificar seu único filho legítimo que Deus lhe havia dado? Abraão foi colocado ali mesmo, em apuros, como o próprio Deus, que deu o Seu Filho unigênito porque Ele ama o mundo.
A fé de Abraão foi duramente testada, mas sem hesitação, a fé triunfou porque o sacrifício amoroso de Deus o motivou. Viu através do horror imediato de sacrifício humano, e percebeu o grande paradoxo de Deus em  (*opção A:) poupar o Seu Filho e perder o mundo, ou (*opção B:) amar o mundo dos pecadores, e perder Seu Filho. O Pai tomou a decisão de sacrificar o Seu amor pelo Filho e para sempre dar-Lhe ao mundo. Deus proclamou o evangelho a Abraão, e ele escolheu exercer este dom da fé com o sacrifício de Isaac. Este Divino amor abnegado, que Se auto sacrifica exibido no pai dos hebreus, foi a pedra angular da igreja antiga.
Reconhecemos que o foco de Tiago é que a fé funciona. Abraão foi "justificado pelas obras." Mas a mensagem de 1888 pergunta, por que a fé de Abraão funcionou? A resposta é: porque a causa principal foi o amor que Se auto nega, e o amor abnegado do Pai em dar Seu Filho unigênito. Na verdade, João 3:16, o versículo mais amado em toda a Bíblia, é baseado na decisão de Abraão de sacrificar Isaque seu único, unigênito filho, prometido por Deus. Esta "verdade presente" está faltando na lição.
Mas muitos estão provavelmente esquecendo-se de outra história que faz parte do quadro — de que modo "a prostituta Raabe," da pagã Jericó, tem um papel significativo na história? Muitos estudiosos concluíram que as evidências sugerem que Salmom se encaixa no quadro como um dos "espiões" que se hospedou na casa de Raabe, antes da destruição de Jericó.
Em sua genealogia, Mateus nos diz que alguém chamado "Salmom" se casou com Raabe e se tornou pai de Boaz, que se casou com Ruth, e, portanto, Raabe entra na linha genealógica de Jesus de Nazaré, “o parente mais próximo" em todo o mundo, o único que nos podia "redimir" do pecado (cf. Mat. 1: 4, 5).
Raabe foi uma personagem muito incomum; ela teria interesse por e apelou a qualquer israelita cujo coração fosse sensível às obras do Espírito Santo. Raabe tinha pensado através dos assuntos do dia; seu coração foi condenado: o único Deus verdadeiro, o Senhor, estava com Israel; a verdade estava lá. Ela experimentou uma conversão do paganismo, um arrependimento corporativo. Raabe foi convertida; ela entregou seu coração ao Espírito Santo.
Um livro popular de Ellen G. White é intitulado Fé e Obras, o título foi adicionado por editores muito tempo depois da morte da autora. No entanto, dentro do livro ela repetidamente fala que a fórmula correta é a "fé que opera."1
A visão de Tiago da mensagem de 1888 vai além da chamada visão da Reforma (*do século XVI) de que a justificação pela fé é meramente uma transação legal que ocorreu há dois mil anos de distância, sem consideração com o coração do próprio crente. Ela também vai muito além da visão "histórica" adventista atual usual que entende a justificação pela fé como o indulto ou perdão pelos pecados do passado, ao mesmo tempo uma vida de obediência presente é rotulada como "santificação".
Por mais que a justificação pela fé dependa da obra substitutiva legal de Cristo fora do crente, sua essência é uma mudança dentro do crente. O mérito em que a justificação pela fé descansa nunca está dentro do crente, mas a justificação pela fé em si é evidente no crente: O eu é "crucificado com Cristo" (Gál. 2:20). É por isso que a justificação pela fé é dependente da justificação alcançada pela humanidade na cruz. E genuína santificação é a experiência compreensiva, a justificação em curso pela fé, separado em Deus.
A fé do crente é imputada como justiça. A fé compreende a totalidade da justiça de Cristo. Tudo que o Senhor pede do pecador é a verdadeira fé; Ele credita a ele toda a justiça perfeita de Cristo.
Sim, a Bíblia é verdadeira; há apenas um Salvador, Jesus; nenhum de nós é um co-salvador. A salvação não é uma viagem de 50% obra de Cristo e 50% obra nossa; ela é 100% salvação por Cristo, recebida pela fé. Mas a fé não é a "fé morta" que o apóstolo Tiago condena (Tiago 2:20). A "fé morta" não pode produzir nada além de justiça própria (que não possui uma agradável fragrância!). Uma fé viva funciona; ela irá operar; ela vai trabalhar; ela sempre trabalha por Ágape.

-Paul E. Penno 
Nota de rodapé:
[1] "O essencial da fé para a salvação não é mera fé nominal, mas um princípio permanente, derivando energia vital de Cristo. Este amor vai levar a alma a sentir o amor de Cristo a tal ponto que a pessoa vai ser refinada, purificada, enobrecida (*veja, Daniel 12:10, Rom. 7:6, 1ª Pedro 2:24, Hebreus 9:28). Esta fé em Cristo não é meramente um impulso, mas um poder que opera por amor e purifica a alma" (Review and Herald, 18 de agosto de 1891; grifo do autor).

(
[*Procedemos a uma pesquisa no sítio https://egwwritings.org/# com “fé que opera,” e encontramos oito ocorrências desta maravilhosa fórmula na compilação “Fé e Obras”:

1ª) “... opera pelo amor. Dizei isto de vosso coração: “Senhor, creio que ...” (Fé e Obras, pág. 14, 2º§); 2ª) ... fé que precisamos ter não é uma fé indolente; a fé que salva é aquela que opera ...” (Fé e Obras, pág. 42, 3º§); 3ª)  “... dessa fé operante que necessitais. Como ela opera? Ela opera pelo amor” (Fé e Obras, pág. 63, 1º§); 4ª) “... que todo passo seja um passo de fé; precisamos de fé nesse sacrifício que ... o tempo. É a fé que opera pelo amor que é demonstrada por Jesus ...” (Fé e Obras, pág. 63, 2º§);  5ª) “... o apóstolo declara que a fé sem as obras é morta. Precisamos ter aquela fé que opera pelo amor e purifica (Fé e Obras, pág. 79, 1º§); 6ª) “... à fé ... a qual “opera arrependimento para a ...” (Fé e Obras, pág. 89, 2º§); 7ª) “... completa entrega do coração, antes que possa ocorrer a justificação; e ... contínua, mediante ativa e viva fé que opera por amor e purifica a ..” (Fé e Obras, pág. 89, 4º§); 8ª) “... poder sobrenatural, que opera em seu espírito ... ; não que exista na fé qualquer ...” (Fé e Obras, pág. 90, 2º§).


No prefácio do livro Fé e Obras, os Depositários do Patrimônio Literário de Ellen G. White, dizem que embora ela não tenha usado da palavra em Mineápolis, entretanto apelava aos presentes para que “mantivessem o coração aberto para receber a luz da Palavra de Deus exposta pelos Pastores E. J. Waggoner e A. T. Jones” (Fé e Obras, pág. 11, 2º§). Fim de nossa pesquisa*].
 
 
Paulo Penno é pastor evangelista da igreja adventista na cidade de Hayward, na Califórnia, EUA, da Associação Norte Californiana da IASD, localizada no endereço 26400, Gading Road, Hayward, Telefone: 001 XX (510) 782-3422. Ele foi ordenado ao ministério há 38 anos. Após o curso de teologia ele fez mestrado na Universidade de Andrews. Recentemente ele preparou uma extensiva antologia dos escritos de Alonzo T. Jones e Ellet J. Waggoner, a qual está incluída na Compreensiva Pesquisa dos Escritos de Ellen G. White. Recentemente também ele escreveu o livro “O Calvário no Sinai: A Lei e os Concertos na História da Igreja Adventista do 7º Dia,” e, ao longo dos anos, escreveu muitos artigos sobre vários conceitos da mensagem de 1888. O pai dele, Paul Penno foi também pastor da igreja adventista, assim nós usualmente escrevemos seu nome: Paul E. Penno Junior. Você pode vê-lo, no You Tube, semanalmente, explanando a lição da semana seguinte na igreja adventista de Hayward, na Califórnia, em http://www.youtube.com/user/88denver99
Atenção, asteriscos (*…) indicam acréscimos do tradutor.
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