quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Lição 2 — Crise no Eden, por Paul E. Penno



Para 2 a 9 de janeiro de 2016,


Como o mal começou no mundo perfeito que Deus criou “no princípio”? A resposta é surpreendente: os seres humanos acolheram o diabo, abriram a porta para ele, congratularam-se com ele — Adão e Eva. O diabo não poderia introduzir-se a menos que os nossos primeiros pais o convidassem a entrar. Podemos entender isso ainda hoje, pois o mal não pode invadir o coração de uma pessoa e controlá-la a menos que primeiro seja dado o seu consentimento. Ao criar o homem “à sua imagem”, o Criador dotou o homem com a capacidade de raciocinar e escolher. O inimigo aproveitou esta liberdade e enganou o homem.

O nome que o nosso inimigo obteve para si foi “o grande dragão, a antiga serpente ..., chamada o Diabo e Satanás” (Apoc. 12: 9). Esta chave abre o relato do Gênesis para que possamos entender como Satanás foi capaz de enganar os primeiros pais da raça humana. Deus lhes tinha avisado fielmente: “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comerdes certamente morrerás” (Gênesis 2:16, 17).

Disfarçado como uma criatura de grande beleza e inteligência, e fingindo expressar preocupação pela nossa felicidade, “a serpente” intrometeu-se na árvore proibida. “Ele disse à mulher, assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? ... Deus sabe que no dia em que dela comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses [no hebraico, Deus], conhecendo o bem e o mal” (Gên. 3: 1, 5). O caminho pelo qual Satanás encontrou entrada foiuma tentação para provar algo que Deus tinha sabiamente proibido — o conhecimento do bem e do mal. A tentação não foi um simples ataque ao “bem”. Convidava também o mal. Satanás sabe melhor do que tentar-nos a renunciar ao “bem” completamente. Tudo quanto ele precisa é levar-nos a combinar o bem com o mal.

É verdade que “no princípio”, Deus criou os opostos, tarde e manhã, noite e dia, macho e fêmea, terra e água, etc., e todos deviam ser harmoniosos. Mas Ele não endossou o mal como um oposto para o bem; que era para ser totalmente rejeitado. O argumento da serpente foi assim: Se Deus criou todos esses opostos, se do sexo masculino e feminino se formará um, por que não ver o mal como um aceitável oposto do bem? Deus estava retendo alguma coisa deles, insinuou, um pouco de conhecimento que iria aumentar a sua felicidade e realmente capacitá-los a perceber que também eram divinos, sim, eram “Deus”. Eles poderiam descobri-Lo dentro de si. A nossa mãe Eva acatou o engano, tomou o fruto e comeu, e depois convenceu o marido a unir-se a ela na experiência.

Eva realmente acreditou no engano da serpente; Adão não. Ele se uniu a ela no passo errado só porque a amava. O que quer que fosse essa misteriosa coisa, desconhecida, a lhes sobrevir , segundo Deus dissera falando em “morte”, ele escolheu compartilhá-la com ela. Mas o
engano original da mãe Eva incluía a ideia de que não haveria morte: “Certamente não morrereis”, a serpente astuta tinha lhe assegurado. Aqui está a origem da ideia da imortalidade
natural da alma humana.

Seus três enganos foram tecidos juntos numa única linha: Não haverá morte, pois Eva acreditou na serpente de que a natureza do homem é imortal; “conhecer o bem e o mal” é essencial, pois há uma conjunção de opostos; e “sereis Deus”, pois a divindade habita dentro de cada alma humana imortal e só aguarda a auto-realização.

Algo desagradável surgiu na mente de nossos primeiros pais após o seu pecado: o sentimento de culpa. O efeito imediato foi uma dolorosa vergonha e o desejo de se esconder. A mente consciente não podia tolerar o pensamento indesejável de culpa, repugnante à consciência.

A mensagem de 1888 nos ajuda a discernir o significado mais profundo da entrada do pecado no nosso mundo. O que a minúscula bolota é para o poderoso carvalho, o pecado de nossos primeiros pais no Éden foi para o Calvário. Assim como o carvalho está na bolota, do mesmo modo o pecado do Calvário estava no pecado edênico. Mas, tal como o carvalho não é visível na bolota, o pecado do Calvário não foi discernido por Adão e Eva em seu pecado. Eles viram a “bolota”, mas não poderiam sonhar com a existência do “carvalho”. “Todo pecado cometido desperta os ecos do pecado original”. [1] Eles estão conosco e são igualmente culpados de crucificar o Filho de Deus. O pecado original do primeiro par foi a bolota que cresceu e se tornou o carvalho do Calvário.

O pecado básico de Adão e Eva foi inconsciente. Daí a oração de Cristo os incluir: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). A plena magnitude da tomada de consciência do seu pecado teria sobrecarregado Adão e Eva tão terrivelmente que haveriam de morrer no mesmo instante, como Deus dissera que se daria. Mas como a consciência não podia suportar esse conhecimento de culpa, ele foi lançado para trás pela censura, e o mecanismo de repressão começou. Na expulsão do Éden iniciou-se a separação entre o consciente e os sistemas inconscientes, e o início da função de uma barreira psíquica entre eles.

Os descendentes de Adão e Eva se arrependeram sinceramente da loucura de Eva e mantiveram uma lealdade firme à verdade original de Deus. Gênesis os chama de “filhos de Deus” (Gênesis 6:2). Eles se tornaram os progenitores de uma linha ininterrupta de gerações de adoradores fiéis de Deus que acreditaram que o homem tinha perdido a imortalidade pela rebelião contra Ele, e poderiam obtê-la somente através da fé num Salvador divino por vir e em Seu sacrifício. Esses crentes fiéis à verdade de Deus acalentaram a promessa que Ele fez à serpente na presença do par culpado no Éden: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gên. 3:15). A. T. Jones explica: “Essa inimizade entreposta entre o homem e Satanás tem rompido o contentamento do homem com o mal, e agora ele o odeia. No ódio ao mal é também criado um desejo para o bem. E, como o bem é encontrado somente em Deus, e como Cristo é a revelação de Deus, este desejo pelo bem é o desejo por Cristo”.[2]

Esta “inimizade” contra a serpente é algo desnatural ao coração humano. Ninguém nasce com ele. Deus coloca esta inimizade contra o mal no coração através do grande sacrifício mencionado nesta promessa. É um dom da graça. Satanás terá seus seguidores conhecidos como a “tua semente”. “A mulher” também terá “semente”. E haverá “inimizade”, ou a guerra entre as duas “sementes”. Um Libertador virá na pessoa da “semente” da mulher, descendente de Adão e Eva. Esta é uma profecia da vinda de Jesus. Satanás terá sucesso em “ferir” a semente da mulher no “calcanhar”— uma “bolota” profética da final crucifixão do Filho de Deus na cruz. Mas a aparente derrota de Cristo irá revelar-se uma vitória gloriosa — Ele esmagará a cabeça da serpente e a matará. Satanás (a serpente) foi derrotado pelo sacrifício de Cristo, e o longo reinado do pecado e do mal deverá ser levado a um fim.

Paul E. Penno
Notas:
                                                    
1)  Ellen G. White, "The Warfare Between Good and Evil" [A guerra entre o bem e o mal] The Advent Review and Sabbath Herald, 16 de abril de 1901.

2)  A. T. Jones, "Faith a Free Gift to All," [Fé, um presente para todos] The Advent Review and Sabbath Herald, 24 de abril de 1894, pág. 265.

Nota: A lição desta semana e seu vídeo, em inglês, estão na internet em http://1888mpm.org