Para 2 a 9 de janeiro de 2016,
Como o mal
começou no mundo perfeito que Deus criou “no princípio”? A resposta é surpreendente:
os seres humanos acolheram o diabo, abriram a porta para ele, congratularam-se
com ele — Adão e Eva. O diabo não poderia introduzir-se a menos que os nossos
primeiros pais o convidassem a entrar. Podemos entender isso ainda hoje, pois o
mal não pode invadir o coração de uma pessoa e controlá-la a menos que primeiro
seja dado o seu consentimento. Ao criar o homem “à sua imagem”, o Criador dotou o homem com a capacidade de
raciocinar e escolher. O inimigo aproveitou esta liberdade e enganou o homem.
O nome que o
nosso inimigo obteve para si foi “o grande dragão, a antiga serpente ..., chamada
o Diabo e Satanás” (Apoc. 12: 9). Esta chave abre o relato do Gênesis para que possamos
entender como Satanás foi capaz de enganar os primeiros pais da raça humana. Deus
lhes tinha avisado fielmente: “De toda
árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do
mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comerdes certamente morrerás”
(Gênesis 2:16, 17).
Disfarçado
como uma criatura de grande beleza e inteligência, e fingindo expressar preocupação
pela nossa felicidade, “a serpente” intrometeu-se na árvore proibida. “Ele disse à mulher, assim que Deus disse:
Não comereis de toda árvore do jardim? ... Deus sabe que no dia em que dela
comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses [no hebraico, Deus], conhecendo
o bem e o mal” (Gên. 3: 1, 5). O caminho pelo qual Satanás encontrou
entrada foiuma tentação para provar algo que Deus tinha sabiamente proibido — o
conhecimento do bem e do mal. A tentação não foi um simples ataque ao “bem”.
Convidava também o mal. Satanás sabe melhor do que tentar-nos a renunciar ao
“bem” completamente. Tudo quanto ele precisa é levar-nos a combinar o bem com o
mal.
É verdade
que “no princípio”, Deus criou os opostos, tarde e manhã, noite e dia, macho e fêmea,
terra e água, etc., e todos deviam ser harmoniosos. Mas Ele não endossou o mal
como um oposto para o bem; que era para ser totalmente rejeitado. O argumento
da serpente foi assim: Se Deus criou todos esses opostos, se do sexo masculino
e feminino se formará um, por que não ver o mal como um aceitável oposto do
bem? Deus estava retendo alguma coisa deles, insinuou, um pouco de conhecimento
que iria aumentar a sua felicidade e realmente capacitá-los a perceber que
também eram divinos, sim, eram “Deus”. Eles poderiam descobri-Lo dentro de si.
A nossa mãe Eva acatou o engano, tomou o fruto e comeu, e depois convenceu o
marido a unir-se a ela na experiência.
Eva
realmente acreditou no engano da serpente; Adão não. Ele se uniu a ela no passo
errado só porque a amava. O que quer que fosse essa misteriosa coisa,
desconhecida, a lhes sobrevir , segundo Deus dissera falando em “morte”, ele
escolheu compartilhá-la com ela. Mas o
engano original da mãe Eva incluía a ideia de que
não haveria morte: “Certamente não morrereis”,
a serpente astuta tinha lhe assegurado. Aqui está a origem da ideia da
imortalidade
natural da alma humana.
Seus três
enganos foram tecidos juntos numa única linha: Não haverá morte, pois Eva acreditou
na serpente de que a natureza do homem é imortal; “conhecer o bem e o mal” é essencial,
pois há uma conjunção de opostos; e “sereis Deus”, pois a divindade habita
dentro de cada alma humana imortal e só aguarda a auto-realização.
Algo
desagradável surgiu na mente de nossos primeiros pais após o seu pecado: o
sentimento de culpa. O efeito imediato foi uma dolorosa vergonha e o desejo de
se esconder. A mente consciente não podia tolerar o pensamento indesejável de
culpa, repugnante à consciência.
A mensagem
de 1888 nos ajuda a discernir o significado mais profundo da entrada do pecado no
nosso mundo. O que a minúscula bolota é para o poderoso carvalho, o pecado de
nossos primeiros pais no Éden foi para o Calvário. Assim como o carvalho está
na bolota, do mesmo modo o pecado do Calvário estava no pecado edênico. Mas,
tal como o carvalho não é visível na bolota, o pecado do Calvário não foi
discernido por Adão e Eva em seu pecado. Eles viram a “bolota”, mas não
poderiam sonhar com a existência do “carvalho”. “Todo pecado cometido desperta
os ecos do pecado original”. [1] Eles estão conosco e são igualmente culpados
de crucificar o Filho de Deus. O pecado original do primeiro par foi a bolota
que cresceu e se tornou o carvalho do Calvário.
O pecado
básico de Adão e Eva foi inconsciente. Daí a oração de Cristo os incluir: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que
fazem” (Lucas 23:34). A plena magnitude da tomada de consciência do seu
pecado teria sobrecarregado Adão e Eva tão terrivelmente que haveriam de morrer
no mesmo instante, como Deus dissera que se daria. Mas como a consciência não podia
suportar esse conhecimento de culpa, ele foi lançado para trás pela censura, e
o mecanismo de repressão começou. Na expulsão do Éden iniciou-se a separação
entre o consciente e os sistemas inconscientes, e o início da função de uma
barreira psíquica entre eles.
Os
descendentes de Adão e Eva se arrependeram sinceramente da loucura de Eva e mantiveram
uma lealdade firme à verdade original de Deus. Gênesis os chama de “filhos de Deus” (Gênesis 6:2). Eles se
tornaram os progenitores de uma linha ininterrupta de gerações de adoradores
fiéis de Deus que acreditaram que o homem tinha perdido a imortalidade pela rebelião
contra Ele, e poderiam obtê-la somente através da fé num Salvador divino por
vir e em Seu sacrifício. Esses crentes fiéis à verdade de Deus acalentaram a
promessa que Ele fez à serpente na presença do par culpado no Éden: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre
a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe
ferirás o calcanhar” (Gên. 3:15). A. T. Jones explica: “Essa inimizade
entreposta entre o homem e Satanás tem rompido o contentamento do homem com o
mal, e agora ele o odeia. No ódio ao mal é também criado um desejo para o bem.
E, como o bem é encontrado somente em Deus, e como Cristo é a revelação de
Deus, este desejo pelo bem é o desejo por Cristo”.[2]
Esta
“inimizade” contra a serpente é algo desnatural ao coração humano. Ninguém nasce
com ele. Deus coloca esta inimizade contra o mal no coração através do grande
sacrifício mencionado nesta promessa. É um dom da graça. Satanás terá seus
seguidores conhecidos como a “tua
semente”. “A mulher” também terá “semente”. E haverá “inimizade”, ou a guerra
entre as duas “sementes”. Um
Libertador virá na pessoa da “semente”
da mulher, descendente de Adão e Eva. Esta é uma profecia da vinda de Jesus.
Satanás terá sucesso em “ferir” a semente
da mulher no “calcanhar”— uma
“bolota” profética da final crucifixão do Filho de Deus na cruz. Mas a aparente
derrota de Cristo irá revelar-se uma vitória gloriosa — Ele esmagará a cabeça
da serpente e a matará. Satanás (a serpente) foi derrotado pelo sacrifício de Cristo,
e o longo reinado do pecado e do mal deverá ser levado a um fim.
—Paul
E. Penno
Notas:
1) Ellen G. White, "The Warfare Between Good and Evil" [A guerra entre o bem e o mal] The Advent Review and Sabbath Herald, 16 de abril de 1901.
2) A. T. Jones, "Faith a Free Gift to All," [Fé, um presente para todos] The
Advent Review and Sabbath Herald, 24 de abril de 1894, pág. 265.