Para 24 de setembro a 1º de outubro de 2016
Por que os Jós deste mundo devem sofrer uma morte virtual (ou real)
antes que alguém lhes venha “consolar e confortar”? Por que os Jós deste mundo
vivem e morrem como pessoas que são abandonadas e ignoradas? Por que devem
clamar pelo conforto de “amigos” que permanecem tão alheios a sua dor? Por que
a sua posição em favor da justiça e da redenção tem que ser uma vitória
‘post-mortem’? É isso o que Deus deseja?
Sally e seu marido foram de férias para a Europa. Eles visitaram um
povoado onde depararam com um afresco de Cristo ressuscitado. O marido de Sally
parou casualmente para olhar a pintura e, em seguida, seguiu para o próximo
quadro. Sally se demorou contemplando o rosto de Cristo. Apesar do halo dourado
sobre a cabeça de Cristo e a bandeira da vitória na mão, ela percebe que os
olhos estão fixados no primeiro plano como se lembrando a dor da crucificação,
como a sugerir que “se a ressurreição ocorreu, ela ainda não tinha sido
compreendida”. O marido de Sally a viu contemplando a pintura, mas
primeiramente não conseguia ver o que havia captado tanto o seu interesse e
imaginação. Ele a olha atentamente. Ela está ali de pé, apoiada nas muletas de
que necessitava para andar desde que um ataque de poliomielite na infância a
aleijou com uma lição duradoura sobre o que dor e perda significam. Seus olhos
se voltam para a pintura e, gradualmente, mas com crescente clareza, vê o que
Sally visualiza nos olhos dAquele que até momentos atrás tinha estado
horrivelmente morto. A verdade e a promessa da ressurreição, ele agora entende,
é que “aqueles que estiveram mortos entendem as coisas que nunca serão
compreendidas pelos que só têm vivido”. Eu não sei de qualquer declaração que
forneça mais profunda explicação das últimas palavras do texto bíblico de Jó.
As palavras finais relativas a Jó equivalem a um epitáfio: “Então morreu Jó, velho e cheio de dias”
(Jó 42:17). Em Jó, a expressão “cheio de
dias” se torna um convite para uma maior compreensão do que significa viver
em comunhão com Deus.
É adequado que o fim do livro de Jó efetivamente nos leve de volta mais
uma vez ao início de sua história. Ao considerar quem pertence entre os modelos
de fé que melhor exemplificam esperanças e expectativas de Deus, a viagem
começa com a pergunta que Deus coloca no início deste livro: “Observastes tu a Meu servo Jó”? (Jó 1: 8).
O epílogo nos convida claramente a voltar ao prólogo da história a fim
de encontrar a sua conclusão. “Havia um
homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto, e
temente a Deus, e se desviava do mal” (Jó 1:1). “Então morreu Jó, velho e
cheio de dias”.
A restauração de Jó mantém a promessa de que há vida no outro lado do
monte de cinzas. Por isso damos graças, mesmo que não entendamos completamente
por que ele foi obrigado a fazer esta viagem. Apesar da promessa do ‘tudo é bom
quando termina bem’,1 devemos
nos perguntar se Jó ou nós podemos sempre encontrar o caminho de volta para
aquele lugar distante onde a vida era outrora imperturbável e as bênçãos de
Deus inquestionáveis. Talvez tal admiração seja parte da jornada com Deus que a
fé exige. Talvez aqueles que se encontram sentados com Jó no monte de cinzas do
sofrimento “por nenhuma razão” devem saber mais sobre a vida em relação a Deus
do que antes.
Sofrer como Jó muda tudo no céu e na Terra. O que pode ter mudado no céu
e na Terra, depois que Jó orou e o Senhor aceitou a oração de Jó?
É central à mensagem de 1888 que as “coisas” — casas, terrenos, carros,
móveis, roupas — perdem o seu apelo quando vemos a glória da cruz de Cristo. O
mesmo se dá com o prazer sensual e o amor ao conforto. “longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor
Jesus Cristo” (Gál. 6:14). Quando você vê a Sua cruz, compreende a
realidade da vida. Sente que nada é seu por direito: “Se um morreu por todos, logo todos morreram” (2ª Cor 5:14). Um
novo propósito para viver teve lugar: se você creu neste evangelho de
auto-propagação, terá só que viver “por
Aquele que morreu”2 por você, e não foi temor ou esperança de recompensa que lhe motivou. O
materialismo, sensualidade, todas as motivações egoístas, foram transcendidas
por esta nova razão fenomenal para viver. Você se viu eternamente em dívida
para com o Filho de Deus. O que vê é você mesmo crucificado em vez de Cristo.
Ele morreu em seu lugar. Se Ele não tivesse morrido, você estaria morto.
Segue-se que a sua vida não é sua própria; “Ele
morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para (*Aquele que por eles morreu e ressuscitou”
(vs. 15). Ao compreender isso, ninguém poderá viver de forma egoísta se
acredita que Cristo morreu em seu lugar. Daí em diante, está “crucificado com Cristo” (Gál. 2:20).
Desta forma, “o amor de Cristo nos
constrange” (2ª Cor. 5:14), e viver para Ele torna-se uma alegria.
“Com o ouvir
dos meus ouvidos ouvi, mas agora Te veem os meus olhos. Por isso me abomino e
me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:
5,6). “Eis o Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo” (João 1:29). “Olhai
para mim, e sereis salvos”, é o que Deus nos pede para fazer (Isa. 45:22).
Olhar é um passatempo favorito. Revistas de notícias capitalizam este
desejo de “olhar” para algo novo. Milhões passam suas horas ociosas apenas
assistindo ao desfile da humanidade passando por suas portas ou suas telas de
TV ou as observando através de revistas com imagens. Se houver um acidente na
rodovia, ou qualquer coisa incomum, temos um desejo de “ver”. Todos têm este
anseio embutido de deleitar os olhos em alguma visão ainda não vista. Há um
desejo insatisfeito de ver algo final.
Sobre aquela cruz de Jesus meu olho, por vezes, pode ver
A própria forma moribunda de Alguém que sofreu lá por mim.
E do meu coração ferido, com lágrimas, duas maravilhas confesso:
As maravilhas do amor redentor, e minha indignidade.
Tomo ó cruz a tua sombra para o meu lugar de habitação!
Não peço por qualquer outra luz, senão a do sol da Sua face.
Contente em deixar o mundo passar, saber nenhum ganho ou perda
O meu pecaminoso eu, minha única vergonha, minha glória toda a cruz.
—Elizabeth Clephane3
O que ansiamos ver é essa cruz de Jesus. Nenhuma
outra visão pode satisfazer. E uma vez a tenhamos visto, como Paulo, não iremos
nos “gloriar” em nada mais. Ela se tornará a nossa paixão. Se nós contemplarmos
“o Cordeiro de Deus”, veremos uma
visão que tem o poder de dissolver toda idolatria no nada que é. Dinheiro,
posses, carreira, fama, o prazer sensual, tudo perde o seu charme para a pessoa
que tenha visto o que o Calvário significa. A vida começa.
—Paul
E. Penno
Notas do
tradutor:
*1) Bem
está o que bem acaba ou Tudo está bem quando termina bem,
ou ainda como traduzimos literalmente acima: ‘tudo é bom
quando termina bem’ (no
original em inglês All's Well That Ends Well) é uma peça de
teatro de William Shakespeare, inicialmente classificada como uma comédia,
embora alguns estudiosos prefiram vê-la como uma tragédia. Provavelmente foi
escrita em meados dos anos posteriores ao início da carreira de Shakespeare,
entre 1601 e 1608, e foi publicada pela primeira vez no First Folio, em
1623. É uma das peças menos encenadas de Shakespeare;
*2) 2ª Corinthians 5:15;
*3) Elizabeth Cecilia Douglas
Clephane nasceu em Edimburgo, capital da
Escócia, no Reino Unido, em 18 de junho de 1830 e morreu, com a idade de 39
anos, em 19 de fevereiro de 1869. Embora com a
saúde frágil a maior parte de sua vida, Elizabeth encontrou força para ajudar
os pobres e doentes em sua cidade. Ela e sua irmã deram tudo o que podiam
poupar para a caridade, incluindo, diz-se, vender seu cavalo e carruagem para o
benefício dos necessitados.Entre os doentes e
moribundos de sua cidade ela ganhou o nome de “Raio de Sol”.
Nota final
O vídeo, em inglês, do
Pastor Paul Penno sobre esta lição, está na Internet em:
Esta introspecção, em
inglês, está na Internet em: http://1888mpm.org
Biografia do autor, Pastor Paulo E. Peno
Junior:
Paulo
Penno foi pastor evangelista da igreja adventista na cidade de Hayward, na
Califórnia, EUA, da Associação Norte Californiana da IASD, localizada no
endereço 26400, Gading Road, Hayward, Telefone: 001 XX (510) 782-3422. Ele foi
ordenado ao ministério há 42 anos e foi jubilado em junho de 2016, Após o curso
de teologia ele fez mestrado na Universidade de Andrews. Recentemente ele
preparou uma Compreensiva Pesquisa dos Escritos de Ellen G. White.
Recentemente também ele escreveu o livro “O Calvário no Sinai: A Lei e os Concertos
na História da Igreja Adventista do 7º Dia,” e, ao longo dos anos,
escreveu muitos artigos sobre vários conceitos da mensagem de justificação pela
fé segundo a serva do Senhor nos apresenta em livros como Caminho a Cristo,
DTN, etc. O pai dele, Paul Penno foi também pastor da igreja adventista, assim
nós usualmente escrevemos seu nome: Paul E. Penno Junior. Ele foi o principal orador
do seminário “Elias, convertendo corações”, nos dias 6 e 7 de fevereiro de
2015, realizado na igreja adventista Valley Center Seventh-day Adventist Church
localizada no endereço: 14919 Fruitvale Road, Valley
Center, Califórnia.
Atenção, asteriscos (*…) indicam acréscimos do tradutor.
_____________________________________