terça-feira, 27 de setembro de 2016

Lição 1 do 4º trim. de 2016 — O Fim, por Paulo E. Penno



Para 24 de setembro a 1º de outubro de 2016


Por que os Jós deste mundo devem sofrer uma morte virtual (ou real) antes que alguém lhes venha “consolar e confortar”? Por que os Jós deste mundo vivem e morrem como pessoas que são abandonadas e ignoradas? Por que devem clamar pelo conforto de “amigos” que permanecem tão alheios a sua dor? Por que a sua posição em favor da justiça e da redenção tem que ser uma vitória ‘post-mortem’? É isso o que Deus deseja?
Sally e seu marido foram de férias para a Europa. Eles visitaram um povoado onde depararam com um afresco de Cristo ressuscitado. O marido de Sally parou casualmente para olhar a pintura e, em seguida, seguiu para o próximo quadro. Sally se demorou contemplando o rosto de Cristo. Apesar do halo dourado sobre a cabeça de Cristo e a bandeira da vitória na mão, ela percebe que os olhos estão fixados no primeiro plano como se lembrando a dor da crucificação, como a sugerir que “se a ressurreição ocorreu, ela ainda não tinha sido compreendida”. O marido de Sally a viu contemplando a pintura, mas primeiramente não conseguia ver o que havia captado tanto o seu interesse e imaginação. Ele a olha atentamente. Ela está ali de pé, apoiada nas muletas de que necessitava para andar desde que um ataque de poliomielite na infância a aleijou com uma lição duradoura sobre o que dor e perda significam. Seus olhos se voltam para a pintura e, gradualmente, mas com crescente clareza, vê o que Sally visualiza nos olhos dAquele que até momentos atrás tinha estado horrivelmente morto. A verdade e a promessa da ressurreição, ele agora entende, é que “aqueles que estiveram mortos entendem as coisas que nunca serão compreendidas pelos que só têm vivido”. Eu não sei de qualquer declaração que forneça mais profunda explicação das últimas palavras do texto bíblico de Jó.
As palavras finais relativas a Jó equivalem a um epitáfio: “Então morreu Jó, velho e cheio de dias” (Jó 42:17). Em Jó, a expressão “cheio de dias” se torna um convite para uma maior compreensão do que significa viver em comunhão com Deus.
É adequado que o fim do livro de Jó efetivamente nos leve de volta mais uma vez ao início de sua história. Ao considerar quem pertence entre os modelos de fé que melhor exemplificam esperanças e expectativas de Deus, a viagem começa com a pergunta que Deus coloca no início deste livro: “Observastes tu a Meu servo Jó”? (Jó 1: 8).
O epílogo nos convida claramente a voltar ao prólogo da história a fim de encontrar a sua conclusão. “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto, e temente a Deus, e se desviava do mal” (Jó 1:1). “Então morreu Jó, velho e cheio de dias”.
A restauração de Jó mantém a promessa de que há vida no outro lado do monte de cinzas. Por isso damos graças, mesmo que não entendamos completamente por que ele foi obrigado a fazer esta viagem. Apesar da promessa do ‘tudo é bom quando termina bem’,1 devemos nos perguntar se Jó ou nós podemos sempre encontrar o caminho de volta para aquele lugar distante onde a vida era outrora imperturbável e as bênçãos de Deus inquestionáveis. Talvez tal admiração seja parte da jornada com Deus que a fé exige. Talvez aqueles que se encontram sentados com Jó no monte de cinzas do sofrimento “por nenhuma razão” devem saber mais sobre a vida em relação a Deus do que antes.
Sofrer como Jó muda tudo no céu e na Terra. O que pode ter mudado no céu e na Terra, depois que Jó orou e o Senhor aceitou a oração de Jó?
É central à mensagem de 1888 que as “coisas” — casas, terrenos, carros, móveis, roupas — perdem o seu apelo quando vemos a glória da cruz de Cristo. O mesmo se dá com o prazer sensual e o amor ao conforto. “longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gál. 6:14). Quando você vê a Sua cruz, compreende a realidade da vida. Sente que nada é seu por direito: “Se um morreu por todos, logo todos morreram” (2ª Cor 5:14). Um novo propósito para viver teve lugar: se você creu neste evangelho de auto-propagação, terá só que viver “por Aquele que morreu”2 por você, e não foi temor ou esperança de recompensa que lhe motivou. O materialismo, sensualidade, todas as motivações egoístas, foram transcendidas por esta nova razão fenomenal para viver. Você se viu eternamente em dívida para com o Filho de Deus. O que vê é você mesmo crucificado em vez de Cristo. Ele morreu em seu lugar. Se Ele não tivesse morrido, você estaria morto. Segue-se que a sua vida não é sua própria; “Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para (*Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (vs. 15). Ao compreender isso, ninguém poderá viver de forma egoísta se acredita que Cristo morreu em seu lugar. Daí em diante, está “crucificado com Cristo” (Gál. 2:20). Desta forma, “o amor de Cristo nos constrange” (2ª Cor. 5:14), e viver para Ele torna-se uma alegria.
“Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora Te veem os meus olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42: 5,6). “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29). “Olhai para mim, e sereis salvos”, é o que Deus nos pede para fazer (Isa. 45:22).
Olhar é um passatempo favorito. Revistas de notícias capitalizam este desejo de “olhar” para algo novo. Milhões passam suas horas ociosas apenas assistindo ao desfile da humanidade passando por suas portas ou suas telas de TV ou as observando através de revistas com imagens. Se houver um acidente na rodovia, ou qualquer coisa incomum, temos um desejo de “ver”. Todos têm este anseio embutido de deleitar os olhos em alguma visão ainda não vista. Há um desejo insatisfeito de ver algo final.

Sobre aquela cruz de Jesus meu olho, por vezes, pode ver
A própria forma moribunda de Alguém que sofreu lá por mim.
E do meu coração ferido, com lágrimas, duas maravilhas confesso:
As maravilhas do amor redentor, e minha indignidade.

Tomo ó cruz a tua sombra para o meu lugar de habitação!
Não peço por qualquer outra luz, senão a do sol da Sua face.
Contente em deixar o mundo passar, saber nenhum ganho ou perda
O meu pecaminoso eu, minha única vergonha, minha glória toda a cruz.

 Elizabeth Clephane3

O que ansiamos ver é essa cruz de Jesus. Nenhuma outra visão pode satisfazer. E uma vez a tenhamos visto, como Paulo, não iremos nos “gloriar” em nada mais. Ela se tornará a nossa paixão. Se nós contemplarmos “o Cordeiro de Deus”, veremos uma visão que tem o poder de dissolver toda idolatria no nada que é. Dinheiro, posses, carreira, fama, o prazer sensual, tudo perde o seu charme para a pessoa que tenha visto o que o Calvário significa. A vida começa.
Paul E. Penno

Notas do tradutor:

*1) Bem está o que bem acaba ou Tudo está bem quando termina bem, ou ainda como traduzimos literalmente acima: ‘tudo é bom quando termina bem’ (no original em inglês All's Well That Ends Well) é uma peça de teatro de William Shakespeare, inicialmente classificada como uma comédia, embora alguns estudiosos prefiram vê-la como uma tragédia. Provavelmente foi escrita em meados dos anos posteriores ao início da carreira de Shakespeare, entre 1601 e 1608, e foi publicada pela primeira vez no First Folio, em 1623. É uma das peças menos encenadas de Shakespeare;
*2) 2ª Corinthians 5:15;
*3) Elizabeth Cecilia Douglas Clephane  nasceu em Edimburgo, capital da Escócia, no Reino Unido, em 18 de junho de 1830 e morreu, com a idade de 39 anos, em 19 de fevereiro de 1869. Embora com a saúde frágil a maior parte de sua vida, Elizabeth encontrou força para ajudar os pobres e doentes em sua cidade. Ela e sua irmã deram tudo o que podiam poupar para a caridade, incluindo, diz-se, vender seu cavalo e carruagem para o benefício dos necessitados.Entre os doentes e moribundos de sua cidade ela ganhou o nome de “Raio de Sol”.




Nota final                                                                                 

O vídeo, em inglês, do Pastor Paul Penno sobre esta lição, está na Internet em:

Esta introspecção, em inglês, está na Internet em: http://1888mpm.org

Biografia do autor, Pastor Paulo E. Peno Junior:

Paulo Penno foi pastor evangelista da igreja adventista na cidade de Hayward, na Califórnia, EUA, da Associação Norte Californiana da IASD, localizada no endereço 26400, Gading Road, Hayward, Telefone: 001 XX (510) 782-3422. Ele foi ordenado ao ministério há 42 anos e foi jubilado em junho de 2016, Após o curso de teologia ele fez mestrado na Universidade de Andrews. Recentemente ele preparou uma Compreensiva Pesquisa dos Escritos de Ellen G. White. Recentemente também ele escreveu o livro “O Calvário no Sinai: A Lei e os Concertos na História da Igreja Adventista do 7º Dia,” e, ao longo dos anos, escreveu muitos artigos sobre vários conceitos da mensagem de justificação pela fé segundo a serva do Senhor nos apresenta em livros como Caminho a Cristo, DTN, etc. O pai dele, Paul Penno foi também pastor da igreja adventista, assim nós usualmente escrevemos seu nome: Paul E. Penno Junior. Ele foi o principal orador do seminário “Elias, convertendo corações”, nos dias 6 e 7 de fevereiro de 2015, realizado na igreja adventista Valley Center Seventh-day Adventist Church localizada no endereço: 14919  Fruitvale Road, Valley Center, Califórnia.
  
    Atenção, asteriscos (*…) indicam acréscimos do tradutor.
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