terça-feira, 21 de agosto de 2018

Lição 8 — O concílio de Jerusalém, por Arlene Hill



Para 18 a 25 de agosto de 2018


Os paralelos entre o Concílio de Jerusalém e a Assembleia da Associação Geral de 1888 são significativos. Ambos os eventos foram motivados pela controvérsia sobre o que é necessário para a salvação. Os historiadores datam o Concílio como ocorrendo em 49 d.C. ou até 51, cerca de duas décadas depois que Cristo ascendeu ao céu, tendo antes iniciado Sua Igreja na Terra.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia desenvolveu-se a partir do desapontamento milerita em 1844. Por cerca de duas décadas depois de 1863, quando foi formalmente organizada. Por volta de 1864, Ellen White havia recebido várias visões que guiaram os novos crentes a um grupo reconhecido, embora a luz ainda estivesse se desenvolvendo. Como na Igreja cristã primitiva, surgiram divergências e os problemas precisaram ser resolvidos para preservar a unidade.
Jesus havia predito que onde quer que o verdadeiro evangelho fosse pregado, causaria divisão, mesmo dentro das famílias (ver Lucas 12: 51-53). Não surpreendentemente, a questão em ambas as situações dizia respeito a manter as "regras". Os humanos tendem a sentir-se hipócritas quando vêem os outros não guardando as regras tão conscienciosamente quanto pensam.
Na Igreja cristã primitiva havia “judaizantes” que afirmavam que, para serem salvos, os convertidos ao cristianismo precisavam ser circuncidados “conforme o uso (*costume) de Moisés” (Atos 15:1). Em essência, queriam que os cristãos se tornassem uma espécie de subgrupo dos judeus, em vez de simplesmente seguidores de Jesus. O Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia descreve esses dissidentes como “‘judeus que não queriam ser persuadidos’. A palavra traduzida como “incrédulo” comporta a ideia de uma descrença transformada em rebelião, e assim descreve bem o caráter desses judeus que perseguiram a Paulo e Barnabé”.1
O fato de que eles estavam exigindo que os conversos se tornassem circuncidados “prova o que não está claramente declarado em outra parte das Escrituras, que Paulo e Barnabé não exigiam que seus gentios conversos fossem circuncidados. Aqui se abre o registro da primeira grande controvérsia na Igreja cristã”.2
“Estes apóstolos [Paulo e Barnabé] estavam no centro da disputa, pois as exigências dos judaizantes apresentavam uma condenação direta da obra que esses dois missionários haviam realizado. ... Eles haviam proclamado a salvação pela fé em Cristo. Agora não podiam suportar silenciosamente, enquanto seus conversos eram informados de que a aceitação da graça de Deus através da fé não era suficiente, mas que os ritos externos devem ser realizados a fim de se obter a salvação. ... O fato de que a Igreja primitiva referiu a questão da circuncisão a um conselho dos apóstolos e anciãos em Jerusalém é um precedente altamente significativo para a organização da Igreja. Ela se opõe à teoria de que uma decisão final em assuntos eclesiásticos deve ser feita por um homem agindo como um autocrata”.3 A decisão final tomada pelos irmãos em Jerusalém aparentemente foi unânime (Atos 15:22).
Como isso faz paralelo com as Assembleias Gerais (*da Associação Geral) realizadas no final dos anos 1880 e 1890? Como a Igreja cristã primitiva, os adventistas do sétimo dia estavam ganhando adeptos com a sua mensagem de que o retorno de Cristo seria em breve. Também estávamos ensinando a importância da lei moral de Deus como padrão de vida cristã e o papel do sábado nos últimos dias. Os evangelistas adventistas venciam facilmente os argumentos contra a necessidade de guardar o sábado do sétimo dia em vez do domingo. Como uma entidade reconhecida, nós nos organizamos e fomos guiados pelas revelações especiais dadas por Deus através de Ellen White.
Paulo foi o mensageiro especial dos primeiros cristãos por quem Deus deu revelações. Tanto os adventistas quanto a Igreja primitiva começaram pregando o alegre evangelho da justiça pela fé em Jesus Cristo. Ambos começaram a sofrer críticas e lutar pela supremacia vários anos após o início de sua existência.
Ironicamente, a questão dos primeiros cristãos era se a circuncisão devia ser exigida honrando as leis dadas por Deus através de Moisés. A questão dos adventistas era se manter essa mesma lei era necessário para a salvação. Ambos os grupos procuravam adicionar um ato feito pelo crente para merecer a salvação. Em ambas as situações, os mensageiros do Senhor se opuseram fortemente a tal perversão do evangelho, mas foram persistentemente desafiados por aqueles que estavam promovendo suas próprias agendas.“Durante o verão de 1884, E. J. Waggoner escreveu dez artigos sobre a lei e o evangelho e sua relação de um para com o outro. Em seu artigo de 11 de setembro de 1894 tratou mais especificamente da lei em Gálatas e afastou-se da posição adventista aceita de que a lei em Gálatas se referia à lei cerimonial: foi durante o ano letivo de 1884-1885 que E. J. Waggoner começou a apresentar as mesmas opiniões no Healdsburg College. Embora alguns ficassem satisfeitos com os escritos e ensino de Waggoner, outros ficaram muito preocupados. Urias Smith, editor da Review and Herald, e G. I. Butler, Presidente da Associação Geral, foram os que mais abertamente expressaram suas preocupações”.4
O Presidente Butler pressionou Ellen White a resolver a questão, esperando que ela “convocasse nossos bons irmãos da revista Sinais dos Tempos” na próxima Assembleia da Associação Geral [de 1886] ... por seus pontos de vista de uma “minoria” e sua “muito alardeada doutrina da justificação pela fé’”. Mais tarde, W. C. White lembrou que “havia desejo por parte de alguns, de que os pastores Waggoner e Jones fossem condenados sem serem ouvidos”.5
Ellen White finalmente recomendou que o assunto fosse discutido abertamente, o que aconteceria cerca de dois anos depois, na Assembleia da Associação Geral de 1888. Este foi um conselho sábio, mas ao contrário do Concílio de Jerusalém, não alcançou unidade na questão. A Igreja aceitou a mensagem discutida na Assembleia da Associação Geral de 1888?
“No entanto, a questão importante não é se a Igreja aceitou a mensagem. Ellen White diz que “Satanás conseguiu afastá-la do nosso povo, em grande medida” (cf. Messagens Escolhidas, livro 1, págs. 234 e 235; 1896). A Igreja nunca teve uma oportunidade justa de considerá-la sem distorções e sem oposição. A questão é se a liderança a aceitou”.6
Por muitos anos a nossa Igreja baseou muitos argumentos a favor do sábado do sétimo dia sobre as exigências da lei dos Dez Mandamentos. Raramente ouvimos pregar ou ensinar sobre o outro elemento singular de nossa fé, que é a solução de Deus para o problema do pecado, coletivamente chamado de “purificação do santuário”. Corremos o risco de nos tornarmos uma denominação de assunto único, com a maioria de nossos membros pensando que o sábado dos dez mandamentos é o único problema real da Igreja. (Existem outras denominações que acreditam como nós em relação ao sábado e ao estado dos mortos).
A mensagem dada em 1888 foi uma compreensão única da mudança de coração que Deus quer dar aos que estão dispostos a consentir. Uma vez que percebamos que a salvação é de fato um dom gratuito para nós aceitarmos, o Espírito Santo operará em nossos corações uma purificação que seja completa e genuína, e não por seguirmos os requisitos da guarda da lei de Deus.
“Foi dito a Israel que construísse o tabernáculo para o Senhor ‘habitar entre eles’ (Êxo. 25:8). Mas eles chegaram a considerar que o que realmente contava era a realização dos diversos ritos. Essa mesma mentalidade dos judeus pode ser o nosso perigo. Se meramente transferirmos o que eles fizeram na Terra para uma rotina similar realizada no céu e esquecermos que o pecado é o problema, permaneceremos sob o velho concerto sem esperança. Eles falharam em entender que os serviços foram dados por causa do problema do pecado. Deus e o pecado não podiam permanecer juntos. Um ou outro tinha que ser abandonado. Assim, houve guerra no céu e assim ficou evidente que o pecado real é a vontade de exterminar a Deus.”7

Arlene Hill
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Notas finais:                                                                               

1) O  Comentario Bíblico Adventista, vol. 6, pág. 295.               

2) Idem pág. 305                                                                         

3) Idem pág. 306                                                                         

4) Ron Duffield, The Return of the Latter Rain: (O Retorno da Chuva Serôdia) A Historical Review of Seventh-day Adventist History From 1844 Through 1891, (Uma Revisão Histórica da História da Igreja Adventista de !844 até 1891) pág. 60 (edição de 2010).

5) Idem, pág. 62                                                                         

6) Robert J. Wieland e Donald K. Short, 1888 Re-examined,(1888 Re-examinado) pág. 26 (1987); enfases são do original.

7) Donald K. Short, "Then Shall the Sanctuary Be Cleansed," (Então o Santuário Será Purificado) pág. 49 (edição CFI de 2018); enfases são do original.

Esta nova conveniente edição de Donald K. Short está agora disponível no sitio http://cfibookdivision.com/TSSBC/TSSBC-sales.html
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Notas:                                                                                                                  

Veja, em inglês, o vídeo desta 7ª lição do 3º trim. de 2018, exposta pelo Pr. Paulo Penno, na internet, no sitio: https://youtu.be/HUUIicc-NQQ

Esta lição em inglês está na internet no sitio: http://1888message.org/sst.htm
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Biografia da autora:

A irmã Arlene Hill é uma advogada aposentada da Califórnia, EUA. Ela agora mora na cidade de Reno, estado de Nevada, onde é professora da Escola Sabatina na igreja adventista local. Ela foi um dos principais oradores no seminário “É a Justiça Pela Fé, Relevante Hoje?”, que se realizou na sua igreja em maio de 2010, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, localizada no endereço: 7125 Weest 4th Street, Reno, Nevada, USA, Telefone  001 XX (775) 327-4545; 001 XX (775) 322-9642. Ela também foi oradora do seminário “Elias, convertendo corações”, realizado nos dias 6 e 7 de fevereiro de 2015, na igreja adventista Valley Center Seventh-day Adventist Church localizada no endereço: 14919 Fruitvale Road, Valley Center, Califórnia, telefone: +001 XX 760-749-9524

Nota: Asteriscos (*) indicam acréscimos feitos pelo tradutor.
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