sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Lição 10 – Expiação na Cruz

Deus preferiu morrer por nós do que viver sem nós.

"... Porque no dia em dela comeres, certamente morrerás" (Gên. 2:17, ênfase em negrito adicionada).

Entender mal a instrução que Deus deu a Adão e Eva torna impossível apreciar quanto os seres criados dependem de seu Criador para suster a vida. É fácil cair na armadilha de pensar que a raça humana e os sistemas necessários para apoiar a vida foram iniciados por Deus na criação, mas Ele então nos deixou funcionar num tipo de piloto automático1. Há muitos que, conscientemente ou não, acreditam que eles estão agindo bem com Deus lá fora em algum lugar, e se eles não O pedem muito, Ele não deve exigir muito deles.

Este pensamento ignora a expressão acima realçada: "No dia". Por que Adão e Eva não morreram naquele dia? O plano de salvação que Deus anunciou a nossos primeiros pais se centrava na cruz, o que não aconteceu senão 4.000 anos depois, mas o Cordeiro que foi ferido é descrito como tendo sido morto desde a fundação do mundo (1ª Pedro 1:20).

Ellen G. White escreveu: "Ele era o Redentor, tanto antes como depois da encarnação. Assim que existiu o pecado, houve um Salvador" (O Desejado de Todas as Nações, pág. 210).

"Logo que Adão pecou, o Filho de Deus apresentou-Se como garantia para a raça humana, com exatamente o mesmo poder para evitar o destino pronunciado sobre o culpado como quando morreu sobre a cruz de Calvário" (Advent Review and Sabbath Herald, de 12 de março de 1901).

Outro problema com este pensamento de “piloto automático”, é que torna impossível entender a cruz, e seu precursor, o Getsêmani. Cristo nunca pecou durante Sua vida terrena ao assumir a semelhança de carne pecaminosa, por causa de uma conexão direta intensa com Seu Pai celestial. Ao Se aproximar do Getsêmani Ele sabia que essa conexão logo seria interrompida. Se tivesse crido que Sua vida pudesse existir, com um piloto automático, numa terra (*tipo) limbo, a separação teria pouco significado.

A lição do domingo interpreta a palavra grega traduzida como "cheio de tristeza"2 "para designar um alto nível de angústia emotiva, tristeza, e ansiedade". Esta tristeza é imensurável em intensidade e profundidade, e a intensidade trazia Jesus à segunda morte—separação final de Deus.

A separação de Cristo de Deus foi causada por ter Ele sido feito pecado por nós.3 Sua natureza humana recuou da possibilidade: "Pai, se é possível, passe de Mim este cálice..." Este cálice continha a ira de Deus (Apoc. 14:10). Paulo define esta ira como Deus finalmente entregando os persistentes rebeldes às suas próprias escolhas (Rom. 1:18-32).

Enquanto lutando com Sua decisão do Getsêmane, "a história da raça humana surge diante do Redentor do mundo. Vê que os transgressores da lei, se deixados a si mesmos, têm de perecer. Vê o desamparo de homem" (O Desejado de Todas as Nações,, pág. 690). Ele toma Sua decisão para salvar o mundo rebelde. Escolhe crer que Seu sacrifício será aceitável e antevê o dia quando as promessas do concerto eterno restaurarão unidade ao universo.

Sua oração, registrada em João 17, revela o triunfo da Sua fé: "Eu glorifiquei-Te na terra, tendo consumando [acabado, cumprido] a obra que Me deste a fazer” (João 17:4). Essa oração realmente será cumprida quando a Cidade Santa for trazida à terra.

"Cristo apresenta ao Pai a aquisição do Seu sangue, declarando: 'Eis-Me aqui, com os filhos que Me deste. ... Com indizível amor Jesus dá as boas-vindas a Seus fieis para o gozo do Senhor. O gozo do Salvador consiste em ver, no reino de glória, as almas que foram salvas pela Sua agonia e humilhação. ... Ao serem os resgatados recebidos na cidade de Deus,... os dois Adões estão prestes a encontrar-se. O Filho de Deus Se acha em pé com braços estendidos para receber o pai de nossa raça — o ser que Ele criou e que pecou contra o seu Criador, e por cujo pecado os sinais da crucifixão aparecem no corpo do Salvador. Ao divisar Adão os sinais dos cruéis cravos, ele não cai ao peito do seu Senhor, mas lança-se em humilhação aos Seus pés, exclamando: 'Digno, digno é o Cordeiro que foi morto!’ Com ternura o Salvador o levanta, convidando-o a contemplar de novo o lar edênico do qual, havia tanto, fora exilado. ... O filho de Deus redimiu a falta e a queda do homem; e agora, pela obra da expiação, Adão é reintegrado em seu primeiro domínio" (O Grande Conflito, pág. 646-648).

Esta é a recompensa de Cristo. A culminação da expiação. A raça humana foi levada ao pecado pelo primeiro Adão, mas o Segundo Adão reverteu essa história e levou toda humanidade "nEle" à cruz para morrer a segunda morte, a pena pelo pecado, e "em Cristo," reescreveu a condenação em vida por todos. Que nem todos finalmente serão salvos será o resultado de sua persistente escolha rebelde. Como Esaú, eles menosprezaram o direito de primogenitura assegurado a um custo infinito. Verdadeiramente, Cristo podia dizer, "está consumado". Só nossa escolha deve ser ainda concluída. Que todos possamos estar dispostos a crer na nossa posição no Segundo Adão que tudo fez por nós.

Arlene Hill

Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da Silveira.

Notas do tradutor:

1) Uma analogia muito usada é a idéia de um Deus, hábil relojoeiro do universo, que deu corda no mundo e foi embora. Esta teoria (deismo) não nega a existência de Deus, mas nega sua interferência direta e pessoal na natureza e na História (Ver pág. 137 do nosso guia de estudos, edição dos professores).

2) “É impossível para nós compreendermos a profunda tristeza, misteriosa opressão, que importunava Jesus ao entrar Ele no jardim do Getsêmani. A estranha melancolia que tomou conta dEle estarreceu os discípulos. Ali estava o divino-humano Filho de Deus, Filho do homem (veja em Mat. 1:1; Marcos 2:10; Lucas 1:35), sofrendo uma intensidade de tristeza que eles nunca tinham testemunhado antes. Em parte, o sofrimento era físico, mas isto era apenas o reflexo visível do infinito sofrimento de Cristo como o portador dos pecados do mundo” (Comentário Bíblico, volume 5 da série SDABC, pág. 525, 1ª coluna);


3) Entretanto isto não quer dizer que “Cristo Foi feito pecado por nós” (2ª Cor. 5: 21) apenas no Calvário, como afirmam alguns (guia de estudos dos professores, pág 129, sob o título: Pense nisto).

Em Testemunhos para a Igreja (Testimonies for the Church), vol. 3, pág. 372, a pena inspirada conecta 2ª Cor. 5:21 com as tentações de Cristo no deserto e também com toda a Sua vida:

“Ele suportou um agonizante jejum por perto de seis semanas, ...foi a culpa dos pecados do mundo que tão pesadamente pressionaram sobre Ele. ‘Àquele que não conheceu pecado, foi feito pecado por nós.’ Com este terrível peso da culpa sobre Ele devido aos nossos pecados, Ele suportou o terrível teste sobre o apetite, e sobre o amor do mundo e de honra e orgulho de exibição que leva à presunção. Cristo suportou estas três grandes importantes tentações e venceu em favor do homem, obrando por ele um caráter justo, porque Ele sabia que o homem não pode fazer isto por si mesmo. Ele sabia que nestes três pontos Satanás assediaria a raça. Satanás vencera Adão e planejou continuar sua obra até completar a ruína do homem. Cristo entrou em campo em favor do homem para vencer a Satanás, porque Ele viu que o homem não poderia vencer por sua própria conta. Cristo preparou o caminho para o resgate do homem por Sua própria vida de sofrimento, negação própria e auto sacrifício, e por Sua humilhação e morte final” (grifos acrescidos).

Agora leia em O Desejado de Todas as Nações, pág. 49.

Depois, veja o que está no Comentário Bíblico, vol. 6 da série SDABC, pág. 870, primeira coluna, comentando 2ª Cor. 5:21:

O fez pecado por nós’. Isto é, Deus O tratou como se Ele fosse um pecador, o que Ele não era. Veja O Desejado de Todas as Nações, pág. 25, onde nos é dito que “pela Sua vida e morte, Cristo operou ainda mais do que a restauração da ruína produzida pelo pecado” ... Este verso (*2ª Cor. 5: 21) sumaria o plano da salvação, declarando a absoluta santidade de Cristo...”