quinta-feira, 5 de março de 2009

O Dispensacionalismo e o Arrebatamento Secreto

A lição de hoje, quinta-feira, 5/3/09, nos fala do grande erro do arrebatamento secreto.

Em verdade seus protagonistas “deixaram para trás” as verdades da bela profecia dos 2.300 anos e a purificação do santuário celestial, tão essenciais para a compreensão da mensagem de 1888.

Para pregá-la, principalmente aos evangélicos, devemos estar bem inteirados de seus grandes erros. Como surgiu, o que pretende ensinar, quais seus resultados, etc. ... Os nomes dos seus personagens, que estão em negrito, no texto que se segue, estão mencionados em nossa lição de hoje.

Os reformadores protestantes no século 16 identificaram o papado como o anticristo1. Preocupados com isto, com os avanços do protestantismo e com a perda de fiéis, o papa e bispos reuniram-se na cidade italiana de Trento com o objetivo de traçar um plano de reação. Este encontro ficou conhecido como "O Concílio de Trento", tendo se reunido de 1545 a 1563.

Poucos anos antes, 1534, havia sido fundada uma ordem religiosa por Ignácio de Loyola, aprovada pelo papa Paulo III, à qual foi dado o nome de Companhia de Jesus, mais conhecida como "jesuítas".

No Concílio de Trento os jesuítas foram comissionados a desenvolver uma nova interpretação das escrituras que fosse capaz de contra-atacar a aplicação protestante das profecias concernentes ao anticristo.

Duas foram as alternativas encontradas para negar a interpretação dos protestantes: Uns disseram que todas as profecias concernentes ao anticristo tiveram cumprimento no passado, outros no futuro:

1ª) no passado, interpretação preterista. Aplicava a profecia de Daniel 8:14 a Antíoco Epifânio,

2ª) a outra corrente joga todos os acontecimentos concernentes ao anticristo no futuro, sendo, por isso, chamada de interpretação futurista. Trata-se da teoria dispensacionalista que faz uma agressão à profecia dos 2.300 dias/anos, particularmente na parte separada para o povo judeu, as 70 semanas, mutilando-a, retirando a septuagésima semana da seqüência profética e colocando-a no futuro, baseada na idéia de que as profecias do antigo testamento que dizem respeito a Israel, terão cumprimento só no futuro.

Embora pregada hoje amplamente pelo protestantismo, esta idéia teve origem, ironicamente, no Concílio de Trento, quando a igreja Católica deu à Ordem dos Jesuítas a missão específica de destruir o protestantismo.

Francisco Ribera (1537-1591) um brilhante padre jesuíta, e o cardeal Roberto Bellarmine (1542-1621) um excelente escolástico jesuíta, deram início à escola futurista que ganhou aceitação entre os católicos, mas permanecendo exclusivamente entre eles por uns 300 anos após o concílio de Trento. Segundo Ribera um futuro anticristo pessoal apareceria no tempo do fim e continuaria no poder por três anos e meio.3 Por quase três séculos, o futurismo foi largamente confinado à Igreja Católica Romana, até que, em 1826, Samuel R. Maitland (1792-1866) bibliotecário do arcebispo de Canterbury, publicou um panfleto de 72 páginas4 no qual promoveu a idéia de Ribera de um futuro anticristo.

Logo outros clérigos protestantes adotaram a idéia e começaram a propagá-la amplamente. Entre eles estava John Henry Newman, líder do movimento Oxford, que depois tornou-se cardeal católico romano, e Edward Irving, famoso ministro presbiteriano escocês.

Mas no século XIX, João Nelson Darby (1800-1882) excelente advogado, pastor e teólogo, chamado hoje o pai do dispensacionalismo moderno, e Eduardo Irving, promoveram a teoria do arrebatamento secreto antes da tribulação, incorporando os ensinamentos dos jesuítas da teoria futurista.

Darby desenvolveu uma elaborada filosofia da História a qual ele dividiu em oito eras ou dispensações, (daí a designação de Dispensacionalismo) "cada uma das quais contendo uma ordem diferente pela qual Deus operou Seu plano redentivo".5

Além disso, Darby afirmava que a vinda de Cristo poderia ocorrer em dois estágios. O primeiro, um invisível "arrebatamento secreto" dos verdadeiros crentes fecharia o grande "parêntesis" ou a era da Igreja que começou quando os judeus rejeitaram a Cristo. Em seguida ao arrebatamento, as profecias do Antigo Testamento concernentes a Israel seriam literalmente cumpridas,6 levando à grande tribulação que terminaria na segunda vinda de Cristo em glória. Nesse tempo, o Senhor estabeleceria um reino literal de mil anos sobre a Terra, tendo Israel como centro (Reis e Sacerdotes) numa mistura de verdades e mentiras.

A visão escatológica de Darby figurou proeminentemente no fundamentalismo americano nos anos da década de 1920, quando cristãos conservadores defenderam o cristianismo protestante contra os desafios do darwinismo e da teologia liberal. Hoje, a maioria dos cristãos evangélicos aceitam as principais colunas da escatologia de Darby.

O conceito de um arrebatamento antes do período da tribulação final, na verdade, não foi invenção de Darby. "Peter Jurieu em seu livro Approaching Deliverance of the Church (1687) ensinou que Cristo poderia vir para arrebatar os santos e retornar ao Céu antes do Armagedon. Ele falou de um arrebatamento secreto antes da Sua vinda em glória e o julgamento do Armagedon. O Comentário do Novo Testamento de Philip Doderidge e o do Novo Testamento, de John Gill, usaram o termo "rapto" e a ele se referiram como iminente. Mas esses homens criam que esse acontecimento precederia a descida de Cristo à Terra e o tempo do julgamento. O propósito era preparar crentes do tempo do julgamento."7

Cyrus Ingerson Scofield (1843-1921) já no século XX publicou a sua famosa Bíblia de referência, também conhecida como a Bíblia de Scofield (1909) que se tornou extremamente popular e disseminada ao redor do mundo.

O Futuro do Grande Planeta Terra, de Hal Lindsey, nos anos da década de 1970, e muitos outros livros propagaram a teoria do arrebatamento secreto, elevando o futurismo às massas do Cristianismo.

Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins, nos anos da década de 1990 deram início a uma série de publicações e filmes de ficção a respeito do arrebatamento secreto projetando a 70ª semana no futuro, fazendo uma mutilação à profecia, criando um intervalo de tempo indefinido entre a 69ª e a 70ª semanas.

A era cristã é, assim, para eles, um intervalo de tempo no relógio divino.

Não há base alguma para tal interpretação. É uma lacuna aberta na profecia por todos que citamos, dos jesuítas aos modernos dispensacionalistas.

Estes caíram na armadilha dos primeiros.

—João Soares da Silveira

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Notas:

1) Martinho Lutero, por exemplo, disse: "Eu creio que o papa é o demônio mascarado e encarnado, porque ele é o anticristo." Sämtliche Schriften, S. Louis: Concordia Pub. House, 1887, vol. 23, pág. 845.

2) L. R. Conradi, The Impelling Force of prophetic Truth, Londres: Thynne and B. Co., Ltd., 1935, pág.. 346.

3) L. R. Conradi, The Impelling Force of prophetic Truth, Londres: Thynne and B. Co., Ltd., 1935, vol. 2, págs. 489 a 493.

4) An Enquiry Into the Grounds on Which the prophetic Period of Daniel and St. John has been supposed to Consist of 1260 Years, 2ª ed., Londres, 1837, p.2.

5) Walter A. Elwell, Evangelical Dictionary of Theology, Grand Rapids : Baker Book House, 1984, pág. 292.

6) Essa visão ignora completamente a natureza condicional de muitas profecias do Antigo Testamento (Deut. 28:1 e 15; Jer. 4:1; 18:7-10).

7) Mal Couch (editor), Dictionary of Premillennial Theology: A Practical Guide to the People, Viewpoints and History of Prophetic Studies, Grand Rapids : Kregel Publications, 1996, pág. 346.