quarta-feira, 4 de março de 2009

Textos Difíceis sobre a Condição do Homem Após a Morte.

A lição de hoje, quarta-feira, 4 de março de 2009, nos fala sobre "O Estado dos Mortos."
Primeiramente, no SDABC, vol. 5, pág. 831, vemos que "a ideia de um estado consciente do homem após a morte começou a aparecer na literatura judaica depois dos 70 anos do cativeiro babilónico, e ao tempo de Jesus havia se tornado parte da tradição judaica."
Devido a isto há alguns textos problemáticos na bíblia em conexão com este ensino a respeito da condição do homem na morte, mas todos têm respostas fáceis.
Não temos tempo para considerar a todos, mas apenas um em particular, e se acha em Lucas 16: 19-31. Trata-se da história do homem rico e Lázaro.
As pessoas que acreditam na imortalidade da alma, e vida imediatamente após a morte, oferecem esta passagem como prova.
Mas, é isso realmente o que a parábola ensina?
Vários princípios de interpretação bíblica são de especial auxílio aqui, e isto extraímos também do SDABC, vol 5, pág 204:
l °) Uma parábola reflete a verdade; não é a própria verdade;
2°) O contexto no qual uma parábola é dada—o lugar, circunstâncias, pessoas a quem a parábola é dita, e o problema em discussão—devem ser tomados em consideração, e são a chave para sua interpretação;
3°) A própria introdução e conclusão de Cristo à parábola, geralmente tornam seu propósito fundamental claro;
4°) Cada parábola ilustra um aspecto fundamental da verdade espiritual (embora esteja em inglês, você pode ver a lista de princípios ilustrados pelas várias parábolas do nosso Senhor, às págs. 205 - 207 do volume do qual estamos citando). Detalhes de uma parábola são significativos somente ao contribuírem para a clarificação daquele ponto particular da verdade;
5°) Antes que o significado da parábola, na esfera espiritual, possa ser entendido, é necessário ter-se um claro quadro da situação descrita na parábola, em termos de costumes e modos de pensar e se expressar orientais. Parábolas são claras fotos que devem ser vistas, por assim dizer, antes de que possam ser entendidas;
6°) Em vista do fato fundamental de que uma parábola é dada para ilustrar uma verdade, e, geralmente, uma verdade particular, nenhuma doutrina deve ser baseada em detalhes incidentais de uma parábola;
7°) A parábola deve ser interpretada em termos da verdade que tem o propósito de ensinar, como estabelecida em linguagem literal no contexto imediato e em outras partes da Escritura.
Com esses princípios em mente, consideremos mais detidamente a parábola do rico e Lázaro.
Primeiramente, muitas pessoas na audiência de Jesus vieram a acreditar no estado consciente de existência entre a morte e a ressurreição. Essa crença não se firmava no Velho Testamento mas vinha à tona em escritos judaicos após o exílio babilónico, e ao tempo de Jesus haviam se tornado parte dos ensinos tradicionais judaicos.
Permita-me explicar isso um pouco mais. Essa parábola que Jesus ofereceu na verdade aparece nos escritos de Flávio Josefo,1 e ele nos fala a respeito dessa lenda judaica que se baseava na mitologia grega.
Jesus estava simplesmente empregando uma lenda judaica e destacando-a a fim de estabelecer um ponto mais importante, que surge no estudo da própria parábola. Não temos tempo para isto aqui. Mas permita-me ler o que Josefo tem a dizer concernente a essa lenda judaica, ou ensino judaico tradicional.
Diz Flávio Josefo "Agora, com respeito ao nades, onde as almas dos justos e injustos estão detidas, é necessário falar-se a respeito. Hades é um lugar no mundo, não regularmente acabado, uma região subterrânea" (*vejam ai a ideia do submundo grego), "onde a luz deste mundo não brilha, ali se vive em trevas perpétuas. Essa região é designada como lugar de custódia das almas, onde anjos são designados como seus guardiões e que lhes distribuem punições temporárias, segundo o comportamento e conduta de cada um.
"Nessa região há um certo lugar separado, como um lago de fogo inextinguível,' (*veja aí uma ligação de onde a ideia do inferno se originou) 'onde ninguém ainda foi lançado, mas é preparado para o dia previsto por Deus em que uma sentença justa será determinada merecidamente sobre todos os homens. Os injustos, os que foram desobedientes a Deus e prestaram homenagens aos ídolos, frutos das vãs operações das mãos dos homens, como se fossem o próprio Deus, serão encaminhados a essa punição eterna como sendo a causa da contaminação, enquanto os justos obterão o reino incorruptível e que nunca se desfará. Esses estão, de fato, reservados no 'hades', mas não no mesmo lugar em que os injustos se acham detidos, pois há uma escada para essa região e há um arcanjo que determina que portão a se tomar. Os que o atravessam são conduzidos pelo anjo designado sobre as almas, e não seguem pelo mesmo caminho, mas os justos são guiados para o lado direito e são acompanhados de hinos cantados por anjos designados para estarem naquele lugar, uma região de luz, no qual os justos têm estado desde o princípio do mundo, não limitados por necessidade, mas sempre desfrutando a perspectiva das coisas boas que vêem, e regozijando-se na expectação de novos gozos que serão particulares a cada um deles."
O contraste entre a habitação dos justos e a região de sofrimento dos ímpios é estarrecedor: Os primeiros do lado direito, e a punição dos fracos do lado esquerdo; Os justos estão num lugar de luz perpétua, eos ímpios em lugar de contínua escuridão; Estes são arrastados pela força, pela mão esquerda, pêlos anjos designados para a punição, e os justos conduzidos, pela mão direita, vivendo doravante inteiramente livres de todo mal e perigo, enquanto os ímpios como prisioneiros dominados pela violência; todos sorriem para os justos, mas aos ímpios os anjos são enviados para repreendê-los e ameaçá-los com sua terrível aparência e lança-los para baixo no fogo.
Continuando,
"E, estimando essas coisas além disto, para os justos não há lugar de trabalho, nenhum calor sufocante, nem frio enregelante, nem há quaisquer espinhos. Mas o semblante do Pai e dos justos sempre vêm sorrindo para eles, enquanto esperam aquele repouso e nova vida eterna no céu que se seguirá a essa região. A esse lugar nós chamamos o 'seio de Abraão."
Note esta última sentença descrevendo esse lugar bendito de felicidade, onde não há calor ou frio excessivos, e há vida eterna. A esse lugar chamam de "seio de Abraão", a própria expressão empregada por Jesus, indicando claramente que Ele estava fazendo alusão a essa lenda judaica ao pronunciar essa parábola.
E essa a condição das coisas como são na realidade? Não, não podemos crer que essa parábola seja nada mais do que aquilo que tencionava ser —uma parábola, algo que não ilustra teorias de verdades eternas, sendo, simplesmente, dada para ilustrar um ponto que Jesus estava tentando transmitir às pessoas que Lhe estavam ouvindo.
É que, neste caso, haverá uma multidão de justos, que terão, talvez, um filho ou filha, ou qualquer outro parente, que se perderam e estarão nesse lugar de tormento. E do seio do velho homem ,olhando através do abismo, para ver filhos e filhas, e outros entes queridos, talvez um pai, ou uma mãe, ou seja quem for, que estão naquele lugar de tormento, sofrimento, angústias por toda a eternidade.
E isso realmente o céu? Imagine um indivíduo que tem um ente querido numa distância em que pode até conversar com ele, sofrendo torturas que não se pode narrar, e isso prosseguindo ano após ano, por séculos, milénios, ou bilhões de anos, e nunca tendo um fim? Eu, particularmente, não desejo ter parte alguma num tal céu como esse.
Isso é, simplesmente, uma parábola que Jesus usou para ilustrar um ponto.
Essa parábola é a última, numa série de cinco, que estão em Lucas 15 e 16. Jesus narrou a história em resposta à queixa dos fariseus de que Ele comia com os pecadores, Luc. 15:2. Cada uma destas histórias condena o orgulho e hipocrisia tão destacados entre aqueles líderes religiosos. Jesus informou que o Seu reino era mais do que forma e cerimónia, era, na verdade, comunhão com Deus e os homens.
Em particular, o homem rico estava seguro de seu lugar, por ser um filho de Abraão. Ademais ele provavelmente acreditava que sua riqueza comprovava sua boa "postura" diante de Deus. Na verdade, nada existe na parábola para sugerir que fosse uma má pessoa, ora, ele até deixava Lázaro esmolar junto ao seu portão. Quão semelhante era ele aos fariseus. Ele, e eles, criam que, pelo que eram, obteriam mérito diante de Deus.
O reino eterno pertencia a pessoas como Lázaro. O homem rico, conquanto alegasse ser filho de Abraão, estava perdido para sempre quanto ao reino de Deus.
Assim, ao considerarmos esta parábola, podemos ver que nada há que diga respeito ao ensino da condição dos homens na morte.
O apóstolo Paulo também fala da diferença entre o corpo natural e o corpo espiritual2. E com isto está se referindo a algo que, novamente, não significa que haverá uma condição após a morte de contínua consciência.
A Bíblia ensina que a morte é um sono até à ressurreição. Essa fé sempre foi uma barreira contra o espiritismo e as chamadas aparições dos queridos que morreram, como se dá hoje nas seções espíritas. Mas o dia da ressurreição virá quando todos os que estão adormecidos em Cristo viverão, e os que estiverem vivos vão ser transformados, e para sempre estarão com o Senhor.
E isso é o que importa. Eu digo, amém.

Nota:
1) Flávio Josefo, (37 a 100 d.C.). Nas próprias palavras dele, em sua biografia,disse: "...eu tenho meu nascimento no primeiro ano do reinado do imperador Caio César." (Esse imperador era conhecido como Caligula, eseu reinado foi de 37 a 41. d.C..
Josefo era também conhecido por dois outros nomes: o hebraico Yosef bem Matityahu (José Filho de Matias), e, após se tornar um cidadão romano, como Tito Flávio Josefo.
Ele foi um historiador e apologista judaico-romano, descendente de uma linhagem de importantes sacerdotes e reis. Ele registrou in loco a destruição de Jerusalém no ano 70, pelas tropas do imperador romano Vespasiano, comandadas pelo seu filho Tito, futuro imperador.
2) Em 1a Cor. 15:44 lemos "Semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual" (Almeida Fiel, editada pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil).
3) Este artigo adaptamos do final da lição 8, "A Condição na Morte", e parte da 9 e do epílogo (lição 14), gravadas em Fitas K7 e CDs no segundo semestre de 1999, narrado em português, em estúdio, pela equipe de Ágape Edições, com o título geral "A Natureza do Homem ", dos comentários das lições da escola sabatina para aquele trimestre, pelo pastor Alexandre Snyman, missionário adventista na África peia maior arte do seu longo ministério.
Este "KJt", em um lindo estojo com 7 fitas K.7, ou 7 CDs, todos de 80 minutos, você pode adquirir pedindo-o a nós, e lhe remeteremos pelo correio. As abundantes citações do Espírito de Profecia são narradas em uma voz feminina, dando a impressão de se estar ouvindo a própria autora.