quarta-feira, 1 de outubro de 2008

INTRODUÇÃO AO TEMA DA EXPIAÇÃO

Ágape o Alicerce da Expiação.

Glorioso tema para este novo trimestre–A Doutrina da Expiação,

A Introdução do nosso guia de estudos (no meio da pág. 2), nos diz:

”A doutrina bíblica da expiação está fundamentada no amor de Deus pelas criaturas pecaminosas e rebeldes.”

No original grego a palavra para amor é “Ágape (= Amor altruísta, abnegado, infinito, desinteressado, incondicional, essencial, etc...) A própria essência de Deus.

A seguir lhes passo, à guisa de INTRODUÇÃO AO TEMA DO TRIMESTRE um artigo escrito pelo pastor Robert J. Wieland, autor de inúmeros livros. Ele foi consultor editorial adventista do sétimo dia para toda a África e foi missionário em Nairobe e Kenia quando escreveu este artigo. Ele deu sua vida pela África.


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A Palavra que Alvoroçou o Mundo


Como pôde uma palavra transformar milhões de pessoas no mundo, em elementos desejosos de morrer por suas convicções, e mudar outros milhões de indivíduos em sanguinários perseguidores, ansiosos por erradicar aqueles que creram no poder desta palavra?



“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver Ágape,serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.

“Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé a ponto de transportar montes, se não tiver Ágape, nada serei.

“E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres, e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver ágape, nada disso me aproveitará” (1ª Cor. 13: 1-3).

“Amados, ... Ágape vem de Deus. Todo aquele que ama (com Ágape) é um filho de Deus e conhece a Deus, porque Deus é Ágape. E Deus mostrou Seu Ágape para conosco enviando Seu único Filho ao mundo, para que tenhamos vida por meio dEle. Isto é o que Ágape é: não é que nós tenhamos amado a Deus, mas que Ele amou-nos e enviou Seu Filho para ser o meio pelo qual nossos pecados são perdoados...

“Deus é Ágape, e aquele que permanece em Ágape vive em união com Deus e Deus vive em união com ele. ‘Agape é aperfeiçoado em nós a fim de que nós tenhamos confiança no dia do julgamento... Não há medo no Ágape; antes o perfeito Ágape lança fora o medo. Assim, portanto, Ágape não é aperfeiçoado em ninguém que tenha medo, porque o medo está relacionado com punição.

“Nós amamos (com Ágape) porque Ele nos amou primeiro” (1ª João 4: 7-19).

“Oro para que vocês possam estar alicerçados e fundados em Ágape.... Sim, possam vocês vir a conhecer o Seu Ágape, – embora ele não possa ser completamente conhecido – e ser completamente cheio da própria natureza de Deus” (Efésios 3: 17-19)

Ágape, A Palavra que Alvoroçou o Mundo.

O mundo foi uma vez poderosamente sacudido por um grupo de homens da Palestina, que traziam notícias corporificadas em uma, talvez, obscura palavra. Seus aterrorizados inimigos em Tessalônica (uma cidade hoje localizada na atual Grécia) confessaram o impacto desta pregação: Estes homens que têm alvoroçado o mundo chegaram também aqui” (Atos 17:6). Eles eram os inflamados mensageiros, apóstolos de Cristo, especialmente Paulo e seu colega João.

A palavra que provocou esta grande façanha era pouco conhecida no mundo greco-romano—o termo grego Ágape. Significava “amor”; mas trouxe um forte impacto espiritual que subjugou a mente de multidões, polarizando a humanidade em dois campos, um a favor e outro contra a idéia. Aqueles que eram a favor foram transformados, da noite para o dia, em precipitados alegres seguidores de Jesus, prontos a perder propriedades, ir presos, ou mesmo morrerem torturados por causa dEle. Aqueles catalisados contra ela (idéia), com a mesma velocidade tornaram-se cruéis, sequiosos e sanguinários perseguidores daqueles que viam luz no novo conceito de amor. Ninguém que ouviu as novas sobre Ágape podia ficar neutro.

O misterioso explosivo nesta bomba espiritual foi uma radicalmente diferente idéia de amor, daquela que foi sonhada pelos filósofos e professores de ética do mundo, uma nova invenção que pegou de surpresa amigos e inimigos. Não é que os antigos não tivessem nenhuma idéia da palavra amor. Eles falavam dela plenamente. Em verdade, os gregos tinham quatro2 palavras para amor (as línguas modernas, como o português, geralmente têm somente uma). Mas o tipo de amor que veio a ser expresso pela palavra Ágape impiedosamente expôs todas as outras idéias de amor como negação do amor, ou como o oposto do amor.

De repente a humanidade deu-se conta de que o que eles estavam chamando de amor, era, na verdade, egoística adoração. A psicologia humana foi despida pela nova revelação. Se você acolheu alegremente a revolução espiritual, você revestiu-se com Ágape, mas se ela o fez enraivecer, despindo-o da sua capa de piedade, tornou-o um irado contra a nova fé. E ninguém podia voltar o relógio atrás, porque Ágape era uma idéia para a qual a plenitude do tempo chegara.

Quando João pegou a sua pena para escrever a famosa equação “Deus é amor” (1ª João 4:8), ele teve que escolher entre as diversas palavras gregas que descreviam amor. A comum, diariamente usada —eros— foi violentamente rechaçada por si mesma. Algo misterioso e poderoso, eros era a fonte de toda a vida. Foi levada como que pela enxurrada de uma represa estourada, sobre todos os obstáculos dos desejos e sabedoria humanos, uma onda de emoção comum a toda a humanidade. Se uma mãe amava seu filho, seu amor era eros, nobre e puro. Igualmente, também, o amor dependente de uma criança por seus pais e o mutuo amor de amigos entre si. Posteriormente, o mútuo amor de um homem e uma mulher foi um profundo mistério para se entender.

É Deus eros? Perguntavam os antigos pagãos, —Sim! respondiam os filósofos, incluído o grande Platão, porque eros é mais forte do que a vontade humana. Produz o milagre de bebês. Faz famílias e amizades. E existe, naturalmente em todos. Portanto deve ser a centelha da divindade.

Para os antigos, amor era quase o mesmo que é para nós hoje: “o doce mistério da vida”, o elixir que torna possível suportar uma existência de outro modo intolerável. Platão esperou transformar o mundo com uma espécie de amor que ele considerava “divino eros”. Palavras derivadas de eros hoje têm um exclusivo significado sexual, mas Platão tentou tirar o mundo para fora desta armadilha através de uma idéia espiritualmente enlevante, algo nobre e inspirador. Era baseado em elevar-se mais alto, saindo do lamaçal da mera sensualidade física, sendo atraído para um bem melhor para a alma.

Mas João não poderia deixar-se levar pela idéia de escrever que Deus é eros. Ele deixou perplexos os pensadores de seus dias ao dizer que Deus é Ágape. E entre estas duas idéias de amor estende-se um grande abismo, maior do que a distância entre o oriente e o ocidente.

A idéia do apóstolo era revolucionária em, pelo menos, três modos:

1º. Se alguém ama com Ágape, ele tem “confiança no dia do juízo” (1ª João 4:17). Sem ele alguém mergulha em terror quando confrontado com o julgamento final; com Ágape, ele caminha sem temor, na presença de Deus passando por todos os Seus santos anjos, completamente franco e confiante.

2º. No amor (Ágape) não há temor, antes o perfeito amor (Ágape) lança fora o temor; porque o temor está relacionado com punição, e o que teme não é perfeito em amor (Ágape).” (v.18). Medo com sua acessória ansiedade é a essência da existência humana em todas as eras. Medo muito profundo para se entender pode tornar-nos doentes, corroendo a essência da alma, até que os órgãos físicos enfraqueçam na sua resistência à doença. Anos podem passar antes que possamos ver ou sentir a doença, mas afinal o órgão mais fraco do corpo cede, e médicos entram em ação para tentar concertar o que Ágape teria prevenido.

3º. Cada sublime alvo ético e moral da humanidade, nada é sem Ágape, diz Paulo no seu famoso capítulo 13 de 1ª Coríntios. Alguém pode “falar as línguas dos homens e dos anjos”, “ter poderes proféticos, e conhecer todos os mistérios e toda a ciência”, ter “fé a ponto de remover montanhas”, “distribuir tudo o que tenho, e ... entregar o corpo para ser queimado” e ainda não ter o mais importante ingrediente: Ágape. Ele termina “nada sendo”. E Ágape tem uma qualidade fenomenal de suportar “todas as coisas” pois Ágape nunca acaba”.

Como Ágape se diferenciou tanto da idéia comum de amor? Como a idéia dos apóstolos poderia ser uma ameaça para o nobre conceito de Platão? A resposta é encontrada em vários nítidos contrastes entre as duas idéias:

A) O amor humano normal é dependente da beleza e bondade do seu objeto. Nós naturalmente escolhemos aqueles que são bons para nós, que nos agradam. Apaixonamos-nos com o nosso oposto sexual que seja bonito, feliz, inteligente e atrativo, e nos afastamos do feio, vil, ignorante, ou ofensivo.

Em contraste, Ágape não é despertado por beleza e bondade do seu objeto. Mantêm-se em pé sozinho, soberano, independente. Os antigos tinham uma lenda que ilustrava o mais sublime conceito de amor que possuíam. Admeto era um jovem rei, bonito, com todas as qualidades pessoais de excelência. Ele contraiu uma doença que o oráculo dos deuses sentenciou que seria fatal, a menos que alguém pudesse ser encontrado que morresse em seu lugar. Seus amigos foram de um a outro, inquirindo, “estaria você desejoso de morrer por Admeto?” Todos concordaram que ele era um maravilhoso jovem, mas, “desculpem, nós não poderíamos morrer por ele.” A seus pais foi perguntado e eles disseram, “Oh, nós amamos nosso filho, mas desculpem, nós não poderíamos morrer por ele.” Finalmente os seus amigos perguntaram à linda jovem Alceste, que o amara, “Sim,” ela disse, “porque ele é um homem tão bom, e porque o mundo necessita tanto dele, estou pronta a morrer por ele!”

Gritaram os filósofos: “Isto é amor – pronto a morrer por um bom homem!” Imagine o choque que eles levaram quando os apóstolos vieram e disseram que aquilo não era amor de maneira alguma. Alguém com dificuldade morrerá por um homem justo – entretanto, talvez, por um bom homem alguém ousará até mesmo morrer. Mas Deus mostra seu amor (Ágape) por nós, em que, quando nós éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós, “enquanto nós éramos inimigos” (Rom. 5: 7, 8, 10).

Uma mensagem como esta ou torna a sua alma cativa, ou lhe torna num implacável inimigo.

B) O natural amor humano baseia-se no senso de necessidade.3 Sente-se, pobre e vazio em si mesmo e necessita de um objeto para enriquecer a própria vida. Um esposo ama sua esposa porque necessita dela, e a esposa ama seu esposo pela mesma razão. Dois amigos amam um ao outro porque necessitam um do outro. Cada um sente-se vazio e sozinho sem seu companheiro.

Infinitamente rico em si mesmo, Ágape de nada necessita. Os apóstolos disseram que a razão pela qual Deus nos ama, não é porque Ele precisa de nós, mas porque, – bem, Ele é Ágape, “você conhece a graça do nosso senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que por sua pobreza vos tornásseis ricos”. (2ª Cor. 8: 9). Até hoje estamos confusos com a idéia de um amor que “não busca os seus interesses” (1ª Cor. 13: 5). Até mesmo igrejas parecem atraídas, quase irresistivelmente, para representar o amor de Deus como buscando interesses próprios, uma motivação inspirada por um instinto de aquisição divina. Supõe-se que Deus viu um valor oculto em nós, e Ele estava simplesmente fazendo um bom negócio quando nos comprou.

Nos assemelhamos ao que adoramos, portanto multidões professam adorar tal Deus porque eles também estão à busca de um bom negócio. A religião deles é a alma da ganância—o que eles querem adquirir é o céu e as suas recompensas—e um motivo centralizado em si mesmos é o que os mantém avançando. Quando Ágape penetra neste ambiente a reação é quase igual à que aconteceu quando adentrou no mundo antigo.

C) O amor natural humano baseia-se em um sentido de valor. Muitos africanos continuam seguindo o antigo sistema de noiva-preço, o qual, sinceramente, reflete as mais sutis bases de todas as nossas outras culturas também. O total do preço da noiva a ser pago é proporcional à despesa de educação que os pais da jovem investiram nela. Umas poucas vacas são suficientes para uma jovem que apenas sabe rabiscar o seu nome; elevadíssimos dotes são exigidos por jovens que freqüentaram as universidades de Oxford ou Cambridge. Nós, também avaliamos uns aos outros. Poucos tratam o lixeiro cortes e atenciosamente como tratamos uma elevada autoridade. Se, como a água que procura o seu próprio nível, “amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais?” Jesus pergunta (Mat. 5: 46, 47). “Os homens te louvarão quando fizeres o bem a ti mesmo” (Salmo 49: 18).

Em contraste, Ágape é agradavelmente diferente. Ao invés de ser dependente do valor do Seu objeto, Ele cria valores no Seu objeto.

Suponhamos que eu tenha uma pedra bruta em minha mão. Eu a peguei num campo. Se eu tentar vendê-la ninguém me daria nem mesmo um centavo por ela. Isto não é porque a pedra é em si mesma ruim, mas porque ela é tão comum que não tem valor.

Mas, suponhamos que enquanto eu seguro esta pedra bruta em meus braços, eu pudesse amá-la como uma mãe ama o seu bebê. E suponha que meu amor pudesse funcionar como alquimia e transformá-la em uma peça de ouro puro. Eu estaria rico.

Isto é uma ilustração do que Ágape faz por nós. De nós mesmos não valemos nada mais do que o duvidoso valor químico dos ingredientes de nosso corpo. Mas o amor de Deus nos transforma em um valor equivalente ao do Seu próprio Filho: “Farei que o homem seja mais precioso do que o ouro puro, e mais raro do que o ouro fino de Ofir” (Isaias 13: 12).

Sem dúvida que você conheceu algum exemplo de trapos humanos que foram transformados em pessoas de infinito valor. João Newton (1725-1807) foi um desses. Ele era um marinheiro que negociava com o tráfico de escravos africanos. Tornou-se um bêbado miserável, que caiu vítima do povo que ele tentou escravizar. Com o tempo Ágape tocou seu coração. Largou seu vil negócio, e transformou-se em um honroso mensageiro de boas novas. Milhões lembram-se dele pelo seu hino que mostra o “fino ouro” em que ele se transformou:

“Oh, graça excelsa de Jesus!

Perdido, me encontrou!

Estando cego, me fez ver;

Da morte me livrou!

A graça libertou-me assim,

E meu temor levou.

Oh! quão preciosa é para mim

A hora em que me achou.5

D) O amor natural humano vai em busca de Deus. Todas as religiões pagãs são baseadas na idéia de Deus como sendo tão impalpável como a cura para o câncer. As pessoas imaginam que Deus está brincando de esconde-esconde e ocultou-Se dos seres humanos. Apenas alguns são suficientemente sábios e inteligentes para descobrir onde Ele Se escondeu. Milhares vão em longas caminhadas para Meca, Roma, Jerusalém, ou outros santuários, em busca dEle. Os antigos gregos sobrepujaram a todos nós na construção de magnificentes templos de mármore nos quais eles achavam que deveriam procurar a Deus.

Outra vez, Ágape demonstra ser o oposto. Não são humanos procurando Deus, mas Deus procurando o homem: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Luc. 19: 10). O pastor deixou as 99 ovelhas que estavam seguras e arriscou sua vida para achar a que estava perdida; a mulher ascende uma candeia e procura em sua casa até achar a moeda perdida; o Espírito de Deus procura pelo coração do filho pródigo e o traz de volta à casa. Não há, em toda a Bíblia, nenhuma história de uma ovelha perdida, da qual se exige que vá em busca do pastor.

Paulo estava obcecado com esta grande idéia: “Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo.) Ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo.) Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos” (Rom. 10: 6-8).

A “palavra da fé” é tão intimamente relacionada com Ágape como a face do tipo gráfico o é à matriz de fundição. Fé é a resposta de um coração humano contrito a esta tremenda revelação do Ágape; e a ênfase de Paulo é que esta tremenda “palavra está perto de você.” É a evidência de que Deus já lhe procurou aonde você se escondeu. O Bom Pastor está sempre em safári nos “caçando”.

E) Nosso amor humano está sempre procurando subir cada vez mais alto. Cada aluno do primeiro ano quer passar para o segundo; um menino de onze anos diz que em breve terá doze. Ninguém que procure emprego quer demissão ao invés de promoção. O político estadual sonha em fazer parte dos bastidores federais, e, possivelmente, cada senador, alguma vez, sonhou com a idéia de chegar à presidência.

Quem alguma vez ouviu de um presidente voluntariamente renunciar a fim de se tornar um cidadão comum? A Idéia de Platão sobre o amor nunca poderia imaginar tal coisa. Nem mesmo nós o poderíamos.

O que tornou sóbrio o mundo antigo estava à vista de Alguém mais importante do que um presidente descendo cada vez mais baixo, até que Ele, voluntariamente submeteu-Se à torturante e lacerante morte de um criminoso. No que é, provavelmente, um resumo da passagem favorita de Paulo, Fil. 2:5-8, podemos rastrear sete distintos passos descendentes que Cristo tomou mostrando-nos o que é Ágape:

1º) Embora “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação o ser igual a Deus”. Quando nós atingimos altas posições em política, negócios, ou até mesmo na igreja, é da nossa natureza preocuparmo-nos em não cair. “Preocupada torna-se a cabeça que tem uma coroa”. Mas o Filho de Deus abdicou de Sua coroa, voluntariamente, motivado por Ágape.

2º) Ele "esvasiou-Se, ou “Se fez sem reputação”. Nós humanos lutaremos até à morte para manter nossa honra ou nossa reputação. E destemidos feitos de valor nem sempre são o mesmo que “esvaziar-Se,” como Cristo fez, pois alguém pode dar seu “corpo para ser queimado”, e ainda não ter Ágape. Quando Paulo disse que Cristo esvaziou-Se,” ele estava falando a respeito de uma voluntária entrega de Si mesmo pela eternidade de tudo que tinha valor para Si, algo completamente impossível fora de Ágape.

3º) Ele tomou “a forma de Servo [escravo]”. Pode você imaginar uma mais desanimadora vida, do que sempre ser forçado a trabalhar sem salários e agradecimentos? Anjos são chamados de servos, “espíritos ministradores” enviados para nos servir (Heb. 1: 14); Se o filho de Deus Se tornasse como um deles, isto teria sido uma grande condescendência da Sua parte, porque Ele era o Comandante deles. Mas Ele desceu ainda mais baixo;

4º) Ele “nasceu semelhante aos homens”, “inferior aos anjos” (veja Sal. 8: 5). Não o coroado sol, com esplendor majestoso com que Gênesis diz ter Adão sido criado, mas no nível degradante do homem caído, na degradação do abismo humano, comum ao mundo greco-romano. Nenhum ser humano caiu jamais tão baixo, mas o Filho de Deus veio à profundidade suficiente para alcançá-lo. E uma vez que permitamos este Ágape achar guarida em nossos corações, todos hesitantes traços de espírito, que fazem nos considerarmos mais santos do que os outros, se dissolvem na presença dEle, e nós também descobrimos ser possível atingir os corações de outros.

5º) “E achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo”. Em outras palavras, Ele não nasceu em berço de ouro, quer no palácio de César ou de Herodes. Ele nasceu em um mal cheiroso abrigo de gado, e Sua mãe foi forçada a enrolar seu pequenino em trapos e a deitá-Lo em uma manjedoura. Sua vida tornou-se a de um camponês fatigante. Mas isto não foi suficiente:

6º) “Sendo obediente até à morte”. Esta marcante frase significa algo diferente do que o pulo suicida de um louco no escuro. Nenhum suicida é, jamais, “obediente até à morte”. Se ele fosse, ele ou ela, iria aguardar e encarar a realidade. O suicida é desobediente. O tipo de morte à qual Cristo foi “obediente”, não foi uma fuga da responsabilidade. Não foi como Sócrates bebendo a sua cicuta. Foi uma jornada para o inferno: a viva condenação da consciência de cada célula de um ser, tudo sob o presumido ou compreendido olhar de Deus. O sétimo condescendente degrau que Ele tomou torna isto mais claro;

7º) “E morte de cruz”. Nos dias de Jesus, a morte de cruz era a mais humilhante e desesperante possível. Não somente era ela a mais cruel jamais inventada, não unicamente a mais vergonhosa — sendo amarrado despido ante à escarnecedora turba que olhava sua agonia com alegria. A morte na cruz carregava um intrínseco horror mais profundo do que tudo isto. Significava que o céu te amaldiçoou.

O respeitável escritor antigo, Moisés, tinha declarado que qualquer um que morre “no madeiro é maldito de Deus” (Deut. 21:23). E, sem dúvida, todo mundo cria nisto. Se um criminoso condenado fosse sentenciado para ser morto com uma espada ou mesmo queimado vivo, ele poderia, ainda assim, orar e confiar que Deus o perdoaria, e olharia para ele amavelmente. Ele podia sentir algum suporte em sua morte.

Mas se o juiz dissesse, “você tem que morrer no madeiro”, toda esperança se esvaia. Todos achavam que Deus tivesse voltado Suas costas ao desgraçado para sempre. Eis porque Paulo diz que Cristo foi feito “maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” (Gal. 3:13). O tipo de morte que Jesus morreu foi a do perdido que deveria finalmente morrer em desespero e sem esperança, o que Apocalipse chama de “a segunda morte” (*Apoc. 20:6 e 21:8). Sem dúvida foi um milhão de vezes pior para Cristo suportar do que será para eles, porque Sua sensibilidade para com o sofredor foi infinitamente maior do que para cada um de nós.

Imagine um homem crucificado numa cruz ... Multidões vêm para escarnecer dele, como nós hoje nos reunimos para um jogo de futebol. Como um velho carro danificado, que crianças apedrejam, ele é um humano descartado, abandonado para ser zombado, abusado em horror inexprimível. Você não deve sentir ou expressar simpatia por ele, porque, se você o fizer, estará em desacordo com o julgamento de Deus a respeito dele. Você está ao lado de Deus se lhe atirar ovos e tomates estragados. Assim o povo pensava.

Esta foi a morte a que Jesus tornou-Se “obediente”. No Seu desespero Ele clamou, “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mat. 27: 46). Fique parado e reverente enquanto você pensa nisto. Você e eu somos os que teríamos que passar por aquilo se Ele não tivesse tomado o nosso lugar.

A idéia de Ágape tem sido apagada entre muitos professos seguidores de Cristo devido a uma noção pagã que se infiltrou na mente deles. Eu me refiro à doutrina da imortalidade natural da alma. Se não há tal coisa como a morte real, então Cristo não morreu realmente. Se Ele foi para o paraíso o dia em que Ele esteve na cruz (como muitos erroneamente crêem ao lerem uma mal colocada vírgula em Luc. 23:43), então não houve um verdadeiro esvaziamento de Si mesmo, uma morte verdadeira na cruz, o morrer equivalente à segunda morte, a qual é a grande realidade.

A doutrina da imortalidade natural da alma transforma o sacrifício de Cristo em uma fraude, um drama fingido—tolerar a ira de Deus por pecadores, quando de fato Ele era sustentado, do começo ao fim, por confiança da recompensa. Mas quando a escuridão O surpreendeu no Calvário, a luz da face de Seu Pai foi, em realidade, completamente ocultada. Seu clamor: “por que Me desamparaste?” (*Mat. 27:46; Mar. 15:34), não foi uma lamuria teatral. Isaias estava certo: “Ele derramou a Sua alma na morte” (Isaias 52:12), a saber, “a segunda morte” (Apoc. 2:11).

A infiltração desta falsa idéia do antigo paganismo começou cedo depois do tempo dos apóstolos, pois Jesus adverte a primeira das sete simbólicas igrejas de Apocalipse: “deixaste o teu primeiro amor [Ápape]” (vs. 4). Quando o inimigo de Deus viu o poder contido na idéia de amor, ele levou a primitiva igreja à apostasia neste ponto essencial. Nós podemos documentar, passo a passo, o progressivo abandono da idéia de Ágape pelos pais da igreja. Agostinho elaborou uma síntese de Ágape e (*um) amor centralizado em si mesmo que tornou-se o fundamento do catolicismo medieval. Lutero tentou restaurar Ágape ao seu lugar certo, mas, é triste dizer, seus seguidores retornaram à doutrina da imortalidade natural, e, outra vez, (*a idéia de) Ágape quase se apagou. O mundo agora está maduro para Sua chegada.

A esta altura nós podemos, possivelmente, começar a sentir o abismo que separa o amor humano de Ágape. A menos que enriquecido com Ágape, o amor humano é, realmente, egoísmo disfarçado. Mesmo o amor paternal pode ser uma mera busca do que nos interessa.

Nossa presente epidemia de infidelidade conjugal é evidência suficiente do aspecto egocêntrico do amor sexual. Frequentemente o amor de amigos, um pelo outro, é baseado em motivações egocêntricas. Em contraste, Ágapenão busca os seus interesses” e “nunca falha” (1ª Cor. 13:5 e 8).

Tendo dito tudo isto, resta ainda um contraste adicional entre o amor humano e amor de DeusO natural amor humano deseja a recompensa da imortalidade: Ágape ousa renunciá-la. Isto foi o que revolucionou todos os antigos sistemas de valores.

Deus não escreveu um artigo de enciclopédia para nós com a exposição sistemática de Ágape. Ele, entretanto enviou Seu Filho para morrer numa cruz para que possamos ver este amor. O verdadeiro sentido deste sacrifício é que ele é infinito, completo e eterno. Cristo foi ao túmulo por nós, não porque Ele o merecia, mas porque nós o merecíamos. Naquelas últimas poucas horas ao Ele estar pendurado lá nas trevas, Cristo sorveu as derradeiras fezes da taça da miséria humana4. A brilhante luz do sol na qual Ele andou quando esteve na terra se foi. Todo pensamento de recompensa fugiu de Sua mente. Deus é Ágape, e Cristo é Deus, e lá está Ele—padecendo a morte que nós merecemos. (O fato de que o Pai O chamou de volta à vida ao terceiro dia, de modo algum diminui a realidade de Seu cometimento na cruz em nosso favor).

Agora chegamos a algo perturbador. Não é suficiente que eu diga, “—Ótimo, estou feliz por Ele ter passado por isto; mas está você dizendo que eu tenho que aprender a amar com Ágape? Impossível!”

Nós pecadores, mortais centralizados em nós mesmos, podemos aprender a amar com Ágape, pois João diz: “o amor [Ágape] é de Deus; e qualquer que ama [com Ágape] é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama [com Ágape] não conhece a Deus; porque Deus é amor [Ágape](1ª João 4: 7 e 8).

Moisés é um primordial exemplo de alguém que aprendeu isto.

Um dia o Senhor deu a ele um teste. Israel quebrara o concerto ao adorar o bezerro de ouro, e Ele propôs a Moisés que Ele os exterminaria com uma “bomba-H” divina, e começaria de novo com um novo povo—os descendentes de Moisés. Moisés teve a idéia de que o pecado de Israel era tão grande desta vez para ser perdoado. A tentação de tomar o lugar de Abraão, Isaque, Jacó era muito real. Ele viu-se como em face de um Deus irado que gostava dele, mas que já estava saturado com Israel. Pareceu ser vão para Moisés implorar o perdão para Israel. Assim o que ele fez? Aceitaria a honrosa oferta e deixaria Israel perecer?

Moisés estava profundamente deprimido. Ele nunca chorou tanto em sua vida. Ouça, ao, em quebrados soluços, este mortal como nós, tentar mudar a mente de Deus:

“Ora, este povo cometeu grande pecado fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa o seu pecado—” Aqui Moisés para; ele não pode finalizar a sentença (Este é o único travessão em toda a versão King James!) Ele vislumbra o horror de um eterno inferno (*ou, de uma morte eterna, a segunda mote) se ele partilha a sorte de Israel. Mas ele está decidido. Ele escolhe estar perdido com eles: “... e se não, risca-me, peço-Te, do Teu livro, que tens escrito” (Êxodo 32:31 e 32).

Moisés passara no teste. Eu posso imaginar o Senhor lançando seus braços de amor em volta de Seu pesaroso servo—Ele havia achado um homem de acordo com o Seu coração.

Paulo encontrou o mesmo Ágape em Seu coração, pois ele também desejou ser amaldiçoado de Cristo por causa de seu perdido povo (Romanos 9:1-3). Cada qual que vê a cruz como ela verdadeiramente é, e crê, encontra o milagre de Ágape reproduzido em seu próprio coração. Assim é como o mundo vai ser alvoroçado novamente,Porque o amor [Ágape] de Cristo nos constrange,” que nós “não mais vivamos para [nós mesmos] mas para Aquele que morreu e ressuscitou [por nós]” (2ª Cor.5:14 e 15).

Nós perdemos a essência do Novo Testamento se não enxergarmos Ágape nele. Nós também permanecemos nas trevas sobre o que fé é, pois a fé no Novo Testamento é uma apreciação humana de coração da “largura, e comprimento, e altura, e profundidade do Ágape de Cristo” (Ef. 3:18 e 19). Não pode haver Justificação pela fé sem uma verdadeira apreciação de coração de Ágape!

Ao os apóstolos se inflamarem contando a história, a cruz se tornou o momento da verdade do mundo. Naquele luminoso fleche de revelação, cada homem viu-se julgado. A cruz tornou-se a definição final de amor; e eis aí porque a palavra Ágape alvoroçou o mundo. Deixe que ela transforme a sua vida também.

Robert Wieland6

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Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da Silveira.



Notas do tradutor:

1) Título do original em inglês: The Word That Turned The World Upside Down. (A Palavra que Virou o Mundo de Pernas para o Ar, expressão de Atos 17:6, na versão King James). Colhido da revista These Times (Estes Tempos), de Setembro de 1982

2) Em português temos apenas uma palavra para amor. Mas quatro são as palavras gregas:

Eros, philos, Ágape e storge.

Eros (ρως) é atração física, amor apaixonado, com desejo e apetite sensuais. Eros é a forma nominal, ou seja, o substantivo, o verbo é ereo. A palavra grega moderna “erotas” significa “o amor (romântico)”. Eros não é encontrado no Novo Testamento. O eros pode ser interpretado como o amor por alguém que você ama mais do que com o amor de philos, da amizade.

A philos de philia (φιλία), amizade no grego moderno, um amor virtuoso, desapaixonado, um conceito desenvolvido por Aristóteles. Inclui a lealdade aos amigos, à família, e à comunidade, e requer a virtude, a igualdade e a familiaridade. Ela é a que mais se aproxima do uso atual que fazemos da palavra amor, inclusive em termos compostos, como filantropia, amor pela humanidade, e filosofia, amor pela sabedoria. Em textos antigos, a philia denota um tipo de amor global, usado como amor entre a família, ente amigos, um desejo ou a apreciação de uma atividade, bem como ente amantes. Ágape e philia são as únicas palavras para “amor” usadas nos textos antigos do Novo Testmento.

O agápē de ágape (γάπη), no grego moderno, significa o “amor”. Antes de o Novo Testamento ser escrito esta palavra não é encontrada não é encontrada em nenhuma literatura secular, embora existisse. Na literatura bíblica, seus significados são ilustrados como auto-sacrifício, dando o amor a todos—amigos e inimigos. A forma nominal é usada por volta de 120 vezes, e a verbal, agapao, mais de 130. Exemplos: Em Mateus 22:39, “ame seu próximo como a si mesmo,” e em João 15:12, “O Meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei,” e em 1ª João 4:8, “Deus é amor.” Em 2ª Timóteo 4:10 a palavra é usada em sentido negativo. “Demas me abandonou, por amo (agapao) das coisas do presente século ...” Ágape é um substantivo e não adjetivo como muitas vezes se vê na literatura cristã. É redundância dizer-se “amor Ágape”, significaria “amor, amor”. De autor desconhecido temos a definição: “Ágape é o amor por outro ser que se caracteriza pelo desejo de fazer o que é melhor para o ser amado.”

Storge (στοργή) era usada para a lealdade a um governante ou a uma nação ou até a um ídolo doméstico pagão. É o nome da divindade grega da amizade. Um excelente exemplo desse tipo de lealdade encontra-se em 2º Samuel 21:10 e 11, onde Rispa montou guarda ao lado dos corpos de seus dois filhos e outros parentes, espantando dali aves de dia e animais do campo à noite. Em duas ocorrências no Novo Testamento aprece com um prefixo negativo (a + storge) e é traduzida por “sem afeição natural” (Rom. 1:31) e “desafaiçoados” (2ª Timóteo 3:3). Há uma ocorrência no sentido positivo, num composto que combina a forma verbal com filia. Essa combinação é traduzida por “amar cordialmente”: “Amai-vos cordialmente uns aos outros” (Romanos 12:10);
3) Nós amamos a Deus porque necessitamos dEle. Deus nos ama, por isso necessita de nós;

4) Ver O Desejado de Todas as Nações, pág. 756 (757 no original);

5) Hinário Adventista nº 208;

6) O pastor Roberto Wieland, autor de inúmeros livros, foi consultor editorial adventista do sétimo dia para a África e missionário em Nairobe e Kenia quando escreveu este artigo. Ele deu sua vida pela África.