quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A Metáfora da Indescritível Decepção de Cristo com Laodicéia, Robert J. Wieland



Para 4 a 11 de janeiro de 2014
Título original: “O livro de Cantares de Salomão e a Mensagem a Laodicéia,”
Há uma história de amor escondida na mensagem de Laodicéia que poucos dessa geração parece nunca terem percebido. Mas estudantes eruditos e reverentes das Escrituras a têm visto por séculos. De alguma forma ela iludiu nossos pioneiros, e os nossos olhos têm sido demasiado detidos desde então para vê-la.
O grego de Apocalipse 3:20 diz algo como isto: “Eis que eu tenho tomado minha posição à porta e estou batendo, batendo. Se um determinado alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e terei comunhão íntima com ele.”
Esta é uma clara alusão a uma história no livro "Cântico dos Cânticos," de Salomão, um livro que tem despertado mais embaraço do que entendimento cuidadoso. A fraseologia que Cristo usa é uma citação direta, exatamente a partir da Septuaginta, epi ten thuran, "à porta", como encontrado em Cântico dos Cânticos, 5:2: "Eu dormia, mas o meu coração velava: a voz do meu Amado batia à porta ..."
A expressão "à porta" não é encontrada no Antigo Testamento hebraico para essa passagem. Os editores de O Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, aparentemente, não conseguiram verificar a Septuaginta que a igreja primitiva utilizava livremente, pois eles dizem: "Cantares de Salomão em nenhum lugar é citado no Novo Testamento" (vol. 3, pág. 1111). Mas é, e é aqui em nossa mensagem de Laodicéia por nosso Senhor! Nosso Senhor também Se referiu a ele em João 7:38, dizendo: "Aquele que crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão de seu ventre,” referindo-se a Cântico dos Cânticos, capítulo 4, versos 12-16; o único texto das escrituras do Antigo Testamento, a que Ele poderia ter se referido. Assim, Cristo coloca Seu selo de aprovação sobre o livro de Cantares e afirma que seu herói é Ele mesmo.
A heroína deve, portanto, ser a própria Laodicéia. E assim é. Sua história está claramente nele delineada.
Foi na história da 1888 que o nosso Senhor "batia" como Amante Divino buscando uma entrada na porta de sua futura noiva. A citação direta de Jesus a partir da Septuaginta é um comentário inspirado que diz: "A mensagem de Laodicéia deve ser entendida à luz de Cantares de Salomão." Se Cristo não é onisciente (Ele diz que não sabe o tempo de Sua segunda vinda - Marcos 13:32), talvez Ele não saiba de antemão o resultado do apelo de 1888. Será que não podemos apreciar a Sua vontade divina para tomar para Si Sua futura noiva? Como não podemos sentir que Cristo "o Amante" esperava onde outros perderiam a esperança de que ela iria responder?
Mas Ellen White disse mais tarde: "A decepção de Cristo está além de descrição" (Review and Herald, 15 de dez. de 1904). O Cântico dos Cânticos diz o que aconteceu melhor do que os nossos próprios historiadores têm dito isso. A noiva está falando:
Uma busca infrutífera.
Eu dormia, mas o meu coração velava; e eis a voz do meu amado [na porta, LXX]: ‘Abre-me, minha irmã, meu amor, pomba minha, imaculada minha! Porque a minha cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos das goas da noite.”
"Já despi a minha roupa; como as tornarei a vestir? Já lavei os meus pés; como os tornarei a sujar?
"O meu amado pôs a sua mão através da fresta da porta; as minhas entranhas estremeceram por amor dele, e eu fiquei fraca quando ele falou.
Eu me levantei para abrir ao meu amado, e as minhas mãos gotejavam mirra, e os meus dedos mirra com doce aroma, sobre as aldravas da fechadura. Eu abri ao meu amado, mas já o meu amado tinha se retirado, e tinha ido. A minha alma desfaleceu quando ele falou; busquei-O e não O achei; chamei-O, e não me respondeu" (Cântico dos Cânticos, 5:2-6)
O restante do capítulo descreve muito bem nossas décadas de história que têm rolado em descomprometimento desde então.
Tudo isso é conhecido do universo celestial, só temos tropeçado em cegueira e patética vergonha, buscando Aquele que um dia desprezamos tão tragicamente:
"Acharam-me os guardas que rondavam pela cidade; espancaram-me, feriram-me, tiraram-me o manto os guardas dos muros.
Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que, se achares o meu amado -
lhe digais que estou enferma de amor" ( versos 7, 8).
O que isso significa? "Enferma de amor" é "doente de amor " na versão King James. Na versão hebraica significa ser "doente, fraco, adoentado." Isso não significa que o que entendemos comumente como "doente de amor", isto é, profundamente apaixonado. Todos os outros usos dessa palavra no Antigo Testamento significam" adoentado".

O que o verso seguinte significa?
Os encantos do amor perdido.
"Que é o teu amado mais do que outro amado, ó tu, a mais formosa entre as mulheres? Que é o teu amado mais do que outro amado, que tanto nos conjuras?” (v. 9).
Existe algo distintivo sobre o Cristo que ainda aprenderemos a amar mui profundamente?
Outra palavra na versão Septuaginta do livro Cântico dos Cânticos é interromper. As outras mulheres pediram a nossa heroína para nos dizer por que seu amante é tão "diferente" dos outros. Ela recita um poema sobre Suas excelências nos versículos 10-16, e, em seguida, conclui: "Tal é o meu Amante, e tal o meu amigo, ó filhas de Jerusalém." A palavra traduzida como "amigo" é plesion, que significa "o outro próximo ou perto de", em grego (cf. João 4:5). O que distingue a Cristo, a quem devemos amar e proclamar ao mundo? Ellen White diz da mensagem de 1888:
No sábado à tarde muitos corações foram tocados, e muitas almas foram alimentadas com o pão que desce do céu ... Nós [ela e A. T. Jones e E. J. Waggoner] sentimos a necessidade de apresentar Cristo como um Salvador que não estava longe, mas próximo à mão (idem, 5 março de 1889, grifo nosso).
É evidente que esta é uma alusão à cristologia que Jones e Waggoner apresentaram que O tornou "perto" (*de nós), que O trouxe verdadeiramente perto (*de nós) como o nosso "parente" que veio "em semelhança da carne do pecado", "tentado em todos os pontos como nós, mas sem pecado.” Há também um laço com Zacarias 12:10 na versão Septuaginta. O leitor vai se lembrar da passagem que descreve a íntima empatia que o povo de Deus vai aprender a sentir por Cristo quando eles percebem que Ele é Aquele "a quem traspassaram." A versão Almeida Fiel diz que "eles pranteá-Lo-ão sobre Ele, como quem pranteia pelo filho unigênito", mas a Septuaginta diz: "eles devem lamentar por Ele, como por uma pessoa amada", a mesma palavra, que aparece no livro Cântico dos Cânticos.
Note como Ellen White amarra claramente no Cântico dos Cânticos a fraseologia com os resultados da mensagem de 1888:
A vida cristã, que antes parecia-lhes [aos jovens] indesejável e cheia de inconsistências, agora aparecia em sua verdadeira luz, em notável simetria e beleza. Ele que tinha sido para eles “como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura” (*Isa. 53:2), tornou-se “o primeiro entre dez mil” [Cântico dos Cânticos 5:10], e aquele totalmente desejável (ibidem, 12 fev 1889).
É, verdadeiramente uma história de amor — a mais pungente jamais escrita. Ela respira a mesma esperança de final reconciliação e reunião, assim como a mensagem a Laodicéia.
Vale a pena morrer por essa esperança, e vale a pena viver. Se nossas pobres pequenas almas forem finalmente salvas e chegarmos ao Céu para aquecer nossas recompensas — isso não é de todo importante. O que é importante é que o amante e profundamente decepcionado e Esposo receba Sua recompensa, para que, finalmente, receba como sua noiva uma igreja, que é capaz de uma verdadeira apreciação de coração por Ele.



Robert J. Wieland
Extraída do seu livro  “Batendo à porta,”  
do capítulo intitulado
 "O livro de Cantares de Salomão e a Mensagem a Laodicéia,
 págs. 104-108,


            O irmão Roberto J. Wieland foi um pastor adventista, a vida inteira, missionário na África, em Nairobe e Kenia. É autor de inúmeros livros. Foi consultor editorial adventista do Sétimo Dia para a África. Ele deu sua vida por Cristo na África. Desde que foi jubilado, até sua morte, em julho de 2011, aos 95 anos, viveu na Califórnia, EUA, onde ainda era atuante na sua igreja local. Ele é autor de dezenas de livros. Em 1950 ele e o pastor Donald K. Short, também missionário na África, em uma das férias deles nos Estados Unidos, fizeram dois pedidos à Conferência Geral: 1º) que fossem publicadas todas as matérias de Ellen G. White sobre 1888, e 2º) que fosse publicada uma antologia dos escritos de Waggoner e Jones. Eles e sua mensagem receberam mais de 200 recomendações de Ellen G. White. 38 anos depois, em 1988, a Conferência Geral atendeu o primeiro pedido, o que resultou na publicação de 4 volumes com um total de 1821 páginas tamanho A4, com o título Materiais de Ellen G. White sobre 1888. Quanto ao segundo pedido até hoje não foi o mesmo ainda atendido.
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