quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Lição 7 – Expiação em Símbolos - II

Deus preferiu antes morrer por nós que viver sem nós.

O Dia da Expiação é evidência de que Deus não instituiu o sistema sacrifical para ser um ciclo perpétuo, interminável de pecado, confissão, e perdão sem qualquer conclusão.1

Os serviços executados diariamente para o corpo coletivo de Israel provia a transferência dos pecados ao templo, que, por suas muitas facetas, representa Cristo. Os israelitas não tinham que estar presentes para os sacrifícios diários da manhã e da tarde que os sacerdotes sacrificavam pelo acampamento inteiro. Durante o ano, a única participação ativa era quando o indivíduo trazia um animal para ser sacrificado por perdão específico. Em ambos exemplos, o significado era a transferência de pecado para o templo, que assim, tornava-se contaminado no curso do ano.

Semelhante ao ministério diário, na cruz quase o mundo inteiro ignorava a existência do acontecimento, e poucos dos que estavam cientes entendiam sua importância. Entretanto, “o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos” (Isa. 53:6), sem ter em conta nossa presença ou identificação com sua importância. Maria Madalena pode ter entendido, mas suas declarações no jardim, no domingo de manhã, revelam que ela não estava ciente que também haveria uma ressurreição.

O Dia da Expiação era diferente do ministério diário em que Israel devia afligir suas almas2, humilhar-se e não fazer nenhum trabalho (Lev. 16:29-31). Este processo começava quando a Festa das Trombetas se iniciava dez dias antes do Dia da Expiação.3 Por que a diferença? Envolvia o limpar do pecado o templo individual da alma, algo que Deus nunca forçará. Haverá uma participação consciente e informada onde o arrependido reconhecerá sua boa vontade para que o Espírito Santo faça Seu trabalho de convencer do pecado. O arrependido reconhecerá seu pecado e condescenderá com a remoção e transferência desses pecados para o templo.

O acampamento era assim dividido em dois grupos, os que participavam por afligir suas almas, e os que não se afligiam. Logicamente, os que pertenciam a cada grupo deviam ser identificados por um julgamento, porque o acusador dos irmãos continuamente reivindica todos habitantes da terra como seus. Foi este conceito de julgamento que alertou os pioneiros da Igreja Adventista do Sétimo-Dia à explicação adequada da profecia dos 2300 dias de Daniel 8:14. É depois deste processo no antitípico dia cósmico da expiação que Cristo declara: "E, eis que cedo venho, venho rapidamente, e o Meu galardão está comigo..." (Apoc. 22:12). Todas as suas decisões foram feitas, e Cristo selou Sua Noiva. Os que recusam participar no processo de purificação receberão os resultados de sua escolha, serem “extirpados.”

A esses que aceitam a expiação (*unidade atonement, em inglês, at-one-ment) com Cristo (*a finalmente realizada unidade com Cristo) e permitem que Ele lave suas vestes, será dado o direito à árvore da vida, e poderão entrar na Cidade pelas portas (Apoc. 22:14). São vitoriosos sobre a besta, sua imagem, e seu número por submeterem-se ao fogo do refinador e são habilitados a ficar de pé no mar de vidro misturado com fogo cercando o trono de Deus (Apoc. 15:2).

O Salmista declara, "O Teu caminho, ó Deus, está no santuário" (Salmo 77:13 ARC). O Dia da Expiação demonstra o novo e vivo caminho, que Cristo, pela Sua carne, consagrou para nós. “Ele, vindo na carne, identificando-Se com a humanidade na carne, consagrou-nos, a nós que estamos nesta carne, um caminho daqui onde estamos para lá onde Ele está atualmente, ou seja, à mão direita do trono da Majestade nos céus no lugar santíssimo” (De Alonzo T. Jones, em O Caminho Consagrado para a Perfeição Cristã, pág 82)4.

Os sacrifícios e o serviço do santuário terreno não podiam tirar os pecados dos homens, e, portanto, não os podia trazer a esta perfeição. Mas o sacrifício e o ministério do verdadeiro Sumo Sacerdote no santuário e no verdadeiro santuário realizam isto. Isto tira totalmente cada pecado. E o adorador é tão verdadeiramente perdoado que “não tem mais consciência dos pecados” (Heb. 10:2).

Isaias experimentou um Dia pessoal de Expiação (Isaias 6). Na sua visão, ele contemplou a Deus sentado no Seu trono (o propiciatório) com Serafins com seis asas (a arca). Depois de reconhecer seu pecado ele o confessou, temendo que estivesse "perdido". Outra expressão para "estou perdido" é "sou extirpado” (* Almeida Fiel, ou, em outras versões, “cortado”, ou “eliminado”), que é o castigo para os que se recusaram a participar no Dia. Isaias se submeteu ao processo de purificação quando uma brasa ardente tocou seus lábios. Isto foi declarado ter tirado sua iniqüidade e expiado o seu pecado.

Esses que têm vencido o sistema de auto-adoração da besta são qualificados a ficar em pé no mar de vidro (Apoc. 15:2-4). Eles exercitaram fé para seguir a Cristo pelo caminho que Ele consagrou no Seu ministério no segundo compartimento (*o lugar santíssimo do santuário). Quando o juízo for encerrado, não haverá nenhuma necessidade de um mediador porque em Cristo eles já ficam de pé na presença de Deus. Eles agora são selados "em um" com Cristo, e nEle eles são habilitados a cantar o cântico de Moisés e do Cordeiro. É meu desejo que todos nós, avidamente, apreciemos o processo de purificação que resulta em expiação (*a unidade com Cristo)

Arlene Hill


Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da Silveira.

Notas do tradutor:

1) Gen 3:15 já apontava para um único ato remidor—a ferida mortal na cabeça da serpente. O sistema sacrifical apontava para o Messias, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29), que haveria de morreruma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus;” (I Pedro 3;18).

Como um dos atos de Deus no Dia da Expiação seria uma obra de julgamento, Ele teve que respeitar o livre arbítrio que havia concedido a Adão e Eva. Assim Ele não criou uma cerca em volta da árvore do conhecimento do bem e do mal, entretanto os advertiu das conseqüências da desobediência.

Também Deus já havia colocado nos seres humanos, quando os criara, o senso de vergonha pela nudez, não somente em relação aos semelhantes, mas também para que fossem “irrepreensíveis em santidade” (I Tess. 3:13) diante dEle. A multifacetada tentativa do homem, através da moda, de adornar-se, cobrindo a sua nudez, começando com “as folhas de figueira” (Gen 3:7), são obras da carne, e não trazem a justiça eterna. Só um único ato poderia realizar isto, e, imediatamente, “fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu” (Gen 3:21). Os que não forem cobertos pelo único manto de justiça capaz de os tornarem aptos a comparecerem na presença de Deus, o manto da justiça de Cristo, se esconderão “nas cavernas e nas rochas das montanhas” e dirão “aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro” (Apoc. 6: 15 e 16). Quando Cristo voltar os reais cristãos não terão vergonha, porque não estarão nus, mas cobertos com a única veste que os podia restaurar.

2) No dia da Expiação “cada homem deveria afligir a sua alma, enquanto prosseguia a obra da expiação. Toda ocupação era posta de lado, e toda a congregação de Israel passava o dia em humilhação solene perante Deus, com jejum e profundo exame de coração” (Patriarcas e Profetas pág. 355).

3) Até o presente os judeus ortodoxos em todas as partes do mundo chamam estes dez dias, que antecedem o Dia da Expiação, do primeiro dia do sétimo mês até o décimo dia deste mesmo mês, “os dez dias de arrependimento.” Estes são dias preparatórios para o solene Dia da Expiação. Durante muitos séculos da era cristã, o povo judeu chamava este dia de Rosh Hoshanah, o Ano Novo Judeu, hoje chamado de Yom Kippur. É considerado pelos filhos de Abraão como o mais sagrado e solene dia do ano.

A Enciclopédia Judaica, Vol. II, pág. 288, publicada por Funk and Wagnalls Company, New York, faz o seguinte comentário em relação a este dia: “O sério caráter impresso sobre este dia, desde o tempo de sua instituição, tem sido preservado até o presente. ... Nenhum judeu, em comunhão com a sinagoga, deixará de observar o Dia da Expiação, descansando de todos os seus labores e atendendo ao serviço na sinagoga.”

Neste dia todas as pendências entre o povo deviam ser endireitadas. À hora do serviço da tarde todos os votos, promessas, juramentos, e outras formas de acordos e contratos que possam não ter sido concluídos têm que ser absolvidos. Eles têm que ser expiados, eles deve ser perdoados. É uma solene e santa convocação.

No serviço a lei e os profetas eram lidos, especialmente as partes que se referiam ao jejum e aflição da alma. O penitente é relembrado de que ele deve ser selado antes que o dia termine. Durante as últimas horas do dia ele ora: “Pai nosso, nosso Rei, sele nosso nome no livro da vida; ... “

A Enciclopédia Judaica, Vol. II, pág. 281, diz: “Assim os dez primeiros dias de Tishri (o sétimo mês bíblico) eram, enfaticamente, os Dias Penitenciais do ano, separados para trazer uma prefeita mudança de coração e tornar Israel como criaturas nascidas de novo. ... culminando com o Dia da Expiação, o dia anual do perdão divino dos pecados, quando Satanás, o acusador, não conseguia achar pecado entre o povo.”

No encerramento dos serviços deste dia cada homem e mulher cumprimentava seus amigos e vizinhos. Apertavam as mãos e ofereciam uns aos outros a alegre expressão, “—Que você tenha recebido um bom selamento.”

“O Dia da Expiação significava tudo para o sumo sacerdote bem como para o povo. Este representante de Deus e do homem era colocado numa singular posição durante as horas deste dia sagrado. Com relação ao povo em favor de quem ele oficiava, ele mediava em seu favor pela última vez se ainda existisse algum pecado não confessado. Ele deve estar limpo, Sua família também deve estar separada de toda impureza” (A Enciclopédia Judaica, Vol. II, pág. 284).

Todas as informações desta nota 3 acima foram colhidas da obra O Messias no Seu Santuário, do pastor Frederick Carnes Gilbert (1867 – 1946). Ele foi a maior autoridade que tivemos em assuntos hebraicos especialmente o santuário. Ele era judeu e profundo conhecedor das línguas bíblicas. Foi um incessante obreiro junto aos judeus, e secretário do Departamento Judeu da Conferência Geral. (Enciclopédia Adventista, vol. 10 da série SDABC, págs. 515 e 516)

4) Veja, em seqüência, o que mais tem Alonzo T. Jones para nos dizer nos §§ que seguem:

"Na Sua vinda na carne—tendo sido feito em todas coisas como nós, e tendo sido tentado em todos pontos como somos—Ele identificou-Se com cada alma humana, exatamente onde essa alma está. E do lugar onde cada alma humana está, Ele consagrou para essa alma um novo e vivo caminho através de todas as vicissitudes e experiências de uma vida inteira, e mesmo através da morte e da sepultura, no Santíssimo na mão direita de Deus para sempre.

"Oh! aquele caminho consagrado! Consagrado pela Suas tentações e sofrimentos, pela Suas orações e lágrimas, pela Sua vida santa e morte sacrifical, pela Sua triunfante ressurreição e ascensão gloriosa, e pela Sua entrada triunfal no Santíssimo, à mão direita do trono da Majestade nos céus!

"E este "caminho" Ele consagrou para nós. Como Ele Se tornou um de nós, fez deste caminho nosso caminho; ele pertence a nós. Ele dotou cada alma com o divino direito de trilhar neste consagrado caminho; e por Ele ter feito isto, tendo-o feito na carne—na nossa carne—tornou possível, sim, Ele deu garantia real, que cada alma humana pode andar nesse caminho, em tudo que esse caminho significa; e através dele entrar plena e livremente no lugar Santíssimo.

“Ele, como um de nós, na nossa natureza humana, fraco como nós, carregado com os pecados do mundo, na nossa carne pecaminosa, neste mundo, viveu uma vida inteira, “santa”, inocente, pura, separado dos pecadores, e foi “feito mais sublime do que os céus”. E foi assim que Ele fez e consagrou um caminho, pelo qual nEle cada crente pode, neste mundo, e durante uma vida inteira viver uma vida santa, inocente, pura, separada dos pecadores. A conseqüência desta vida é que ele será feito, com Ele, mais sublime do que os céus.

“A perfeição, perfeição de caráter, é o alvo do cristão.—perfeição obtida na carne humana neste mundo. Cristo atingiu-a em carne humana neste mundo e assim fez e consagrou um caminho pelo qual, nEle, cada crente pode obter a mesma. Ele, a tendo alcançado, tornou-Se nosso grande Sumo Sacerdote, pelo Seu ministério sacerdotal, no verdadeiro santuário, para habilitar-nos a obtê-la.

"Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, Pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é O que prometeu (Hebreus 10: 19-23). (O Caminho Consagrado para a Perfeição Cristã, págs. 82-84).

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