O principal tema de Paulo é, sempre, "Cristo e Este crucificado" (1ª Cor. 2:2).
A grande mensagem adventista é a de que Cristo morreu por toda a humanidade. Muitos universalizam o pecado, enquanto querem particularizar a justificação realizada por Cristo. Mas, ao contrário, a morte de Cristo causou um maior impacto à raça humana do que o pecado de Adão.
As bênçãos espirituais "em Cristo", (Ef. 1:3-14) advieram a toda a humanidade, crentes e incrédulos, por um só ato de justiça na cruz do Calvário, passiva e independentemente, isto é, toda a humanidade foi beneficiada, sem opção pessoal de qualquer um de seus elementos.
O pronome pessoal "nós", e as formas verbais na 3ª pessoa do plural, que aparecem, num total de cerca de 10 vezes neste texto, referem-se a toda a humanidade.
Cristo por Sua morte, não poderia justificar um único indivíduo, legalmente, sem também incluir toda a raça humana numa única justificação forênsica (legal) universal.
Se Ele, legalmente, não justificou a todos, teria que ter morrido individual e separadamente por cada um. Mas não, Ele morreu "uma única vez" (1ª Pedro 3:18) e por todos, sem qualquer ato volitivo (o exercício do livre-arbítrio) deles, isto é, não tivemos escolha, como também não decidimos mergulharmo-nos no lamaçal da natureza humana pecaminosa pelo ato de Adão.
Mas, porque "... todos pecaram...", isto é, porque cada um de nós escolheu repetir o ato de desobediência, a exemplo dele, todos estamos "...destituídos da glória de Deus" (Rom 3:23), e somos culpados perante o grande Doador da lei.
A lei moral de Deus, é universal, e igualmente o pecado se generalizou entre nós. Entretanto não há justificação pela lei, "ninguém será justificado diante dEle pelas obras da lei" (Rom 3:20).
Na Almeida este termo "ninguém", ou ("nenhuma carne", "no flesh" na KJV) é, igualmente, universal, e, como em Efésios, refere-se a toda a humanidade.
A justificação legal, histórica, "uma vez por todas", é fundamental para a mensagem da justificação pela fé. É objetiva, real, e teve existência independente de qualquer experiência subjetiva na mente do crente.
Quando o crente: a) entende o sacrifício feito pela majestade do céu, em dar-Se (João 3:16); b)contempla Sua vida de renúncia e sofrimento, especialmente no Getsêmani e Calvário, e, c) crê, pela fé "em Cristo", na eficácia de Sua morte, em expiação pela culpa de cada pecado que cometeu, a sincera resposta de seu coração será de gratidão e apreciação a Deus por Sua bondade para com ele (crente) em dar Seu Filho como o representante da raça humana, o 2º Adão, o Salvador da raça caída, para expiar, totalmente, a sua penalidade, ao morrer a 2ª morte por ela.
Assim, o ato objetivo, universal, legal, histórico, de Cristo torna-se subjetivo, individual, expiatório e fato presente na vida de cada um de nós em particular, ao, dia-a-dia, sermos santificados para Sua honra e glória.
A justificação legal (forênsica) levada a efeito no Calvário, não nos vem pela lei, nem pela fé, mas tão somente pela graça, e nos é dada gratuitamente. É "em Cristo" (Rom 3:24). Não pode ser separada dEle. Ele foi dado à raça humana. É uma justificação unilateral e universal. Todos: 1º) "pecaram" (Rom. 3:23); 2º) "estão destituídos da glória de Deus” (idem), e, 3º) são justificados gratuitamente (vs. 24).
A mudança de caráter, "em Cristo", vem quando alguém crê. Isto é chamado de "justificação pela fé". Tanto a justificação e a fé, ambas, são dadas a todos, exatamente como Cristo foi dado a todos.
Então, por que nem todos se salvarão? Porque recusam crer. Se todos acreditassem na eficácia do que Deus fez por eles, "em Cristo", todos seriam salvos, porque, então, não haveria coração algum que não se derreteria em gratidão e apreciação pelo Seu grande e "misterioso" ato.
A maioria despreza tal presente de Deus. Um dia será revelado que Deus, em Cristo, deu justificação e fé a todos os homens, em todos os lugares, mas a raça humana, em geral, rejeitou a Deus e Seu dom "em Cristo".
O perdão de Deus é gratuito, mas não é o ensinamento da "graça barata".
É de graça, mas foi terrivelmente custoso. Seu preço é infinito.
Uma vez seja apreciado no coração do receptor, será extremamente difícil desviar-se de Deus.
"A palavra "gratuitamente", em Romanos 3:24 é um termo legal. Significa grátis, livremente, não reservadamente, é "sem causa". É usada por Jesus em João 15:25: "Odiaram-Me sem motivo", "sem causa". Igualmente justificação legal, universal, é gratuitamente dada "sem causa". Isto também é odiado "sem causa" por aqueles que a recusam. Não há outra causa porque a justificação legal do Calvário seja odiada além de que é pelo fato de que Jesus é odiado.
OS TRÊS PASSOS BÁSICOS (rodapé da parte de 5ª feita, 13 de outubro de 05) isto também é do pastor Finneman
"No Calvário Jesus assinou, com Seu próprio sangue, a emancipação da raça Humana" ("A Ciência do Bom Viver", pág. 90). Quando a serva do Senhor escreveu esta frase, era grande o uso da palavra "emancipação" nos Estados Unidos da América do Norte, devido à libertação dos escravos naquele país, decretada pelo presidente Abraão Lincoln em 1º de Janeiro de 1863.
Tivemos, no Brasil, similar ocorrência quando, em 13/05/1888, a Princesa Isabel assinou a lei de emancipação dos escravos no Brasil, e ordenou a libertação deles. Como lá, também aqui no Brasil, por aquele simples ato cada escravo foi legalmente declarado livre.
Mas, de fato eles não foram libertados, continuaram trabalhando "o látego fogoso nos dorsos a estralar" (Castilho). O ato legal levou um só momento, mas antes que o aspecto experiencial fosse colocado em moção diversos fatos tinham que ocorrer:
1º) Cada escravo teria que ouvir as boas novas.
O conhecimento do ato legal de sua libertação era essencial, não os seus sentimentos.
2º) O escravo tinha que crer nas boas novas, caso contrário não teria sequer ânimo de enfrentar seu senhor.
Efésios 1:13 mostra estes dois primeiros passos na primeira parte do verso: 1º) "ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação...", e , 2º) "...tendo nele crido..." A última parte do verso conclui: "fostes selados com o Espírito Santo da promessa".
Este é o 3º evento para efetivação da libertação: tendo ouvido a boa nova de sua libertação, e crido nela, o escravo, possuído "de Cristo", pelo poder de Deus, caminha audaciosamente para fora dos domínios do implacável senhor.
Na mensagem de 1888 você encontra uma magistral afirmação:
"As portas da prisão estão abertas, saiam!!!"
Assim, o crente, "em Cristo", impulsionado pelo Espírito Santo, conscientizado de que a boa nova é efetiva e verdadeira, trazendo consigo mesma poder para realizar nele aquilo que afirma, pois é a própria "palavra de Deus"; recusa permanecer sujeito à escravidão, ousadamente afirma sua liberdade do antigo senhor, confiado no "selo" do ato emancipatório Divino (do Poder Judiciário do Império do Brasil, na pessoa da Princesa Isabel, no exemplo acima), não confia em seus próprios sentimentos, e marcha destemidamente para a liberdade.
Nós temos que confiar na autoridade e poder de Deus como nosso "selo" e "garantia", à nossa retaguarda, e em frente de nós, por baixo, por cima, e conosco, ao recusarmos, pela fé, e "em Cristo", à subseqüente escravidão ao inimigo da liberdade.
Ser emancipado segue-se ao ato emancipatório. Esta é a raiz, aquele o fruto. Um inicia, o outro participa. A ordem seqüencial é vital. Não é a emancipação que vem primeiro, assim como não nasce o fruto e depois cresce a raiz.
A obra de Cristo por nós é infinitamente maior do que o ato de Adão. Enquanto afirmando e proclamando a universalidade do pecado, sua volição (o aspecto da mente envolvida na decisão de cometê-lo ou não), sua subjetividade, seu fato momentâneo, presente; não devemos negligenciar ou negar a universalidade também do ato forênsico de Deus da Justificação na Cruz. Aqui houve uma decisão da Divindade, tomada "antes da fundação do mundo", de dar-Se pela raça caída, um ato objetivo e histórico.
Normalmente pensamos da Justiça de Deus como ato que proíbe nossa justificação.
Não é assim. Deus demonstrou Sua justiça "no tempo presente" em que é "Justo e Justificador" (Rom.3:26) daquele que tem fé em Jesus.
Assim o homem é deixado sem escusa para gloriar-se em si mesmo. Vanglória é lançada fora pela vinda da justificação pela fé. Jactância é a evidência da descrença em um coração pecaminoso.
Enquanto a descrença desarraiga a lei do coração, a fé a estabelece. Nós não somos justificados pela obediência, mas para obedecer.
—João Soares da Silveira.