terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 47.

359

O Ajuntamento de Israel

O Concerto Eterno Completado

Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas a Suas obras (Atos 15:18).

“E envie Ele a Jesus Cristo, que já dantes vos foi pregado, o qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os Seus santos profetas, desde o princípio” (Atos 3: 20 e 21).

“A Este dão testemunho todos os profetas” (Atos 10:43).

O ajuntamento final do povo de Deus e seu estabelecimento na terra restaurada tem sido o tema dos profetas desde a queda; e, como uma consequência necessária, eles todos têm dado testemunho de que todos quantos creem em Cristo receberão remissão de seus pecados, uma vez que somente pela remissão dos pecados a reunião e restauração têm lugar. Consideremos então umas poucas dessas profecias que falam dessas coisas, e servirão como representantes de todas as demais. Tomemos primeiro o capítulo onze de Isaías:

“Porque brotará um rebento do toco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará. E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor. E deleitar-se-á no temor do Senhor; e não julgará segundo a vista dos Seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos Seus ouvidos; mas (360) julgará com justiça os pobres, e repreenderá com equidade os mansos da terra; e ferirá a terra com a vara de Sua boca, e com o sopro dos Seus lábios matará o ímpio.”1 [Comparar com 2ª Tess. 2:8].

A justiça será o cinto dos Seus lombos, e a fidelidade o cinto dos Seus rins. Morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará; e o bezerro, e o filho do leão e o animal cevado andarão juntos; e um menino pequeno os conduzirá. A vaca e a ursa pastarão juntas, e seus filhos se deitarão juntos; e o leão comerá palha como o boi. E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a desmamada colocará a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o Meu santo monte; porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar”.2

A História do Evangelho Esboçada

Aqui temos um esboço de toda a história do Evangelho, incluindo a eliminação de pecado e pecadores, e o estabelecimento do justo na terra feita nova, quando “os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz” (Sal. 37:11, juntamente com os vs. 9, 10).

Tendo dado toda a história, como já lida, o profeta prossegue um pouco mais com detalhes. Partindo do ponto onde começou, ele prossegue:—

“E acontecerá naquele dia que a Raiz de Jessé, a qual está posta por estandarte dos povos, será buscada pelos gentios; e o lugar do Seu repouso será glorioso. E há de ser que naquele dia o Senhor tornará a por a Sua mão para adquirir outra vez3 e remanescente do Seu povo, que for deixado, da Assíria, e do Egito, e de Patros, e da Etiópia, e de Elã, e de Sinar, e de Hamate, e das ilhas de mar. E levantará um estandarte entre as nações e ajuntará os desterrados de Israel, e os dispersos de Judá congregará desde os quatro confins da terra”.4

(361) Desse ajuntamento dos eleitos dos quatro cantos da Terra lemos também em Mateus 24:31. O poder pelo qual esse ajuntamento deve ocorrer não é menor do que o que foi manifesto quando o Senhor estendeu Sua mão pela primeira vez para reunir o Seu povo, pois lemos: “E haverá caminho plano para e remanescente do Seu povo, que for deixado da Assíria, como sucedeu a Israel no dia em que subiu da terra do Egito” (Isa. 11:16).

“Eis o Vosso Deus”5

Desse ajuntamento, primeiro e último, lemos também no capítulo quarenta de Isaías. A pregação do Evangelho, inclusive o perdão dos pecados, o envio do Consolador, o Espírito Santo, o estabelecimento de Deus como o único Poder no universo, o Criador e Preservador, e o anúncio da vinda do Senhor em glória, tudo é encontrado ali. Então, na mensagem, “Eis o vosso Deus”,5 lemos:—

“Eis que o Senhor Deus virá com poder, e o Seu braço dominará por Ele; eis que o Seu galardão está com Ele, e a Sua recompensa diante dEle (comparar com Apoc. 22:12). Como pastor Ele apascentará o Seu rebanho; entre os Seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no Seu regaço; as que amamentam, Ele as guiará mansamente” (Isaias 40: 10, 11).

Lemos antes sobre o ajuntamento das ovelhas perdidas da casa de Israel num só rebanho, de modo que haja “um só rebanho e um só Pastor”;6 aqui vemos que o ajuntamento é iniciado pela pregação do Evangelho, e é completado somente pela vinda do Senhor em glória, com os Seus anjos; e ademais, que o poder e glória da vinda do Senhor são idênticos ao poder que deve acompanhar a pregação do Evangelho.

As Ovelhas Perdida Sob Apostasia

Nos versos seguintes lemos a condição das ovelhas perdidas da casa de Israel, e como os pastores infiéis espalham as ovelhas em lugar de reuni-las:—

(362) “Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza, e dize aos pastores: Assim diz o Senhor Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar as ovelhas? Comeis a gordura, e vos vestis da lã; matais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza. Assim se espalharam, por não haver pastor; e tornaram-se pasto a todas as feras do campo, porquanto se espalharam. As minhas ovelhas andaram desgarradas por todos os montes, e por todo alto outeiro; sim, as minhas ovelhas andaram espalhadas por toda a face da terra, sem haver quem as procurasse, ou as buscasse” (Ezequiel 34: 2-6).

“Portanto, ó pastores, ouvi a palavra do Senhor: Vivo Eu, diz o Senhor Deus, que porquanto as Minhas ovelhas foram entregues à rapina, e as Minhas ovelhas vieram a servir de pasto a todas as feras do campo, por falta de pastor, e os Meus pastores não procuraram as Minhas ovelhas, pois se apascentaram a si mesmos, e não apascentaram as Minhas ovelhas; portanto, ó pastores, ouvi a palavra do Senhor: Assim diz o Senhor Deus: Eis que Eu estou contra os pastores; das suas mãos requererei as minhas ovelhas, e farei que eles deixem de apascentar as ovelhas, de sorte que não se apascentarão mais a si mesmos. Livrarei as Minhas ovelhas da sua boca, para que não lhes sirvam mais de pasto. Porque assim diz o Senhor Deus: Eis que Eu, Eu mesmo, procurarei as Minhas ovelhas, e as buscarei. Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que está no meio das suas ovelhas dispersas, assim buscarei as Minhas ovelhas. Livrá-las-ei de todos os lugares por onde foram espalhadas, no dia de nuvens e de escuridão. Sim, tirá-las-ei para fora dos povos, e as congregarei dos países, e as introduzirei na sua terra, e as apascentarei sobre os montes de Israel, junto às correntes d’água, e em todos os lugares habitados da terra (vs. 7 a 13. Comparar com Rom. 4:18).

E suscitarei sobre elas um só pastor para as apascentar, o Meu servo Davi. Ele as apascentará, e lhes servirá de pastor. E Eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o Meu servo (363) Davi será príncipe no meio delas; Eu, o Senhor, o disse. Farei com elas um pacto de paz; e removerei da terra os animais ruins, (comparar com Isa. 11:6-9) de sorte que elas habitarão em segurança no deserto, e dormirão nos bosques. E delas e dos lugares ao redor do Meu outeiro farei uma bênção; e farei descer a chuva a seu tempo; chuvas de bênçãos serão. E as árvores do campo darão o seu fruto, e a terra dará a sua novidade, e estarão seguras na sua terra; saberão que Eu sou o Senhor, quando Eu quebrar os canzis do seu jugo e as livrar da mão dos que se serviam delas. Pois não servirão mais de presa aos gentios, nem as devorarão mais os animais da terra; mas habitarão seguramente, e ninguém haverá que as espante” (vs. 23-28).

Reunidos Pela Ressurreição

Exatamente como se dará esse ajuntamento nos é dito no capítulo 37:—

“Veio sobre mim a mão do Senhor; e Ele me levou no Espírito do Senhor, e me pôs no meio do vale que estava cheio de ossos; e me fez andar ao redor deles. E eis que eram muito numerosos sobre a face do vale; e eis que estavam sequíssimos. Ele me perguntou: Filho do homem, poderão viver estes ossos? Respondi: Senhor Deus, Tu o sabes” (vs.1-3).

“Então me disse: Profetiza sobre estes ossos, e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor. (Comparar com João 5:25-29) Assim diz o Senhor Deus a estes ossos: Eis que vou fazer entrar em vós o fôlego da vida, e vivereis. E porei nervos sobre vós, e farei crescer carne sobre vós, e sobre vós estenderei pele, e porei em vós o fôlego da vida, e vivereis. Então sabereis que Eu sou o Senhor” (vs. 4-6).

Profetizei, pois, como se me deu ordem. Ora enquanto eu profetizava, houve um ruído; e eis que se fez um rebuliço, e os ossos se achegaram, osso ao seu osso. E olhei, e eis que vieram nervos sobre eles, e cresceu a carne, e estendeu-se a pele sobre eles por cima; mas não havia (364) neles fôlego. Então Ele me disse: Profetiza ao fôlego da vida, profetiza, ó filho do homem, e dize ao fôlego da vida: Assim diz o Senhor Deus: Vem dos quatro ventos, ó fôlego da vida, e assopra sobre estes mortos, para que vivam. Profetizei, pois, como Ele me ordenara; então o fôlego da vida entrou neles e viveram, e se puseram em pé, um exército grande em extremo” (vs. 7-10).

“Então me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eis que eles dizem: Os nossos ossos secaram-se, e pereceu a nossa esperança; estamos de todo cortados. Portanto profetiza, e dize-lhes: Assim diz o Senhor Deus: Eis que Eu vos abrirei as vossas sepulturas, sim, das vossas sepulturas vos farei sair, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. E quando Eu vos abrir as sepulturas, e delas vos fizer sair, ó povo Meu, sabereis que Eu sou o Senhor. E porei em vós o Meu Espírito, e vivereis, e vos porei na vossa terra; e sabereis que Eu, o Senhor, o falei e o cumpri, diz o Senhor” (vs. 11-14).

“Toda a Casa de Israel”

Assim vemos que a promessa do Senhor a Davi, de que Ele designaria um lugar para o Seu povo de Israel e os plantaria, para que habitassem num lugar próprio sem terem que mudar mais e não mais ser afligidos (2º Sam. 7:10) deve cumprir-se pela ressurreição dos mortos. E esse ajuntamento de Israel é o único que foi prometido, e é suficiente, abrange todos os fiéis de todas as eras; pois quando o Senhor fala, “todos quantos estão nas sepulturas ouvirão a Sua voz, e sairão”7

Temos visto que esse ajuntamento é para ser de “toda a casa de Israel”; os versos seguintes mostram que nessa tempo não haverá mais divisão do reino, mas somente “um só rebanho e um só pastor”6:—

“A palavra do Senhor veio a mim, dizendo: Tu, pois, ó filho do homem, toma um pau, e escreve nele: Por Judá e pelos filhos de Israel, seus companheiros. Depois toma outro (365) pau, e escreve nele: Por José, vara de Efraim, e por toda a casa de Israel, seus companheiros; e ajunta um ao outro, para que se unam, e se tornem um só na tua mão. E quando te falarem os filhos do teu povo, dizendo: Porventura não nos declararás o que queres dizer com estas coisas? Tu lhes dirás: Assim diz o Senhor Deus: Eis que Eu tomarei a vara de José, que esteve na mão de Efraim, e as das tribos de Israel, suas companheiras, e lhes ajuntarei a vara de Judá, e farei delas uma só vara, e elas se farão uma só na Minha mão. E os paus, sobre que houveres escrito, estarão na tua mão, perante os olhos deles” (Eze. 37:15-20).

“Dize-lhes pois: Assim diz o Senhor Deus: Eis que Eu tomarei os filhos de Israel dentre as nações para onde eles foram, e os congregarei de todos os lados, e os introduzirei na sua terra; e deles farei uma nação na terra, nos montes de Israel, e um rei será rei de todos eles; e nunca mais serão duas nações, nem de maneira alguma se dividirão para o futuro em dois reinos; nem se contaminarão mais com os seus ídolos, nem com as suas abominações, nem com qualquer uma das suas transgressões; mas Eu os livrarei de todas as suas apostasias com que pecaram, e os purificarei. Assim eles serão o Meu povo, e Eu serei o seu Deus. Também Meu servo Davi reinará sobre eles, e todos eles terão um pastor só; andarão nos Meus juízos, e guardarão os Meus estatutos, e os observarão. Ainda habitarão na terra que dei a Meu servo Jacó, na qual habitaram vossos pais; nela habitarão, eles e seus filhos, e os filhos de seus filhos, para sempre; e Davi, Meu servo, será seu príncipe eternamente” (vs. 21-25).

Agora, notem particularmente o que se segue:—

“Farei com eles um pacto de paz, que será um concerto eterno. E os estabelecerei, e os multiplicarei, e porei o Meu santuário no meio deles para sempre. Meu tabernáculo permanecerá com eles; e Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo. (Comparar com Apo. 21:1-3). E as nações saberão que Eu sou o Senhor que santifico a Israel, quando estiver o Meu santuário no meio deles para sempre” (vs. 26-28).

(366) O Juízo de Deus Sobre Todas as Nações

Que a libertação de Israel não é uma mera ocorrência local é claramente mostrado na punição ameaçada a Babilônia, no vigésimo quinto capítulo de Jeremias. Foi ao final dos setenta anos de cativeiro que Deus Se propôs realizar essa punição; mas, como já vimos, Israel não estava inteiramente pronta para ser reunida naquela ocasião. Desde aquele dia até os nossos, muitos dentre o povo de Deus têm estado em Babilônia, de modo que a palavra vem nesses últimos dias, tanto quanto então, “Saí do meio dela, ó povo meu” (Jer. 51:45; Apo. 18:4). Não obstante, Deus começou a punição de Babilônia naquela ocasião, e os versos seguintes mostrarão que as promessas a Israel, e as ameaças de punição sobre seus opressores, diz respeito à Terra toda:—

“Pois assim me disse o Senhor, o Deus de Israel: Toma da Minha mão este cálice do vinho de furor, e faze que dele bebam todas as nações, às quais Eu te enviar. (Comparar com Sal. 75:8; Apo. 14:9, 10). Beberão, e cambalearão, e enlouquecerão, por causa da espada, que Eu enviarei entre eles. Então tomei o cálice da mão do Senhor, e fiz que bebessem todas as nações, às quais o Senhor me enviou: a Jerusalém, e às cidades de Judá, e aos seus reis, e aos seus príncipes, para fazer deles uma desolação, um espanto, um assobio e uma maldição, como hoje se vê; a Faraó, rei do Egito, e a seus servos, e a seus príncipes, e a todo o seu povo; e a todo o povo misto, e a todos os reis da terra de Uz, e a todos os reis da terra dos filisteus, a Asquelom, a Gaza, a Ecrom, e ao que resta de Asdode; e a Edom, a Moabe, e aos filhos de Amom; e a todos os reis de Tiro, e a todos os reis de Sidom, e aos reis das terras dalém do mar; a Dedã, a Tema, a Buz e a todos os que cortam os cantos da cabeleira; a todos os reis da Arábia, e a todos os reis do povo misto que habita no deserto; a todos os reis de Zinri, a todos os reis de Elão, e a todos os reis da Média; a todos os reis do Norte, os de perto e os de longe, tanto um como o outro, e a todos os reinos da terra, que estão sobre a face da terra; e o rei de Sesaque beberá depois deles” Jer. 25:15-26.

“Pois lhes dirás: Assim diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel: Bebei, e embebedai-vos, e vomitai, e caí, e não torneis a levantar, por causa da espada que Eu vos enviarei. Se recusarem tomar o copo da tua mão para beber, então lhes dirás: Assim diz o Senhor dos exércitos: Certamente bebereis. Pois eis que sobre a cidade que se chama pelo Meu nome, Eu começo a trazer a calamidade; e haveis vós de ficar totalmente impunes? Não ficareis impunes; porque Eu chamo a espada sobre todos os moradores da (367) terra, diz o Senhor dos exércitos. Tu pois lhes profetizarás todas estas palavras, e lhes dirás: O Senhor desde o alto bramirá, e fará ouvir a Sua voz desde a Sua santa morada; bramirá fortemente contra a Sua habitação; dará brados, como os que pisam as uvas, contra todos os moradores da terra. Chegará o estrondo até a extremidade da terra, porque o Senhor tem contenda com as nações, entrará em juízo com toda a carne; quanto aos ímpios, Ele os entregará a espada, diz o Senhor. Assim diz o Senhor dos exércitos: Eis que o mal passa de nação para nação, e grande tempestade se levantará dos confins da terra. E os mortos do Senhor naquele dia se encontrarão desde uma extremidade da terra até a outra; não serão pranteados, nem recolhidos, nem sepultados; mas serão como esterco sobre a superfície da terra. Uivai, pastores, e clamai; e revolvei-vos na cinza, vós que sois os principais do rebanho; pois já se cumpriram os vossos dias para serdes mortos, e Eu vos despedaçarei, e vós então caireis como carneiros escolhidos. E não haverá refúgio para os pastores, nem lugar para onde escaparem os principais do rebanho. Eis a voz de grito dos pastores, o uivo dos principais do rebanho; porque o Senhor está devastando o pasto deles” (vs. 27-36).

O Tempo da Libertação

Notem que isso ocorre ao tempo da punição dos falsos pastores, como profetizado em Ezequiel 34, quando Israel for reunido, e um pacto de paz é feito com eles. Sobre a natureza desse pacto e o tempo de seu estabelecimento temos a mais clara informação no livro de Jeremias, especialmente quando lemos em ligação com as passagens já citadas. Um breve esboço de dois capítulos será suficiente para completar o relato, no que concerne ao nosso presente estudo:

Comecemos com o capítulo 30:—

“A palavra que do Senhor veio a Jeremias, dizendo: Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Escreve num livro todas as palavras que te falei; pois eis que vêm os dias, diz o (368) Senhor, em que farei voltar do cativeiro o Meu povo Israel e Judá, diz o Senhor; e tornarei a trazê-los à terra que dei a seus pais, e a possuirão” (vs. 1-3).

Aqui estamos em terreno familiar. Estes versos assinalam o tempo em que as coisas a que mais tarde se faz referência terão lugar:—quando Deus traz o Seu povo de volta a sua própria terra. Assim, prosseguimos:—

“E estas são as palavras que disse o Senhor, acerca de Israel e de Judá. Assim, pois, diz o Senhor: Ouvimos uma voz de tremor, de temor mas não de paz. Perguntai, pois, e vede, se um homem pode dar à luz. Por que, pois, vejo a cada homem com as mãos sobre os lombos como a que está de parto? Por que empalideceram todos os rostos? Ah! porque aquele dia é tão grande, que não houve outro semelhante! É tempo de angústia para Jacó; todavia, há de ser livre dela. E será naquele dia, diz o Senhor dos exércitos, que Eu quebrarei o jugo de sobre o seu pescoço, e romperei as suas brochas. Nunca mais se servirão dele os estrangeiros; mas ele servirá ao Senhor, seu Deus, como também a Davi, seu rei, que lhe levantarei” (vs. 4-9).

Compare-se isso com Daniel 12:1: “Naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos filhos do Teu povo; e haverá um tempo de tribulação, qual nunca houve, desde que existiu nação até aquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o Teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro”. Conquanto o povo de Deus deva ser liberto no tempo de angústia que precede imediatamente à vinda do Senhor, de modo que nenhum mal lhes sobrevenha, nem qualquer praga chegue perto de sua habitação (Sal. 91), contudo é impossível que contemplem a recompensa dos ímpios sem sentirem-se cheios de medo e temor; pois não é coisa pequena quando Deus Se levanta. Portanto, Ele declara:—

“Não temas pois tu, servo meu, Jacó, diz o Senhor, nem te espantes, ó Israel; pois eis que te livrarei de terras longínquas, se à tua descendência da terra do seu cativeiro; e Jacó voltará, e ficará tranquilo e sossegado, e não haverá quem o atemorize. Porque Eu sou contigo, diz o Senhor, para te salvar; porquanto darei fim cabal a todas as nações entre as quais te espalhei; a ti, porém, não darei fim, (369) mas castigar-te-ei com medida justa, e de maneira alguma te terei por inocente” (Jer. 30:10, 11).

“Assim diz o Senhor: Eis que acabarei o cativeiro das tendas de Jacó, e apiedarme-ei das suas moradas; e a cidade será reedificada sobre o seu montão, e o palácio permanecerá como habitualmente. E sairá deles ação de graças e a voz dos que se alegram; e multiplicá-los-ei, e não serão diminuídos; glorificá-los-ei, e não serão apoucados. E seus filhos serão como na antiguidade, e a sua congregação será estabelecida diante de mim, e castigarei todos os seus opressores. E o seu príncipe será deles, e o seu governador sairá do meio deles; e o farei aproximar, e ele se chegará a mim. Pois quem por si mesmo ousaria chegar-se a Mim? diz o Senhor. E vós sereis o Meu povo, e Eu serei o vosso Deus. Eis a tempestade do Senhor! A Sua indignação já saiu, uma tempestade varredora; cairá cruelmente sobre a cabeça dos impios. Não retrocederá o furor da ira do Senhor, até que Ele tenha executado, e até que tenha cumprido os desígnios do Seu coração. Nos últimos dias entendereis isso” (vs. 18-24).

Resgatados da Sepultura

Naquele tempo, diz o Senhor, serei o Deus de todas as famílias de Israel, e elas serão o Meu povo. Assim diz o Senhor: O povo que escapou da espada achou graça no deserto. Eu irei e darei descanso a Israel. De longe o Senhor me apareceu, dizendo: Pois que com amor eterno te amei, também com benignidade te atraí” (Jer. 31:1-3).

“Ouvi a palavra do Senhor, ó nações, e anunciai-a nas longinquas terras maritimas, e dizei: Aquele que espalhou a Israel o congregará e o guardará, como o pastor ao seu rebanho. Pois o Senhor resgatou a Jacó, e o livrou da mão do que era mais forte do que ele. E virão, e cantarão de júbilo nos altos de Sião, e ficarão radiantes pelos bens do Senhor, pelo trigo, e (370) o mosto, e o azeite, pelos cordeiros e os bezerros; e a sua vida será como um jardim regado, e nunca mais desfalecerão. Então a virgem se alegrará na dança, como também os mancebos e os velhos juntamente; porque tornarei o seu pranto em gozo, e os consolarei, e lhes darei alegria em lugar de tristeza” (vs. 10-13).

“Assim diz o Senhor: Ouviu-se um clamor em Ramá, lamentação e choro amargo. Raquel chora a seus filhos, e não se deixa consolar a respeito deles, porque já não existem. Assim diz o Senhor: Reprime a tua voz do choro, e das lágrimas os teus olhos; porque há galardão para o teu trabalho, diz o Senhor, e eles voltarão da terra do imimigo. E há esperança para o teu futuro, diz o Senhor; pois teus filhos voltarão para os seus termos” (vs. 15-17).

Aqui temos outra segura indicação do ponto em que nos encontramos, ou seja, o tempo sobre que trata a profecia. Sabemos que essa profecia foi parcialmente cumprida quando Herodes matou os bebês de Belém, Mat. 2:16-18. Mas o Senhor diz aos pranteadores que os perdidos procederão da terra do inimigo (ver 1ª Cor. 15:26) para os seus termos. Assim vemos novamente que é somente pela ressurreição dos mortos que o cativeiro de Israel será desfeito e será reunido a sua própria terra; e percebemos que o tempo sobre que estamos agora lendo em Jeremias é aquele em que Deus desfaz o cativeiro de Seu povo. Destarte, falando desse mesmo período, o profeta continua:—

“Eis que os dias vêm, diz o Senhor, em que semearei de homens e de animais a casa de Israel e a casa de Judá. E será que, como vigiei sobre eles para arrancar e derribar, para transtornar, destruir, e afligir, assim vigiarei sobre eles para edificar e para plantar, diz o Senhor. Naqueles dias não dirão mais: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram. Pelo contrário, cada um morrerá pela sua própria iniquidade; de todo homem que comer uvas verdes, é que os dentes se embotarão” (vs. 27-30).

O Novo Concerto

Dessa conexão, não pode restar a mínima dúvida quanto ao tempo aqui referido; é o tempo da punição dos (371) ímpios; e a recompensa dos justos; o tempo em que o povo de Deus para sempre será livrado da impiedade e opressão, e será restabelecido na Terra, para possuí-la por toda a eternidade em paz e justiça. Desse modo, falando desse mesmo tempo, o profeta continua:—

“Eis que os dias vêm, diz o Senhor, em que farei um pacto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá, não conforme o pacto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, esse Meu pacto que eles invalidaram, apesar de Eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas este é o pacto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a Minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo. E não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o Senhor; pois lhes perdoarei a sua iniqüidade, e não me lembrarei mais dos seus pecados. Assim diz o Senhor, que dá o sol para luz do dia, e a ordem estabelecida da lua e das estrelas para luz da noite, que agita o mar, de modo que bramem as suas ondas; o Senhor dos exércitos é o Seu nome: Se esta ordem estabelecida falhar diante de Mim, diz o Senhor, deixará também a linhagem de Israel de ser uma nação diante de Mim para sempre. Assim diz o Senhor: Se puderem ser medidos os céus lá em cima, e sondados os fundamentos da terra cá em baixo, também Eu rejeitarei toda a linhagem de Israel, por tudo quanto eles têm feito, diz o Senhor” (Jer. 31:31-37).

Aqui temos a conclusão da questão toda. Com o estabelecimento do Novo Concerto, os dias de exílio e cativeiro findam, e o povo de Deus habita em Sua desvelada presença para todo o sempre. Esse concerto ainda falta ser feito, pela fé viva todas as suas bênçãos podem agora ser desfrutadas, inclusive o poder da ressurreição, pelo qual o povo de Deus é finalmente estabelecido em sua própria terra, é o poder pelo qual eles estão preparados para aquele glorioso dia.

(372) O Velho e o Novo Concertos

Desde muito vimos neste estudo das Promessas a Israel por que e sobre que circunstâncias o Velho Concerto foi feito, quando Israel estava perante o Sinai. Esse é chamado o primeiro ou Velho Concerto, não por não haver concerto que o tivesse precedido, mas por ser o primeiro estabelecido “com a casa de Israel e com a casa de Judá”—com toda a casa de Israel como tal. O concerto com Abraão fora feito mais de quatrocentos anos antes e abrangia tudo o que Deus pode possivelmente conceder a qualquer povo. É em virtude desse concerto com Abraão, confirmado por Deus mediante um juramento, que agora chegamos com ousadia ao trono da graça, e encontramos forte consolação em todas as nossas provas, Heb. 6:13-20. Todos os fiéis são filhos de Abraão.

Mas Israel do passado revelou-se infiel, e se esqueceu ou desprezou o concerto eterno feito com Abraão. Eles desejaram caminhar pela vista, e não pela fé. Confiaram em si próprios, antes que em Deus. No teste, quando Deus lhes recordou de Seu concerto com Abraão, e como um auxílio a sua fé no poder de Sua promessa, lhes recordou o que já havia feito por eles, presunçosamente assumiram para si próprios a responsabilidade de sua própria salvação, e entraram num concerto do qual nada, a não ser escravidão e morte, poderia derivar. Deus, contudo, que Se mantém fiel, mesmo que os homens não creiam, empregou até mesmo isso como uma lição prática. Das sombras eles podiam aprender sobre a realidade; mesmo a sua escravidão devia conter uma profecia e promessa de liberdade.

Quando Se Entrará no Novo Concerto

Deus não deixa o Seu povo no lugar onde sua própria insensatez o deixou. Assim, Ele prometeu um novo concerto. Não que houvesse algo faltando no concerto feito com Abraão, mas Ele faria o mesmo concerto com o povo de Israel inteiro, como uma nação. Essa promessa do novo concerto ainda é válida, pois pelo (373) juramento de Deus, e por Seu próprio sacrifício, “de tanto melhor pacto Jesus foi feito fiador” (Heb. 7:22). Destarte, assim como Jesus morreu e ressuscitou, e pelo poder dessa morte e ressurreição, todo Israel será reunido, e o novo e eterno concerto será estabelecido com eles — a nação justa que observa a verdade. O concerto será estabelecido com ninguém mais senão Israel, contudo ninguém precisa ser deixado de fora, pois quem quiser pode vir.

Quando o primeiro concerto foi feito com todo Israel, Deus surgiu com todos os anjos; a trombeta de Deus soou, e Sua voz abalou a Terra ao ser a lei proferida. Assim, quando o Novo Concerto for feito, todo Israel estará presente — não haverá nenhum que não será reunido — “O nosso Deus vem, e não guarda silêncio” (Sal. 50:3). “o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus” (1ª Tes. 4:16), “na glória do Seu Pai”, “e todos os Seus santos anjos com Ele” (Mat. 16:27; 25:31). Sua voz fez estremecer a Terra, mas desta vez ela estremecerá não só a Terra, mas também o céu. Assim todo o universo será participante desta grande consumação, e o Israel de Deus será assim ajuntado a “toda a família no céu”. Pela cruz de Cristo, “o sangue da aliança eterna”,8 é estabelecido o trono de Deus; e o que salva os perdidos da Terra é a garantia de eterna segurança dos seres não-caídos.

O Primeiro Domínio Restaurado

Uma lição que deve ser assinalada no encerramento é que o Novo Concerto não traz nada de novo, exceto a Nova Terra, e isso é o que foi desde o princípio. Os homens com os quais é feito já foram feitos novos em Cristo. O primeiro domínio será restaurado. Que ninguém, portanto, pense em excusar-se de observar os mandamentos de Deus, por dizer que está sob o Novo Concerto. Não, se ele estiver em Cristo, então está no (não sob) o concerto com Abraão, e como um filho de Abraão, um herdeiro com Cristo, terá a esperança no Novo Concerto, do qual Cristo é o fiador. Quem quer (374) que não se reconheça como sendo da geração de Abraão, Isaque e Jacó, em comunhão com Moisés, Davi e os profetas, não tem base de esperança no Novo Concerto. E quem quer que se regozije nas promessas do Novo Concerto, as bênçãos que mesmo agora o Espírito Santo torna reais, deve recordar que é em virtude do Novo Concerto que a lei de Deus é posta em nossos corações. O Velho Concerto não touxe ninguém à obediência dessa lei, mas o Novo Concerto a torna universal, de modo que a Terra será cheia do conhecimento do Senhor, com as águas cobrem o mar. Portanto,

“Graças a Deus pelo inefável dom!”9

“Porque dEle e mediante Ele, e para Ele são todas as coisas; a Quem pertence a glória para sempre. Amém”.10

-- The Present Truth, 27 de maio de 1897

Notas desta edição:

1) Isaias 11: 1 a 4;

2) Isaias 11: 5 a 9;

3) “para adquirir segunda vez o remanescente” (KJV); “em contraste com a primeira vez, a libertação original do Egito. Os hebreus sempre olham para traz com alegria sua libertação da escravidão do Egito e sua entrada na terra prometida. Agora devia ocorrer outra libertação do cativeiro babilônico. Deus intentou que quando os judeus retornassem do cativeiro, tendo aprendido a lição, aprendessem, e rapidamente avaliassem Seu glorioso plano para eles como uma nação. Assim o mundo seria em breve preparado para a vinda do Messias e a proclamação do evangelho. Mas outra vez Israel falhou, e a libertação aqui prometida se cumprirá no fim do mundo, quando Deus estenderá Sua mão para libertar Seu povo deste mundo mau e para guiá-los para a Canaã celestial (veja Apoc. 18:4)” Comentário Bíblico, vol. 4 da série SDABC, pág. 160;

4) Isaias 11: 10 a 12;

5) Isaias 40:9, ú.p.;

6) João 10: 16;

7) João 7: 28 e 29;

8) Hebreus 13:20;

9) 2ª Cor. 9:15;

10) Romanos 11:36.