sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 44,

333

As Promessas Para Israel

Novamente em Cativeiro

(Parte 3)

Por mais que se gabem de sua liberdade e independência, os homens em geral amam a servidão, e prefeririam permanecer escravos a serem livres. Isso é demonstrado pelos fatos.

Rejeitando a Liberdade

O Deus do universo fez uma proclamação de liberdade a toda a humanidade; Ele concedeu liberdade a todos; contudo apenas uns poucos se aproveitarão disso. A experiência do antigo Israel é apenas a experiência do coração humano. Duas vezes o Senhor tornou claro a Abraão que sua semente seria livre, — uma vez quando disse que o seu servo Eliezer não seria o seu herdeiro, e novamente quando Ele lhe disse que o filho da escrava não seria o seu herdeiro.

Mais tarde Ele libertou Israel da escravidão egípcia para que pudesse desfrutar liberdade, mesmo a liberdade da obediência à perfeita lei da liberdade, mas eles murmuraram, e “em seus corações se tornaram ao Egito, dizendo a Arão: Faze-nos deuses que vão adiante de nós” (Atos 7: 39 e 40).

Quarenta anos antes Deus desfez sobre eles a maldição do Egito, contudo posteriormente desejaram ser como as nações pagãs ao seu redor, por terem um rei que, como lhes fora assegurado, os tornariam escravos. (334) E isso se comprovou; pois não só aprenderam os caminhos dos pagãos, mas até os “superaram”. “E o Senhor, Deus de seus pais, falou-lhes constantemente por intermédio dos Seus mensageiros, porque Se compadeceu do Seu povo e da sua habitação. Eles, porém, zombaram dos mensageiros de Deus, e desprezaram as Suas palavras e mofaram dos Seus profetas, até que o furor do Senhor tanto subiu contra o Seu povo, que mais nenhum remédio houve” (2ª Crô. 36:15, 16) e Ele cumpriu Sua ameaça de levá-los para além de Babilônia. Amós 5:25-27; Atos 7:43.

Escravos do Pecado

Esse cativeiro babilônico foi somente a expressão visível da escravidão em que o povo já havia voluntariamente se colocado. Eles haviam se gabado de que eram livres, enquanto revelavam-se “escravos da corrupção; porque de quem um homem é vencido, do mesmo é feito escravo” (2ª Pedro 2:19). “Todo aquele que comete pecado é servo do pecado” (João 8:34). A escravidão física é questão de pouca monta em comparação com a escravidão da alma, e não fosse pela segunda, a primeira jamais seria tornada conhecida.

A transferência de Israel para a cidade de Babilônia é chocantemente adequada. Não foi um acidente o terem sido levados para lá em lugar de qualquer outra parte. Babilônia — Babel —significa confusão, mas confusão por causa da exaltação própria e orgulho; “Porque onde há inveja e espirito faccioso, aí há confusão e toda obra perversa” (Tia. 3:16). A origem do nome Babilônia disto procede:--

“E era a terra toda de uma mesma língua e uma só fala. E aconteceu que partindo eles para o oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali. Disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos, e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra e o betume de argamassa. E (335) disseram: Eia, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra. Então desceu o Senhor para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam; e disse: Eis que o povo é um e todos têm uma só língua; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer. Eia, desçamos, e confundamos ali a sua linguagem, para que não entenda um a língua do outro. Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade. Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a linguagem de toda a terra, e dali o Senhor os espalhou sobre a face de toda a terra” (Gên. 11:1-9).

Desafiando a Deus

Aquelas pessoas tinham a ideia de que podiam edificar uma cidade tão grande e uma torre tão elevada pela qual pudessem desafiar os juízos de Deus. Eles realmente julgavam-se maiores do que Deus. A mesma ideia foi abrigada por Lúcifer, sobre o qual lemos:--

“Como caíste do céu, ó Lúcifer,1 filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono; e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte; subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (Isa. 14:12-14).

Será claramente visto que o espírito que estava em Lúcifer era idêntico ao que havia nos edificadores de Babel, e a razão para isso é que o próprio Satanás — Lúcifer caído — foi quem incentivou aquela obra. Ele é o “príncipe deste mundo” (João 14:30), “o espírito que agora opera nos filhos da desobediência” (Efé. 2:2). Agora, voltemos ao início do capítulo do qual o parágrafo precedente foi citado, e vejamos a relação do caído Lúcifer para com Babilônia, fazendo observar de passagem que o décimo terceiro capítulo de Isaías fala da destruição a sobrevir a Babilônia.


(336) O Príncipe Deste Mundo Julgado

Aquela orgulhosa cidade será inteiramente destruída:--

“Porque o Senhor se compadecerá de Jacó, e ainda escolherá a Israel e os porá na sua própria terra; e ajuntar-se-ão com eles os estrangeiros, e se apegarão à casa de Jacó. E os povos os receberão, e os levarão aos seus lugares, e a casa de Israel os possuirá por servos e por servas, na terra do Senhor e cativarão aqueles que os cativaram, e dominarão os seus opressores. E acontecerá que no dia em que o Senhor vier a dar-te descanso do teu sofrimento, e do teu pavor, e da dura servidão com que te fizeram servir. Então proferirás este provérbio contra o rei de Babilônia, e dirás: Como já cessou o opressor! como já cessou a cidade dourada! Já quebrantou o Senhor o bastão dos ímpios e o cetro dos dominadores; o cetro que feria os povos com furor, com golpes incessantes, e que em ira dominava sobre as nações, e agora é perseguido, sem que alguém o possa impedir. Toda a terra descansa, já está sossegada! Rompem cantando. Até as faias se alegram sobre ti, e os cedros do Líbano, dizendo: Desde que tu caíste ninguém sobe contra nós para nos cortar. O inferno desde o profundo se turbou por ti, para te sair ao teu encontro na tua vinda; despertou por ti os mortos, e todos os chefes da terra, e fez levantar dos seus tronos a todos os reis das nações. Estes todos responderão, e te dirão: Tu também adoecestes como nós, e te tornaste semelhante a nós. Está derrubada na sepultura a tua soberba, o som das tuas violas; os vermes debaixo de ti se estenderão e os bichos te cobrirão” (Isaias 14: 1 a 11).

Segue-se então a direta palavra do Senhor, “Como caíste do céu, ó Lúcifer, filho da manhã, etc.” como anteriormente citado, declarando que sua queda deve-se a sua exaltação própria, e assim prosseguindo:

“Contudo levado serás ao Seol, ao mais profundo do abismo. Os que te virem te contemplarão, considerar-te-ão, e dirão: É este o varão que fazia estremecer a terra, e que fazia tremer os reinos? Que punha o mundo como um deserto, e assolava as suas cidades? que a seus cativos não deixava ir soltos para suas casas? Todos os (337) reis das nações, todos eles, dormem com glória, cada um no seu túmulo. Mas tu és lançado da tua sepultura, como um renovo abominável, coberto de mortos atravessados a espada, como os que descem às pedras da cova, como cadáver pisado aos pés. Com eles não te reunirás na sepultura; porque destruíste a tua terra e mataste o teu povo. Que a descendência dos malignos não seja nomeada para sempre!” (versos 15-20).

O Divino Propósito — A Destruição do Opressor

Até aqui o discurso direto dirigido a esse magnífico tirano. Daí segue-se a continuação da narrativa concernente a ele:--

“Preparai a matança para os filhos por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem, e possuam a terra, e encham o mundo de cidades. Levantar-me-ei contra eles, diz o Senhor dos exércitos, e exterminarei de Babilônia o nome, e os sobreviventes, o filho, e o neto, diz o Senhor. E reduzi-la-ei a uma possessão do ouriço, e a lagoas de águas; e varrê-la-ei com a vassoura da destruição, diz o Senhor dos exércitos. O Senhor dos exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará. Quebrantarei o assírio na minha terra e nas minhas montanhas o pisarei; então o seu jugo se apartará deles e a sua carga se desviará dos seus ombros” (versos 21-25).

A seguir ocorrem as chocantes palavras, sumariando toda a questão:--

“ESTE É O CONSELHO QUE FOI DETERMINADO SOBRE TODA A TERRA; E ESTA É A MÃO QUE ESTÁ ESTENDIDA SOBRE TODAS AS NAÇÕES. Pois o Senhor dos exércitos o determinou, e quem o invalidará? A sua mão estendida está, e quem a fará voltar atrás?” (versos 26 e 27).

O Orgulho do Domínio Terrestre

Os leitores não podem ter deixado de perceber que a libertação completa e final de Israel coincide com a total destruição (338) do rei de Babilônia; e, ademais, que esse rei de Babilônia é um que reina sobre a Terra toda; sua destruição concede descanso à Terra inteira. Também deve ter sido observado que o rei de Babilônia também é tratado como Lúcifer, aquele que imaginou poder disputar o domínio do mundo com Deus. O fato é que, portanto, seja quem fosse o governante visível, nominal, de Babilônia, Satanás era o seu rei verdadeiro. Isso também é evidente pelo fato de que Babilônia era um reino pagão, “as coisas que os gentios sacrificam, sacrificam-nas a demônios, e não a Deus” (1ª Cor. 10:20). Ele é o “deus deste mundo”. O espírito de exaltação própria é oposto ao Espírito de Deus, cuja mansidão e bondade constituem a Sua grandeza; é o espírito do anticristo “que se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração, de sorte que se assenta no santuário de Deus, apresentando-se como Deus”. Esse espírito era destacadamente característico de Babilônia, exceto no breve espaço de tempo em que Nabucodonosor chegou a cair em si. Em seu orgulho ele declarou, “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder, e para a glória da minha magnificência?” (Dan. 4:30). Belsazar usou os vasos da casa de Deus e com eles bebeu vinho, junto com suas esposas e concubinas, “e deram louvores aos deuses de ouro, e de prata, de bronze, de ferro, de madeira, e de pedra” (Dan. 5:3, 4), assim gabando-se de que os deuses que ele havia feito eram maiores do que o Deus de Israel. Sobre Babilônia foi dito: “Porque confiaste na tua maldade e disseste: Ninguém me pode ver; a tua sabedoria e o teu conhecimento, isso te fez desviar; e disseste no teu coração: Eu sou, e fora de mim não há outra” (Isa. 47:10).

O Que É a Libertação de Babilônia

Foi esse mesmo espírito que atuou no povo judaico. Quando insistiram em ter um rei para que fossem como as nações pagãs ao seu redor, rejeitaram a Deus, porque pensaram que poderiam dirigir as coisas melhor por si mesmos. “Houve alguma nação que trocasse os seus deuses, (339) ainda que não fossem deuses? Todavia o Meu povo trocou a Sua glória por aquilo que é de nenhum proveito. Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! ficai verdadeiramente desolados, diz o Senhor. Porque o Meu povo fez duas maldades: a mim Me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram para si cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jer. 2:11-13). “Porventura tenho Eu sido para Israel um deserto? ou uma terra de espessa escuridão? Por que, pois, diz o Meu povo: Somos senhores; não tornaremos mais a Ti?” (verso 31). Destarte, quando os filhos de Israel foram levados para Babilônia, aquela cidade de orgulho e exaltação própria, isso foi somente uma chocante e visível manifestação da condição em que há muito se encontravam. Foram levados para Babilônia porque não observaram o sábado, como lemos em Jer. 17:27, e 2º Crô. 36:20, 21. Já aprendemos que guardar o sábado é descansar no Senhor; significa o perfeito reconhecimento dEle como governante supremo e legítimo. Portanto, temos que entender que a completa libertação de Babilônia é a libertação da escravidão ao eu, confiando absolutamente em Deus e O obedecendo.

Cumpridas as Setenta Semanas de Anos

Assim como Deus havia estabelecido um tempo determinado em que libertaria o Seu povo do Egito, Ele também definiu o tempo exato do cativeiro de Israel na cidade de Babilônia. “Porque assim diz o Senhor: Certamente que passados setenta anos em Babilônia, Eu vos visitarei, e cumprirei sobre vós a Minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar. Pois Eu bem sei os planos que estou projetando para vós, diz o Senhor; planos de paz, e não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança. Então Me invocareis, e ireis e orareis a Mim, e Eu vos ouvirei. Buscar-Me-eis, e Me achareis, quando Me buscardes de todo o vosso coração. E serei achado de vós, diz o Senhor, e farei voltar os vossos cativos, e congregarvos-ei de todas as nações, e de todos os lugares para onde vos lancei, diz o Senhor; e tornarei a trazer-vos ao lugar de onde vos transportei” (Jer. 29:10-14).

(340) Exatamente como no primeiro caso, assim será no segundo, tudo veio a se passar segundo a Palavra de Deus. O cativeiro começou em 606 AC, e sessenta e oito anos depois, em 538 AC, a cidade de Babilônia caiu nas mãos dos medo-persas, ver Dan. 5. A respeito desse tempo lemos, “No ano primeiro de Dario, filho de Assuero, da linhagem dos medos, o qual foi constituído rei sobre o reino dos caldeus. No ano primeiro do seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros que o número de anos, de que falara o Senhor ao profeta Jeremias, que haviam de durar as desolações de Jerusalém, era de setenta anos. Eu, pois, dirigi o meu rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e súplicas, com jejum, e saco e cinza” (Dan. 9:1-3). Aqui havia pelo menos um homem buscando a Deus de todo o coração. Não sabemos se havia outros que buscavam ao Senhor como fazia Daniel —certamente não haveria muitos — mas Deus não obstante cumpriu Sua parte do compromisso. Dois anos após Daniel ter orado , em 536 AC, exatamente setenta anos após o início do cativeiro de Israel na cidade de Babilônia, Ciro, rei da Pérsia, emitiu uma proclamação que está assim registrada:—

“No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse a palavra do Senhor proferida pela boca de Jeremias, despertou o Senhor o espírito de Ciro, rei da Pérsia, de modo que ele fez proclamar por todo o seu reino, de viva voz e também por escrito, este decreto: Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor Deus do céu me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá. Quem há entre vós de todo o seu povo (seja seu Deus com ele) suba para Jerusalém, que é em Judá, e edifique a casa do Senhor, Deus de Israel; ele é o Deus que habita em Jerusalém. E todo remanescente, seja qual for o lugar em que é peregrino, seja ajudado pelos homens desse lugar com prata, com ouro, com bens e com animais, afora a oferta voluntária para a casa de Deus, que está em Jerusalém” (Esd. 1:1-4).

O número daqueles que retornaram a Jerusalém em resultado dessa proclamação é indicado como “quarenta e dois mil trezentos e sessenta, afora os seus servos, e as suas servas, que foram sete mil trezentos e trinta e sete; (341) também havia duzentos cantores e cantoras”. “Ora, os sacerdotes e os levitas, e alguns do povo, tanto os cantores como os porteiros e os netinins, habitaram nas suas cidades, e todo o Israel nas suas cidades” (Esd. 2:64, 65, 70).

A Lição Ainda Não Aprendida

Nem todas as pessoas retornaram a Jerusalém, mas todos poderiam tê-lo feito. Se todo Israel tivesse aprendido a lição a que objetivava o cativeiro, então o cumprimento retardado há tanto tempo da promessa poderia rapidamente ter tido lugar; pois até o tempo do começo do cativeiro o único tempo definido na profecia foi o período de setenta anos. Mas exatamente como o povo se achava no cativeiro babilônico — ou seja, a escravidão do orgulho e exaltação própria — antes de serem levados por Nabucodonosor, do mesmo modo permaneceram no mesmo cativeiro após o encerramento dos setenta anos. Deus previu que isso se daria, e assim, pelo fim desse período Ele deu a Daniel uma visão, em que outro tempo foi fixado.

Desse grande período profético e os eventos a que nos conduz — o chamado final para sair de Babilônia — estudaremos na próxima semana.2

-- The Present Truth, 4 de março de 1897.

Notas desta edição:

1) Isaias 14:12, nas versões Almeida Fiel, e King James, corretamente usam o termo Lúcifer, aplicável a Satanás, ao invés de Estrela da Manhã, como em outras versões. A Estrela da Manhã é Cristo. Em verdade é Ele próprio que assim Se designa: “Eu, Jesus, ... Sou ... a resplandecente Estrela da Manhã” (Apoc. 22:16). Satanás odeia o nome Lúcifer, porque “reflete o pensamento da alta posição que ele uma vez ocupou no céu ... a alta posição da qual Lúcifer caiu” (Comentário Bíblico, vol. 4 da série SDABC, pág. 170). Forte evidência existe, portanto, de que ele tenha influenciado tradutores para usar o termo “Estrela da Manhã,” a fim de poder ser confundido com Cristo. Assim, esta é uma das maiores evidências da correição das versões KJV e Almeida Fiel (da sociedade Bíblica Trinitariana).

2) Ao você verificar as datas (do último capítulo, 43, 25 de fevereiro de 1897, e a deste, 4 de março de 1897, verá que estes artigos foram publicados semanalmente na revista The Present Truth (A Verdade Presente).

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