terça-feira, 31 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 43.

324

As Promessas Para Israel

Novamente em Cativeiro

(Parte 2)

Sabemos que em qualquer ocasião dentro de um período de várias centenas de anos os filhos de Israel poderiam ter desfrutado a plenitude da promessa a Abraão — descanso eterno na Terra tornada nova, com Cristo e todos os santos glorificados sobre o último inimigo, — porque quando Moisés nasceu, o tempo da promessa tinha se aproximado, e Josué não morreu até muitos dias depois, que o Senhor dera repouso a Israel” (Josué 23:10). O tempo em que Deus mediante Davi lhes ofereceu “outro dia”,1hoje,é referido como “após muitos dias”. Deus estava ansiosamente esperando que o povo assumisse tudo quanto lhe tinha dado. Quão verdadeiro é isso se pode ver pelas Suas palavras a eles pelo profeta Jeremias.

Se Tivessem Obedecido a Deus

Conquanto o pecado de Judá fosse “escrito com uma pena de ferro e com a ponta de um diamante”,2 tão firmemente estava o povo apegado a sua idolatria, o gracioso Senhor fez a seguinte promessa:—

Assim me disse o Senhor: Vai, e põe-te à porta dos filhos do povo, pela qual entram os reis de Judá, e pela qual saem; como também em todas as portas de Jerusalém. E dize-lhes: Ouvi a palavra do Senhor, vós, reis de Judá e todo o Judá, (325) e todos os moradores de Jerusalém, que entrais por estas portas; assim diz o Senhor: Guardai-vos a vós mesmos, e não tragais cargas no dia de sábado, nem as introduzais pelas portas de Jerusalém; nem tireis cargas de vossas casas no dia de sábado, nem façais obra alguma; antes santificai o dia de sábado, como Eu ordenei a vossos pais. Mas não escutaram, nem inclinaram os seus ouvidos; antes endureceram a sua cerviz, para não ouvirem, e para não receberem instrução. Mas se vós diligentemente Me ouvirdes, diz o Senhor, não introduzindo cargas pelas portas desta cidade no dia de sábado, e santificardes o dia de sábado, não fazendo nele trabalho algum, então entrarão pelas portas desta cidade reis e príncipes, que se assentem sobre o trono de Davi, andando em carros e em cavalos, e eles e seus príncipes, os homens de Judá, e os moradores de Jerusalém; e esta cidade será habitada para sempre. E virão das cidades de Judá, e dos arredores de Jerusalém, e da terra de Benjamim, e das planícies, e das montanhas, e do sul, trazendo holocaustos, e sacrifícios, e ofertas de alimentos, e incenso, trazendo também sacrifícios de ação de louvores à casa do Senhor” (Jer. 17:19-26).

Não nos cabe especular sobre como essa promessa se teria cumprido; é suficiente que saibamos que Deus o disse, e que Ele é capaz de cumprir toda promessa. Edificar a velha cidade e torná-la nova certamente teria sido tão fácil quanto transformar “o nosso corpo abatido, para ser conforme ao corpo gloriosos” (Fil. 3:21), ou criar uma cidade inteiramente nova para tomar o lugar da velha.

Promessas de Restauração Foram Rejeitadas

Tenham em mente que esta promessa por Jeremias foi nos dias finais do reino de Judá, pois Jeremias não começou a profetizar até “os dias de Josias, filho de Amom” (Jer. 1:2), no décimo terceiro ano de seu reinado, somente vinte e um anos antes do começo do (326) cativeiro babilônico. Antes de Jeremias começar a profetizar, quase todos os profetas haviam terminado os seus labores e falecido. As profecias de Isaías, Oséias, Amós, Miquéias e outros,todos os principais profetas — estavam nas mãos do povo antes do nascimento de Jeremias. Este é um fato que não deve ser passado por alto, pois é de grande importância. Nessas profecias há muitas promessas de restauração de Jerusalém, todas as quais poderiam ter-se cumprido se o povo as tivesse acatado. Mas como todas as promessas de Deus, elas eram em Cristo; pertenciam, como as anteriores, à eternidade, e não simplesmente ao tempo. Entretanto, sendo que o povo daqueles dias não as aceitou, permanecem igualmente válidas para nós. Poderiam ser cumpridas somente pela vinda do Senhor, a Quem agora esperamos. Essas profecias contêm o Evangelho para este tempo, tão certamente quanto os livros de Mateus e João e as epístolas.

Sempre o Teste

Notem adicionalmente que a observância do sábado é tornada um teste, a todos aqueles aos quais a verdade foi revelada. Se observassem o sábado, então eles e a sua cidade perdurariam para sempre. Por que isso se dava? — Recordem o que estudamos a respeito do descanso de Deus, e terão a resposta. O sábado é o selo da criação, completa e perfeita. Como tal, revela a Deus como Criador e Santificador, Eze. 20:12, 20, como Santificador por Seu poder criativo. O sábado, portanto, não é uma obra, pela qual podemos inutilmente tentar obter o favor de Deus, mas é descanso,descanso nos braços eternos. É o sinal e memorial do eterno poder de Deus; e a sua observância é o selo dessa perfeição que Deus somente pode operar, e que Ele livremente concede a todos quantos nEle confiam. Significa plena e perfeita confiança no Senhor, de que Ele pode e nos salvará pelo mesmo poder pelo qual fez todas as coisas no princípio. Portanto, vemos que uma vez que a mesma promessa que foi feita ao antigo Israel nos é deixada, deve necessariamente ser de que o sábado também devia ser tornado especialmente importante em nossos dias, mais especialmente ao aproximar-se o dia de Cristo.

(327) O Juízo Pronunciado

Mas houve uma alternativa, no caso de o povo recusar o descanso no Senhor. O profeta foi comissionado a dizer adicionalmente:

“Mas, se não me ouvirdes, para santificardes o dia de sábado, e para não trazerdes carga alguma, quando entrardes pelas portas de Jerusalém no dia de sábado, então acenderei fogo nas suas portas, o qual consumirá os palácios de Jerusalém, e não se apagará” (Jer. 17:27).

E assim foi; conquanto Deus fosse fiel e longânimo em enviar mensagens de advertência a Seu povo, “Eles, porém, zombavam dos mensageiros de Deus, e desprezaram as Suas palavras e mofaram dos Seus profetas, até que o furor do Senhor tanto subiu contra o Seu povo, que mais nenhum remédio houve. Porque fez subir contra eles o rei dos caldeus, o qual matou os seus mancebos à espada, na casa do Seu santuário, e não teve piedade nem dos jovens, nem das donzelas, nem dos velhos nem dos decrépitos; a todos entregou na sua mão. E todos os vasos da casa de Deus, grandes e pequenos, os tesouros da casa do Senhor, e os tesouros do rei e dos seus príncipes, tudo levou para Babilônia. E queimaram a casa de Deus, derrubaram os muros de Jerusalém, e todos os seus palácios queimaram a fogo, e destruindo também todos os seus preciosos vasos. E os que escaparam da espada levou para Babilônia; e se fizeram servos dele e de seus filhos, até o tempo do reino da Pérsia, para se cumprir a palavra do Senhor, proferida pela boca de Jeremias, até haver a terra se alegrado dos seus sábados; pois por todos os dias da desolação repousou, até que os setenta anos se cumpriram” (2ª Crô. 36:16-21).

O Rei de Babilônia Governante em Jerusalém

O último rei em Jerusalém foi Zedequias, mas ele não foi um rei independente. Vários anos antes que chegasse ao trono, (328) Nabucodonosor havia cercado Jerusalém, e o Senhor lhe havia entregue a cidade, Dan. 1:1, 2. Embora Jeoiaquim fosse vencido, ele teve permissão de reinar em Jerusalém como um príncipe tributário, o que ele fez por oito anos. Por ocasião de sua morte o seu filho Joaquim o sucedeu, mas ele reinou somente três meses antes que Nabucodonosor cercasse Jerusalém novamente, e a conquistasse, e levou o rei e sua família e todos os artífices e ferreiros para Babilônia; e “ninguém ficou senão o povo pobre da terra” 3 (2ª Reis 24: 8-16).

Mas ainda ficou um rei permanecendo em Jerusalém, pois Nabucodonosor tornou Matanias rei, mudando o seu nome para Zedequias, verso 17. A palavra Zedequias significa “o justo de Jeová”, e foi dado ao recém-criado rei porque Nabucodonosor “o tinha ajuramentado por Deus” (2 Crô. 36:13) de que não se rebelaria contra a sua autoridade. Que Nabucodonosor tinha direito de requerer isso é mostrado pelo seguinte:

“No princípio do reinado de Jeoiaquim, filho de Josias, rei de Judá, veio esta palavra a Jeremias da parte do Senhor, dizendo: Assim me disse o Senhor: Faze uns grilhões e jugos e põe-nos ao teu pescoço. E envia-os ao rei de Edom, e ao rei de Moabe, e ao rei dos filhos de Amom, e ao rei de Tiro, e ao rei de Sidom, pela mão dos mensageiros que são vindos a Jerusalém a ter com Zedequias, rei de Judá; e lhes ordenarás, que digam aos seus senhores: Assim diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel: Assim direis a vossos senhores: Eu fiz a terra, o homem e os animais que estão sobre a face da terra, com o meu grande poder, e com o meu braço estendido, e a dou a quem me apraz. E agora Eu entreguei todas estas terras na mão de Nabucodonozor, rei de Babilônia, Meu servo; e ainda até os animais do campo lhe dei, para que o sirvam. Todas as nações o servirão a ele, e a seu filho, e ao filho de seu filho, até que venha o tempo da sua própria terra; e então muitas nações e grandes reis se servirão dele. E acontecerá que, se alguma nação e reino não servirem a Nabucodonozor, rei de Babilônia, e não puserem o seu pescoço debaixo do jugo do rei de Babilônia, (329) a essa nação castigarei com espada, com fome, e com peste, diz o Senhor, até que Eu a consuma pela sua mão. Não deis ouvidos, pois, aos vossos profetas, e aos vossos adivinhadores, e aos vossos sonhos, e aos vossos agoureiros, e aos vossos encantadores, que vos dizem: Não servireis o rei de Babilônia; porque vos profetizam a mentira, para serdes removidos para longe da vossa terra, e Eu vos expulsarei dela, e vós perecereis. Mas a nação que meter o seu pescoço sob o jugo do rei de Babilônia, e o servir, Eu a deixarei na sua terra, diz o Senhor; e lavrá-la-á e habitará nela” (Jer. 27: 1-11).

Nabucodonosor, portanto, tinha tanto direito de governar em Jerusalém como qualquer dos reis de Israel já teve. Ademais, o seu reino foi mais extenso do que o que tinha sido a duração de reinado de qualquer rei de Israel; e, mais do que tudo, após muita instrução do Senhor, Ele empregou essa oportunidade para espalhar por todo o mundo o conhecimento do verdadeiro Senhor, Daniel 4. Destarte, quando Zedequias se rebelou contra Nabucodonosor, ele estava impiamente se colocado contra o Senhor, que havia dado Israel ao poder de Nabucodonosor, como punição por seus pecados. Nas palavras seguintes temos uma vívida descrição do movimento de Nabucodonosor contra Jerusalém, e como Deus dirigiu a ação do rei ímpio mesmo enquanto se valia de adivinhação:

Tu pois, ó filho do homem, propõe dois caminhos, por onde venha a espada do rei de Babilônia. Ambos procederão de uma mesma terra; e escolhe um lugar; escolhe-o no cimo do caminho da cidade. Um caminho proporás, por onde virá a espada contra Rabá dos filhos de Amom, e contra Judá, em Jerusalém, a fortificada. Porque o rei de Babilônia parará na encruzilhada, no cimo dos dois caminhos, para fazer adivinhações; aguçará as suas flechas, consultará as imagens, atentará para o fígado. À sua mão direita estará a adivinhação sobre Jerusalém, para ordenar os capitães, para abrirem a boca, ordenando a matança, para levantarem a voz com júbilo, para porem os aríetes contra as portas, para levantarem trincheiras, para edificarem baluartes. Isso será como adivinhação vã aos (330) olhos daqueles que lhes fizeram juramentos; mas ele se lembrará da iniquidade, para que sejam apanhados. Portanto assim diz o Senhor Deus: Visto que Me fazeis lembrar da vossa iniquidade, descobrindo-se as vossas transgressões, aparecendo os vossos pecados em todos os vossos atos; visto que viestes em memória, sereis apanhados com a mão”.4

O Fim do Domínio Temporal, Independente, de Israel

Daí seguem as duras palavras dirigidas a Zedequias:

“E tu, ó profano e ímpio príncipe de Israel, cujo dia virá no tempo da punição final; assim diz o Senhor Deus: Remove o diadema, e tira a coroa; esta não será a mesma: exalta ao humilde, e humilha ao soberbo. Ao revés, ao revés, ao revés porei aquela coroa, e ela não mais será, até que venha Aquele a quem pertence de direito; e lho darei a Ele” (Eze. 21: 25 a 27).

Zedequias era profano e ímpio, por causa de toda a sua abominável idolatria ele acrescentou o pecado de perjúrio, quebrando um solene voto. Portanto, o reino lhe foi inteiramente removido. O diadema passou dos descendentes de Davi, e foi colocado na cabeça de um caldeu, e o rei de Babilônia está diante de nós. De sua extensão já lemos, e temos adicionalmente as palavras do profeta Daniel explicando a grande imagem que Nabucodonosor viu num sonho a ele dado pelo Deus do céu:

“Tu, ó rei, és rei de reis, a quem o Deus do céu tem dado o reino, o poder, a força e a glória; e onde quer que habitem os filhos dos homens, os animais do campo e as aves do céu, e fez reinar sobre todos eles; tu és a cabeça de ouro” (Dan. 2:37, 38).

Nisso traçamos o domínio que no princípio foi dado ao homem (ver Gên. 1:26), conquanto a glória e poder fossem grandemente diminuídos. Mas vemos que Deus ainda tinha o Seu olho sobre ele, e estava operando no sentido de sua restauração, segundo a promessa a Abraão.

(331) De Babilônia ao Estabelecimento do Reino Eterno

Muito pouco tempo é dedicado na Bíblia a descrições de grandeza humana, e o profeta se apressa ao fim de tudo. Três revoluções são preditas em Eze. 21:27, seguindo-se à passagem do domínio da Terra inteira às mãos de Nabucodonosor. Sendo o seu reino mundial, as revoluções preditas devem também ser a derrocada e estabelecimento do império universal. Assim o profeta Daniel, prosseguindo em sua explicação do sonho de Nabucodonor, disse:

“Depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu; e um terceiro reino, de bronze, o qual terá domínio sobre toda a terra” (Dan. 2: 39).

O reino que sucedeu ao babilônico é mostrado em Daniel 5, tendo sido o da Medo-Pérsia; e em Daniel 8:1-8, 20, 21 aprendemos que o terceiro reino, sucessor da Medo-Pérsia em domínio universal, foi o da Grécia. Assim esboçamos rapidamente perante nós a história do mundo por vários anos. As primeiras duas revoluções de Eze. 21:29 são tornadas claras; Babilônia foi seguida da Medo-Pérsia, e essa, por seu turno, pelo império grego.

O último desses reinos universais terrenos, seguindo-se à terceira grande revolução, não é diretamente indicado por nome, mas é suficientemente claro. O nascimento de Cristo teve lugar nos dias de César Augusto, que emitiu um decreto para que todo o mundo fosse taxado ou registrado. Lucas 2:1. Portanto, temos fundamento em indicar Roma como o produto da terceira grande revolução mundial. De fato, nos fixamos sobre esse reino pois não há qualquer outro conhecido na história que pudesse tomar o seu lugar. Destarte, Babilônia reinou sobre o mundo; em seus dias três revoluções foram preditas fazendo sucederem-se três impérios em seu lugar; a Medo-Pérsia e a Grécia são expressamente indicadas por nome nessa linha de sucessão, e depois temos o imperador de Roma indicado como governante do mundo. Esta é a evidência estritamente escriturística: evidência corroborativa, ou evidência testificando da precisão do histórico sagrado, pode ser encontrada ilimitadamente na história secular.

Mas a revolução que resultou em conceder o reinado do mundo a Roma foi a última grande revolução geral que teria lugar no mundo, “até que venha Aquele a quem pertence de direito”.5 Muitos homens, desde que Roma caiu, sonharam com um domínio mundial, mas seus sonhos terminaram em nada.

Cristo esteve nesta Terra, é verdade, mas o fez como um estranho, como Abraão, sem lugar próprio onde pudesse reclinar a cabeça. Ele veio, contudo, “para proclamar liberdade aos cativos”,6 e anunciar que quem quer que vivesse por Sua palavra conheceria a verdade, e seria tornado livre por ela. Dia após dia e ano após ano no desenrolar dos séculos, a proclamação de liberdade tem estado a soar, e cativos cansados têm sido postos em liberdade do poder das trevas. Não nos é dado conhecer os tempos e estações que o Pai tem submetido a Seu próprio poder; mas sabemos que quando toda a professa Igreja de Cristo consentir ser cheia do Espírito Santo, o mundo inteiro ouvirá a mensagem do Evangelho na plenitude do seu poder, e o fim virá, quando a criação que geme7 será livrada da escravidão da corrupção à glória da liberdade dos filhos de Deus.

The Present Truth, 25 de fevereiro de 1897.

Notas desta edição:

1) Hebreus 4:8;

2) Jeremias 17:1;

3) 2ª Reis 24: 14;

4) Ezequiel 4: 19 a 24;

5) Ezequiel 21: 27;

6) Isaias 61:1;

7) Romanos 8:22