domingo, 8 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 24

O Concerto Eterno, Capítulo 24.

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As Promessas a Israel

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Vida Procedente de Deus

Ouça e Viva

No final da jornada pelo deserto, Moisés disse ao povo, “Todos os mandamentos que hoje Eu vos ordeno cuidareis de observar, para que vivais, e vos multipliqueis, e entreis, e possuais a terra que o Senhor, com juramento, prometeu a vossos pais. E te lembrarás de todo o caminho pelo qual o Senhor teu Deus tem te conduzido durante estes quarenta anos no deserto, a fim de te humilhar e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os Seus mandamentos. Sim, Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que nem tu nem teus pais conhecíeis; para te dar a entender que o homem não vive só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor, disso vive o homem” (Deu. 8:1-3).

“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz” (Heb. 4:12). Cristo disse, “O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” (João 6:63). Mediante o profeta, Ele diz, “Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá” (Isa. 55:3). “Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão” (João 5:25). Esse tempo havia chegado nos dias quando os filhos de Israel estavam no [176] deserto. Na concessão do maná Ele lhes estava ensinando que os homens poderiam viver somente por “de toda palavra que sai da boca do Senhor”.

Observem bem isto. Deus os estava provando, pela concessão do maná, se eles caminhariam em Sua lei ou não. Mas, ao mesmo tempo, Ele lhes estava ensinando que a lei é vida. Jesus declarou: “E sei que o Seu mandamento é vida eterna” . (João 12:50). Eles tinham que observar os mandamentos para que vivessem, mas somente os poderiam guardar por ouvi-los. A vida está nos próprios mandamentos, e não no indivíduo que tenta observá-los. Ele não pode obter vida de seus próprios esforços, contudo deve obter vida mediante os mandamentos. A graça reina mediante a justiça para a vida eterna mediante Jesus Cristo nosso Senhor. A razão é que a palavra por si é vida, e se a ouvimos atentamente, por ela viveremos. “Ah! se tivesses dado ouvidos aos Meus mandamentos! então seria a tua paz como um rio, e a tua justiça como as ondas do mar” (Isa. 48:18).

Jesus disse, “se queres entrar na vida, guarda os mandamentos” (Mat. 19:17). Mas não é por nossos esforços que nos adequamos a um certo padrão, e por nos medirmos por ele para ver que progresso estamos fazendo, que obtemos justiça e vida. Tal seria o caminho dos fariseus, não dos cristãos. Abraão observou todos os mandamentos de Deus, e, não obstante, nenhuma linha deles estava escrita. Como ele conseguiu fazê-lo? Por ouvir a voz de Deus, e por nEle confiar. Deus deu testemunho de que ele tinha a justiça da fé.

Do mesmo modo em que Ele conduziu Abraão, Deus estava conduzindo os filhos de Israel. Ele lhes havia falado por Seus profetas, e pelos milagres que havia operado em libertá-los do Egito, havia-lhes mostrado o Seu poder para operar nEles a justiça. Se eles apenas tivessem ouvido a Sua voz, e nEle crido, não teria havido dificuldade com respeito a sua própria justificação. Se tivessem somente confiado em Deus, em vez de confiar em si mesmos, Ele teria sido responsável por sua justiça e vida. “Ouve-me, povo Meu, e Eu te admoestarei; ó Israel, se Me escutasses! não haverá em ti deus estranho, nem te prostrarás ante um deus estrangeiro. Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito; abre [177] bem a tua boca, e Eu a encherei” (Sal. 81:8-10). “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão fartos”. Mat. 5:6. Na concessão do maná, Deus estava tentando ensiná-los este fato, e no registro disso Ele espera que aprendamos a lição. Estudemo-la, então, um pouco mais detidamente.

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Pão Vivo

O apóstolo Paulo nos diz que os filhos de Israel no deserto “beberam todos da mesma bebida espiritual” (I Cor. 10:4). Já lemos as palavras do Senhor quando Ele prometeu dar-lhes alimento, dizendo, “Eis que vos farei chover pão do céu”. Ele “ordenou às nuvens lá em cima, e abriu as portas dos céus; fez chover sobre eles maná para comerem, e deu-lhes do trigo dos céus. Cada um comeu o pão dos poderosos; Ele lhes mandou comida em abundância” (Sal. 78:23-25)

O alimento que eles tinham para comer não era um produto da terra pela qual estavam passando. Se tivesse sido, eles a teriam obtido antes. Mas a Escritura nos diz que choveu do céu. Veio diretamente de Deus. Era a sua “bebida espiritual[1], “o pão dos anjos[2] Como teria se dado com eles se somente tivessem crido, aprendemos do relato de outra ocasião quando uma multidão de pessoas foi miraculosamente alimentada no deserto.

No sexto capítulo de João temos o relato de outra maravilhosa provisão de alimento para uma multidão de pessoas no deserto. Havia “cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças”, e a quantidade de alimento entre o grupo era de cinco pães e dois peixes. Um dos discípulos disse que duzentos denários[3] não seriam suficientes para todos receberem um pouco. Não admira que André dissesse dos limitadíssimos cinco pães e peixes, “O que é isso para tantos?”

[178] Não obstante Jesus “sabia o que fazer”. Ele tomou os pães em Suas mãos e ofereceu uma oração de graças, e então deu os pães aos discípulos para distribuí-los entre a multidão. O mesmo foi feito com os peixes. O resultado foi de que daquela insignificante quantidade, que normalmente nem lhes permitiria sequer provar tais alimentos, todos foram satisfeitos, e houve doze cestos de fragmentos deixados. Havia mais alimento quando eles terminaram do que quando começaram.

De onde procedera aquele pão? Só há uma possível resposta, ou seja, veio do próprio Senhor. A vida Divina que estava nEle, que é a fonte de toda vida, fez com que o pão se multiplicasse, tal como fizera o grão crescer, do qual fora feito. A multidão, portanto, comeu do próprio Cristo. Era a Sua própria vida que representou o nutrimento de seus corpos naquele dia. O milagre foi operado com o propósito de satisfazer os seus anseios físicos: mas aquilo tinha o desígnio de ensiná-lhes uma lição espiritual muito valiosa, que Jesus apresentou perante eles no dia seguinte.

Quando as pessoas encontraram Jesus no dia seguinte, Ele os reprovou por se interessarem mais pelos pães e peixes do que pelo melhor alimento que Ele tinha para eles. Ele disse: “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; pois neste, Deus, o Pai, imprimiu o Seu selo”. Então eles Lhe disseram, “Que havemos de fazer para praticarmos as obras de Deus?” Jesus respondeu, “A obra de Deus é esta: Que creiais Naquele que Ele enviou”. João 6:28, 29. Assim, não obstante tudo quanto eles haviam visto e experimentado, pediram-lhe por um sinal, dizendo: “Que sinal, pois, fazes Tu, para que o vejamos e Te creiamos? Que operas Tu?” E então, não percebendo que tinham visto o mesmo milagre repetido de fato para eles, referiram-se à concessão do maná, dizendo, “Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Do céu deu-lhes pão a comer” (Versos 30, 31.

Jesus então lhes fez lembrar que não foi Moisés quem lhes deu pão no deserto, mas que Deus lhes dá o verdadeiro pão do céu. Ele lhes disse: “o pão de Deus é Aquele que desce do [179] céu e dá vida ao mundo”. Ainda falhando em captar o que Jesus queria dizer, eles pediram para ter sempre esse pão da vida, quando Ele lhes disse claramente que Ele próprio era o pão da vida dizendo: “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a Mim, de modo algum terá fome, e quem crê em Mim jamais terá sede”. E ainda mais tarde Ele declarou: “Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em Mim tem a vida eterna. Eu sou aquele pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne”. Versos 32-51.

Assim como o povo comeu daquele pão que veio do Senhor Jesus, e foram fortalecidos por ele, do mesmo modo poderiam, se tivessem crido, ter recebido vida espiritual dEle. Sua vida é justiça e todos quantos comem dEle em fé devem receber justiça. À semelhança do Israel antigo, eles estavam comendo pão do céu, e como os israelitas, não o apreciaram a ponto de obter o pleno benefício dele.

-- The Present Truth, 15 de outubro de 1896.



[1] I Coríntios 10:4;

[2] Algumas versões dizem, “o pão dos poderosos”;

[3]João 6:7, ou duzentos dinheiros, Marcos 6:37, eram 200 denarii romanos, equivalentes a 200 dias de salário médio de um trabalhador comum,” SDABC, vol. 5, pág. 617.