domingo, 29 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 42


316

As Promessas Para Israel


Novamente em Cativeiro
(Parte 1)
Embora os filhos de Israel cantassem o cântico de libertação junto ao Mar Vermelho, e com boa razão, também, não foi até que cruzaram o Jordão que se fizeram realmente livres do Egito. Eles não mantiveram firmemente o princípio de sua confiança até o fim,1 mas “e em seu coração se tornaram ao Egito, dizendo, a Arão: Faze-nos deuses que vão adiante de nós” (Atos 7:39, 40. Quando cruzaram o Jordão, porém, e atingiram a terra de Canaã, tiveram o testemunho de Deus de que a maldição do Egito tinha se dissipado de sobre eles. Então tiveram descanso, e estavam livres no Senhor.
Mas essa liberdade não foi retida por muito tempo; murmurações, desconfiança e apostasia logo apareceram entre o povo de Deus. Eles desejaram um rei, para que pudessem assemelhar-se às nações pagãs ao seu redor. Eles “se misturaram com os gentios, e aprenderam as suas obras. E serviram aos seus ídolos, que vieram a ser-lhes um laço; demais disto, sacrificaram seus filhos e suas filhas aos demônios, e derramaram sangue inocente, o sangue de seus filhos e de suas filhas, que sacrificaram aos ídolos de Canaã; e a terra foi manchada com sangue” (Sal. 106:35-38). Assim, tornaram-se literalmente semelhantes aos pagãos ao seu redor.
Um rápido exame da história de alguns dos reis de Israel e Judá mostrará quão completamente os filhos de Israel, ao obterem um (317) rei, conseguiram o cumprimento de seu desejo em assemelhar-se aos pagãos. A Saul, o primeiro rei, o profeta de Deus disse: “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como a iniquidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, Ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei” (1ª Sam. 15:22, 23).
Salomão tomou muitas estranhas esposa de entre os pagãos, e “sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e seu coração já não era perfeito para com o Senhor seu Deus, como o de Davi, seu pai; Porque Salomão seguiu a Astarete, deusa dos sidônios, e a Milcom, a abominação dos amonitas” (1º Reis 11:4, 5).
Sob Reoboão, filho de Salomão, “Judá fez o que era mau aos olhos do Senhor; e com os seus pecados que cometeram, provocaram-No a zelos, mais do que os seus pais fizeram. Porque também eles edificaram altos, e estátuas, e imagens de Asera sobre todo alto outeiro e debaixo de toda a árvore verde; e havia também sodomitas na terra; fizeram conforme a todas as abominações dos povos que o Senhor tinha expulsado de diante dos filhos de Israel” (1º Reis 14:22-24).
O mesmo está registrado com respeito a Acaz (1º Reis 16:1-4), e embora “o Senhor humilhou a Judá por causa de Acaz, rei de Israel; porque este se houve desenfreadamente em Judá, havendo prevaricado grandemente contra o Senhor”, contudo, “ao tempo em que este o apertou, então ainda mais transgrediu contra o Senhor, tal era o rei Acaz. Porque sacrificou aos deuses de Damasco, que o tinham o feriram, e disse: Visto que os deuses dos reis da Síria os ajudam, eu lhes sacrificarei, para que me ajudem a mim. Eles, porém, foram a sua ruína, e de todo o Israel” (2º Crô. 28:19-23).
(318) Piores do Que os Pagãos
Manassés, filho de Ezequias, “fez o que era mau aos olhos do Senhor, conforme as abominações dos gentios que o Senhor expulsara de suas possessões de diante dos filhos de Israel. Porque tornou a edificar os altos que Ezequias, seu pai, tinha destruído, e levantou altares a Baal, e fez uma imagem a Asera como a que fizera Acabe, rei de Israel, e adorou a todo o exército do céu, e os serviu. . . . Também edificou altares a todo o exército do céu em ambos os átrios da casa do Senhor. E até fez passar seu filho pelo fogo, adivinhava pelas nuvens, era agoureiro e ordenou adivinhos e feiticeiros; e prosseguiu em fazer o que era mau aos olhos do Senhor, para O provocar à ira. Também pôs uma imagem de escultura de Asera, que tinha feito, na casa de que o Senhor dissera a Davi e a Salomão, seu filho: Nesta casa e em Jerusalém, que escolhi de todas as tribos de Israel, porei o Meu nome para sempre; e não mais farei mover o pé de Israel desta terra que tenho dado a seus pais, contanto que somente tenham cuidado de fazer conforme tudo o que lhes tenho ordenado, e conforme toda a lei que Moisés, Meu servo, lhes ordenou. Eles, porém, não ouviram; porque Manassés de tal modo os fez errar, que fizeram pior do que as nações que o Senhor tinha destruído de diante dos filhos de Israel”. “Além disso, Manassés derramou muitíssimo sangue inocente, até que encheu Jerusalém de um a outro extremo, afora o seu pecado com que fez Judá pecar fazendo o que era mau aos olhos do Senhor” (2º Reis 21:2-9, 16).
Amom sucedeu a Manassés, “fez o que era mau aos olhos do Senhor, como havia feito Manassés, seu pai; porque Amom sacrificou a todas as imagens de escultura que Manassés, seu pai, tinha feito, e as serviu” (2º Crô. 33:22).
No Reino do Norte
Se tomarmos os reis que reinaram na porção norte de Israel depois que o reino foi dividido com a morte de Salomão, (319) encontramos um registro ainda pior. Houve alguns reis justos em Jerusalém; mas começando com Jeroboão, “o qual pecou, e fez pecar a Israel” (1 Reis 14:16), e cada rei sucessivo, no restante de Israel, era pior do que o que o antecedera. Nadabe, filho de Jeroboão, “fez o que era mau aos olhos de Senhor, e andou nos caminhos de seu pai, e no seu pecado com que seu pai fizera pecar a Israel” (1º Reis 15:26). Baasa “fez o que era mau aos olhos de Senhor, e andou no caminho de Jeroboão, e no seu pecado com que tinha feito Israel pecar” (verso 34). Onri, que edificou Samaria, “fez o que era mau aos olhos do Senhor; e fez pior do que todos quantos foram antes dele. Pois ele andou em todos os caminhos de Jeroboão, filho de Nebate, como também nos pecados com que ele tinha feito pecar a Israel, irritando à ira o Senhor Deus de Israel com as suas vaidades” (1º Reis 16:25, 26). Contudo, mau como era, “fez Acabe, filho de Onri, o que era mau aos olhos do Senhor, mais do que todos os que o antecederam”. “Acabe fez muito mais para irritar ao Senhor Deus de Israel do que todos os reis de Israel que foram antes dele” (versos 30 e 33).
Essa questão assim prossegue até que o Senhor disse pelo profeta Jeremias: “Dai voltas às ruas de Jerusalém, e vede agora, e informai- vos, e buscai pelas suas praças a ver se achais alguém, ou se há um homem, que pratique a justiça ou busque a verdade” (Jer. 5:1). Um homem desses era difícil de se encontrar; “Porque ímpios se acham entre o Meu povo; andam espiando, como quem arma laços; põem armadilhas, com que prendem os homens. Como uma gaiola está cheia de pássaros, assim as suas casas estão cheias de engano; por isso se engrandeceram, e enriqueceram. Engordaram-se, estão nédios; e ultrapassaram até o feito dos gentios” (versos 26-28).
Uma vez que Deus expulsou os gentios da terra, devido a sua abominável idolatria, é bastante evidente que os filhos de Israel não podiam ter qualquer herança real nela quando eram tal como os pagãos, e até piores. O fato de aqueles que se chamam pelo nome do Senhor adotarem costumes e maneiras dos pagãos não torna tais costumes no mínimo mais aceitáveis a Deus. O fato de que o paganismo se acha na Igreja não o recomenda. Pelo contrário, uma elevada profissão apenas torna as más práticas ainda mais detestáveis. Os filhos de Israel, portanto, não estavam realmente de posse da terra de Canaã enquanto seguiam os caminhos do paganismo; (320) pois a maldição da escravidão no Egito era o pecado no qual haviam incorrido. É evidente que conquanto se gabando de sua liberdade na terra de Canaã, eles estavam de fato sob o pior tipo de escravidão. Quando em tempos posteriores os judeus disseram pretensiosamente “Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém”. Jesus repetiu: “Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado. Ora, o servo não fica para sempre em casa; o filho fica para sempre” (João 8:33-35).
A Fidelidade de Deus
Contudo, havia magníficas possibilidades ao alcance do povo o tempo todo. Em qualquer tempo eles poderiam ter-se arrependido e volvido ao Senhor, e O teriam achado pronto para cumprir Sua promessa a eles inteiramente. Conquanto “todos os chefes dos sacerdotes e o povo aumentavam de mais em mais as transgressões, segundo todas as abominações dos gentios”, no entanto, “o Senhor, Deus de seus pais, falou-lhes constantemente por intermédio de Seus mensageiros, porque se compadeceu do Seu povo e da sua habitação” (2º Crô. 36:14, 15). Muitos maravilhosos livramentos, quando os israelitas se viram oprimidas por seus inimigos, e humildemente buscaram ao Senhor, mostravam que o mesmo Deus que livrou os seus pais do Egito estava pronto e esperando exercer o mesmo poder em seu favor, a fim de aperfeiçoar aquilo pelo que os havia trazido à terra prometida.
Um exemplo impressionante da operação de Deus por aqueles que confiam nEle, e da vitória da fé, é encontrado no relato de Jeosafá (2º Crô. 20). É especialmente valioso para nós, pois nos mostra como obter vitória e também nos mostra novamente o que temos tantas vezes notado, que as reais vitórias de Israel foram obtidas pela fé em Deus, e não pelo uso da espada. O relato, em resumo, é este: —
Os moabitas e amonitas juntamente com outros povos, levantaram-se contra Jeosafá para guerrar. O número deles era vastamente superior ao dos israelitas, e em seu extremo aperto “Jeosafá temeu, e pôs-se a buscar ao Senhor, e apregoou jejum em (321) todo o Judá. E Judá se ajuntou para pedir socorro ao Senhor; também de todas as cidades de Judá vieram para buscar ao Senhor” (vs. 3 e 4).
A oração de Jeosafá nessa ocasião é um modelo. Ele disse, “Ah! Senhor, Deus de nossos pais, porventura não és Tu Deus nos céus? e não és Tu que dominmas sobre todos os reinos das nações? e na Tua mão há força e potência, e não há quem Te possa resistir. Ó nosso Deus, não lançaste fora os moradores desta terra de diante do Teu povo Israel, e não a deste para sempre à descendência de Abraão, Teu amigo?” (vs. 6 e 7). “Agora, pois, eis que os filhos de Amom, e de Moabe, e do monte Seir, . . . eis como nos dão o pago, vindo para lançar-nos fora da Tua herança, que nos fizeste herdar. Ah! nosso Deus, não os julgarás? Porque em nós não há força perante esta grande multidão que vem contra nós, e não sabemos o que faremos; porém os nossos olhos estão postos em Ti” (vs. 10 a 12).
Primeiro ele reconheceu a Deus como o Deus do céu, portanto tendo todo o poder. A seguir reivindicou todo esse poder como seu, reclamando a Deus como o seu próprio Deus. Daí estava pronto para tornar conhecida a sua necessidade e proferir o seu pedido com plena segurança da fé. A alguém que ore dessa forma todas as coisas são possíveis. Muitos dirigem orações a Deus sem qualquer justo senso de Sua existência, como se estivessem orando a um nome abstrato, e não a um Salvador vivo e pessoal e, logicamente, nada recebem, pois na realidade nada esperam. Todos quantos oram devem primeiro contemplar a Deus antes de pensar em si mesmos e suas próprias necessidades. É fato inegável que na maioria, os que oram pensam mais em si próprios do que em Deus; em vez disso deviam perder-se na contemplação da grandeza de Deus e Sua bondade; daí não é difícil crer que Deus é galardoador daqueles que diligentmente O buscam.2 Como disse o salmista, “em Ti confiarão os que conhecem o Teu nome; porque Tu, Senhor, não desamparastes os que Te buscam”.3
Enquanto o povo estava ainda reunido para orar, o profeta de Deus veio, e disse: “Dai ouvidos todo o Judá, e vós, moradores de Jerusalém, e tu, ó rei Jeosafá; Assim o Senhor vos diz: Não temais, nem vos assusteis por causa desta grande multidão, porque a peleja não é vossa, mas de Deus”. “Nesta batalha não tereis que pelejar; postai-vos, ficai parados (322) e vede a salvação do Senhor para convosco, ó Judá e Jerusalém. Não temais, nem vos assusteis; amanhã saí-lhes ao encontro, porque o Senhor está convosco” (2º Crô. 20: 15 e 17).
O povo creu nessa mensagem “Pela manhã cedo se levantaram e saíram ao deserto de Tecoa; e, ao saírem, Jeosafá pôs-se em pé e disse: Ouvi-me, ó Judá, e vós, moradores de Jerusalém. Crede no Senhor vosso Deus, e estareis seguros; crede nos seus profetas, e prosperareis. E aconselhou-se com o povo, e ordenou cantores para o Senhor, que louvassem a Majestade Santa, saindo diante dos armados, e dizendo: Louvai ao Senhor, porque a Sua benignidade dura para sempre” (vs. 20 e 21).
“Quando Começaram a Cantar”
Que estranha forma essa de sair para batalhar! Lembra-nos bem da marcha ao redor do Jericó, e o grito de vitória. Em geral, as pessoas que obtinham tal promessa, como se deu nessa ocasião, de que Deus lutaria por eles, pensariam que revelaram grande fé em sair contra o inimigo. Eles diriam, “Deus prometeu nos ajudar, mas temos que fazer a nossa parte”; e assim fizeram todo o preparativo para o combate. Mas aquelas pessoas em tal tempo foram suficientemente simples para tomar o Senhor pela Sua palavra; sabiam que precisavam de fato fazer a sua parte, mas entendiam que a sua parte era crer, e avançar embora realmente cressem. E de fato creram. Tão forte era a sua fé que cantaram. Não era um cântico forçado o que ouviam, proferido debilmente de lábios trêmulos, mas um cântico pleno, profundo, espontâneo, sincero cantico de gozo e vitória, e isso tudo enquanto o inimigo se postava diante deles em números arrasadores. E qual foi o resultado?
“E, quando começaram a cantar e a dar louvores, o Senhor pôs emboscadas contra os filhos de Amom e de Moabe e os das montanhas Seir, que ieram contra Judá; e foram desbaratados. Porque os filhos de Amom e de Moabe se levantaram contra os moradores das montanhas de Seir, para os destruir e exterminar; e, acabando eles com (323) os moradores de Seir, ajudaram uns aos outros a destruir-se. Nisso chegou Judá à atalaia do deserto; e olharam para a multidão, e eis que eram corpos mortos, que jaziam em terra, e nenhum escapou” (vs. 22 a 24).
Tão logo começaram a cantar, o inimigo foi dominado. Um pânico assaltou a hoste dos amonitas e moabitas, e atacaram-se uns aos outros. Pode ter-se dado que, ao ouvirem os cânticos e expressões de gozo imaginaram que Israel poderia ter obtido reforços, e isso foi o que se deu. Israel obteve reforços tais que nem precisou lutar por si mesmo. A sua fé foi a sua vitória e os seus cânticos eram a evidência de sua fé.
Esta é uma lição para nós em nosso conflito com nossos adversários — principalidades e postestades e espíritos malignos. “Resisti ao diabo e ele fugirá de vós”,4 mas temos que resistir “firmes na fé”.5 Somente essa resistência o fará fugir , pois sabe que é mais forte do que nós; mas quando resistido na fé de Jesus ele deve fugir, pois sabe que não tem absolutamente qualquer força contra Cristo. E assim aprendemos novamente que “os remidos do Senhor voltarão com cântico a Sião”.6 Em tais experiências como essa que acabamos de considerar o Senhor estava mostrando a Israel como deviam vencer, e que Ele esteve sempre esperando ansioso para completar a promessa feita aos seus pais.
-- The Present Truth, 18 de fevereiro de 1897.
Notas desta edição:

1) Hebreus 3:14;
2) Hebreus 11: 6;
3) Salmo 9:10;
4) Tiago 4:7;
5) 1ª Pedro 5:9; 1ª Cor. 16:13; Col. 1: 23;
6) Isaias 35:10 e 51:11;