domingo, 15 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 32

O Concerto Eterno, Capítulo 32

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As Promessas a Israel

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Os Concertos da Promessa

“Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão, feita pela mão dos homens. Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos pactos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo”. Efé. 2:11, 12.

Uma idéia que prevalece de modo bastante extensivo é a de que Deus tem um concerto com os judeus e outro para os gentios; de que houve um tempo em que o concerto com os judeus excluía inteiramente os gentios, mas que agora um novo concerto foi estabelecido e diz respeito especialmente, se não com exclusividade, aos gentios; em síntese, que os judeus estão, ou estavam, sob o velho concerto, e os gentios sob o novo. Que essa noção é um grande erro pode-se ver facilmente da passagem acima citada.

De fato, os gentios, como tais, não têm parte alguma nos concertos da promessa de Deus. Em Cristo está o sim. “Porque todas quantas promessas há de Deus, são nEle sim; e por Ele o amém, para glória de Deus por nós” (2a Cor. 1:20). Os gentios são aqueles que estão sem Cristo, assim sendo eles são “estranhos aos pactos da promessa”. Nenhum gentio tem qualquer parte em qualquer concerto da promessa. Mas qualquer que deseje pode vir a Cristo, e compartilhar das promessas; pois Cristo declara, “o que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (João 6:37). Mas quando os gentios fazem isso, [228] não importa qual seja a sua nacionalidade, ele deixa de ser um gentio, e se torna membro da “comunidade de Israel”.

Seja notado também que o judeu, na aceitação comum do termo, ou seja, como membro da nação judaica, é um rejeitador de Cristo, não tem maior parte nas promessas de Deus, ou nos concertos da promessa do que o gentio. Isso é apenas para dizer que ninguém tem qualquer parte nas promessas, exceto aqueles que as aceitam. Quem quer que, “sem Cristo”, seja chamado judeu ou gentio, é também “sem Deus no mundo”[1], e um estranho aos concertos da promessa, e um estranho à comunidade de Israel. Isso é o que o texto, acima citado, nos ensina. A pessoa precisa estar em Cristo a fim de compartilhar os benefícios dos “concertos da promessa”, e ser um membro da “comunidade de Israel”. Ser um “israelita de verdade”, portanto, é simplesmente ser um cristão. Isso é tão verdadeiro a respeito do homem que vivia nos dias de Moisés quanto daqueles que viviam no tempo de Paulo, ou dos que vivem hoje.

Talvez alguns sejam levados a perguntar: “E o que dizer do concerto estabelecido no Sinai? Está querendo dizer que era o mesmo sob o qual os cristãos vivem, ou que foi tão bom? Não nos é dito que ele era defeituoso? E se era defeituoso, como podiam vida e salvação ter derivado dele?”

Perguntas muito pertinentes e fáceis de responder. É um fato inegável que a graça abundou no Sinai,—“a graça de Deus que traz salvação”—porque Cristo estava ali com toda a Sua plenitude de graça e verdade. A misericórdia e a verdade ali se encontraram, e a justiça e a paz fluíram como um rio. Mas não foi por virtude do concerto feito junto ao Sinai, que a misericórdia e a paz ali estiveram. Aquele concerto nada trouxe ao povo, conquanto tudo ali estivesse para desfrutarem.

O valor comparativo dos dois concertos, que em relação um com o outro são chamados de “o primeiro” e “o segundo”, “o velho” e “o novo”, é assim estabelecido no livro de Hebreus, que apresenta a Cristo como o Sumo Sacerdote, e contrasta o Seu sacerdócio com o de homens. Eis aqui alguns dos pontos de superioridade de nosso grande Sumo Sacerdote sobre os sacerdotes terrestres:—

[229] 1. Aqueles sacerdotes eram constituídos sem juramento, mas este com um juramento por Aquele que disse “Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque” (Heb. 7:21).

2. Eles eram sacerdotes somente por um período curto, “porque pela morte foram impedidos de permanecer[2]; portanto havia uma contínua mudança e sucessão. Mas Cristo “vivendo sempre”[3],tem um sacerdócio perpétuo[4]. Os sacerdotes terrenos continuavam sendo sacerdotes enquanto vivessem, mas não viviam por muito tempo. Cristo também continua a ser sacerdote enquanto viver, mas Ele vive “para todo o sempre[5].

3. Os sacerdotes levíticos eram constituídos sacerdotes “segundo a lei do mandamento carnal[6]. O sacerdócio deles era apenas exterior, da carne. Eles podiam lidar com o pecado somente em suas manifestações exteriores, ou seja, de fato em nada. Mas Cristo é o Sumo Sacerdote, “segundo o poder da vida infindável[7]—uma vida que salva até o fim. Ele ministra a lei no Espírito.

4. Eles eram ministros somente de um santuário terrestre, que o homem fez. Cristo “que está assentado nos céus à destra do trono da Majestade, Ministro do santuário e verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem[8].

5. Eles eram meros homens pecadores, como se demonstrou por sua mortalidade. Cristo é “declarado Filho de Deus em poder, segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos” (Rom. 1:4), assim Ele é “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime que os céus” (Heb. 7:26).

Agora, “de tanto melhor concerto Jesus foi feito fiador”[9]. O concerto do qual Cristo é Ministro é tanto melhor [230] do que aquele do qual os sacerdotes levíticos eram ministros, cujo sacerdócio data somente do estabelecimento do concerto no Sinai, tal como Cristo e Seu sacerdócio são melhores do que eles e o sacerdócio deles. Isso significa que o concerto do qual Cristo, como Sumo Sacerdote, é Ministro, é tanto melhor do que o concerto que procede do Sinai, quanto Cristo é melhor do que o homem; quanto o céu é mais elevado do que a Terra; quanto o santuário no céu é maior do que o santuário na terra; quanto as obras de Deus são melhores do que as obras da carne; quanto “a lei do Espírito de vida em Cristo Jesus[10] é melhor do que “a lei do mandamento carnal[11]; quanto a vida eterna é melhor do que uma vida que não passa de “um vapor que aparece por um momento e depois se desvanece[12]; quanto o juramento de Deus é melhor do que a palavra do homem.

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A Diferença

E agora podemos ler onde jaz a vasta diferença: “Mas agora alcançou Ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança, que está firmada em melhores promessas. Porque, se aquela primeira aliança fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para a segunda. Porque repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei uma nova aliança. Não segundo a aliança que fiz com seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; como não permaneceram naquela Minha aliança, Eu para eles não atentei, diz o Senhor. Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; porei as Minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; Eu lhes serei por Deus, e eles Me serão por povo; e não ensinará cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; porque todos Me conhecerão, desde o menor deles até ao maior. Porque serei misericordioso para com suas iniqüidades, e de seus pecados e de suas prevaricações não Me lembrarei mais” (Heb. 8:6-12). [231] Os fatos seguintes devem destacar-se de forma bem evidente ao atento leitor deste texto:--

1. Ambos os concertos são somente com Israel. Os gentios, como já vimos, são “estranhos às alianças da promessa[13]. É sempre admitido e mesmo reivindicado que eles nada têm que ver com o velho concerto; mas têm até menos ligação com o novo concerto.

2. Ambos os concertos são estabelecidos com “a casa de Israel”; não com uns poucos indivíduos, nem com uma nação dividida, mas “com a casa de Israel e com a casa de Judá”, ou seja, com todo o povo de Israel. O primeiro concerto foi feito com toda a casa de Israel, antes que se houvesse dividido; o segundo concerto será feito quando Deus tiver tirado os filhos de Israel dentre os pagãos, e os tornado uma nação, quando “nunca mais serão duas nações, e nunca mais se dividirão para o futuro em dois reinos” (Eze. 37:22, 26). Com respeito a isso, porém, teremos mais a dizer depois.

3. Ambos os concertos contêm promessas, e são fundamentados sobre elas.

4. O “novo concerto” é melhor do que o que foi feito no Sinai.

5. É melhor, porque as promessas sobre que está fundado são melhores.

6. Contudo, será visto, por comparar os termos do novo com os do velho, que o objetivo tencionado por cada um é o mesmo. O velho dizia: “se obedecerdes a Minha voz[14]; o novo diz, “porei as Minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei[15]. Cada um faz referência à lei de Deus. Ambos têm santidade e todas as recompensas da santidade, como objetivo. No concerto do Sinai foi dito a Israel: “e vós Me sereis um reino sacerdotal e um povo santo” (Êxodo 19:6). Isso é exatamente o que o próprio povo de Deus realmente é, “o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido” (1ª Ped. 2:5, 9).

Mas as promessas daquele concerto no Sinai nunca foram concretizadas, e pela razão mesma de serem falhas. As promessas daquele concerto dependiam todas do povo. Eles disseram: “Tudo o que o Senhor tem falado, nós faremos” (Êxo. 19:8; 24:7). Prometeram observar os Seus mandamentos, conquanto já tivessem demonstrado sua incapacidade de fazer qualquer coisa por si mesmos. As promessas feitas de observar a lei, [232] como a própria lei, estavam “enfermas pela carne” (Rom. 8:3). A força daquele concerto era, portanto, somente a força da lei; e essa é morte.

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Por Que o Concerto no Sinai?

Por que, então, foi feito aquele concerto?—Pela mesma razão pela qual a lei foi estabelecida no Sinai: “por causa da transgressão”[16]. O Senhor diz que foi porque eles “não permaneceram naquela Minha aliança”[17]. Eles haviam considerado levianamente o “concerto eterno”[18] que Deus havia feito com Abraão, e, portanto, estabeleceu esse com eles, como um testemunho contra eles.

Aquele “concerto eterno” com Abraão foi um concerto de fé. Era eterno, e, portanto, a outorga da lei não poderia anulá-lo. Foi confirmado por um juramento de Deus, e, portanto, a lei não poderia acrescentar coisa alguma a ele. Em vista de que a lei nada acrescentava àquele concerto, e contudo não era contra as suas promessas, segue-se que a lei estava contida em suas promessas. O concerto de Deus com Abraão assegurou-lhe e à sua semente a justiça da lei pela fé. Não pelas obras, mas pela fé.

O concerto com Abraão era tão amplo em seu escopo que abarcava todas as nações, mesmo “todas as famílias da Terra”[19]. É esse concerto, respaldado pelo juramento de Deus, o concerto pelo qual temos agora confiança e esperança ao irmos a Jesus, em Quem foi confirmado. É por virtude desse concerto, e esse somente, que qualquer homem recebe a bênção de Deus, pois a cruz de Cristo simplesmente traz a bênção de Abraão sobre nós.

Aquele concerto foi inteiramente de fé, e é por isso que assegura salvação, uma vez que “pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras para que ninguém se glorie”[20]. A história de Abraão torna bastante enfático o fato de que a salvação é inteiramente de Deus, e não pelo poder do homem. “O poder pertence a Deus” (Sal. 62:11); e o Evangelho é “o poder Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rom. 1:16). Com base no [233] caso de Abraão, bem como no de Isaque e Jacó, somos levados a saber que somente o próprio Deus pode cumprir as promessas de Deus. Eles nada obtiveram por sua própria sabedoria ou habilidade ou poder; tudo lhes foi um dom de Deus. Ele os conduziu, e Ele os protegeu.

Essa é a verdade que tem sido tornada mais destacada na libertação dos filhos de Israel do Egito. Deus introduziu-Se a eles como “o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó” (Êxo. 3:15); e Ele encarregou Moisés de fazê-los saber que Ele estava para libertá-los no cumprimento de Seu concerto com Abraão. Deus falou a Moisés, dizendo-lhe:-

“Eu sou o Senhor. E Eu apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó, como o Deus Todo-Poderoso; mas pelo Meu nome, o Senhor, não lhes fui conhecido. E também estabeleci a Minha aliança com eles, para dar-lhes a terra de Canaã, a terra de suas peregrinações, na qual foram peregrinos. E também tenho ouvido o gemido dos filhos de Israel, aos quais os egípcios fazem servir; e lembrei-Me da Minha aliança. Portanto dize aos filhos de Israel: Eu sou o Senhor; Eu vos tirarei de debaixo das cargas dos egípcios, e vos livrarei da servidão, e vos resgatarei com braço estendido e com grandes juízos. E Eu vos tomarei por Meu povo, e serei vosso Deus; e vós sabereis que Eu sou o Senhor vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios. Eu vos levarei à terra, acerca da qual levantei a Minha mão jurando que a daria a Abraão, a Isaque e a Jacó; e vo-la darei por herança. Eu sou o Senhor” (Êxodo 6:2-8).

Leia novamente as palavras de Deus pouco antes de estabelecer o concerto do Sinai:-

“Assim falarás à casa de Jacó, e anunciarás aos filhos de Israel: Vós tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águias, e vos trouxe a Mim. Agora, pois, se atentamente ouvirdes a Minha voz e guardardes a Minha aliança, então sereis a Minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a Terra é Minha; e vós Me sereis um reino sacerdotal e um povo santo” (Êxo. 19:3-6).

[234] Note agora como Deus Se demora sobre o fato de que Ele próprio tinha feito tudo quanto foi feito por eles. Havia-os livrado dos egípcios, e os trazido para Si. Esse era o ponto que estavam continuamente esquecendo, como indicado por suas murmurações. Eles tinham chegado ao ponto de questionar se o Senhor estava entre eles ou não; e suas murmurações sempre indicavam o pensamento de que eles mesmos podiam dirigir as coisas melhor do que Deus. O Senhor os havia conduzido pela passagem da montanha rumo ao Mar Vermelho, e pelo deserto onde não havia alimento nem bebida, e milagrosamente lhes havia suprido suas necessidades em toda ocasião, para fazê-los entender que podiam viver somente segundo a Sua palavra. Deu. 8:3.

O concerto que Deus estabeleceu com Abraão tinha por fundamento fé e confiança. “Abraão creu em Deus, e isso foi-lhe contado por justiça”[21]. Assim, quando Deus, em cumprimento desse concerto, estava livrando Israel da escravidão, todo o Seu trato com eles tinha o fito de ensinar-lhes a confiar nEle, de modo que pudessem, de fato, ser os filhos do concerto.

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A Lição de Confiança

A resposta deles foi a autoconfiança. Leiam o registro de sua desconfiança em Deus no Salmo 106. Ele os havia provado no Mar Vermelho, na concessão do maná, e nas águas em Meribá. Em todas as ocasiões eles haviam falhado em confiar nEle perfeitamente. Agora Ele vem para prová-los uma vez mais, na outorga da lei. Como já aprendemos, Deus nunca intencionou que os homens devessem tentar a justificação pela lei, ou que devessem pensar que tal coisa fosse possível. Na outorga da lei, como mostrado por todas as circunstâncias acompanhantes, Ele determinou que os filhos de Israel, e nós também, aprendêssemos que a lei está infinitamente acima do alcance de todo esforço humano, para tornar claro que uma vez que observar os mandamentos é essencial para a salvação que Ele prometeu, Ele próprio cumprirá a lei em nós. Estas são as palavras de Deus: “Ouve-Me, povo Meu, e Eu te atestarei; ó Israel, se Me ouvires! não haverá entre ti deus alheio, nem te prostrarás ante um deus estranho” (Sal. 81:8, 9). [235] “Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a Mim; ouvi, e a vossa alma viverá” (Isa. 55:3). Sua palavra transforma a alma da morte do pecado para a vida de justiça, tal como trouxe Lázaro da sepultura.

Uma cuidadosa leitura de Êxo. 19:1-6, mostrará que não há indicação de que outro concerto devesse então ser feito. De fato, a evidência aponta ao contrário disso. O Senhor referiu-Se ao Seu concerto—o concerto muito antes feito com Abraão,—e os exortou a observá-lo, dizendo qual seria o resultado de observá-lo. O concerto com Abraão foi, como vimos, um concerto de fé, e eles poderiam cumpri-lo simplesmente mantendo a fé. Deus não lhes pediu para entrarem noutro concerto com Ele, mas somente para aceitarem o Seu concerto de paz, que muito antes havia estabelecido com os pais.

A resposta apropriada do povo, portanto, teria sido, “Amém, que assim seja, ó Senhor, tudo conforme a Tua vontade”. Pelo contrário, eles disseram: “Tudo quanto o Senhor falou, nós faremos[22]; e repetiram sua promessa, com ênfase adicional, mesmo após terem ouvido a lei proclamada. Era a mesma autoconfiança que levou seus descendente a dizerem para Cristo: “Que havemos de fazer para executarmos as obras de Deus?”[23] Imaginem homens mortais pretendendo ser capazes de realizar as obras de Deus! Cristo respondeu: “A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que Ele enviou”[24]. Assim também se deu no deserto do Sinai, quando a lei foi dada e o concerto feito.

A idéia de assumir a responsabilidade de realizar as obras de Deus mostrava falta de apreciação de Sua grandeza e santidade. É somente quando os homens são ignorantes da justiça de Deus, que se põem a estabelecer sua própria justiça, recusando submeter-se à justiça de Deus. Ver Rom. 10:3. As promessas deles de nada valiam, porque não tinham o poder para cumpri-las. O concerto, portanto, que tinha por base essas promessas, era totalmente sem valor no que tangia a conceder-lhes vida. Tudo quanto podiam obter daquele concerto era somente o que podiam obter deles próprios, e isso era a morte. Confiar nisso era fazer um concerto com a morte, e estar de acordo com a sepultura. O terem entrado nesse concerto era uma virtual notificação ao Senhor de que podiam virar-se muito bem sem Ele; que eram capazes de cumprir qualquer promessa que Ele pudesse fazer.

[236] Mas Deus não desistiu deles, “Porque dizia: Certamente eles são meu povo, filhos que não mentirão; assim Ele Se fez o seu Salvador” (Isa. 63:8). Ele sabia que eles haviam sido movidos por bons impulsos ao fazerem aquela promessa, e que não percebiam o que ela significava. Eles tinham zelo por Deus, mas não segundo o conhecimento. Ele os havia trazido da terra do Egito, para poder ensinar-lhes a conhecê-Lo, e não Se irou com eles por serem tão vagarosos em aprender a lição. Ele havia suportado Abraão ao este imaginar que podia levar avante os planos de Deus, e Ele tinha sido muito paciente com Jacó quando ele se revelou tão ignorante ao ponto de supor que a prometida herança de Deus podia ser obtida por barganhas astuciosas e fraudulentas. Assim agora Ele suportava a ignorância e falta de fé de Seus filhos, a fim de que pudesse depois conduzi-los à fé.

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A Divina Compaixão

Deus encontra os homens exatamente onde estão. Ele pode “compadecer-Se ternamente dos ignorantes e errados” (Heb. 5:2). Ele está sempre e por toda parte buscando atrair todos os homens a Si, não importa quão depravados sejam; e, portanto, quando Ele discerne mesmo a mínima evidência de disposição ou desejo de servi-Lo, Ele imediatamente a nutre, fazendo o máximo para que, a partir disso, a alma possa ser conduzida para maior amor e mais perfeito conhecimento. Assim, conquanto os filhos de Israel tivessem falhado nesse supremo teste de confiança nEle, Ele aproveitou sua expressa disposição em servi-Lo, ainda que fosse somente em “seus fracos meios”. Devido à descrença deles, não podiam ter tudo quanto Ele desejava que tivessem[25]; mas o que obtiveram de fato mediante sua falta de fé foi um constante lembrete do que poderiam ter tido, se tivessem crido plenamente. Devido à sua ignorância da grandeza de Sua santidade, que se expressava com a promessa de cumprir a lei, Deus continuou, pela proclamação da lei, a mostrar-lhes a grandeza de Sua justiça, e completa impossibilidade de que a cumprissem.

-- The Present Truth, 10 de dezembro de 1896.



[1] Efésios 2:12;

[2] Hebreus 7:23;

[3] Hebreus 7:25;

[4] Hebreus 7:24;

[5] Apoc. 1:18;

[6] Hebreus 7:16;

[7] Hebreus 7:16, KJV;

[8] Hebreus 8: 1 e 2;

[9] Hebreus 7:22, Almeida Revista e Corrigida. O leitor notará que a palavra “concerto” (“aliança” na Almeida Fiel) é usada ao invés de “testamento” como em outras versões. As palavras “concerto” e “testamento,” são ambas traduzidas de uma e mesma palavra grega, “diathēkē.” Muita confusão resultou porque os tradutores a verteram “concerto” em alguns lugares (Lucas 1:72; Gálatas 3:15; Hebreus 8: 6-10) e “testamento” em outros (Mat. 26:28; 1ª Cor.11:25; 2ª Cor. 3:6; etc). A tradução deveria ser uniforme; e considerando que a referência é para aquela na qual a tradução do hebraico é sempre “concerto,” esta palavra deve ser sempre usada. Seja lembrado que em qualquer tradução da Bíblia em que a palavra “testamento” é encontrada, “concerto” é a palavra que deve ser usada, ou pelo menos subentendida. (Uma possível dúvida talvez permaneça para Gálatas 3:15, onde “testamento” parece ser condizente com o conceito jurídico de manifestação de última vontade, pela qual uma pessoa dispõe, para depois da morte, de parte ou de todos os seus bens. Ou seria isto parte das confusões acima referidas? Talvez sim.

A velha e a nova dispensações são uma melhor designação para o Velho e o Novo Testamentos em que a palavra "testamento" tem o sentido de uma "declaração de última vontade" que necessita a morte de um testador a fim de entrar em vigência. No entanto, esta não é a natureza de concerto eterno de Deus, pois foi eficaz para pecadores por toda a velha dispensação, apesar de Cristo não ter ainda morrido. A velha dispensação então designa os tempos antes da missão de Cristo encarnado à terra e a nova dispensação designa o tempo após o Seu ministério terreno

[10] Rom. 8:2;

[11] Hebreus 7:16;

[12] Tiago 4:14;

[13] Efésios 2:12;

[14] Êxodo 19:5, KJV; a Almeida diz: “se diligentemente ouvirdes a Minha voz”; veja também Deut. 11:22, 6:17; Jeremias 7:23, 11:4, etc...;

[15] Hebreus 8:10; 10:16; Jeremias 31:33, e 32:40;

[16] Gálatas 3:19;

[17] Hebreus 8:9;

[18] Gênesis 9:16 e Hebreus 13:20 Almeida Revista e Corrigida; na Almeida Fiel: “Aliança eterna.” Em Gênesis 17: 7, 13 e 19; Ezequiel 37:26, etc., vemos aliança perpétua. Em todos estes exemplos aliança é sinônimo de concerto e pacto;

[19] Gênesis 12:3 e 28:14;

[20] Efésios 2: 8 e 9;

[21] Romanos 4:3;

[22] Êxodo 19:8;

[23] João 6: 28;

[24] João 6: 29;

[25] Em verdade Deus desejava que eles entrassem na terra prometida, mas “vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade” ( Hebreus 3: 19).