domingo, 8 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 31

O Concerto Eterno, Capítulo 31

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As Promessas Para Israel

Monte Sinai e Monte Sião

“Grande é o Senhor e mui digno de ser louvado, na cidade do nosso Deus, no Seu monte santo. Formoso de sítio, e alegria de toda terra é o monte Sião aos lados do norte, a cidade do grande Rei. Nos palácios dela Deus Se fez conhecer como alto refúgio”. Sal. 48:1-3.

Aqui temos uma exuberância de louvor da habitação de Deus no céu; pois “O Senhor está no Seu santo templo, o trono do Senhor está nos céus” (Sal. 11:4), e de Cristo, “que Se assentou nos céus à direita do trono da Majestade” (Heb. 8:1) o Senhor declara, “Eu tenho estabelecido o Meu Rei sobre Sião, Meu santo monte ”, ou “sobre Sião, o monte de Minha santidade”. Sal. 2:6.

Jesus Cristo, o ungido Rei em Sião, é igualmente o Sumo Sacerdote “para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”[1]. O Senhor tem falado do “Homem cujo nome é Renovo”, que Ele “edificará o templo do Senhor; Ele levará a glória, assentar-Se-á no Seu trono, e dominará, e será sacerdote; e conselho de paz haverá entre os dois”. Zac. 6:12, 13. Assim, ao assentar-Se sobre o trono de Seu pai no céu, Ele é o “ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, que o Senhor fundou, e não o homem”. Heb. 8:2.

Era para esse lugar—para o monte Sião, o monte da santidade de Deus, e ao Santuário sobre o mesmo, o lugar de Sua habitação—que Deus estava conduzindo o Seu povo de Israel quando Ele os libertou do Egito. Quando [222] haviam seguramente passado pelo Mar Vermelho, Moisés cantou essas inspiradas palavras: “Tu os introduzirás, e os plantarás no monte da Tua herança, no lugar que Tu, ó Senhor, aparelhaste para a Tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as Tuas mãos estabeleceram”. Êxo. 15:17.

Mas eles não chegaram lá, porque não “retiveram firme a confiança e o regozijo da esperança até o fim” [2]. “Assim, vemos que não puderam entrar por causa da descrença”[3]. Contudo, Deus não Se esqueceu deles, pois “se não crermos, contudo Ele permanece fiel; Ele não pode negar-Se a Si mesmo [4]. Assim, Ele instruiu Moisés a dizer ao povo para trazer ofertas de ouro e prata e pedras preciosas, junto com outros materiais, e disse: “E Me farão um santuário, para que Eu habite no meio deles. Conforme a tudo o que Eu te mostrar para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus instrumentos[5], assim mesmo o fareis” (Êxodo 25: 8 e 9).

Esse não era o “verdadeiro tabernáculo que o Senhor ergueu”[6], mas um feito pelo homem. O tabernáculo e seu mobiliário eram somente “figuras das coisas que estão no céu”, e não “as próprias coisas celestiais” (Heb. 9:23). Era apenas uma sombra da substância real. Relativamente à sombra consideraremos depois. Mas os fiéis dos tempos antigos sabiam, tal como Estevão em anos posteriores, que “o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens, como disse o profeta: O céu é Meu trono, e a terra o escabelo dos Meus pés. Que casa Me edificareis, diz o Senhor, ou qual o lugar do Meu repouso?” (Atos 7:48, 49). Salomão, durante a dedicação do seu grandioso templo, declarou: “Mas, na verdade, habitará Deus com os homens na terra? Eis que o céu e o céu dos céus não Te podem conter; quanto menos esta casa que tenho edificado!” (2º Crôn. 6:18).

Todos os filhos realmente fiéis de Deus entendiam que o tabernáculo terreno ou templo não era o real lugar de habitação de Deus, mas apenas uma figura, um tipo. O mesmo se pode dizer do mobiliário contido no santuário.

Assim como o trono de Deus se acha em Seu santo templo no céu, também com o tipo desse templo, sobre a Terra, havia uma representação de Seu trono. Uma representação bem débil, é verdade, tão inferior à realidade quanto as obras do homem são muito inferiores às de Deus, sendo contudo uma figura dele. [223] Essa figura do trono de Deus era a arca que continha as tábuas da lei. Alguns poucos textos das Escrituras o demonstrarão.

Êxo. 25:10-22 contém a descrição completa da arca. Era uma caixa feita de madeira, mas completamente recoberta, por dentro e por fora, com fino ouro. Dentro dessa arca o Senhor orientou Moisés a colocar o Testemunho que Ele lhe daria. Isso Moisés fez, pois após isso, ao rememorar a Israel as circunstâncias da outorga da lei, em face de sua idolatria, que levou à quebra das primeiras tábuas, ele disse:—

“Naquele mesmo tempo me disse o Senhor: Alisa duas tábuas de pedra, como as primeiras, e sobe a Mim ao monte, e faze para ti uma arca de madeira. Nessas tábuas escreverei as palavras que estavam nas primeiras tábuas, que quebraste, e as porás na arca. Assim, fiz uma arca de madeira de acácia, alisei duas tábuas de pedra, como as primeiras, e subi ao monte com as duas tábuas na minha mão. Então Ele escreveu nas tábuas, conforme a primeira escritura, os dez mandamentos, que o Senhor vos falara no monte, do meio do fogo, no dia da assembléia; e o Senhor mas deu a mim. Virei-me, pois, desci do monte e pus as tábuas na arca que fizera; e ali estão, como o Senhor me ordenou” (Deut. 10: 1-5).

A cobertura dessa arca era chamada de “propiciatório”[7]. Este era de ouro sólido, batido, e sobre cada extremidade, como parte da mesma peça de ouro, havia um querubim com asas estendidas. “as faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório”. Tendo essas instruções, o Senhor disse: “porás o propiciatório em cima da arca; e dentro da arca porás o testemunho que Eu te darei” (Êxo. 25:17-22).

Deus disse que iria falar-lhes “do meio dos dois querubins”. Assim, lemos: “O Senhor reina, tremam os povos; Ele está assentado entre os querubins, estremeça a terra. O Senhor é [224] grande em Sião, e exaltado acima de todos os povos” (Sal. 99:1, 2). Os querubins ficavam acima do propiciatório, de onde o Senhor falava ao povo[8]. Agora, a expressão propiciatório tem raízes em “propiciação” [graça, misericórdia], assim no propiciatório do tabernáculo terrestre temos a figura do “trono da graça” ao qual somos instados a ir ousadamente, “para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Heb. 4:16).

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Fundamento do Governo de Deus

Os dez mandamentos sobre as duas tábuas de pedra estavam na arca, sob o propiciatório, assim mostrando que a lei de Deus é a base de Seu trono e governo. Segundo o que lemos, “O Senhor reina, regozije-se a Terra; alegrem-se as numerosas ilhas. Nuvens e escuridão estão ao redor dEle; justiça e eqüidade são a base do Seu trono”. “Justiça e juízo são a base do Teu trono; misericórdia e verdade vão adiante de Tua face”. Sal. 97:1, 2; 89:14.

Um vez que o tabernáculo, e tudo quanto ele continha, devia ser feito exatamente segundo o modelo dado a Moisés, e eram “figura das coisas que estão no céu[9], segue-se, necessariamente, que os dez mandamentos sobre as tábuas de pedra eram cópias exatas da lei que é o fundamento do verdadeiro trono de Deus no céu. Isso nos capacita a entender mais claramente como é “mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei” (Luc. 16:17). Enquanto permanecer o trono de Deus, a lei de Deus pronunciada no Sinai permanece inalterada. “Se os fundamentos são destruídos, que pode fazer o justo?” (Sal. 11:3). Se os dez mandamentos—as pedras fundamentais do trono de Deus—forem destruídos, o próprio trono cairia, e a esperança dos justos pereceria. Mas ninguém precisa temer tal catástrofe. “O Senhor está em Seu santo templo; o trono do Senhor está no céu”[10] porque Sua palavra está estabelecida para sempre no céu. Esta é uma das “coisas que não podem ser abaladas”[11].

Agora somos capazes de ver que o Monte Sinai, que é sinônimo de lei, e que na outorga da lei era realmente a corporificação

[225] da terrível lei, é também um tipo do trono de Deus. De fato, na ocasião era realmente o trono de Deus. Ele estava presente sobre ele com todos os Seus santos anjos.

Ademais, o extraordinário terror do Sinai é apenas o terror do trono de Deus nos céus. João teve uma visão do templo de Deus no céu, e do trono, com Deus sentado sobre o mesmo; “e do trono saiam relâmpagos e trovões e vozes”[12]. “E abriu-se no céu o templo de Deus que está no céu, e no Seu templo foi vista a arca da Sua aliança; e houve relâmpagos, vozes e trovões, e um terremoto e grande saraivada”[13]. “Um fogo vai adiante dEle”[14].

O terror do trono de Deus é o mesmo que ocorreu no Sinai—o terror da lei. Contudo, esse mesmo trono é o “trono da graça”[15], ao qual somos exortados a ir ousadamente. Mesmo assim, “Moisés porém se chegou às trevas espessas onde Deus estava” (Êxo. 20:21). Não somente Moisés, mas também “subiram Moisés e Arão, Nadabe e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel”; ao monte; “e viram o Deus de Israel, e debaixo de Seus pés havia como que uma pavimentação de pedra de safira, que parecia com o próprio céu na sua claridade. Deus, porém, não estendeu a Sua mão contra os nobres dos filhos de Israel; eles viram a Deus, e comeram e beberam” (Êxo. 24:9-11). Se não tivesse sido assim, então não teríamos tido uma demonstração positiva do fato de que podemos verdadeiramente ir com ousadia ao trono de graça,—aquele tremendo trono do qual procediam relâmpagos e trovões, e vozes,—e encontrar misericórdia ali. A lei faz com que o pecado abunde, “mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça”[16]. A cruz estava no Sinai, e também lá estava o trono da graça de Deus.

Seja lembrado que é somente “pelo sangue de Jesus” que temos “ousadia para entrar no santo dos santos” (Heb. 10:19). Mas por esse sangue ser-nos-ia tão certa a morte por aproximar-nos do trono de Deus e tomar o Seu nome sobre os nossos lábios, como seria se qualquer um se aproximasse levianamente do Sinai. Mas Moisés e outros se aproximaram de Deus no Sinai, mesmo adentrando as espessas trevas, e não morreram, como uma evidência indiscutível de que o sangue de Jesus os salvou. A fonte viva de Cristo estava fluindo no Sinai, o próprio “rio puro da água da vida, claro como o cristal” que procede “do torno de Deus e do Cordeiro”. Apo. 22:1.

[226] Essa fonte procede do coração de Cristo, na qual a lei estava e é abrigada. Cristo era o templo de Deus, e o Seu coração era o lugar de habitação de Deus. Sabemos que a fonte—de água viva para o povo—procedia de Cristo no Sinai, e que o sangue e a água, que concordam um com o outro[17], vieram do Seu lado no Calvário, —uma corrente de água viva para a vida do mundo. Contudo, embora a cruz do Calvário seja a manifestação mais elevada possível da terna misericórdia e amor de Deus para o homem, é um fato que o terror do Sinai—os terrores do trono de Deus—estavam ali. Havia densas trevas e um terremoto, e o povo estava dominado de um temor mortal, porque ali Deus exibia as terríveis conseqüências da violação de Sua lei. A lei em seu terror aos malfeitores esteve no Calvário também, como esteve no Sinai ou no meio do trono de Deus.

Quando João viu o templo no céu, e o tremendo trono de Deus, ele viu “no meio do trono”, “um Cordeiro como havendo sido morto” (Apoc. 5:6). Assim o rio de água da vida do meio do trono de Deus, procede de Cristo, assim como a corrente do Sinai e do Calvário. O Sinai, o Calvário e Sião, três montes sagrados de Deus, todos convergem em um para aqueles que vão a eles em fé. Em tudo encontramos a terrível e mortal lei de Deus fluindo a nós numa doce e refrigerante correnteza de vida, de modo que podemos cantar,

“Há uma amplidão na misericórdia de Deus,

como a amplidão do mar,

Há uma bondade em Sua justiça

Que é mais do que liberdade” [18].

-- The Present Truth, 3 de dezembro de 1896.



[1] Salmo 110:4;

[2] Hebreus 3:6;

[3] Hebreus 3:19;

[4] 2ª Timóteo 2:13;

[5] Este texto de Êxodo 25: 8 e 9 é da KJV. Na Almeida Fiel no lugar de “instrumentos” aparece “pertences”, e na Almeida Revista e Corrigida “vasos”;

[6] Hebreus 8:2;

[7] Propiciatório, (“mercy seat” em inglês, literalmente = assento, ou, lugar de misericórdia); “em heb. kapporeth; em Gr hilastérion, ‘um meio (ou lugar) de reconciliação’, a tampa, ou cobertura da arca do concerto, embaixo da qual estavam depositadas as taboas da lei, Êxodo 25:17, e Deut. 10:2. A lei e o evangelho— justiça e misericórdia—eram assim intimamente associados no antigo serviço do santuário” (Dicionário Bíblico, Vol. 8 da série SDABC, pág. 729, 2ª coluna). O termo “tem sido assunto de alguma controvérsia. Alguns estudiosos, partindo da raiz kpr = cobrir, traduzem kapporeth como ‘tampa’. Todavia, qualquer que tenha sido o sentido original de kpr, no ritual levítico significa ‘propiciar’ (Novo Dicionário da Bíblia, Edições Vida Nova, São Paulo, 1983, Vol. II, pág. 1555, 2ª coluna. Grifos do orginal).

[8] “Por cima do propiciatório aparecia a glória [de Deus], chamada, no período hebraico pós-bíblico, de Shekinah, o sinal visível da presença de Deus entre Seu povo.” (Dicionário Bíblico, vol. 8 da série SDABC, pág. 729, 2ª coluna). “Esta palavra hebraica (shekinah), usada nos escritos rabínicos judaicos, não é encontrada na Bíblia, embora seja enraizada na terminologia hebraica, desde que vem de shakan, ‘habitar’. Shekinah significa a presença ou proximidade de Deus com Seu povo. Ocorre no Targum, a tradução aramaica do Velho Testamento,’ [para os judeus do cativeiro babilônico que não mais falavam a língua hebraica] ‘...em Deut. 12: 5 onde as palavras nome e habitação são traduzidas como ‘shekinah.’ No Mishnah [a parte da lei moral do Talmude] Mateus 18:20, ú.p. diz: ‘a presença divina [o Shekinah] está no meio deles.’ No Haggadah [a parte de interpretações não-legais do Talmude] o termo Shekinah é usado, freqüentemente, onde as aparições divinas são mencionadas” (Idem, pág. 1020, 1ª e 2ª colunas);

[9] Hebreus 9:23;

[10] Salmo 11:4;

[11] Hebreus 11:27, KJV; a Almeida Revista e Atualizada, edição de 1993 diz “...as coisas que não são abaladas ...”;;

[12] Apoc. 4:5;

[13] Apoc. 11:19;

[14] Salmo 97:3;

[15] Hebreus 4:16;

[16] Romanos 5:20;

[17] 1ª João 5: 8;

[18] Hino 55 do hinário Cantai ao Senhor, com variação dos termos devido à tradução com rima do hino 114 do Hinário Adv. Americano, de autoria de Frederico William Faber, composto em 1862. Do mesmo autor, no atual Hinário Adventista, bem como no Cantai ao Senhor temos ainda os hinos 171 e 258.