domingo, 1 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 13.

O Concerto Eterno, capítulo 13.

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As Promessas Para Israel

Israel – Um Príncipe de Deus

Jacó havia comprado o direito de primogenitura de Esaú por um prato de lentilhas, e mediante engano obteve a bênção da primogenitura de seu pai. Mas ninguém pode, por tais meios, obter a herança que Deus prometeu a Abraão e à sua semente. Ela foi garantida a Abraão mediante a fé, ninguém precisa pensar em herdá-la por meio de força ou fraude. “Nenhuma mentira vem da verdade”1. A verdade nunca pode ser servida pela falsidade. A herança prometida a Abraão e à sua semente foi uma herança de justiça, e, portanto, não poderia ser obtida por coisa alguma injusta. As posses terrenas são amiúde obtidas e mantidas por fraude, mas não a herança celestial. A única coisa que Jacó obteve por sua esperteza e engano foi tornar o irmão um inimigo permanente e estar em exílio, longe da casa de seu pai por mais de vinte anos, nunca mais chegando a ver a sua mãe.

Contudo, Deus havia dito muito antes que Jacó seria o herdeiro, em lugar de seu irmão mais velho. O problema com Jacó e sua mãe foi que imaginaram poder assumir a promessa de Deus a seu próprio modo. Foi o mesmo tipo de erro que Abraão e Sara haviam cometido. Não puderam esperar que Deus levasse a efeito Seus planos à Sua maneira. Rebeca sabia o que Deus havia dito com respeito a Jacó. Ela ouviu Isaque prometendo que daria a bênção a Esaú, e julgou que a menos que interferisse, o plano do Senhor falharia. Ela se esqueceu que a herança estava inteiramente sob o poder do Senhor, e que homem algum (107) poderia ter algo a ver com dar-lhe qualquer destino, exceto rejeitando-a para si próprio. Conquanto Esaú tivesse obtido a bênção de seu pai, Deus teria levado a cabo o Seu próprio plano no tempo devido.

A Escolha de Deus

Assim, Jacó tornou-se duplamente um exilado. Não só era ele um estranho na terra, mas um fugitivo. Deus, porém, não o abandonou. Havia esperança para ele, pecador como fosse. Para alguns pode parecer estranho que Deus preferisse Jacó a Esaú, pois o caráter de Jacó, naquele tempo, não parecia melhor do que o de Esaú. Lembremo-nos que Deus não escolhe homem algum por causa de seu bom caráter. “Porque também nós éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, mentirosos, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros. Mas quando a benignidade de Deus, nosso Salvador, e Seu amor para com os homens, apareceu, não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador; para que, sendo justificados pela Sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna”. Tito 3:3-7.

Deus escolhe homens, não pelo que eles são, mas pelo que pode fazer por meio deles. E não há limite sobre o que Ele pode realizar com os mais vis e depravados, caso apenas tenham disposição e creiam em Sua Palavra. Um dom não pode ser forçado sobre alguém, e, portanto, aqueles que recebem a justiça de Deus, e a herança da justiça, devem estar dispostos a recebê-la. “Tudo é possível ao que crê”2. Deus pode fazer “tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos3, segundo o poder que em nós opera, se apenas crermos em Sua Palavra, que opera eficazmente naqueles que crêem4. Os fariseus eram pessoas muito mais respeitáveis do que os publicanos e prostitutas, contudo Cristo disse que esses entrariam no reino dos céus antes daqueles5; e a razão era que os fariseus confiavam neles próprios, e descriam em Deus, enquanto os publicados e prostitutas criam no Senhor, e submetiam-se (108) a Ele. Assim se deu com Jacó e Esaú. Esaú era um infiel. Ele tratava a palavra de Deus com desprezo. Jacó não era de melhor natureza, mas cria na promessa de Deus, que é capaz de fazer do crente um participante da natureza divina.

Deus escolheu Jacó da mesma maneira como faz com todos os demais. “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; como também nos elegeu nEle antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”. Efé. 1:3, 4. Somos escolhidos em Cristo. E uma vez que todas as coisas foram criadas em Cristo, e nEle todas as coisas subsistem6, é evidente que nos é requerido que O reconheçamos e que nos firmemos nEle pela fé. Não houve mais parcialidade na escolha de Jacó antes de ele ter nascido, do que há na escolha de todos os demais. A escolha não é arbitrária, mas em Cristo, e se ninguém rejeitasse e desprezasse a Cristo, ninguém se perderia.

“Quão rica a graça! A dádiva tão gratuita!

E é de apenas ‘pedir’—e será dado;

É apenas ‘bater’, e verás

A porta se abrindo que conduz ao céu.

Ó, então desperta, e assume o bem,

Tão completa e livremente a ti concedido.

Lembrando que custou o sangue

Daquele que morreu no Calvário”.

A Primeira Lição de Jacó

Conquanto Jacó cresse na promessa de Deus, suficientemente para capacitá-lo a garantir o seu cumprimento por seus próprios esforços, ele não entendeu sua natureza suficientemente bem para saber que somente Deus poderia cumpri-la, mediante a justiça. Assim o Senhor começou a instruí-lo. Jacó estava solitariamente seguindo o seu caminho para a Síria, fugindo da ira de seu ofendido irmão, “e chegou a um lugar onde passou (109) a noite, porque o sol já se havia posto; e tomou uma das pedras7 daquele lugar e pondo-a debaixo da cabeça, deitou-se ali para dormir. E sonhou: e eis uma escada posta sobre a terra, cujo topo tocava o céu; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela; e eis que o Senhor estava por cima dela, e disse: Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra em que estás deitado, Eu a darei a ti e à tua descendência; e a tua descendência será como o pó da terra; dilatar-te-ás para o ocidente, para o oriente, para o norte e para o sul; por em ti em tua descendência serão benditas todas as famílias da terra. Eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; pois não te deixarei até que haja cumprido aquilo de que te tenho falado. E Jacó acordou do seu sono, e disse: Realmente o Senhor está neste lugar; e eu não o sabia. E temeu, e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos céus”. Gên. 28:11-17. RV

Essa foi uma grande lição para Jacó. Antes disso as suas idéias sobre Deus haviam sido muito grosseiras. Ele supunha que Deus estava confinado a um só lugar. Mas, agora que Deus lhe havia aparecido, ele começou a perceber que “Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade”. João 4:24. Ele começou a perceber aquilo que Jesus disse à mulher

samaritana muito depois, que o culto a Deus não depende de qualquer lugar, mas do exame íntimo da alma para encontrá-Lo, onde quer que se encontre. (110) Ademais, Jacó começou a aprender que a herança que Deus prometeu a seus pais, e que ele havia imaginado obter por uma barganha barata, era algo a ser obtido numa maneira inteiramente diferente. Quanto da lição ele aprendeu nessa ocasião não podemos saber; mas sabemos que nessa revelação de Deus o evangelho lhe foi proclamado. Aprendemos que Deus pregou o Evangelho a Abraão nas palavras, Portanto, estamos seguros de que quando o Senhor disse a Jacó, “Em ti e em tua semente todas as famílias da terra serão abençoadas”8, Ele estava pregando o mesmo Evangelho.

Ligado a essa declaração, estava a promessa da terra, e de inumerável posteridade. A promessa feita a Jacó era idêntica à feita a Abraão. A bênção vindoura mediante Jacó e sua semente era idêntica à que viria mediante Abraão e sua semente. A semente é a mesma, ou seja, Cristo e aqueles que são Dele mediante o Espírito; e a bênção vem através da cruz de Cristo.

Tudo isso foi indicado pelo que Jacó viu, bem como pelo que ouviu. Havia uma escada postada sobre a Terra, que se estendia até o céu, fazendo a ligação de Deus com o homem. Jesus Cristo, o Filho unigênito de Deus, é o elo de ligação entre o céu e a Terra; entre Deus e o homem. A escada ligando o céu com a Terra, sobre a qual os anjos de Deus desciam e subiam, era uma representação do que Cristo disse a Natanael, aquele genuíno israelita: “Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem”. João 1:51. O caminho para o céu é a vereda da cruz, e isso é o que foi indicado a Jacó naquela noite. Não por auto-afirmação, mas por negação própria é que são obtidas a herança e a bênção. “Aquele que perder a sua vida” e tudo quanto a vida contém, “a salvará”9.

Aplicando a Lição

Da viagem de Jacó na terra da Síria, não precisamos tratar particularmente. Nos vinte anos que ele serviu a seu tio Labão, ele (111) teve ampla oportunidade de aprender que o engano e a trapaça não trazem vantagem. O curso de ação que ele havia seguido retornou a si próprio, mas Deus estava com ele, e o fez prosperar. Jacó parecia ter guardado no coração a lição que lhe havia sido dada, pois vemos mui pouca indicação de sua disposição natural de levar vantagem nas transações com o seu tio. Ele parece ter confiado o seu caso inteiramente ao Senhor, e ter-se submetido a todo tipo de mau tratamento sem retaliação. Em sua resposta à acusação de Labão de que o havia defraudado, Jacó disse:--

“Estes vinte anos eu estive contigo; as tuas ovelhas e as tuas cabras nunca abortaram, e não comi os carneiros do teu rebanho. Não te trouxe eu o despedaçado; eu o pagava; o furtado de dia como o furtado de noite da minha mão o requerias. Estava eu assim: De dia me consumia o calor, e de noite a geada; e o meu sono fugiu dos meus olhos. Tenho estado vinte anos na tua casa; catorze anos te servi por tuas duas filhas, e seis anos por teu rebanho; dez vezes mudaste o meu salário. Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão e o temor de Isaque não fora comigo, certamente agora me mandarias embora vazio. Deus tem visto a minha aflição e o trabalho das minhas mãos, e repreendeu-te ontem à noite”. Gên. 31:38-42.

Esta foi uma declaração dignificada e controlada, e demonstra que o temor de Isaque e o mesmo espírito nele atuavam. A pregação do Evangelho não havia sido em vão no caso de Jacó; uma grande mudança havia sido operada nele.

Seja feito notar aqui que Jacó nada obteve de sua primogenitura que havia tão sorrateiramente adquirido de seu irmão. Sua propriedade procedia da bênção direta de Deus. E nessa ligação podemos recordar o fato de que a bênção de Isaque era no sentido de que Deus iria abençoá-lo. A herança não era de molde a ser transmitida de pai para filho, como as heranças comuns, mas uma que deve ser para cada um por promessa direta e pessoal de Deus. Para sermos “semente de Abraão e herdeiros conforme a promessa”, devemos ser de Cristo; mas se somos de Cristo, e co-herdeiros com Ele, então somos “herdeiros de Deus”10.

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A Prova Final

Mas Jacó havia cometido um grave erro em sua vida passada, e assim Deus, como um fiel Professor, precisava necessariamente levá-lo novamente ao mesmo terreno. Ele havia pensado em vencer pelo engano: precisa aprender plenamente que “esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé”. I João 5:4.

Quando Rebeca se propôs a mandar Jacó para longe de casa, porque Esaú buscava matá-lo, ela disse: “Agora, pois, meu filho, ouve a minha voz, e levanta-te, acolha-te a Labão, meu irmão, em Harã, e mora com ele alguns dias, até que passe o furor de teu irmão; até que se desvie de ti a ira de teu irmão, e ele se esqueça do que lhe fizeste; então mandarei trazer-te de lá” Gên. 27:43-45. Mas ela não conhecia a natureza de Esaú. Ele era amargo e intolerante. “Assim diz o Senhor: Por três transgressões de Edom, sim, por quatro, não retirarei o castigo; porque perseguiu a seu irmão à espada, e baniu toda a compaixão; e a sua ira despedaçou eternamente, e conservou a sua indignação para sempre.” Amós 1:11 (Edom é Esaú, veja Gên. 25:30 e 36:1). Aqui vemos que, por má que fosse a disposição de Jacó, o caráter de Esaú era muito desprezível.

Conquanto vinte anos tivessem decorrido, a ira de Esaú era tão recente quanto sempre. Quando Jacó enviou mensageiros adiante dele a Esaú, para lhe falar pacificamente, e buscando reconciliar-se com ele, eles voltaram com a informação de que Esaú vinha com quatrocentos homens. Jacó não tinha a mínima chance num confronto com aqueles guerreiros bem treinados; mas ele havia aprendido a confiar no Senhor, e assim o encontramos pleiteando pelas promessas deste modo: —

“Ó Deus de meu pai Abraão, e Deus de meu pai Isaque, o Senhor, que me disseste: Torna-te à tua terra, e a tua parentela, e far-te-ei bem; menor sou eu que todas as beneficências, e que toda a fidelidade que fizeste ao Teu servo; porque com meu cajado passei este Jordão, e agora me tornei em dois bandos. Livra-me, peço-Te, da mão de meu (113) irmão, da mão de Esaú; porque eu o temo; porventura não venha, e me fira, e a mãe com os filhos. E Tu o disseste: Certamente te farei bem, e farei a tua descendência como a areia do mar, que pela multidão não se pode contar.”. Gên. 32:9-12.

Jacó havia uma vez tentado levar a melhor sobre o seu irmão mediante fraude. Ele imaginava que dessa forma poderia tornar-se herdeiro das promessas de Deus. Agora havia aprendido que isso somente poderia ser ganho pela fé, e dedicou-se à oração, a fim de ser livrado de seu irmão. Tendo tomado as providências mais adequadas possíveis para a sua família e rebanhos, permaneceu sozinho para continuar suas petições perante Deus. Ele percebeu que não era digno de nada, e que se ficasse ali sozinho no deserto, pereceria, e sentiu que precisava lançar-se ainda mais sobre a misericórdia de Deus.

“Jacó, porém, ficou só; e lutou com ele um Homem, até que a alva subiu. E vendo Este que não prevalecia contra ele, tocou a juntura de sua coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, lutando com Ele. E disse: Deixa-Me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não Te deixarei ir, se não me abençoares. E disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó. Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste. E Jacó Lhe perguntou, e disse: Dá-me, peço-Te, a saber o Teu nome. E disse: Por que perguntas pelo Meu nome? E abençoou-o ali. E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva.” Gên. 32:24-30.

As pessoas, muitas vezes, falam em lutar com Deus em oração, como Jacó fez. Não há evidência de que Jacó sabia que era o Senhor que estava lutando com ele, até que raiou a manhã, e sua coxa foi deslocada na junta pelo toque de seu antagonista. O Anjo lhe apareceu como um homem, e Jacó, sem dúvida, pensou que estava sendo atacado por um ladrão. Podemos bem imaginar que Jacó estava em terrível angústia pela noite inteira. Aproximava-se rapidamente o tempo em que defrontaria o irado irmão, e ele não ousava encontrá-lo sem a plena garantia de que tudo estava certo entre ele e Deus. Ele devia saber que havia (114) sido perdoado por suas erradas atitudes do passado. Contudo, as horas, que havia reservado para comunicar-se com Deus, foram passadas em luta com um suposto inimigo. Assim podemos estar certos de que, enquanto o seu corpo se empenhava em resistir a seu antagonista, o seu coração elevava-se a Deus em profunda angústia. O suspense e ansiedade daquela noite devem ter sido terríveis.

Jacó era um homem de grande força física e resistência. Cuidar dos rebanhos noite e dia por anos haviam demonstrado isso, e ao mesmo tempo haviam-lhe concedido vigor físico. Assim ele prosseguiu a luta e sustentou sua posição por toda a noite. Mas não foi assim que obteve vitória. Lemos que “na sua força lutou com Deus. Lutou com o Anjo, e prevaleceu; chorou, e Lhe suplicou. Em Betel O achou, e ali falou Deus conosco; sim, o Senhor, o Deus dos exércitos; o Senhor é o Seu nome”. Oséias 12:3-5. Por seu poder Jacó prevaleceu com Deus, mas não por sua força como lutador. Sua força estava em sua fraqueza, como veremos.

Notem que a primeira intuição de Jacó de que o seu Oponente não era meramente um homem comum, foi quando sua coxa foi deslocada por Seu toque. Isso revelou, num instante, quem o seu suposto inimigo era. Não se tratava de um toque humano, mas a mão do Senhor, que ele sentiu. O que fez, então? O que poderia um homem fazer em sua condição? Imagine um homem lutando, quando tanto depende da força de suas pernas, e tendo uma delas subitamente deslocada. Se alguém estivesse caminhando, ou simplesmente parado, em pé, e uma de suas pernas fosse subitamente deslocada numa junta, iria instantaneamente cair ao chão. Esse seria o caso de Jacó, se não tivesse imediatamente se lançado sobre o Senhor, segurando-se nEle com firmeza. Ele, naturalmente, iria agarrar-se ao objeto mais próximo para apoio; mas o conhecimento de que ali estava Aquele a quem desejava encontrar ansiosamente tornaria sua ação de agarrar-se ainda mais involuntária. Sua oportunidade havia chegado, e ele não a deixaria escapar.

Que Jacó imediatamente deteve-se de lutar e agarrou-se ao Senhor não é só evidente pelo fato de que nada mais pôde fazer, mas também pelas palavras do Senhor, “deixa-Me ir”. “Não”, disse Jacó, (115) “Não te deixarei ir”, disse Jacó, “se me não abençoares”. Era um caso de vida ou morte. Sua vida e salvação dependiam de apegar-se ao Senhor. As palavras, “deixa-me ir” eram somente para prová-lo, pois o Senhor não deixa propositalmente nenhum homem. Mas Jacó estava determinado a realmente alcançar uma bênção, e prevaleceu. Foi por sua força que prevaleceu, mas foi pela força da fé. “Quando estou fraco, então sou forte”13. Naquela hora Jacó aprendeu plenamente a lição de que a bênção e a herança vêm, não pela força, mas pelo Espírito do Senhor.

Um Novo Nome

O novo nome foi uma garantia a Jacó de que ele fora aceito. Não lhe conferiu coisa nenhuma, mas era um sinal do que ele já havia obtido. Descansando em Deus, ele havia cessado de suas próprias obras, de modo que não era mais um enganador, buscando alcançar os seus próprios fins, mas o príncipe de Deus, que havia combatido o bom combate da fé, e se havia apegado à vida eterna. Daí em diante seria conhecido como Israel.

Agora ele podia seguir em frente para encontrar seu irmão. Aquele que contemplou a Deus face a face não precisa temer a face do homem. Aquele que tem poder com Deus, com toda certeza prevalecerá com os homens. Esse é o segredo do poder. Que o servo de Deus saiba que, se tiver poder junto aos homens, deve primeiro ser capaz de prevalecer com Deus. Deve conhecer ao Senhor e ter-Lhe falado face a face. A esses o Senhor diz: “porque Eu vos darei boca e sabedoria, a que nenhum dos vossos adversários poderá contradizer nem resistir.” Lucas 21:15. Estêvão conhecia o Senhor, e mantinha comunhão com Ele, e os que odiavam a verdade “não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava”14. Qual, então, não deve ter sido seu poder junto àqueles cujos corações se abriam para receber a verdade?

Nesse relato de Jacó, aprendemos uma vez mais, como a herança que Deus prometeu a Abraão e sua semente deve ser obtida. É somente pela fé. O arrependimento e a fé são os únicos meios de libertação. Por nenhum outro meio podemos esperar ter qualquer parcela dessa herança. (116) Sua inteira salvação jaz em sua dependência da promessa de Deus. Foi assim que ele tornou-se um pleno participante da natureza divina.

Quem São Israelitas?

Também aprendemos quem é Israel. O nome foi dado a ele em sinal de vitória que obteve pela fé. Isso não lhe concedeu nenhuma graça, mas foi um sinal da graça já possuída. Assim será concedida a todos quantos, mediante a fé, vencem, e sobre ninguém mais. Ser chamado um israelita não acrescenta nada a ninguém. Não é o nome que traz a bênção, mas a bênção que traz o nome. Assim como Jacó não possuía o nome por natureza, também ninguém mais pode possuir. O verdadeiro israelita é aquele no qual não há dolo13. Esses somente agradarão ao Senhor; mas “sem fé é impossível agradar a Deus”14. Assim, israelita é somente quem tem fé pessoal no Senhor. “Porque nem todos os que são de Israel são israelitas”; “os filhos da promessa são contados como descendência.” Rom. 9:6, 8.

Que todos quantos professam ser israelitas considerem como Jacó recebeu o nome, e percebam que somente assim pode este ser dignamente atribuído a alguém. Cristo, como a prometida Semente, teve que passar pela mesma luta. Ele lutou e venceu, mediante a Sua confiança na palavra do Pai, e assim tem direito de ser o Rei de Israel. Somente os israelitas compartilharão o reino com Ele; pois os israelitas são vencedores, e a promessa é: “Ao que vencer Eu lhe concederei que se assente Comigo no Meu trono; assim como Eu venci, e Me assentei com Meu Pai no Seu trono.” Apo. 3:21.

The Present Truth, 30 de julho de 1896.

Notas desta edição:

1) I João 2:21;

2) Marcos 9:23;

3) Efésios 3:20;

4) I Tess. 2:13;

5) Mateus 21:31;

6) Colossenses 1:17;

7) O autor “Pede desculpas ao leitor inteligente por fazer referência, neste contexto, à pedra de Scone no assento de coroação da Abadia de Westminster, que alguns supõem ser a pedra em que Jacó dormiu, e que, por sua posição no assento da coroação, supõe-se que identifica a Inglaterra com Israel, e o tornar a raça anglo-saxônica herdeira da promessa a Jacó. Para nada dizer da infundada e nunca comprovada asserção de que a pedra, em questão, seja aquela sobre a qual Jacó dormiu, a idéia, de que a sua posse possa tornar qualquer povo herdeiro das promessas a Israel, faz paralelo com a superstição medieval, de que um homem pode herdar a santidade de um santo que partiu por trajar sua velha camisa.”

Nota complementar, desta edição: A Pedra de Scone, pesa mais ou menos 150 quilos. Scone é uma cidade e um palácio no centro da Escócia, onde a pedra esteve por muitos séculos, desde o ano 400 d.C.. Sobre ela os reis eram coroados. Em 1296 foi trazida para a Inglatera pelo rei Eduardo I, tornou-se símbolo de poder sobre as ilhas, e a própria atual rainha Elizabete II foi coroada sobre esta pedra, em 1953. A história é toda envolvida em brumas de magia e luta, além de muita pilhéria: Como tal bloco de pedra veio da Palestina para a região é um mistério. Quando o cristianismo tentava se impor sobre o paganismo dizia-se que Jacó recebeu sonhos sobre o futuro ao dormir com a cabeça nesta pedra, assim ela é chamada também de Pedra do Destino. Estes acréscimos em vermelho são pesquisas minhas na Internet, mas não têm que aparecer necessariamente nesta edição, exceto se os irmãos assim o quiserem.

8) Gênesis 12:13 e 28:14;

9) Marcos 8: 35 e Lucas 9:24;

10) Gálatas 3:29 e Romanos 8:17;

11) II Coríntios 12:10;

12) Atos 6:10;

13) Ver João 1:47;

14) Hebreus 11:6;