domingo, 8 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 20

O Concerto Eterno, Capítulo 20

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Por Ellet J. Waggoner
AS PROMESSAS PARA ISRAEL

Salvo pela Vida

De Moisés nós lemos: “Pela fé deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível. Pela fé celebrou a páscoa e a aspersão do sangue, para que o destruidor dos primogênitos lhes não tocasse.” (Heb. 11: 27 e 28).

Não foi na primeira vez, quando fugiu do Egito com medo, que Moisés renunciou o Egito pela fé, mas quando ele saiu, depois de ter observado a páscoa. Então a ira do rei não era nada para ele, porque “ficou firme, como vendo o invisível.” Ele estava sob a proteção do Rei dos reis.

Embora esta passagem fale somente de Moisés, não necessitamos supor que era ele o único dos filhos de Israel que tinha fé; porque lemos no próximo verso, no plural, que “pela fé passaram o Mar Vermelho”1. Mas mesmo que fosse verdade o fato de somente Moisés, de todo o povo, ter deixado o Egito pela fé, este fato provaria que todos tinham que ter saído (*do Egito) pela mesma maneira, e que toda a libertação foi uma obra de fé.

“Ele ficou firme, como vendo o invisível.” Moisés viveu do mesmo modo que os verdadeiros cristãos da presente época vivem. Eis aqui o paralelo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a Sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não pode murchar, [151] guardada nos céus para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo, Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; Ao qual, não O havendo visto, amais; no qual, não O vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; Alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.” 1ª Pedro 1: 3-9.

Moisés e os filhos de Israel foram chamados para a mesma herança que nós. A promessa era para eles em Cristo, tanto quanto para nós. Era uma herança para ser ganha somente pela fé em Cristo, e aquela fé era para ser tal que faria de Cristo uma real, e pessoal presença, embora invisível. E mais, a base da fé e da esperança era a ressurreição de Jesus Cristo dentre mortos. Cristo então, como agora, era a Cabeça da igreja. A verdadeira igreja não tem, e nunca teve outra cabeça a não ser uma Cabeça invisível. Eras antes de ter nascido como um neném em Belém “O Santo de Israel”2 foi dado para ser “líder e governador dos povos” (Isa. 55: 4).

Vemos, portanto que a fé pessoal em Cristo era a base da libertação de Israel do Egito. Isto foi mostrado na observância da páscoa. As coisas chegaram a um ponto de crise. Faraó havia persistido em obstinada resistência até que a misericórdia do Senhor não teve mais efeito sobre ele. Que Faraó agiu deliberadamente, e pecou contra a luz que recebeu, é mostrado por sua própria declaração depois dos gafanhotos terem sido enviados. Ele chamou a Moisés e a Arão, e disse, “Pequei contra o Senhor vosso Deus, e contra vós. Agora, pois, peço-vos que perdoeis o meu pecado somente desta vez, e que oreis ao Senhor vosso Deus, que tire de mim somente esta morte.” Ex. 10: 16 e 17. Ele chegou a conhecer o Senhor, e ele sabia que rebelião contra Ele era pecado, e, no entanto, tão logo houve uma pausa ele foi obstinado como sempre. Ele definitiva e completamente rejeitou todas as propostas de Deus, e nada Lhe restou senão executar tais julgamentos sobre ele, como que para compeli-lo a desistir de sua opressão, e deixar Israel ir.

A Primeira Páscoa

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Era a última noite em que os filhos de Israel deveriam permanecer no Egito. O Senhor estava para trazer Seu último grande juízo sobre o rei e sobre o povo do Egito na destruição dos primogênitos. Os filhos de Israel foram instruídos a tomar um cordeiro “sem mácula,” e a matá-lo à tarde, e comer a carne. “E tomarão do sangue, e pô-lo-ão em ambas as ombreiras, e na verga da porta, nas casas em que o comerem.”... “É a páscoa do Senhor. E Eu passarei pela terra do Egito esta noite, e ferirei todos os primogênitos na terra do Egito, desde os homens até aos animais; e em todos os deuses do Egito farei juízos. Eu sou o Senhor. E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo Eu o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando Eu ferir a terra do Egito.” Êxodo 12: 5 a 13.

O sangue daquele cordeiro não os salvou, e eles bem o sabiam. O Senhor disse a eles que era “um sinal”. Era um sinal de sua fé que representava, nominalmente, “o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e sem mancha,” “Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós”, 1ª Cor. 5:7. O sangue do cordeiro era, portanto, somente um sinal do sangue do Cordeiro de Deus; e os que “ficam firmes, como vendo o invisível”3 entenderam isto.

“A vida da carne está no sangue”, Lev. 17: 11. No sangue de Cristo, isto é, na Sua vida, temos redenção, a saber, o perdão dos pecados; porque Deus O estabeleceu “para ser a propiciação, pela fé, no Seu sangue, para demonstrar a Sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus”, Romanos 3: 25. Deus passa por cima dos pecados, não que Ele Se comprometa com eles, mas porque “o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado”, 1ª João 1: 7. A vida de Cristo é a justiça de Deus, “porque do coração procedem as fontes da vida”4, e a lei de Deus estava em Seu coração como perfeita justiça. A aplicação do sangue ou da vida de Cristo é, portanto, a aplicação da vida de Deus em Cristo; e isto é o tirar do pecado.

[153] O aspergir do sangue sobre os portais significa o que foi dito posteriormente: “O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças. E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração... E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas”, Deut. 6: 4-9. A justiça da lei de Deus é encontrada somente na vida de Cristo. Pode estar no coração somente quando a vida de Deus em Cristo estiver no coração, para limpá-lo de todo o pecado. Pondo o sangue nas ombreiras das portas da casa era o mesmo que escrever a lei de Deus nas ombreiras dos portais da casa e nos portões; e indicava nada mais do que viver em Cristo,sendo encampado por Sua vida.

Cristo é o Filho de Deus, cujo prazer era fazer a vontade do Pai. Ele é a nossa Páscoa, o mesmo que Ele era para os filhos de Israel no Egito, porque Sua vida é eterna e indestrutível, e aqueles que estão vivendo nela, pela fé, compartilham de sua segurança. Nenhum homem ou demônio pode tomar a vida dEle, e o Pai O amou, e não tinha nenhum desejo de tomar a vida dEle. Ele livremente a depôs e tornou a tomá-la. Habitar nEle, portanto o que era significado pelo aspergir do sangue sobre as ombreiras dos portais é estar livre do pecado, e, portanto, estar livre da ira de Deus que vem sobre os filhos da desobediência.5

Jesus Cristo é “o mesmo ontem e hoje e eternamente”, Heb.13: 8. Fé no Seu sangue, que era simbolizado pelo aspergir do sangue do cordeiro sobre as portas das casas, cumpre o mesmo hoje como sempre o fez. Quando celebramos a Santa Ceia de Deus, que foi instituída no tempo da páscoa na qual o Senhor foi traído e crucificado, celebramos a mesma coisa que os egípcios comemoraram no Egito. Eles estavam ainda no Egito quando celebraram a primeira páscoa. Foi um ato de fé, demonstrando a confiança deles em Cristo como seu prometido Libertador. Assim nós, pelo emblema do sangue de Cristo, mostramos nossa fé em Sua vida para nos preservar da destruição que está vindo sobre a terra, devido ao pecado. Naquele dia o Senhor irá salvar aqueles cuja vida esta escondida com Cristo em Deus, “como um homem poupa a seu filho, que o serve”, Mal. 3:17. E Há de ser pela mesma razão, porque Deus poupa Seu próprio Filho, e os homens são poupados nEle.

[154] A Última Páscoa

Quando Cristo celebrou aquela última Páscoa com Seus discípulos, Ele disse, “Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça; Porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus”, Lucas 22: 15 e 16. Disto aprendemos que a instituição da páscoa tem ligação direta com a vinda do Senhor para punir os maus e livrar o Seu povo. Assim, é-nos dito, “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha”, 1ª Cor. 11: 26. A morte de Cristo nada é sem a ressurreição. E a ressurreição de Cristo simplesmente significa a ressurreição de todos os que estão escondidos em Sua vida. É pela Sua ressurreição que Ele nos gera para uma viva esperança incorruptível, incontaminável, e que não pode murchar6; e a mesma fé e a mesma herança foi prometida a Abraão, Isaque e Jacó, a quem Deus estava preparando para liderar os filhos de Israel, era “uma pátria melhor, isto é, a celestial”7.

O “aspergir do sangue” (compare Ex. 12: 5-14; Heb. 11: 27 e 28; 12: 24; e I Pedro 1: 2-10) é o grande elo que nos une em nossa experiência cristã com o antigo Israel. Mostra que a libertação, que Deus estava operando por eles, era idêntica àquela que Ele está agora obrando em nós. Nos une a eles em um Senhor e uma fé. Cristo estava realmente tão presente com eles como quanto está conosco. Eles podiam suportar ver Aquele que é invisível, e nós não podemos fazer mais (*que eles). Ele foi “morto desde a fundação do mundo”8, e, portanto, ressuscitado desde a fundação do mundo, assim todos os benefícios de Sua morte e ressurreição devem ser usufruídos por eles tanto quanto por nós. E a liberação, que Ele estava operando por eles, era bem real. A esperança deles estava na vinda do Senhor para ressuscitar os mortos, e assim completar a libertação, e nós temos a mesma bendita esperança. Tomemos exemplo de seus subseqüentes fracassos, e guardemos a nossa confiança inicial firmes até o fim9.

[155] A partir deste ponto nosso caminho será muito mais simples, porque poderemos ver claramente, a cada passo do caminho, que estamos apenas estudando as maneiras de Deus lidar com Seu povo no plano da salvação, e que estamos observando Seu poder para salvar e para conduzir a obra de proclamar o Evangelho. “Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança”10.

The present Truth, 17 de Setembro de 1896.

Notas desta edição:

1) Heb. 11: 29;

2) “O Santo de Israel”, expressão amplamente encontrada nas Escrituras Sagradas:

Lev. 22: 3; II Samuel 23: 1; II Reis 19: 22; Sal. 71: 22; 78: 41; 89: 18; Is. 1: 4 e 5: 19 e 24 e 10: 17;

3) Heb. 11: 27;

4) Provérbios 4: 23;

5) Efésios 5: 6;

6) I Pedro 1: 4;

7) Heb. 11: 16;

8) Apoc. 13: 8;

9) Heb. 3: 14;

10) Rom. 15: 4.