domingo, 8 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 28

O Concerto Eterno, Capítulo 28

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As Promessas Para Israel

A Introdução da Lei

(parte 01)

“Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; para que, assim como o pecado reinou na morte, assim também graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor” (Rom. 5:20 e 21).

O objetivo da introdução da lei no Sinai foi “para que a ofensa abundasse”. Não que pudesse haver mais pecado; pois uma vez que somos advertidos a não continuar em pecado para que graça abunde, é evidente que o justo Deus não iria deliberadamente introduzir o pecado a fim de que pudesse ter uma oportunidade de exibir mais graça. A lei não é pecado, mas tem o efeito, por sua própria justiça, de fazer com que o pecado apareça como realmente é, “a fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse excessivamente maligno” (Rom. 7:13). O objetivo, portanto, da outorga da lei no Sinai foi fazer com que o pecado, que já era existente, se apresentasse em sua verdadeira natureza e extensão, de modo que a superabundante graça de Deus pudesse ser apreciada em seu verdadeiro valor.

A introdução da lei fez como que a ofensa abundasse. Mas o pecado que a lei fez abundar já existia; “porque até à lei já estava o pecado no mundo...” conseqüentemente, a lei também estava no mundo antes de ter sido dada no Sinai, bem como depois, pois “o pecado não é imputado não havendo lei” (Rom. 5:13). A Isaque Deus disse “Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandado, os Meus preceitos, os Meus estatutos e as Minhas leis” (Gên. 26:5). A bênção de Abraão foi a do perdão dos pecados, “e [200] recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé, que teve quando ainda era incircuncidado, para que fosse pai de todos os que crêem, embora não fossem circuncidados; a fim de que a justiça lhes seja imputada também” (Rom. 4:11, KJV). Antes de os filhos de Israel terem alcançado o Sinai, quando o maná primeiro caía, Deus disse que os estava testando se andavam “em Minha lei ou não” (Êxo. 16:4).

É evidente, portanto, que a outorga da lei no Sinai não fazia nenhuma diferença que fosse na relação entre os homens e Deus. A mesma lei existia antes desse tempo, tendo o mesmo efeito, ou seja, mostrar aos homens que eram pecadores; e toda a justiça, que a lei requer, e tudo quanto é possível para qualquer homem ter, havia sido possuído pelos homens de fé, da qual Enoque e Abraão são notáveis exemplos. A única razão, portanto, para a outorga da lei no Sinai foi dar aos homens um senso mais vívido de sua tremenda importância, e a terrível natureza do pecado que ela proíbe, e levá-los a confiar em Deus, em vez de em si próprios.

As circunstâncias que acompanharam a outorga da lei foram designadas a produzir este efeito. Nenhum evento de tão tremenda majestade e poder havia jamais sido experimentado pelo homem. Nem ocorreu algo igual desde então. O evento da outorga da lei no Sinai será assemelhado e superado somente pela segunda vinda de Cristo, “para tomar vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo” e “para ser glorificado nos Seus santos e para Se fazer admirável em todos os que tiverem crido”. 2 Tess. 1:8 e10.

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Paralelos

Por ocasião da outorga da lei, “o monte Sinai fumegava” (Êxo. 19:18). Por ocasião do Segundo Advento, “o Senhor mesmo descerá do céu”, “em labareda de fogo”. (1 Tess. 4:16; 2 Tess. 1:8).

Quando Deus veio ao Sinai, enviando de Sua mão direita “o fogo da lei” “Ele veio com dez milhares de santos” [201] (Deut. 33:1, 2). Os anjos de Deus—os exércitos do céu, —estavam todos presentes na outorga da lei. Mas muito antes desse tempo, Enoque, o sétimo desde Adão, havia profetizado sobre a segunda vinda de Cristo, dizendo, “Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos para executar juízo” (Judas 14, e 15). Por ocasião de Sua volta em glória, Ele terá “todos os santos anjos com Ele” (Mat. 25:31).

Deus desceu ao Sinai para proclamar Sua santa lei a Seu povo. À “Sua direita havia para eles o fogo da lei”. Essa lei do Sinai era uma descrição verbal da própria justiça de Deus. Mas quando Ele vier a segunda vez, até “os céus anunciarão a Sua justiça; pois Deus mesmo é o juiz” (Salmo 50:6).

Para anunciar a presença de Deus sobre o Sinai, em condição real, “o sonido da buzina ia crescendo cada vez mais” (Êxo. 19:19). Assim, a segunda vinda de Cristo será proclamada pela “trombeta de Deus”. “Porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1 Cor. 15:52; Mat. 24:31).

Quando a trombeta soou por longo tempo e em alto volume no Sinai, “Moisés falava, e Deus lhe respondia por uma voz” (Êxo. 19:19). Então o Senhor proclamou todas as palavras dos dez mandamentos “do meio do fogo, da nuvem e da escuridão, com grande voz; e nada acrescentou” (Deu. 5:22). De igual maneira, “Virá o nosso Deus, e não guarda silêncio; diante dEle há um fogo devorador, e grande tormenta ao Seu redor. Chamará os céus lá do alto e a terra, para julgar o Seu povo” (Sal. 50: 3, 4). “O Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, e com a voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus” (1 Tes. 4:16).

Mas a vinda do Senhor para o juízo será maior do que Sua vinda para proclamar Sua lei: pois então ninguém dentre o povo O viu. “E o Senhor vos falou do meio do fogo; ouvistes o som de palavras, mas não vistes forma alguma; tão-somente ouvistes uma voz” (Deu. 4:12). Mas quando Ele vier a segunda vez, “todo olho O verá, até mesmo aqueles que O traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre Ele” (Apo. 1:7).

[202] Finalmente, ocorre um paralelo no que se refere à diferença no efeito da voz de Deus: Quando Deus pronunciou a Sua lei desde o Sinai, “todo o monte tremia grandemente” (Êxo. 19:18). “A terra se abalava e os céus gotejavam perante a face de Deus; o próprio Sinai tremeu na presença de Deus, do Deus de Israel” (Sal. 68:8). “A terra se abalou e tremeu” (Sal. 77:18). Contudo, muito maior será o efeito daquela voz quando do segundo advento. Do Sinai, Sua “voz . . . abalou então a terra; mas agora tem Ele prometido, dizendo: Ainda uma vez hei de abalar não só a terra, mas também o céu” (Heb. 12:26). “Os céus passarão com grande estrondo” (2 Ped. 3:10), pois “os poderes dos céus serão abalados” (Mat. 24:29).

Maravilhosas semelhanças encontramos entre a vinda do Senhor para dar a lei no Sinai, e Sua vinda para julgar no fim do mundo; e veremos, antes de concluir, que as semelhanças não são de modo algum acidentais.

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A Ministração da Morte

“O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei” (1 Cor. 15:56).

A lei foi introduzida com o propósito de tornar os pecados do povo evidentes do modo mais óbvio. O pecado que jaz adormecido, é somente percebido levemente por seus contornos pela Luz que ilumina todos os homens, porque aquela Luz foi tomada como uma questão costumeira,—o pecado de cujo poder somos inconscientes, porque nunca entramos em combate mortal com ele, salta à vida e atividade quando a lei é introduzida. “Porquanto sem a lei está morto o pecado” (Rom. 7:8). A lei estabelece o pecado em seu verdadeiro caráter e magnitude, e o arma com o seu poder—o poder da morte. “Porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rom. 3:20). Assinalar o pecado e mostrar sua terrível força é o único propósito da lei.

Mas a morte vem pelo pecado. “Portanto, como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram” (Rom. 5:12). Aonde vai o pecado, ali vai a morte. O pecado não traz a morte meramente em sua esteira; ele a traz no seu seio. O pecado e a morte são inseparáveis; cada qual faz parte do outro. É impossível deixar a [203] porta suficientemente aberta para permitir que o pecado se introduza, e deixar a morte de fora. Não importa quão pequenas sejam as frestas, se tiver suficiente tamanho para admitir o pecado, a morte se introduzirá também.

Uma vez que o pecado já existia antes que a lei fosse outorgada no Sinai, a introdução da lei proclamava uma maldição, pois está escrito: “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las” (Gál. 3:10). Essa maldição é a morte, porque foi a maldição que Cristo carregou por nós. É evidente, portanto, que a outorga da lei no Sinai foi a ministração da morte. “A lei opera a ira”[1]. Todas as circunstâncias, que acompanharam o evento, dão testemunho disso. Os relâmpagos e trovões, o fogo devorador, o monte fumegante, e o tremor da terra, tudo comunicava morte. O Monte Sinai, por si mesmo um símbolo da Divina lei quebrada, foi morte para quem quer que o tocasse. Não seriam necessárias as barreiras ao redor da montanha para manter o povo à distância, após a terrível voz de Deus ter sido ouvida proclamando a Sua lei; pois quando o povo ouviu e viu, “retirou-se e pôs-se de longe, e disseram ... não fale Deus conosco, para que não morramos” (Êxo. 20:18, 19).

“O pecado, tomando ocasião pelo mandamento, me enganou, e por ele me matou” (Rom. 7: 11); pois “O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei”[2]. Era impossível que houvesse uma lei concedida que transmitisse vida. Mas não seria necessário que assim fosse; e isso veremos claramente quando, à luz das revelações previamente feitas a Israel, consideramos a razão mais profunda.

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Por Que Foi Dada a Lei

Iria Deus zombar do povo por dar-lhes uma lei que nada lhes transmitisse a não ser a morte? Longe disso, “Na verdade Ele ama o povo”; e nunca o amou mais do que quando “à Sua direita havia para eles o fogo da lei” (Deut. 33: 3 e 2).

Seja lembrado que, conquanto “Veio . . . a lei para que a ofensa abundasse”, contudo, “onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rom. 5:20). Sendo que é a lei que torna o pecado mais abundante, onde sua terrível magnitude pode ser mais claramente definida do que no [204] Sinai? Mas, desde que “onde o pecado abundou, superabundou a graça”, então é evidente que no Sinai podemos ver mais claramente a amplidão da graça de Deus. Não importa quão grandemente o pecado abunde, nesse mesmo lugar a graça superabunda. Que dizer, porém, do “monte que ardia em fogo até ao meio dos céus”?[3] Ainda temos a garantia de que “a Tua benignidade se estende até aos céus, e a tua verdade chega até às mais altas nuvens” (Sal. 108:4). “Pois assim como o céu está elevado acima da terra, assim é grande a Sua benignidade para com os que O temem” (Sal. 103:11).

Jesus é o Confortador. “Se alguém pecar, temos um Confortador para com o Pai, Jesus Cristo, o justo” (1 João 2:1. RV[4]). Assim, quando os Seus discípulos estavam acabrunhados, por Ele lhes ter dito que partiria e os deixaria, Ele lhes prometeu: “Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre, a saber, o Espírito da verdade” (João 14:16, 17). Enquanto Cristo esteve sobre a Terra, Ele era, como se poderia dizer, a encarnação do Espírito; mas Ele não teria a Sua obra limitada, assim declarou: “vos convém que Eu vá; pois se Eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se Eu for, vo-lo enviarei. E quando Ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (João 16:7, 8).

Atentem bem ao fato de que a primeira obra do Confortador é convencer do pecado. A espada do Espírito é a Palavra de Deus, que “penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Heb. 4:12). Contudo, mesmo quando enviando a mais profunda e sincera convicção, o Espírito é o Consolador. Ele, não é menos Consolador em convencer do pecado do que em revelar a justiça de Deus para a remissão do pecado. Há conforto na convicção que Deus envia. O cirurgião que corta até o osso a fim de remover uma substância geradora de morte da carne, fará isso somente se puder com êxito aplicar o óleo curativo.

O grande pecado dos filhos de Israel foi a descrença—confiar em si em lugar de confiar em Deus. A lei foi introduzida de um modo calculado a dar um golpe de morte a sua vã auto-confiança e para realçar o fato de que somente pela fé, não pelas obras do homem, é que se obtém a justiça. [205] Na própria outorga da lei é mostrada a dependência do homem de Deus somente para justificação e salvação, uma vez que os homens nem sequer podiam tocar o monte onde a lei foi pronunciada, sem perecer. Como, pois, pode se supor que Deus jamais designou que qualquer homem pudesse imaginar por um momento que poderia obter a justiça pela lei? No Sinai Cristo, o Crucificado, foi pregado em tons designados a alcançar todas as pessoas, mesmo quando toda a terra foi abalada.

-- The Present Truth, 12 de novembro de 1896.



[1] Romanos 4:15;

[2] I Cor 15: 56;

[3] Deuteronômio 4: 11;

[4] RV, ou ERV (English Revised Version) foi uma edição que surgiu em 1881/1885, se propondo ser uma revisão da KJV. A versão do texto citada pelo autor está à margem daquela edição.