domingo, 1 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, capítulo 5.

O Concerto Eterno, capítulo 5.

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O Chamado de Abraão

Fazendo um Concerto

O capítulo 15 de Gênesis contém o primeiro relato do concerto [aliança] feito com Abraão. “Depois destas coisas veio a palavra do SENHOR a Abrão em visão, dizendo: Não temas, Abrão, Eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão.

Observe a afirmação de Deus de que Ele mesmo era a recompensa, o “galardão” de Abraão. Se somos de Cristo, então somos semente de Abraão, e herdeiros conforme a promessa. Herdeiros de que?—“herdeiros de Deus, e co-herdeiros com Cristo” (Romanos 8:17). A mesma herança é mencionada pelo salmista: “O SENHOR é a porção da minha herança ...” (Salmo 16:5). Portanto aqui, novamente, temos uma conexão do povo de Deus com Abraão. A esperança deles nada mais é do que a promessa de Deus a ele.

A promessa que Deus fez a Abraão não era para ele somente, mas igualmente para a sua descendência. Pelo que Abraão disse ao Senhor, “Senhor DEUS, que me hás de dar, pois ando sem filhos, e o mordomo da minha casa é o damasceno Eliézer? Disse mais Abrão: Eis que não me tens dado filhos, e eis que um nascido na minha casa será o meu herdeiro” (Gênesis 15:2). Abraão não conhecia o plano do Senhor. Ele conhecia a promessa, e creu nela, mas considerando que era velho, e não tendo filhos, ele supôs que a semente prometida deveria vir por meio de seu fiel servo. Mas este não era o plano de Deus. Abraão não deveria ser o progenitor de uma raça de escravos, mas sim, de homens livres

(54) E eis que veio a palavra do SENHOR a ele dizendo: “Este não será o teu herdeiro; mas aquele que de tuas entranhas sair, este será o teu herdeiro. Então o levou fora, e disse: Olha agora para os céus, e conta às estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência. E creu ele no SENHOR, que imputou-lhe isto por justiça” (Gênesis 15:4-6).

“E ele creu no Senhor”. A raiz do verbo traduzido como creu é a palavra “amém.” Cuja idéia é a de firmeza, um alicerce. Quando Deus falou a promessa, Abraão disse “amém”, ou, em outras palavras, ele edificou sobre Deus, tomando a Sua palavra como uma firme base. Compare com Mateus 7:24 e 25.1

Deus prometeu um grande lar a Abraão. Mas essa casa deveria ser edificada sobre o Senhor, e Abraão assim o entendeu, que começou imediatamente a edificar. Jesus Cristo é o fundamento, “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (I Coríntios 3:11). Os descendentes de Abrão são a casa de Deus, os quais são “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra angular” Efésios 2:20). “E, chegando-vos para Ele, pedra viva, reprovada na verdade pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa. Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; E quem nela crer não será confundido”(I Pedro 2:4-9).

“Abraão creu no SENHOR, que imputou-lhe isto por justiça”. Por que?—Porque fé significa edificar sobre Deus e Sua palavra, e isto significa receber a vida de Deus e Sua Palavra. Note os últimos versos, citados de Pedro, que o alicerce sobre o qual a casa é edificada é uma pedra viva. O Alicerce é um fundamento vivo, do qual aqueles que vêm a Ele recebem vida, portanto a casa, que é edificada, é uma casa viva. Cresce mediante a vida do fundamento. Porém, o fundamento é justo: “Para anunciar que o SENHOR é reto. Ele é a minha Rocha, e nEle não há injustiça” Salmo 92:15). Portanto, desde que fé significa edificar sobre Deus e Sua (55) santa Palavra, isto é auto-evidência de que fé deve ser justiça para aquele que a possui e a exercita.

Jesus Cristo é a fonte de toda fé. A fé tem seu início e fim nEle. Não pode haver fé real que não se centralize em Cristo. Assim, quando Abrão creu no Senhor, ele creu no Senhor Jesus Cristo. Deus nunca Se revelou ao homem, exceto por meio de Cristo. João 1:182. O fato de que a crença de Abraão era fé pessoal no Senhor Jesus Cristo, é também mostrado pelo fato de que isso lhe foi imputado por justiça. Mas não há justiça, exceto pela fé de Jesus Cristo, “O qual para nós foi feito por Deus Sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” I Coríntios 1:30). Nenhuma justiça terá o menor valor quando o Senhor vier, exceto “a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé” (Filipenses 3:9). Mas, considerando que o próprio Deus considerou a fé de Abraão como justiça, é evidente que a fé dele estava centralizada unicamente em Cristo, de quem procedia sua justiça.

E isto, por si só, demonstra que a promessa de Deus a Abraão foi somente mediante Cristo. A semente seria unicamente aquela que é pela fé em Cristo, porque Cristo mesmo é a semente. A posteridade de Abraão, que deveria ser como as estrelas em número, será a inumerável hoste que lava suas vestes no sangue do Cordeiro. As nações, que haveriam de proceder dele, serão “as nações dos salvos” (Apocalipse 21:24). Compare com Mateus 8:113. “Porque quantas são as promessas de Deus tantas têm nEle o sim; porquanto também por Ele é o amém” (II Coríntios 1:20), Almeida Revista e Atualizada no Brasil).

“Naquele mesmo dia fez o SENHOR uma aliança com Abrão, dizendo, À tua descendência dei esta terra” etc. (Gênesis 15:18). A dádiva deste concerto está registrada nos versos anteriores. Primeiro temos a promessa de uma inumerável posteridade, e da terra. Deus disse: “Disse-lhe mais: Eu sou o SENHOR que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te a ti esta terra, para herdá-la” (verso 7). Este verso deve ser mantido na mente ao ler o verso 18, para não captarmos a impressão errada de que houve algo que foi prometido à descendência de Abraão somente, e não a ele. “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência” (Gálatas 3:16). Nada foi prometido aos descendentes, que não tenha sido também prometido a Abraão.

(56) Abrão creu no Senhor, entretanto disse: “Senhor DEUS, como saberei que hei de herdá-la?”4. Então, temos o relato da divisão em duas partes da bezerra, da cabra e do cordeiro. Refere-se a ele em Jeremias 34:18-20, quando Deus reprovou o povo por transgredir a aliança.

“E pondo-se o sol, um profundo sono caiu sobre Abrão; e eis que grande espanto e grande escuridão caiu sobre ele. Então disse a Abrão: Sabes, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos; mas também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá com grande riqueza. E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado. E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia”G (Gên 15: 12-16).

Vimos que esse concerto foi uma aliança de justiça pela fé. Porque a descendência prometida e a terra seriam pela fé na palavra de Deus, que foi imputada como justiça a Abraão.5 Vejamos agora o que mais podemos aprender dos textos citados anteriormente.

Por um lado aprendemos que Abraão haveria de morrer antes que a possessão lhe fosse outorgada. Ele haveria de morrer bem velho, e sua descendência seria forasteira em terra estrangeira durante quatrocentos anos.

Não somente o próprio Abraão estaria morto, mas também seus descendentes imediatos estariam também mortos antes que a semente entrasse na terra que havia sido prometida a eles. De fato, sabemos que Isaque morreu antes que os filhos de Israel fossem ao Egito, e que Jacó e todos seus filhos morreram na terra do Egito.

“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência”6. O capítulo que temos diante de nós, diz a mesma coisa. É evidente que uma promessa, feita à semente de Abraão, não pode cumprir-se por outorgar o que foi prometido somente a uma parte da semente; e o que foi prometido a Abraão e à sua semente não pode cumpri-se, a menos que Abraão participe, bem como sua semente.

O que isto demonstra? – Simplesmente isto, que a promessa do capítulo 15 de Gênesis, segundo a qual Abraão e sua semente haveriam de possuir a terra, era uma referência à ressurreição dos mortos, e a (57) nada menos que isso. Isto é verdade, embora possa ser alegado que o verso 18 exclui Abraão da aliança ali mencionada;7 porque, como vimos, está claro que muitos dos descendentes imediatos de Abraão estariam mortos antes do tempo da promessa; e sabemos que Isaque, Jacó e os doze patriarcas morreram muito antes desse tempo.

Mesmo que Abraão seja deixado fora da questão, ainda permanece o fato de que a promessa à semente tem que incluir toda a semente, e não somente uma parte. Mas Abraão não pode ser deixado fora da promessa. Portanto temos positiva evidência de que neste capítulo temos o registro da pregação de “Jesus e a ressurreição” a Abraão.

Para Ser Cumprido Depois da Ressurreição

Isto nos habilita a compreender melhor por que Estêvão, quando em julgamento por pregar a Jesus, começou seu discurso com uma referência a estas mesmas palavras. Falando da vinda de Abraão à terra de Canaã, ele disse que Deus “não lhe deu nela herança, nem ainda o espaço de um pé; mas prometeu que lhe daria a posse dela, e depois dele, à sua descendência, não tendo ele ainda filho” (Atos 7:5). Em assim referindo-se a essa promessa, que era bem conhecida por todos os judeus, Estevão mostrou-lhes de modo claro que a promessa só poderia ser cumprida pela ressurreição dos mortos, por meio de Jesus.

“E tu irás para os teus pais em paz; serás sepultado em ditosa velhice. Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniqüidade dos amorreus”. Isto nos permite conhecer a razão pela qual Abraão morreu na fé, apesar de não haver recebido a promessa. Se ele tivesse esperado recebê-la nesta vida atual, terminaria decepcionado ao chegar à sua morte sem vê-la cumprida. Porém, Deus lhe disse claramente que haveria de morrer antes de ver seu cumprimento. Por tanto, visto que Abraão creu em Deus, está claro que compreendeu o cumprimento da promessa como relativo à ressurreição, e que creu nela. A ressurreição dos mortos, como veremos, esteve sempre no centro da esperança de todo verdadeiro filho de Abraão.

(58) Porém, aprendemos algo mais. Na quarta geração, ou depois dos quatrocentos anos, sua descendência haveria de ser liberta da escravidão, na terra prometida. Porque não haveria de possuir a terra de uma vez? – Porque a maldade dos amorreus não havia chegado à sua plenitude. Isso mostra que Deus daria ao amorreus tempo para arrepender-se, ou, falhando nisso, tempo para que enchessem a medida de sua maldade, demonstrando, assim, a sua desqualificação para possuirem a terra.

E isto acentua, uma vez mais, que a terra que Deus prometeu a Abraão e à sua semente poderia ser possuída apenas por um povo justo. Deus não expulsaria da terra aqueles em que houvesse a mínima possibilidade de chegarem a ser justos. Porém, o fato de que o povo, que haveria de ser destruído de diante dos filhos de Abraão, era lançado fora, devido à sua iniqüidade, mostra que se esperava que os possuidores da terra viessem a ser justos. Portanto, vemos que a descendência de Abraão, a quem foi prometida a terra, haveria de ser um povo justo. Isto já ficou demonstrado pelo fato de que a Abraão foi prometida descendência somente por meio da justiça da fé.

The Present Truth, 4 de junho de 1896

Notas desta edição:

1) Veja que Mateus 7:24 e 25 diz exatamente o que fala Waggoner: “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a Rocha; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a Rocha.”

2) João 1:18, “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse O revelou.”

3) Mateus 8:11 “Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus;”

4) Gênesis 15:8;

5) Romanos 4:22;

6) Gálatas 3:16;

7) “Naquele mesmo dia fez o SENHOR uma aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência tenho dado esta terra.” Gên 15:18.