segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 41

O Concerto Eterno, Capítulo 41.

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As Promessas Para Israel

“Outro Dia”

(Parte 2)

Ao estudarmos este assunto na semana passada vimos que o descanso prometido é o descanso de Deus — o descanso no qual Adão entrou quando o Senhor “fez com que descansasse no jardim de deleite”.

É o pecado que traz o cansaço. Adão no Jardim do Éden tinha trabalho a realizar, contudo ele desfrutava de perfeito descanso o tempo todo em que ali esteve, até que pecou. Se nunca houvesse pecado, algo como o cansaço jamais teria sido conhecido sobre a Terra. Trabalho não é parte da maldição, mas sim a fadiga. E ao homem disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei dizendo: Não comerás dela; maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos; e comerás das ervas do campo. Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás. Chamou Adão à sua mulher Eva, porque era a mãe de todos os viventes” (Gên. 3:17-19).

Mantendo o Descanso

Até aquele tempo ele havia desfrutado de perfeito descanso enquanto trabalhava. Por quê? — Em razão de que o seu trabalho era simplesmente “guardar” aquela obra perfeita que Deus havia preparado para ele e a ele confiado. Adão não tinha que criar. Se lhe tivesse sido requerido criar não mais do que (309) uma flor ou uma simples folha de grama, poderia ter-se cansado até à morte com tal tarefa, e morreria deixando a obra inconclusa; mas Deus realizou o trabalho, e colocou Adão em posse dele, com instruções de guardá-lo, e isso ele fez na medida em que “manteve a fé”.

Observem que esse perfeito descanso era o descanso na Nova Terra, e adicionalmente percebam que se o pecado não tivesse entrado, a Terra teria permanecida nova para sempre. Foi o pecado que trouxe uma mácula sobre a Terra levando-a a tornar-se velha. O perfeito descanso de Deus é encontrado somente num estado celestial, e a nova Terra era mui decididamente “uma pátria melhor, a celestial”.1 Aquilo que foi dado ao homem no princípio, quando “coroado de honra e glória”,2 foi perdido quando o homem pecou e destituído ficou “da glória de Deus”. Mas o que o Segundo Adão tem em Seu próprio direito, sendo, devido ao sofrimento e morte, coroado com glória e honra, é o que Deus prometeu a Abraão e sua semente, e ser-lhe-á dado quando o Messias vier “no tempo da restituição de todas as coisas”.3

Um Pouco do Éden Ainda Permanece

Essa nova criação perfeita desapareceu, — o mas o descanso ainda permanece. A prova de que as obras foram completadas e o descanso preparado desde a fundação do mundo, é que “no dia sétimo descansou Deus de toda a Sua obra”.4 O sábado do Senhor — o sétimo dia — é uma porção do Éden que permanece em meio à maldição; é uma porção do descanso da nova Terra superando o abismo desde o Éden perdido até o Éden restaurado. Pois assim como o sábado concluiu a semana da criação, e foi prova de que a obra estava terminada, fez-se o selo de uma perfeita nova criação. Agora uma nova criação se faz necessária, e precisa ser trazida à existência pelo mesmo poder como no princípio. Em Cristo todas as coisas foram criadas, e “se qualquer homem estiver em Cristo, ele é uma nova criação5; e o selo da perfeição é o mesmo em ambos os casos. O sábado, portanto, é o selo de perfeição, da perfeita justiça.

(310) O Que o Sinal Significa

Deve-se, porém, entender que o descanso sabático não consiste meramente em abster-se do trabalho manual do pôr do sol da sexta-feira ao pôr do sol do sábado — este é somente um sinal de descanso, e tal como todos os outros sinais, é uma fraude se a coisa significada não estiver presente. O verdadeiro descanso sabático consiste em contínuo e completo reconhecimento de Deus como o Criador e Sustenedor de todas as coisas, Aquele em quem vivemos, e nos movemos, e existimos,6 nossa vida e justiça. Observar o sábado não é um dever a ser descarregado a fim de obter o favor de Deus, mas a guarda da fé pela qual justiça nos é creditada.

Não há lugar para objeção de que não devemos observar o sábado do sétimo dia, por não sermos salvos pelas obras; pois o sábado não é uma obra, e sim descanso — o descanso de Deus. Pois aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como Deus das suas (Heb. 4:10). A genuína observância do sábado não é justificação por obras, e está inteiramente desvinculada de qualquer ideia de tal coisa; é, ao contrário, justificação pela fé — é o absoluto descanso que procede de perfeita fé no poder de Deus em criar um novo homem e preservar a alma de cair em pecado.

Mas a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rom. 10:17), de modo que é vão para qualquer pessoa professar fé em Deus enquanto ignora ou rejeita qualquer palavra de Deus. O homem deve viver por “cada palavra que procede da boca de Deus.”7 Em toda palavra de Deus há vida. Se um homem não conhecesse senão uma palavra e aceitasse essa palavra como de fato sendo a Sua palavra, ele seria salvo por ela. Deus tem compaixão do ignorante e não obriga que os homens devam conhecer uma certa quantidade antes que possam ser salvos; mas a ignorância voluntária é uma coisa diferente. A ignorância de uma pessoa pode ser o resultado de rejeitar deliberadamente o conhecimento, e aquele que assim faz, rejeita a vida. Pois assim como há vida em cada palavra de Deus, como a vida é uma e a mesma em cada palavra, quem quer que rejeite que seja uma só palavra que claramente procede dEle, com isso rejeita tudo. A fé toma ao Senhor em tudo quanto Ele é — por tudo quanto vemos dEle e por todo o infinito desconhecido.

(311) Um Dom ao Homem

Não seja esquecido que o sábado não é uma carga que Deus coloca sobre as pessoas (quem já ouviu de perfeito descanso ser uma carga?) mas uma bênção que Ele lhe oferece; é a remoção de cargas. Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei” (Mat. 11:28). Em vez de forçá-los sobre as pessoas Deus declara ser impossível que alguém compartilhe o descanso sabático se não crê. Ao homem que diz, “Não creio que me seja necessário observar o sábado” o Senhor responde: “Não podes observá-lo; não entrarás no Meu descanso; não tens parte nele”. É impossível que um homem guarde o sábado do Senhor sem fé, porque “o justo viverá pela fé”.8 O sábado é o descanso de Deus, o descanso de Deus é a perfeição, e a perfeição não pode ser obtida exceto pela perfeita fé.

“Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade” (João 4:24). Seu descanso, portanto, é um descanso espiritual de modo que o mero descanso físico sem o descanso espiritual não é observância do sábado em absoluto. Somente aqueles que são espirituais podem, verdadeiramente, guardar o sábado do Senhor. Enquanto Adão foi conduzido pelo Espírito, ele desfrutou perfeito descanso, tanto de corpo quanto de alma; mas tão logo pecou, perdeu o descanso. Contudo, embora a maldição sobre a Terra provoque cansaço corporal, o sábado ainda permanece desde o Éden, a segurança e selo do descanso espiritual. O abster-se de todo o nosso trabalho e prazer no sétimo dia — tudo de quanto possamos ter vantagem pessoal — é simplesmente um reconhecimento de Deus como Criador e Sustenedor de todas as coisas — Aquele por cujo poder vivemos; mas esse aparente descanso é uma mera farsa se real e plenamente não O reconhecemos como tal, e nos comprometemos inteiramente a Sua observância.

O sábado, portanto, é especialmente amigo do homem pobre; apela acima de tudo ao homem trabalhador, pois é ao pobre que o evangelho é pregado. O rico dificilmente ouvirá o chamado do Senhor, pois é mais provável que se contente com a sua condição; confia em suas riquezas, e sente-se capaz de tomar conta de si próprio no presente, e quanto ao futuro “pensa intimamente que suas casas continuarão para sempre”; mas para o homem pobre, que não sabe como obter o seu sustento, (312) o sábado vem trazendo esperança e alegria, pois dirige sua mente a Deus, o Criador, que é a nossa vida. “Buscai primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, e todas as demais coisas vos serão acrescentadas”.9 Em lugar de ser obrigados a dizer, “Como posso obter sustento se eu guardo o sábado?” o homem pobre pode ver no sábado a solução do problema de vida. “A piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir” (1ª Tim. 4: 8).

O Dia Abençoado e o Homem Abençoado

Tenham em mente que embora o dia de sábado seja o sétimo dia da semana, o descanso que o dia de sábado traz à visão é contínua. Assim como um dia não é um homem, há diferença entre abençoar um dia e abençoar um homem. Deus abençoou o sétimo dia (Gên. 2:3), mas abençoa os homens todos os dias. O sábado é observado somente por aqueles que descansam no Senhor todo o tempo. Conquanto ninguém possa ser um observador do sábado e ignorar o dia ao qual Deus atribuiu a Sua bênção, é igualmente verdade que o homem que não descansa continuamente no Senhor não guarda o sábado.

Assim, descansar no Senhor é encontrado pela fé nEle; mas a fé salva do pecado, e a fé viva é tão contínua quanto a respiração, pois “o justo viverá pela fé”.8 Se agora um homem não confia no Senhor durante a semana, está duvidando e temendo sobre como irá sobreviver, talvez se queixando e se preocupando, sendo impaciente ou áspero, ou em qualquer maneira injusto a seus semelhantes, certamente não está descansando no Senhor — não está se lembrando do dia de sábado, para o santificar; pois se realmente se lembrasse do dia de sábado, conheceria o poder de Deus para prover-lhe, e confiaria a guarda de sua alma Àquele que lhe fará bem “como ao fiel Criador”.10

A Cruz de Cristo

O sábado vem revelando a Cristo, o Criador, como O que leva as cargas. Ele leva as cargas do mundo inteiro, com todas as suas dores e (313) pecado e sofrimento, e Ele as leva com facilidadeo Seu jugo é suave.11 levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas Suas feridas fostes sarados” (1ª Pedro 2: 24). É na cruz de Cristo que recebemos vida, somos tornados novas criaturas. O poder da cruz, portanto, é poder criativo. Assim, quando na cruz Jesus clamou, “Está consumado”,12 Ele estava simplesmente anunciando que nEle, mediante a Sua cruz, as perfeitas obras de Deus poderiam ser obtidas, as quais foram completadas desde a fundação do mundo. Destarte, o sábado — o sétimo dia que comemora a criação completada no princípio — é um bendito lembrete do fato de que na cruz de Cristo esse mesmo poder criador é livremente oferecido para nos livrar da maldição e tornar-nos completos nEle tanto quanto completo foi tudo quanto Deus viu e pronunciou “muito bom”.13 A palavra de vida que é proclamada a nós no Evangelho é “o que era desde o princípio”.14

Ele não falha nem se torna impaciente ou desanimado; portanto podemos confiantemente lançar nosso cuidado sobre Ele. Assim, o sábado é, de fato, um deleite. No salmo pelo dia de sábado, Davi cantou: Pois Tu, Senhor, me alegraste pelos Teus feitos; exultarei nas obras das Tuas mãos” (Sal. 92: 4). O sábado significa triunfar nas obas das mãos de Deus, não em nossas próprias obras. Significa vitória sobre o pecado e a morte — tudo ligado à maldição — mediante o Nosso Senhor Jesus Cristo, por Quem os mundos foram feitos. É um remanescente do Éden antes que viesse a maldição, e, destarte, aquele que o observa de fato começa o seu descanso eterno — ele tem o descanso, o perfeito descanso, que a nova Terra somente pode dar.

O Convite Divino Para a Guarda do Sábado

Agora podemos entender por que o sábado ocupa lugar tão destacado no registro dos tratos divinos com Israel. Não é porque o sábado foi feito exclusivamente para eles, mais do que a salvação também o haja sido; mas porque a guarda do sábado é o princípio daquele descanso que Deus prometeu a Seu povo na terra de Canaã. (314) É às vezes dito que o sábado não foi dado aos gentios, mas deve ser também lembrado que a terra não foi prometida aos gentios. Os gentios eram “estranhos às promessas do concerto”. Contudo, é verdade que os gentios — todo o mundo — foi chamado a vir a Cristo, a água viva. “Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas”.15 A promessa a Israel era de que “uma nação que não conheces, e uma nação que nunca te conheceu correrá para ti, por amor do Senhor teu Deus, e do Santo de Israel; porque Ele te glorificou” (Isa. 55: 5). Adicionalmente nesse chamado o Senhor diz:—

“Assim diz o Senhor: guardai o juízo, e fazei justiça; porque a Minha salvação está prestes a vir, e a Minha justiça para se manifestar. Bem-aventurado o homem que fizer isto, e o filho do homem que lançar mão disto: que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de fazer algum mal. E não fale o filho do estrangeiro, que se houver unido ao Senhor, dizendo: Certamente o Senhor me separará do Seu povo . . . E aos filhos dos estrangeiros, que se unirem ao Senhor, para O servirem, e para amarem o nome do Senhor, e para serem os Seus servos, todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem a Minha Aliança, também os levarei ao Meu santo monte, e os alegrarei na Minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos. Assim diz o Senhor Deus, que congrega os dispersos de Israel: Ainda ajuntarei outros aos que já se lhe ajuntaram” (Isa. 56:1-8).

E a ambos esses — e a todos quantos proclamam paz, tanto de perto quanto de longe (Isa. 57:19) — o Senhor declara:—

Uma Gloriosa Promessa

Se desviares o teu pé do sábado, de fazeres a tua vontade no Meu santo dia; e chamares deleitoso, e o santo dia do Senhor, digno de honra; e o honrares, não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falares as tuas próprias palavras; então te deleitarás no Senhor, e te farei (315) cavalgar sobre as alturas da terra, e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó; porque a boca do Senhor o disse” (Isa. 58:13, 14).

Aqueles que chamam o sábado um deleite — não um jugo — se deleitarão no Senhor; por quê? — porque o sábado do Senhor é o descanso do Senhor — descanso que se acha somente em Sua presença, onde há “plenitude de gozo” e prazer infindo. É o descanso do Éden, pois Éden significa deleite e prazer; é o descanso da nova Terra, pois o Éden pertence à nova Terra. Lemos que aqueles que vêm ao Senhor para guardar o Seu sábado se alegrarão na casa do Senhor, e a respeito deles é dito: “Eles se fartarão da gordura da Tua casa, e os farás beber da corrente das Tuas delícias”, literalmente Teu Éden (Sal. 36: 8). Essa é a herança do Senhor, agora é o tempo, hoje é o dia em que podemos entrar nele, pois Ele é a porção de nossa herança, e nEle temos todas as coisas.

--The Present Truth, 11 de fevereiro de 1897.

Notas desta Edição:

1) Hebreus 11:16;

2) Hebreus 2:9;

3) Atos 3:21, JKV, a Almeida diz: “até aos tempos da restauração de tudo”;

4) Gênesis 2:2, e Gálatas 4:4;

5) 2ª Cor. 5:17, p.p., KJV, a Almeida Fiel diz: “se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”;

6) Atos 17:28, p.p.;

7) Mateus 4:4;

8) Hab. 2:4; Rom. 1: 17; Gal. 3:11; Hebreus10: 38;

9) Luca 12: 31; Mateus 6: 33;

10) 1ª Pedro 4:19;

11) Mateus 11: 30;

12) João 19:30;

13) Gênesis 1:31;

14) 1ª João 1: 1;

15) Isaias 55:1;