domingo, 1 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 17.

O Concerto Eterno, capítulo 17.
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AS PROMESSAS PARA ISRAEL

Dando a Comissão

Quarenta anos se haviam passado após aquela primeira tentativa malfadada antes de o Senhor estar pronto para livrar o Seu povo pela mão de Moisés. Levou esse tempo todo para preparar Moisés para a importante tarefa. Lemos a respeito de Moisés, num período posterior de sua vida, que ele era manso, acima de todos os homens; mas essa não era a sua disposição natural. Uma educação na corte não tem o fito de desenvolver a qualidade da mansidão. Pela forma em que Moisés inicialmente procedeu ao tratar de conflitos trabalhistas de seu povo, vemos que era impulsivo e arbitrário. O golpe acompanhava a palavra bem de perto. Mas o homem que deveria conduzir os filhos de Abraão para a herança prometida, precisava ter características bem diferentes.

A herança prometida a Abraão era a Terra. Devia ser obtida mediante a justiça da fé. Mas a justiça da fé é inseparável da mansidão de espírito. “Eis que a sua alma está orgulhosa, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá.”. Hab. 2:4. Portanto o Salvador declarou: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”. Mat. 5:5. “Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que O amam?” Tia. 2:5. A prometida herança, a que os israelitas deviam ser conduzidos, poderia ser possuída somente pelos mansos, e, daí, aquele que devia conduzi-los pelo caminho precisava, necessariamente, possuir essa virtude. [137] Quarenta anos de vivência no deserto como pastor operaram a desejada mudança em Moisés.

“E aconteceu, depois de muitos dias, que morrendo o rei do Egito, os filhos de Israel suspiraram por causa da servidão, e clamaram; e o seu clamor subiu a Deus por causa de sua servidão. E ouviu Deus o seu gemido, e lembrou-Se Deus da Sua aliança com Abraão, com Isaque, e com Jacó,” Êxo. 2:23, 24.

Esse concerto, como vimos, foi confirmado em Cristo. Foi o concerto que Deus fez com os pais, dizendo a Abraão, “Na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra”. Atos 3:25. E essa bênção consistia em fazê-los volver de suas iniqüidades. Foi o concerto do qual Deus Se lembrou enviando João Batista, o precursor de Cristo, que livraria o Seu povo das mãos de seus inimigos, de modo que pudessem “servi-Lo sem temor, em santidade e justiça perante Ele1” todos os dias de suas vidas. Foi o concerto que assegurou a Abraão e à sua semente a posse da terra, mediante fé pessoal em Cristo.

Mas a fé em Cristo não garante a qualquer homem uma posse terrena. Aqueles que são herdeiros de Deus são os pobres deste mundo, ricos na fé. O próprio Cristo não tinha um lugar dEle próprio nesta terra, onde pudesse reclinar a cabeça; portanto ninguém precisa pensar que segui-Lo na verdade lhe assegurará posses terrenas. É mais provável que se dê o contrário.

Esses pontos são necessários de se ter em mente ao considerarmos a libertação de Israel do Egito, e sua jornada à terra de Canaã. Isso devia ser lembrado no estudo de toda a história de Israel, ou iremos estar continuamente cometendo os mesmos erros que foram feitos pelos Seus que não O receberam quando Ele veio, porque não veio para promover seus interesses mundanos. “E Apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto, e chegou ao monte de Deus, a Horebe. E apareceu-lhe o anjo do SENHOR em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. E Moisés disse: Agora me virarei para lá, e verei esta [138] grande visão, porque a sarça não se queima. E vendo o SENHOR que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui. E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus. E disse o SENHOR: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores. Portanto desci para livrá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra, a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel; ao lugar do cananeu, e do heteu, e do amorreu, e do perizeu, e do heveu, e do jebuseu. E agora, eis que o clamor dos filhos de Israel é vindo a mim, e também tenho visto a opressão com que os egípcios os oprimem. Vem agora, pois, e eu te enviarei a Faraó para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito.” Ex. 3: 1-10

Não precisamos entrar nos detalhes da recusa de Moisés, e sua final aceitação da comissão divina. Agora que estava realmente adequado para a tarefa, ele recuou dela.2 É suficiente observar que, na comissão, o poder, pelo qual a libertação devia ser efetuada, tornou-se bem clara. Era tal libertação que podia ser realizada somente pelo poder do Senhor. Moisés devia ser simplesmente um agente em Suas mãos.

Notem também as credenciais de que Moisés era portador: “Então disse Moisés a Deus: Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me perguntarem: Qual é o Seu nome? Que lhes direi? E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós”. Êxo. 3:13, 14.

Esse é o “nome glorioso e temível” do Senhor, que nenhum homem pode jamais compreender, porque expressa Sua infinitude e [139] eternidade. Observem as traduções dadas na margem da Edição Revisada: “Eu sou porque Eu sou”, ou “Eu sou quem Eu sou”, ou “Eu serei o que serei”. Nenhum desses sentidos é completo em si mesmo, mas todos juntos são necessários para dar uma ligeira idéia do título. Juntos representam “O Senhor Deus, aquele que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso”. Apo. 1:8.

Quão apropriado é que, quando o Senhor estava para libertar o Seu povo, não simplesmente da escravidão temporal, mas também da servidão espiritual, e dar-lhes aquela herança, que só podia ser possuída pela vinda do Senhor e a ressurreição, Ele Se faria conhecido não somente como o Criador, existente por Si mesmo, mas como Aquele que Viria, o mesmo título pelo qual Se revela no último livro da Bíblia, que é inteiramente dedicado à vinda do Senhor e à libertação final de Seu povo de seu grande inimigo, a morte.

“E Deus disse mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O Senhor Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, me enviou a vós; este é o Meu nome eternamente, e este é o Meu memorial de geração em geração”. Êxo. 3:15.

Somos continuamente lembrados que toda essa libertação é apenas o cumprimento da promessa feita mediante Cristo a Abraão, Isaque e Jacó. Notem também a significação do fato de que alguns dos mais poderosos sermões do Evangelho, registrados no Novo Testamento, referem-se a Deus como o Deus de Abraão e Isaque e Jacó, uma evidência de que nós O devemos conhecer pelo mesmo título, e que as promessas, feitas aos pais, mantêm-se válidas para nós, apenas se as recebermos na mesma fé. “Este é o Meu nome para sempre, e este é o Meu memorial a todas as gerações”.

Com esse nome por seu apoio, com a garantia de que Deus seria com ele e lhe ensinaria o que dizer, armado com o poder de operar milagres, e confortado com a garantia de que Arão, seu irmão, lhe faria companhia na obra, Moisés partiu para o Egito.

The Present Truth, 27 de agosto de 1896.

Notas desta edição:

1) Lucas 1: 74, u.p. e 75, p.p.;

2) Estando ainda no Egito, Moisés, ciente de que seria o libertador de seu povo, pode ter pensado consigo mesmo: “—se serei o libertador, então vamos pôr mãos à obra”, e matou o egípcio. Este é o velho concerto. Não era este o método que Deus planejava adotar através de Seu servo. Ele estava auto-confiante e era prepotente e orgulhoso. Certamente que Deus não o poderia usar assim. Ele teve que fugir para Mídiã, onde aprenderia a ser manso e humilde e a subjugar o eu.. Quarenta anos depois Deus o abordou e ele respondeu, em outras palavras: “Senhor, não estou qualificado para esta obra, arranja outro, eu sou gago, ‘quem sou eu, que vá a Faraó e tire do Egito os filhos de Israel?” (Ex. 3:11). Ele realmente agora era humilde e tinha seu eu totalmente subjugado. Deus deve ter pensado: “—Agora ele está apto a ser o instrumento para a obra que tenho de fazer, agora Eu posso usá-lo.” Muitos crescem tanto que Deus não os pode usar, a não ser que subjuguem o eu. Moisés tornou-se um homem mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” (Números 12:3), e, ao se postar nas mãos de Deus para que Ele realizasse a obra através dele, entrou no novo e eterno concerto do Todo-Poderoso.