domingo, 8 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 30

O Concerto Eterno, Capítulo 30

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As Promessas a Israel

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Sinai e Calvário

Lembrai-vos da lei de Moisés, Meu servo, que lhe mandei em Horebe para todo o Israel, a saber, estatutos e juízos. Eis que Eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor; e ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que Eu não venha, e fira a terra com maldição”, ou, literalmente, “com completa destruição”. Mal. 4:5, 6.

Notem quão intimamente a terna e convertedora obra do Espírito de Deus se liga à lei que foi pronunciada no Horebe. Pois o Sinai é Horebe, como aprendemos de Deut. 4:10-14, onde lemos as palavras de Moisés, o servo de Deus:

“. . . estiveste perante o Senhor teu Deus em Horebe, quando o Senhor me disse: Ajunta-me este povo, e os farei ouvir as Minhas palavras, . . . E vós vos chegastes, e vos pusestes ao pé do monte; e o monte ardia em fogo até o meio do céu, e havia trevas, e nuvens e escuridão. E o Senhor vos falou do meio do fogo . . . E Ele vos anunciou a Sua aliança, que vos ordenou cumprir, isto é, os dez mandamentos; e os escreveu em duas tábuas de pedra. Também o Senhor me ordenou ao mesmo tempo que vos ensinasse estatutos e juízos, para que os cumprísseis na terra a qual passais a possuir”.

[217] Quando o Senhor nos diz para lembrar-nos da lei, que Ele ordenou no Horebe, ou Sinai, é para que saibamos do poder com que Ele converterá os corações dos pais e filhos, para que possam estar preparados para o terrível dia de Seu retorno. “A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma”. Sal. 19:7.

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A Rocha Ferida

Quando Deus pronunciou a lei do Sinai, aquela corrente de água viva, que brotou da rocha ferida no Horebe, estava ainda fluindo. Se houvesse cessado de fluir os israelitas se achariam em condição tão má quanto antes, pois aquele era o único suprimento de água, a sua única esperança de vida. Do Horebe, de onde partiu a água que lhes restaurou a vida, que Deus pronunciou a lei. A lei veio da mesma rocha da qual a água já estava fluindo, “e a Rocha era Cristo” (1 Cor. 10:4).

O Sinai é corretamente considerado sinônimo da lei; mas não é mais do que seria Cristo; não, não tanto, pois nEle está a vida. Jesus declarou: “Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração” (Sal. 40:8). A lei era, portanto, a vida de Cristo, pois do coração procedem as fontes da vida, Prov. 4:23.

“Ele foi ferido por nossas iniqüidades”; e “pelas Suas pisaduras fomos sarados”[1]. Quando Ele foi esmagado e ferido no Calvário, o sangue vital fluiu de Seu coração, e essa corrente ainda flui para nós. Mas em Seu coração está a lei; e assim como bebemos pela fé da corrente que concede vida, bebemos na justiça da lei de Deus. A lei vem a nós como uma corrente de graça, um rio de vida. A “graça e a verdade” procedem igualmente de Jesus Cristo. João 1:17. Quando cremos nEle, a lei não nos é meramente “a voz das palavras”, mas uma fonte de vida.

Agora, tudo isso se deu no Sinai. Cristo, o doador da lei, era a Rocha ferida no Horebe, que é o Sinai. Aquela corrente era a vida dos que beberam, e ninguém daqueles que a receberam em refletida atitude poderia deixar de saber que ela viera diretamente do seu Senhor—o [218] Senhor de toda a Terra. Assim podiam ter a segurança de Seu terno amor por eles, e do fato de que Ele era a sua vida, e daí, sua justiça. Destarte, embora nem pudessem aproximar-se da montanha sem morrer,—uma evidência de que a lei é morte aos homens fora de Cristo,—eles podiam beber da corrente que fluía dela, e assim, na vida de Cristo, beber da justiça da lei.

Conquanto fosse uma “lei de fogo”[2], era, ao mesmo tempo, uma corrente de vida que fluía suavemente. Em vista de que o profeta Isaías sabia que Cristo era a Rocha ferida no Sinai, e que mesmo então Ele era o Único Mediador, “Cristo Jesus, homem, o qual Se deu a Si mesmo em resgate por todos, para servir de testemunho a seu tempo” [3], ele pôde dizer que “Ele foi ferido por nossas transgressões”, “e pelas Suas pisaduras fomos sarados[4].

Para os antigos israelitas foi realçada a lição de que a lei(vem como vida aos homens somente mediante a cruz de Cristo. Para nós ocorre a mesma lição, juntamente com outra paralelamente à mesma, ou seja, de que a justiça que nos vem mediante a vida a nós concedida na cruz, é precisamente aquela que é requerida pelos dez mandamentos, e nenhuma outra. Leiamo-los, então:

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O Que Deus Falou

1. “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de Mim.

2. “Não farás para ti imagem esculpida, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas, nem as servirás; porque Eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais [219] nos filhos, até a terceira e quarta geração[5] daqueles que Me odeiam.e faço misericórdia com milhares dos que Me amam e guardam os Meus mandamentos.

3. “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente aquele que tomar o Seu nome em vão.

4. “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra; mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que nEles há, e ao sétimo dia descansou; portanto o abençoou o Senhor o dia do Sábado, e o santificou.

5. “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.

6. “Não matarás.

7. “Não adulterarás.

8. “Não furtarás.

9. “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.

10. “Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo” [6].

Esta foi a lei pronunciada em meio aos terrores do Sinai, pelos lábios dAquele, cuja vida era e é, e de quem havia partido [220] a corrente, que naquele momento estava fluindo,—Sua própria vida dada pelo povo. A Cruz, com a sua corrente curadora e transmissora de vida, estava no Sinai; daí que a Cruz não pode possivelmente realizar qualquer mudança na lei. A vida procedente de Cristo no Sinai, como no Calvário, mostra que a justiça que é revelada no evangelho não é outra senão a dos dez mandamentos. Nem um jota ou til poderiam passar[7]. A terribilidade do Sinai estava no Calvário, nas densas trevas, no terremoto, e na forte voz do Filho de Deus. A rocha ferida e a corrente a fluir no Sinai representavam o Calvário; o Calvário ali estava; de modo que do Calvário é que foram proclamados os dez mandamentos em termos idênticos como foram ouvidos do Sinai. O Calvário, não menos que o Sinai, revela a terrível e imutável santidade da lei de Deus, tão terrível e imutável que não poupou nem mesmo o Filho de Deus, quando “com os transgressores foi contado” [8]. Mas não obstante o grande terror inspirado pela lei, a esperança pela graça é ainda maior; pois “onde o pecado abundou, superabundou a graça” [9]. E, por detrás de tudo, permanece o juramento do concerto de graça de Deus, assegurando a perfeita justiça e vida da lei em Cristo; de modo que embora a lei pronunciasse morte, ela somente mostrava que grandes coisas Deus tem prometido fazer por aqueles que crêem. Ela nos ensina a não ter confiança na carne, mas adorar a Deus no Espírito, e regozijar-nos em Cristo Jesus. Assim, Deus estava provando o Seu povo, para que pudesse saber que “o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor, viverá o homem” (Deut. 8:3).

Assim, a lei não é contra as promessas de Deus, conquanto não possa transmitir vida. Pelo contrário, respalda essas promessas em tons trovejantes; pois com o juramento de Deus sempre firme, o maior requisito da lei é, para o ouvido da fé, apenas uma promessa de seu cumprimento. E assim, ensinado pelo Senhor Jesus, podemos “saber que o Seu mandamento é vida eterna [10].

The Present Truth, 26 de novembro de 1896.

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[1] Isaias 53:5;

[2] Deuteronômio 33:2;

[3] Iª Timóteo 2: 5 e 6;

[4] Isaias 53:5;

[5] Nota do autor: Não ocorre no texto hebraico desta passagem qualquer palavra indicando “geração”, que é adicionada pelos tradutores. É muito evidente, contudo, tratar-se da palavra requerida pelo sentido, e atenção é chamada a ela somente para assinalar o fato de que a construção é a mesma como na próxima cláusula, onde a palavra “geração” não é expressa, mas onde se encaixa tão certamente quanto no primeiro caso. Alguns têm apressadamente suposto que os “milhares” referem-se somente a indivíduos, e assim erroneamente concluem que os castigos de Deus se estendem além de Sua misericórdia. Não é assim. Ele visita as iniqüidades dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que O aborrecem, mas revela misericórdia até mil gerações àqueles que O amam e guardam os Seus mandamentos. Sua ira é logo apaziguada, enquanto a Sua misericórdia flui pela eternidade. Outras versões diferentes das do português e do inglês estabelecem isso com bastante clareza;

[6] Êxodo 20: 2-17;

[7] Mateus 5:18, Veja nota 16 do capítulo anterior, cap. 29;

[8] Lucas 22:37;

[9] Romanos 5:20;

[10] João 12:50.