domingo, 8 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 27

O Concerto Eterno, Capítulo 27

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AS PROMESSAS A ISRAEL

Ensino Por Lições Práticas

Deus lida conosco como crianças e nos ensina lições práticas. Pelas coisas que podemos ver, Ele nos ensina as coisas que o olho mortal não pode contemplar. Assim, na água que fluía da rocha, e na água e sangue que fluíram do lado de Cristo, aprendemos a realidade da vida que Cristo concede àqueles que crêem nEle. As coisas espirituais não são imaginárias, mas reais. O povo no deserto podia saber que a água que refrigerou seus organismos procedia diretamente de Cristo, e, a partir disso, podiam saber que Ele realmente pode conceder vida. Podiam não saber como, mas isso não era necessário. Era suficiente que soubessem do fato.

Se crermos na Palavra, podemos saber que bebemos tão diretamente de Cristo como o fizeram os israelitas no deserto. Ele fez os céus, e a Terra, o mar e as fontes das águas. “Todas as coisas subsistem por Ele”[1]. A água que bebemos, procedendo do solo, é tão verdadeiramente originária dEle como aquela que jorrou da rocha em Horebe. “Ele põe os abismos em depósitos”. Sal. 33:7.

As pessoas falam da água sobre a Terra como um “produto natural”, quase com o pensamento de ser existente por si mesma. A chuva que cai e o regato que corre são referidos como “causas naturais”. Termos convenientes são esses para evitar dar a Deus a glória. Permaneça junto a um regato de águas claras e cristalinas ao seguir o seu curso desde a nascente nas [194] montanhas. Estará sempre mudando, mas o conteúdo é o sempre mesmo. Incessante em seu fluxo, porque não se esgota o seu suprimento? Haverá um reservatório de capacidade infinita no coração da Terra, que permite que o riacho “prossiga perpetuamente”, sem jamais diminuir a sua quantidade? Não há algo de maravilhoso sobre o fluxo constante? “Oh, não”, diz o homem que sabe tudo, “é uma questão muito simples; a água sobre a superfície da Terra é conduzida até às nuvens, e estas é que provocam a chuva que mantém o suprimento constantemente bom”. E quem causa a chuva? “O Senhor Deus é a verdade; Ele mesmo é o Deus vivo e o Rei eterno. . . . Fazendo Ele soar a Sua voz, logo há rumor de águas no céu, e faz subir os vapores da extremidade da Terra; faz os relâmpagos para a chuva, e dos Seus tesouros faz sair o vento” (Jer. 10:10-13). Ele é o “Deus vivo” e as operações da natureza são apenas manifestações de Sua atividade incansável.

Sem dúvida os israelitas no deserto logo deixaram de considerar o fluxo de água da rocha como miraculoso. Decerto muitos deles nunca, mesmo de início, se empenharam a pensar muito a respeito, só preocupados com o fato de que propiciava um suprimento para saciar a sua sede. Mas, ao fluir ano após ano, e ter-se tornado algo familiar, o aspecto de maravilhoso diminuiu, e, por fim, cessou por completo. Filhos nasceram, aos quais aquilo assim sempre havia sido; para esses era apenas um produto de “causas naturais”, como se dá com os regatos, que podemos agora ver se originando do solo; e assim a Grande Fonte foi esquecida, tal como se dá hoje.

Fiquem certos de que aqueles que atribuem tudo à “Natureza”, e que não reconhecem e glorificam a Deus como a fonte imediata de todos os dons terrenos, agiriam da mesma forma no céu, se fossem admitidos naquele lugar. Para eles, o rio da vida, eternamente fluindo do trono de Deus seria apenas “um dos fenômenos da natureza”. Eles não o viram começar a fluir e o considerariam uma questão rotineira, e não glorificariam a Deus por isso. O homem, que não reconhece e respeita a Deus em Suas obras neste mundo, seria indiferente a Ele no mundo por vir. O louvor de Deus, que procederá dos lábios dos redimidos na eternidade, será apenas o coro completo dos cânticos, cujos primeiros acordes praticaram sobre a Terra.

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[195] Reconhecendo a Deus

“Reconhece-O em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas”. Prov. 3:6. Quando Deus dirige os caminhos de um homem, eles são todos perfeitos; tal como os próprios caminhos de Deus. “Qual é o homem que teme ao Senhor? Ele o ensinará o caminho que deve escolher”[2]. O homem, que vê e reconhece a Deus em todas as Suas obras, e que em tudo dá graças, viverá uma vida justa.

Tome o dom da água, que estamos continuamente usando. Se tão freqüentemente quanto precisamos de água pensássemos em Deus como o seu provedor, e tão freqüentemente quanto a utilizamos pensássemos em Cristo como O que concede a água da vida, e nos lembrássemos que nessa água recebemos Sua própria vida, qual seria o resultado?—Simplesmente nossas vidas estariam continuamente sujeitas ao Seu controle. Reconhecendo que nossa vida procede dEle, devíamos perceber que somente Ele tem o direito de ordená-la; e deveríamos permitir que Ele vivesse Sua própria vida em nós. Assim deveríamos beber em justiça. Para nós a verdade devia brotar da terra, e a justiça olhar desde o céu (ver Sal. 85:11). Até os céus deviam fazer chover das nuvens a justiça (ver Isa. 45:8).

Esse reconhecimento de Deus em todos os nossos caminhos nos guardaria do orgulho e da confiança pretensiosa em nossas próprias “habilidades naturais”. Devíamos continuamente atentar às palavras, “Quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?[3] Isso nos manteria no caminho reto, pois a promessa é, “Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o Seu caminho” (Sal. 25:9). Em lugar de nossa própria fraca e tola sabedoria, deveríamos ter a sabedoria de Deus a nos guiar.

Aprendemos a mesma verdade por olhar ao lado oposto. Os homens se tornam pagãos degradados simplesmente por não reconhecerem a Deus, tal como é revelado nas “coisas que estão criadas”[4]. Pois as densas trevas em que caíram não é escusa, “porquanto, tendo conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, [196] tornaram-se loucos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis”. “E como eles não se importaram de ter o conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; estando cheios de toda a iniquidade...” (Rom. 1:21-23, 28, 29).

De igual maneira deu-se com os israelitas, que de uma forma maravilhosa, tiveram uma visão das obras divinas, não O reconhecendo nelas. “Fizeram naqueles dias o bezerro, e ofereceram sacrifícios ao ídolo, e se alegravam nas obras das suas mãos” (Atos 7:41). “E converteram a Sua glória na figura de um boi que come erva. Esqueceram-se de Deus, seu Salvador, que fizera grandezas no Egito, maravilhas na terra de Cão, coisas tremendas no Mar Vermelho” (Sal. 106:20-22).

Mas não havia necessidade de que assim fosse. Deus estava conduzindo os filhos de Israel para colocá-los no monte de Sua própria herança, no lugar que havia feito para Ele mesmo habitar, o Santuário, que Suas mãos haviam estabelecido; e enquanto eles estavam a caminho Ele os faria participar das delícias daquele lugar. Assim, concedeu-lhes água diretamente dEle próprio, para mostrar-lhes que pela fé podiam, mesmo então, aproximar-se do Seu trono, e beber da água da vida que dEle flui.

A mesma lição permanece para nós. Deus não quer que esperemos até que a imortalidade nos seja concedida antes que possamos compartilhar do gozo da cidade celestial. Pelo sangue de Cristo temos a ousadia de entrar até o Santíssimo de Seu santuário[5]. Somos convidados a ir ousadamente ao Seu trono de graça para encontrar misericórdia[6]. Sua graça, ou favor, é vida, e flui numa corrente viva. Certamente, sendo que nos é permitido ir até o trono de Deus, de onde flui o rio da vida, nada há que impeça que dela bebamos, especialmente quando Ele a oferece gratuitamente (ver Apo. 22:17).

“Bem-aventurados os que habitam em tua casa; louvar-te-ão continuamente” (Sal. 84:4). Se, nas coisas que vemos, aprendemos aquelas que não são visíveis; se contemplamos e reconhecemos a Deus em todas as Suas obras e em todos os nossos caminhos, estaremos, de fato, mesmo nesta Terra, habitando na presença imediata de Deus, e O estaremos continuamente louvando, tal como os anjos no céu.

[197] “Os que estão plantados na casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos, serão viçosos e vigorosos, para anunciar que o Senhor é reto. Ele é a minha rocha, e nEle não há injustiça” (Sal. 92:13-15). “Quão preciosa é, ó Deus, a Tua benignidade, pelo que os filhos dos homens se abrigam à sombra das Tuas asas. Eles se fartarão da gordura da Tua casa, e os farás beber da corrente das Tuas delícias; porque em Ti está o manancial da vida; na Tua luz vemos a luz” (Sal. 36:7-9).

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O Éden Aqui Em Baixo

Observem esta expressão: “os farás beber da corrente das Tuas delícias”. A palavra hebraica traduzida como “delícias” é Éden. Éden significa prazer, ou deleite. O jardim do Éden é o jardim de delícias. Assim, o texto realmente diz que aqueles que habitam no lugar secreto de Deus, abrigados sob a sombra do Todo-poderoso, serão abundantemente satisfeitos com a gordura de Sua casa, e beberão do rio do Éden, que é o rio vivo de Deus.

Essa é a porção dos crentes mesmo agora; e nós podemos saber disso tão seguramente quanto os israelitas que beberam água da rocha ou vivemos dia após dia das bondades de Suas mãos. Mesmo agora pela fé podemos refrigerar nossas almas por beber do rio da água da vida, e beber do “maná escondido”. Podemos comer e beber justiça por comer e beber a carne e sangue do Filho de Deus.

“Rio de Deus, eu Te saúdo,

Agora não distante, mas próximo;

Minha alma às Tuas serenas águas

Se apressa em minha sede aqui;

Santo rio,

Permite-me sempre

Beber somente de Ti”.

[198] Rios de Água Viva

Mas Deus abençoa os homens somente para que possam, por seu turno, ser uma bênção a outros. A Abraão Deus disse: “Abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção”[7]; e assim mesmo deve se dar com toda a Sua semente. Assim, lemos novamente as palavras de Cristo, que podem ser cumpridas para nós hoje e todos os dias, se apenas nelas crermos:--

“Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os que nEle cressem” (João 7:37-39).

Assim como Cristo era o templo de Deus, e Seu coração o trono de Deus, assim somos os templos de Deus, para que Ele possa habitar em nós. Mas Deus não pode ser limitado. O Espírito Santo não pode ser hermeticamente selado no coração. Se Ele ali Se encontra, a Sua glória se revelará. Se a água da vida está na alma, ela fluirá para outros. Assim como “Deus estava em Cristo reconciliando Consigo o mundo”, também Ele faz habitação em Seus verdadeiros crentes, colocando neles “a palavra da reconciliação”, tornando-os Seus “embaixadores da parte de Cristo” para reconciliar os homens a Si[8]. A Seus filhos adotivos é o concedido o maravilhoso privilégio de compartilhar a obra de Seu Filho unigênito. Como Ele, podem também tornar-se ministros do Espírito; não meramente ministros enviados pelo Espírito, mas aqueles que ministrarão o Espírito. Assim, ao nos tornarmos o lugar de habitação de Deus, para reproduzir a Cristo novamente perante o mundo, e correntes vivas fluam de nós para refrigerar o fraco e o cansado, o céu revela-se sobre a Terra.

Esta é a lição que Deus desejava que os israelitas aprendessem junto às águas de Meribá, e é o que Ele ainda pacientemente Se esforça para nos ensinar, conquanto nós, como eles, temos murmurado e nos rebelado. Aprenderemos isto agora? “Bem-aventurado o povo ao qual assim acontece! Bem-aventurado o povo cujo Deus é o Senhor”[9].

-- The Present Truth, 5 de novembro de 1896



[1] Colocesses 1:17;

[2] Salmo 25:12;

[3] 1 Cor. 4:7;

[4] Romanos 1:20;

[5] Hebreus 10:19;

[6] Hebreus 4:16;

[7] Gênesis 12:2;

[8] II Coríntios 5: 19 e 20;

[9] Salmo 144: 15.