domingo, 8 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 23

O Concerto Eterno, Capítulo 23

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As Promessas a Israel

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Pão do Céu

Será com cânticos que os remidos do Senhor retornarão e virão a Sião. O cântico de vitória é uma evidência da fé pela qual o justo viverá. A exortação é, “Não lanceis fora, pois, a vossa confiança, que tem uma grande recompensa” (Heb. 10:35). “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se é que guardamos firme até o fim a nossa confiança inicial” (Heb. 3:14). Os israelitas tinham começado bem.Pela fé os israelitas atravessaram o Mar Vermelho, como por terra seca [1]. Do outro lado tinham cantado o cântico de vitória. É verdade que ainda estavam no deserto; mas a fé é a vitória que havia vencido o mundo[2], e eles tinham obtido a mais maravilhosa evidência do poder de Deus para conduzi-los em segurança ao longo da jornada. Se eles tivessem apenas continuado a cantar aquele cântico de vitória, poderiam ter chegado rapidamente a Sião.

Mas não tinham aprendido a lição perfeitamente. Eles podiam confiar no Senhor até o ponto em que podiam vê-Lo, mas não mais além. Eles “O provocaram no mar, sim no Mar Vermelho. Não obstante, Ele os salvou por amor do Seu nome, para fazer conhecido o Seu poder. Repreendeu, também, o Mar Vermelho, e este se secou, e os fez caminhar pelos abismos como pelo deserto. E os livrou da mão daquele que os odiava, e os remiu da mão do inimigo. E as águas cobriram os seus adversários; nem um só deles ficou. Então creram nas Suas palavras, e cantaram os Seus louvores. Porém cedo se esqueceram das Suas obras; não esperaram o Seu conselho” (Sal. 106:7-13).

[169] Somente três dias de jornada no deserto sem água foi suficiente para fazê-los esquecer tudo quanto o Senhor havia feito por eles. Quando encontraram água, era tão amarga que não puderam bebê-la, e então murmuraram. Esta dificuldade foi facilmente remediada pelo Senhor, que mostrou a Moisés uma árvore que, quando lançada sobre as águas amargas, as tornavam doces. “Ali Deus lhes deu um estatuto e uma ordenança, e ali os provou” (Êxo. 15:25).

Acampados junto às palmeiras e fontes de Elim, eles não tinham nada a perturbá-los, assim que deve ter-se passado um mês antes que se pusessem a murmurar novamente. Durante esse tempo sem dúvida se sentiram bem satisfeitos consigo mesmos, bem como com o que os rodeava. Agora estavam certamente confiando no Senhor. É tão fácil imaginar que estamos fazendo progresso quando somente estamos ancorados firmes e a maré passa adiante; assim é natural pensar que temos aprendido a confiar no Senhor, quando não há provações para testar a nossa fé.

Não demorou muito para que o povo não só se esquecesse do poder do Senhor, mas estavam prontos para negar que Ele tinha jamais Se preocupado com eles. Havia decorrido apenas um mês e meio após a saída do Egito e eles chegaram ao deserto de Sim, “que fica entre Elim e o Sinai[3], e “toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e Arão no deserto. E os filhos de Israel lhes disseram: Quem nos dera que tivéssemos morrido pela mão do Senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, quando comíamos pão até fartar! porque nos tendes trazido para este deserto, para matardes de fome a toda esta multidão” (Êxo. 16:1-3).

“Então disse o Senhor a Moisés: Eis que vos farei chover pão do céu; e sairá o povo e colherá diariamente a porção para cada dia, para que Eu o prove se anda em Minha lei ou não. Mas ao sexto dia prepararão o que colherem; e será o dobro do que colhem cada dia. Disseram, pois, Moisés e Arão a todos os filhos de Israel: À tarde sabereis que o Senhor é quem vos tirou da terra do Egito, e amanhã vereis a glória do Senhor, porquanto Ele ouviu as vossas murmurações contra o Senhor; e quem somos nós, para que murmureis contra nós?” (Vs 4-7).

[170] Na manhã seguinte, quando o orvalho se desfez, “eis que sobre a superfície do deserto estava uma coisa miúda, semelhante a escamas, coisa miúda como a geada sobre a terra. E, vendo-a os filhos de Israel, disseram uns aos outros: Que é isto? porque não sabiam o que era. Então lhes disse Moisés: Este é o pão que o Senhor vos deu para comer. Isto é o que o Senhor ordenou: Colhei dele cada um conforme o que pode comer; um gômer[4] para cada cabeça, segundo o número de pessoas; cada um tomará para os que se acharem na sua tenda. Assim o fizeram os filhos de Israel; e colheram uns mais e outros menos. Quando, porém, o mediam com o gômer, nada sobejava ao que colhera muito, nem faltava ao que colhera pouco; colhia cada um tanto quanto podia comer” (Versos 14-18).

“Também lhes disse Moisés: Ninguém deixe dele para amanhã. Eles, porém, não deram ouvidos a Moisés, antes alguns dentre eles deixaram dele para o dia seguinte; e criou bichos, e cheirava mal; por isso indignou-se Moisés contra eles. Colhiam-no, pois, pela manhã, cada um conforme o que podia comer; porque, vindo o calor do sol, se derretia” (Versos 19-21).

“Mas ao sexto dia colheram pão em dobro, dois gômeres para cada um; pelo que todos os principais da congregação vieram, e contaram-no a Moisés. E ele lhes disse: Isto é o que o Senhor tem dito: Amanhã é repouso, Sábado santo ao Senhor; o que quiserdes assar ao forno, assai-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobejar, ponde-o de lado para vós, guardando-o para amanhã. Guardaram-no, pois, até o dia seguinte, como Moisés tinha ordenado; e não cheirou mal, nem houve nele bicho algum. Então disse Moisés: Comei-o hoje, porquanto hoje é o Sábado do Senhor; hoje não o achareis no campo. Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o Sábado; nele não haverá” (Versos 22-26).

“Mas aconteceu ao sétimo dia que saíram alguns do povo para o colher, e não o acharam. Então disse o Senhor a Moisés: Até quando recusareis guardar os Meus mandamentos e as Minhas leis? Vede, visto que o Senhor vos deu o Sábado, por isso Ele no sexto dia vos dá pão para dois dias; fique cada um [171] no seu lugar, não saia ninguém do seu lugar no sétimo dia. Assim repousou o povo no sétimo dia” (Versos 27-30).

Temos agora a história completa perante nós, e podemos estudar suas lições em detalhe. Lembrem-se que isto não foi escrito para aqueles que dela participaram, mas para nós. “Porquanto, tudo que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança”[5]. Se eles falharam em aprender a lição que Deus tinha a intenção de que aprendessem daquele evento, há tanto mais razão para nós as aprendermos do relato.

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O Teste

O Senhor disse que Ele provaria o povo, para ver se andariam ou não na Sua lei.[6] E o aspecto especial sobre que foram testados foi o Sábado. Se eles o observassem, não haveria dúvida de que observariam a lei inteira. O Sábado, portanto, era o teste crucial da lei de Deus, tal como o é agora, segundo revelarão os pontos seguintes do que já temos aprendido:-

1. O povo estava sendo liberto no cumprimento do concerto feito com Abraão. Ver Êxo. 6:3, 4. Esse concerto havia sido confirmado mediante um juramento, e o tempo da promessa que Deus jurou a Abraão havia se aproximado. Abraão observou a lei de Deus e foi por causa disso que a promessa foi mantida para os seus descendentes, Gên. 26:3-5. O Senhor disse a Isaque que iria cumprir tudo quanto havia jurado a Abraão, seu pai, “porquanto Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandado, os Meus preceitos, os Meus estatutos e as Minhas leis” (verso 5). Agora quando Deus estava trazendo os filhos de Abraão do Egito, em cumprimento desse juramento, Ele Se propôs a testá-los para ver se eles também iriam andar em Sua lei; e o ponto sobre que os testou foi o Sábado. Isso, portanto, prova – além de toda controvérsia – que o Sábado era observado por Abraão, e que estava no concerto estabelecido com Ele. Era parte da justiça da fé, que Abraão tinha antes de ser circuncidado.

[172] 2. “Se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa”[7]. Agora, uma vez que o Sábado—o mesmo que os israelitas observaram no deserto, e que os descendentes de Jacó haviam observado, ou professado a fazê-lo, até este dia—estava no concerto feito com Abraão, segue-se que é o Sábado para os cristãos observarem.

3. Já aprendemos que nossa esperança é a mesma que foi estabelecida perante Abraão, Isaque e Jacó e todos os filhos de Israel. A “esperança da promessa que por Deus foi feita a nossos pais” era aquela pela qual o apóstolo Paulo estava sendo julgado (Atos 26:6); e a promessa para os fiéis é de que eles se assentarão com Abraão, Isaque e Jacó no reino de Deus. O Senhor estende a Sua mão a segunda vez para livrar o remanescente do Seu povo, e, assim, o teste de obediência neste tempo é o mesmo que foi no começo. O Sábado é o memorial do poder de Deus como Criador e Santificador; e na mensagem que anuncia a imediata hora do juízo de Deus, o evangelho eterno, que é a preparação para o fim, é proclamada nas palavras, “adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apo. 14:6, 7).

Esse teste foi feito antes que a lei tivesse sido pronunciada no Sinai, e antes que o povo tivesse alcançado aquele lugar. Não obstante descobrimos que cada aspecto da lei já era conhecido. Uma clara evidência de que a lei dada no Sinai não foi o primeiro anúncio dela é que mais de um mês antes desse evento os filhos de Israel foram testados a seu respeito; e as palavras, “Até quando recusareis guardar os Meus mandamentos e as Minhas leis?”[8] demonstram que eles a tinham conhecido há muito tempo, e muitas vezes a tinham quebrantado mediante a sua descrença.

Quando chegamos aos eventos ligados à outorga da lei, seremos capazes de ver mais claramente do que agora que o Sábado que se esperava que os judeus observassem não poderia, sob qualquer possibilidade, ser afetado pela morte de Cristo, mas para sempre esteve identificado com o evangelho, séculos antes da crucifixão. Nesse sentido, contudo, devemos observar um ponto em relação a quão definido era o Sábado.

[173] Ao povo foi dito, “Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o Sábado; nele não haverá”. Esta é exatamente a mesma expressão empregada no quarto mandamento. “Seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho; mas o sétimo dia é o Sábado do Senhor teu Deus; nele não farás nenhuma obra”[9]. Muitas pessoas foram levadas a crer que o mandamento não é definido em seus requisitos, e que nele o Sábado não se prende a um dia fixo na semana, servindo qualquer dia da semana, desde que precedido de seis dias de trabalho. O relato da dádiva do maná mostra que esta é uma idéia errada, e que o mandamento requer não simplesmente uma parte indefinida do tempo, mas o sétimo dia da semana.

A concessão do maná mostrou quão positivamente o dia de Sábado é definido, e que não foi deixado ao homem decidir que dia deve ser. Ademais, mostrou que o “sétimo dia” não significa a sétima parte do tempo, mas um dia bem definido e intermitente. Se o “sétimo dia” representasse a sétima parte do tempo, então “o sexto dia” ao mesmo tempo significaria a sexta parte do tempo; se os filhos de Israel tivessem agido segundo tal pressuposto, enfrentariam logo uma dificuldade.

Há somente um período de sete dias, e esta é a semana conhecida desde a Criação. Deus trabalhou seis dias, e naqueles primeiros seis dias concluiu a obra da criação; “descansou nesse dia de toda a obra que fizera. Abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou; porque nele descansou de toda a Sua obra que criara e fizera” (Gên. 2:2, 3). Portanto, quando Deus declara que o sétimo dia é o Sábado, Ele quer dizer que o Sábado é o sétimo dia da semana, o dia que é comumente conhecido como Sábado. O sexto dia, em que os filhos de Israel deviam preparar-se para o Sábado, é o sexto dia da semana, comumente conhecido como sexta-feira.

Isto está estabelecido insofismavelmente pelo registro inspirado. No registro da crucifixão e sepultamento de Cristo, é-nos dito que as mulheres foram ao sepulcro “No fim do Sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana” (Mat. 28:1); e por [174] outro autor é dito que “passado o Sábado” (Marcos 16:1). Fazemos referência a estes textos para mostrar que o primeiro dia da semana segue-se imediatamente ao Sábado, e que nenhum tempo se interpôs entre o encerramento do Sábado e a visita das mulheres ao sepulcro. Agora quando lemos o registro em Lucas verificamos que quando Cristo foi sepultado, “Era o dia da preparação, e ia começar o Sábado”. As mulheres foram ver onde Ele havia sido depositado “e, voltando elas, prepararam especiarias e ungüentos; e no Sábado repousaram, conforme o mandamento”. Depois, já “no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro” (Luc. 23:54-56 e 24:1.

O Sábado seguiu-se à “preparação”, e imediatamente precedeu “o primeiro dia da semana”. Portanto, o Sábado era o sétimo dia da semana. Mas foi “o dia de Sábado conforme o mandamento”. Portanto, o Sábado do mandamento não é outro senão o sétimo dia da semana. Esse foi o dia que Deus assinalou na forma mais especial como o Sábado, por realizar maravilhosos milagres em Sua honra por quarenta anos. Que este fato seja bem considerado. Seja lembrado que quando quer que a Bíblia faz menção do Sábado, o sétimo dia da semana, e este somente, é que o representa. Que muito antes dos dias de Moisés esse Sábado do quarto mandamento, junto com toda a lei, estava inseparavelmente ligado ao Evangelho de Jesus Cristo será muito evidente ao prosseguirmos em nosso estudo.

The Present Truth, 8 de outubro de 1896.



[1] Hebreus 11:29;

[2] I João 5:4;

[3] Êxodo 16:1;

[4] Gômer, ou omer é uma medida perto de 2,2 litros, um décimo de um efa.. “O efa era, originariamente uma medida de capacidade egípcia, hoje ainda desconhecida, tomada pelos hebreus como uma medida básica para grãos, equivalente, aproximadamente, a 22 litros(Dicionário Bíblico, vol. 8 da série SDABC, pág. 332);

[5] Romanos 15:4;

[6] Êxodo 16:4, ú.p., “...para que Eu o prove se anda na minha lei ou não”;

[7] Gálatas 3:29;

[8] Êxodo 16:28;

[9] Êxodo 20: 9 e 10.