domingo, 1 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 18.

O Concerto Eterno, capítulo 18.
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AS PROMESSAS PARA ISRAEL
Pregando o Evangelho no Egito

“Então foram Moisés e Arão e ajuntaram todos os anciãos dos filhos de Israel; e Arão falou todas as palavras que o Senhor havia dito a Moisés e fez os sinais perante os olhos do povo. E o povo creu; e quando ouviram que o Senhor havia visitado os filhos de Israel e que tinha visto a sua aflição, inclinaram-se, e adoraram”. Êxo. 4:29-31.

Mas eles não estavam ainda prontos para deixar o Egito. Àquela altura, em relação a ouvirem a Palavra, eram como solo rochoso. A princípio a receberam com alegria, mas logo, quando a perseguição se levantou, se escandalizaram. Se pudessem deixar o Egito sem qualquer impedimento, e conseguir uma tranqüila transferência para a terra prometida, sem dúvida não murmurariam, mas, “por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus” (Atos 14:22), e aqueles que entram nele têm que aprender a regozijar-se, mesmo nas tribulações. Essa lição os israelitas precisavam ainda aprender.

A mensagem a Faraó, “Assim diz o Senhor Deus de Israel, deixa o meu povo ir”1, sobre que trataremos mais particularmente mais adiante, resultou numa opressão ainda mais rigorosa dos israelitas. Isso de fato era-lhes uma necessidade, primeiro para que pudessem sentir maior ansiedade em partir, e posteriormente tivessem menor desejo de retornar, e, em segundo lugar, para que pudessem contemplar o poder de Deus. As pragas que advieram posteriormente sobre a terra do Egito foram tão necessárias para ensinar aos israelitas o poder de Deus para que pudessem dispor-se a ir, como foram para os [141] egípcios, para que pudessem disporem-se a deixá-los ir. Os israelitas precisavam aprender que não tinha sido por qualquer poder humano que foram libertos, mas que tudo foi plenamente obra do Senhor. Precisavam aprender a se entregarem completamente aos Seus cuidados e direção. E em vista de que “tudo que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que, pela constância e pela consolação provenientes das Escrituras, tenhamos esperança” (Rom. 15:4), ao lermos o relato devemos aprender a mesma lição.

Não é absolutamente causa de admiração que o povo se queixasse a princípio quando a perseguição aumentou em resultado da mensagem trazida por Moisés. O próprio Moisés parece ter ficado perplexo com ela, e foi perguntar ao Senhor a respeito. “Então disse o Senhor a Moisés: Agora verás o que hei de fazer a Faraó; pois por uma mão poderosa os deixará ir, e por uma poderosa mão os lançará de sua terra. Falou Deus a Moisés, e disse: Eu sou Jeová; e apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó, como o Deus Todo-Poderoso; mas pelo Meu nome Jeová, não lhes fui conhecido. Estabeleci o Meu pacto com eles para lhes dar a terra de Canaã, a terra de suas peregrinações, na qual foram peregrinos. E também tenho ouvido o gemido dos filhos de Israel, aos quais os egípcios fazem servir; e lembrei-Me da Minha aliança. Portanto dize aos filhos de Israel: Eu sou Jeová; Eu vos tirarei de debaixo das cargas dos egípcios, livrar-vos-ei da sua servidão, e vos resgatarei com braço estendido e com grandes juízos. Eu vos tomarei por Meu povo e serei vosso Deus; e vós sabereis que Eu sou Jeová vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios. Eu vos introduzirei na terra que jurei dar a Abraão, a Isaque e a Jacó; e vo-la darei por herança. Eu sou Jeová”. Êxo. 6:1-8.

O Evangelho da Libertação

Aprendemos que quando Deus fez a promessa a Abraão, Ele pregou-lhe o Evangelho; necessariamente segue-se, pois, que [142] quando Ele saiu para cumprir a promessa à Sua semente, o mesmo Evangelho foi-lhes pregado como uma preparação para o seu cumprimento. Assim aconteceu. Aprendemos da epístola aos Hebreus que o Evangelho, que nos é agora pregado, é o mesmo que foi então pregado a eles, e na passagem acima o descobrimos. Observe os seguintes pontos:

1. Deus disse a Abraão, Isaque e Jacó: “Eu também estabeleci o Meu concerto com eles, para dar-lhes a terra de Canaã, a terra de sua peregrinação em que eram estrangeiros”.

2. Então Ele acrescentou: “Também ouvi o lamento dos filhos de Israel, a quem os egípcios mantêm sob escravidão, e Me lembrei do Meu concerto”.

3. Quando o Senhor diz que Se lembra de certa coisa, Ele não quer dizer que isso jamais tenha deixado de estar em Sua mente, pois isso é impossível. Nada jamais poderá escapar-Lhe. Mas, como descobrimos em várias ocasiões, Ele indica que está para realizar essa coisa. Assim, no juízo final de Babilônia, é dito: “Deus Se lembrou das iniqüidades dela”. Apo. 18:5. “Deus lembrou-Se da grande Babilônia, para lhe dar o cálice do vinho do furor da Sua ira”, Apoc. 16:19. “Deus lembrou-Se de Noé” e fez com que o dilúvio cessasse, mas sabemos que por nenhum instante Noé estava esquecido na arca, pois nem mesmo um pardal é esquecido. Ver também Gên. 19:29, 30:22; e I Sam. 1:19, para o emprego da palavra “lembrar-se” no sentido de estar a ponto de cumprir o que foi prometido.

4. É evidente, portanto, do capítulo seis de Êxodo, que o Senhor estava a ponto de cumprir a promessa a Abraão e à sua semente. Mas com a morte de Abraão, isso somente poderia dar-se pela ressurreição. O tempo da promessa, que Deus havia jurado a Abraão, estava bem próximo. Mas isso é evidência de que o Evangelho estava sendo pregado, uma vez que somente o Evangelho do reino prepara para o fim.

5. Deus estava Se fazendo conhecido ao povo. Somente no Evangelho, porém, é que Deus é tornado conhecido. As coisas que revelam o poder de Deus tornam conhecida a Sua divindade.

6. Deus declarou: “Eu vos tomarei por Meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que Eu sou o Senhor vosso Deus”2. Compare [143]com a promessa do novo concerto, “Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo. E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: ‘Conhecei ao Senhor; porque todos Me conhecerão, desde o menor até o maior deles, diz o Senhor”. Jer. 31:33, 34. Não há o que negar que esta é a proclamação do Evangelho; mas é exatamente a mesma coisa que foi proclamada aos israelitas no Egito.

7. Mas o fato que a libertação dos filhos de Israel foi de tal monta que só poderia ser efetuada mediante a pregação do Evangelho, é evidência de que não foi uma libertação comum da escravidão física para uma herança temporal. Uma perspectiva muito maravilhosa se abria perante os filhos de Israel, se apenas tivessem conhecido o dia de sua visitação, e tivessem continuado fiéis.

Pregando ao Faraó

É verdade que “Deus não faz acepção de pessoas, mas que Lhe é aceitável aquele que, em qualquer nação, O teme e pratica o que é justo”. Atos 10:34, 35. Essa não era uma nova verdade nos dias de Pedro, mas sempre foi verdade, pois Deus é sempre o mesmo. O fato de que os homens têm geralmente sido vagarosos em percebê-lo não faz diferença. Os homens podem deixar de reconhecer o poder de Deus, mas isso não O torna menos poderoso; assim, o fato de que a grande massa dos professos seguidores de Deus têm geralmente falhado em reconhecer que Ele não faz acepção de pessoas, e é perfeitamente imparcial, mas têm suposto que os amou com exclusão de outros povos, não limitou o Seu caráter.

A promessa foi feita a Abraão e à sua semente. Mas a promessa e a bênção vieram a Abraão antes que fosse circuncidado, “para que fosse pai de todos os que crêem, estando eles na incircuncisão, a fim de que a justiça lhes seja imputada”. Rom. 4:11. “Não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros [144] conforme a promessa”. Gál. 3:28, 29. Portanto, a promessa abrangia até mesmo os egípcios, bem como os israelitas, desde que cressem. E não abrangia israelitas descrentes mais do que os egípcios descrentes. Abraão é pai daqueles que são circuncidados, mas unicamente daqueles que “não somente são da circuncisão, mas que também andam nas pisadas daquela fé que teve nosso pai Abraão, que tivera antes de ser circuncidado”3. Se a incircuncisão mantém a justiça da lei, a incircuncisão deles é contada por circuncisão. Ver Rom. 2:25-29.

Não se deve esquecer que Deus não começou a mandar as pragas imediatamente sobre o Faraó e o seu povo. Ele não Se propôs a libertar os israelitas matando os seus opressores, mas por convertê-los. Deus “não está querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se”. II Ped. 3:9. Ele “quer que todos os homens se salvem e venham ao pleno conhecimento da verdade”. I Tim. 2:4.“Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que morrereis, ó casa de Israel?” Eze. 33:11. Todos os homens são criaturas de Deus, e Seus filhos, e Seu grande coração de amor os abraça a todos, sem levar em conta raça ou nacionalidade.

Nesse sentido, a princípio a simples exigência foi feita a Faraó para deixar o povo de Deus sair livre. Mas ele de modo soberbo e desafiador respondeu: “Quem é o Senhor, para que eu deva obedecer Sua voz para deixar ir Israel? Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei ir Israel”. Êxo. 5:2. Daí milagres foram realizados perante ele. Inicialmente esses não eram juízos, mas simplesmente manifestações do poder de Deus. Todavia os mágicos do Faraó, os servos de Satanás, contrafizeram esses milagres, e o coração de Faraó fez-se ainda mais duro do que antes. Não obstante, o leitor cuidadoso verá que até mesmo nos milagres que foram falsificados pelos mágicos, o superior poder do Senhor foi manifesto.

O próximo artigo, na série de estudos do Evangelho Eterno, tratará sobre a tão propalada questão de como o coração de Faraó foi endurecido.

The Present Truth, 3 de setembro de 1896.

Notas desta edição:

1) Êxodo 5:1;

2) Êxodo 6:7;

3) Romanos 4:12;