domingo, 8 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 26

O Concerto Eterno, capítulo 26

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AS PROMESSAS A ISRAEL

Água da Rocha – Água Viva

“Rocha Eterna, Meu Jesus, Tu morreste lá na cruz!”[1]

“Depois toda a congregação dos filhos de Israel partiu do deserto de Sim pelas suas jornadas, segundo o mandamento do SENHOR, e acampou em Refidim; e não havia ali água para o povo beber. Então contendeu o povo com Moisés, e disse: Dá-nos água para beber. E Moisés lhes disse: Por que contendeis comigo? Por que tentais ao SENHOR? Tendo pois ali o povo sede de água, o povo murmurou contra Moisés, e disse: Por que nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós e aos nossos filhos, e ao nosso gado? E clamou Moisés ao SENHOR, dizendo: Que farei a este povo? Daqui a pouco me apedrejará. Então disse o SENHOR a Moisés: Passa diante do povo, e toma contigo alguns dos anciãos de Israel; e toma na tua mão a tua vara, com que feriste o rio, e vai. Eis que Eu estarei ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe, e tu ferirás a rocha, e dela sairão águas e o povo beberá. E Moisés assim o fez, diante dos olhos dos anciãos de Israel. E chamou aquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao SENHOR, dizendo: Está o SENHOR no meio de nós, ou não?” (Êxo. 17:1-7).

[186] Temos visto que no maná Deus estava dando ao povo alimento espiritual. De igual modo, no que se refere ao evento há pouco narrado, que beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo” (1 Cor. 10:4). Água é uma das coisas mais essenciais à vida. É um emblema da vida. Sem um apropriado suprimento de água animais e plantas logo deixam de existir. Aquelas pessoas no deserto logo teriam perecido, se água não lhes tivesse sido fornecida. Para elas, portanto, significava vida. Todos quantos já tenham sofrido sede podem imaginar vividamente como o ânimo dos filhos de Israel se reanimou, e nova vida se lhes despertou, ao beberem aquela água viva, fresca, cristalina que brotou da rocha ferida.

“E a Rocha era Cristo”. Muitas vezes o Senhor é representado como uma Rocha. O SENHOR é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza (Sal. 18:2).O SENHOR é reto. Ele é a minha rocha e nEle não há injustiça(Sal. 92:15). Engrandecei a nosso Deus. Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos justos são; Deus é a verdade, e não há nEle injustiça; justo e reto é(Deu. 32:3, 4). Jesus Cristo é a Rocha sobre a qual a Igreja é edificada—“pedra viva, rejeitada, na verdade, pelos homens, mas, para com Deus eleita e preciosa”, sobre a qual, se a Ele formos, somos edificados “como casa espiritual” (I Pe. 2:4, 5). Tanto os profetas quanto os apóstolos edificaram sobre Ele, não só como “principal pedra de esquina” (Efé. 2:20), mas como o completo fundamento, e o único que pode ser lançado. 1ª Cor. 3:11. Quem quer que não edifique sobre Ele, edifica sobre areia movediça.

A rocha que o povo viu no deserto era uma mera figura da Rocha Jesus Cristo, que sobre ela Se postou, mas a quem eles não viam. Aquela rocha dura não podia fornecer água. Não havia um suprimento inesgotável conservado dentro dela, que, uma vez aberta, prosseguisse fluindo sempre fresca e suave. Não tinha vida. Mas Cristo, o “Autor da vida[2], postou-Se sobre a mesma, e foi dEle que a água procedeu. Não precisamos especular neste caso, pois as Escrituras claramente nos dizem que o povo bebeu de Cristo.

[187] Isso deve ter sido evidente a cada um que tenha dedicado um momento de reflexão sobre a questão. De fato, a água foi concedida como uma resposta direta a uma pergunta incrédula, “Está o Senhor entre nós ou não?[3] Ao lhes fornecer água extraída da dura rocha no deserto estéril e seco, o Senhor revelava ao povo que Ele realmente estava com eles; pois ninguém mais, a não ser Ele, poderia ter realizado aquilo.

Mas Ele não estava entre eles como um mero hóspede. Ele era a vida deles, e esse milagre destinava-se a ensinar-lhes esse fato. Eles sabiam que a água era sua única esperança de vida, e não podiam deixar de perceber que a água que os reanimava viera diretamente do Senhor. Portanto, aqueles que se detiveram a pensar devem ter visto que Ele era a vida e o sustentador deles. Soubessem disso ou não, estavam bebendo diretamente de Cristo, isto é, recebendo a Sua vida. Com Ele está o “manancial da vida” (Sal. 36:9).

Fazia toda diferença do mundo o povo reconhecer ou não a Cristo como a fonte de sua vida. Se o fizessem, se bebessem em fé, receberiam vida espiritual da Rocha. Se não reconhecessem ao Senhor em Seu gracioso dom, então a água não seria para eles mais do que o que seria para o seu gado. “O homem que está em honra, e não tem entendimento, é semelhante aos animais, que perecem(Sal. 49:20). Quando as pessoas com suas habilidades superiores não reconhecem a Deus em Seus dons mais do que o faria o seu gado, revelam-se em menor discernimento do que o gado. “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o Meu povo não entende” (Isa. 1:3).

Em vista do milagre da água procedente da Rocha, o próprio Senhor—podemos entender melhor a força de Suas palavras quando, mais tarde, assim expressou a grandeza do pecado deles em dEle se desviarem: Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai verdadeiramente desolados, diz o SENHOR. Porque o Meu povo fez duas maldades: a Mim Me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram para si cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jer. 2:12, 13).

O salmista disse ao Senhor: “Ele é a minha Rocha, e nEle não há injustiça”[4] Sua vida é justiça. Portanto, aqueles que vivem pela fé nEle vivem vidas justas. A água que procedeu [188] da Rocha, no deserto, era para a vida do povo. Era a própria vida de Cristo. Se, portanto, ao beber dela eles tivessem reconhecido a Fonte da qual procedeu, teriam estado bebendo em justiça, e teriam sido abençoados com justiça; pois está escrito, “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão fartos” (Mat. 5:6). Se temos sede por justiça, e somos fartos, é somente por bebermos a justiça da qual tivemos sede.

Jesus Cristo é a fonte de água viva. Assim, quando a mulher samaritana expressou surpresa por Ele lhe ter pedido para beber, ao estar junto ao poço de Jacó para tirar água, Ele lhe disse: Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-Me de beber, tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva”. Ao ela reagir ainda surpresa por Suas palavras, Ele aduziu: Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; Mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna (João 4:10-14).

Essa água viva pode ser bebida agora por “quem quiser”. Pois “o Espírito e a noiva dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, receba de graça a água da vida” (Apoc. 22:17).

Essa água da vida, da qual todos são convidados a beber livremente, é “a pura água da vida, brilhante como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro” (Apoc. 22:1). Ela procede de Cristo, pois quando João viu o trono, do qual a água da vida procede, ele viu “no meio do trono” “um Cordeiro em pé, como havendo sido morto, e tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus, enviados por toda a terra” (Apoc. 5:6).

Se olharmos para o Calvário veremos isso tornado ainda mais claro. Ao Jesus pender da cruz, “um dos soldados Lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água” (João 19:34). Agora “três são os que dão testemunho: o Espírito, e a água, e o sangue; e estes três concordam” (1 João 5:8). Sabemos que “o sangue é vida” (Lev. 17: 11, 14), e que “o espírito vive por causa da justiça” (Rom. 8:10); portanto, desde que o Espírito e [189] a água e o sangue concordam em um, a água deve também ser a água da vida. Sobre a cruz Cristo derramou a Sua vida pela humanidade. Seu corpo era o templo de Deus, e Deus estava entronizado no Seu coração; assim a água da vida que fluiu de Seu lado ferido era a mesma água da vida que flui do trono de Deus, da qual podemos todos beber e viver. O Seu coração é a fonte aberta “para remover o pecado e a impureza” (Zac. 13:1).

É o Espírito de Deus que nos traz esta água; ou, antes, é por receber o Espírito Santo que recebemos a água da vida; e isso o fazemos pela fé em Cristo, que é representado pelo Espírito Santo. No último dia da festa dos tabernáculos, “Jesus pôs-Se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Quem crê em Mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva. Ora, isto Ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nEle cressem” (João 7:37-39).

O Espírito Santo, recebido no coração, nos traz a verdadeira vida de Cristo, mesmo aquela “vida eterna, que estava com o Pai, e a nós foi manifestada” (I João 1:2). Quem quer que receba de bom grado o Espírito Santo recebe a água da vida, que vem junto com o sangue de Cristo que purifica de todo o pecado. Essa teria sido a porção dos israelitas no deserto, se apenas tivessem bebido em fé. Na rocha que Moisés feriu, eles tinham, tal como os gálatas nos dias de Paulo, a Jesus Cristo “evidenciado ... como crucificado” entre eles. Gál. 3:1. Estavam aos pés da cruz de Cristo como realmente fizeram os judeus que saíram de Jerusalém, rumo ao Calvário. Muitos deles não conheciam o dia de sua visitação, e assim pereceram no deserto, assim como mais tarde os judeus não conheceram o Cristo crucificado, e assim pereceram em seus pecados na destruição de Jerusalém. “Mas, a todos quantos O receberam, aos que crêem no Seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (João 1:12).

Os israelitas nos dias de Moisés não tinham desculpas por não conhecer o Senhor, pois Ele Se fez conhecer a eles por muitos poderosos milagres. Não havia desculpas para não O reconhecerem como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo,”[5] pois tinham evidência diária de que Ele era a sua vida; a rocha ferida continuamente [190] lhes falava da Rocha de sua salvação, despejando a Sua vida por eles a partir de Seu lado ferido.

Os remidos do Senhor deverão vir a Sião com cânticos, mas não lhes será forçado cantar. Eles cantarão por estarem felizes; porque nada, a não ser cânticos, expressará o seu gozo. Esse gozo é o gozo do Senhor. Ele os alimenta com Pão do céu, e os fazem beber da Água do rio de Seus prazeres. Isto é, Ele lhes concede a Si mesmo. Mas quando o Senhor nos concede a Si mesmo, nada mais há para dar. “Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós, como não nos dará também com Ele todas as coisas?” (Rom. 8:32). Deus nos dá a Si mesmo dando-nos Sua vida em Cristo; e isso foi expresso aos israelitas na concessão da água da vida, que procedia de Cristo. Portanto, sabemos que tudo quanto o Evangelho de Cristo tem para os homens ali estava disponível aos filhos de Israel no deserto.

Já temos aprendido que a promessa a Abraão foi o Evangelho. O juramento que confirmou aquela promessa é o juramento que nos dá forte consolação, quando fugimos em busca de refúgio em Cristo, no santo lugar de Deus. Era para dar garantia aos israelitas quanto à livre graça de Deus, de modo que pudessem beber da vida de Cristo, se apenas cressem, a qual procedia da água da rocha. Era para assegurar-lhes que a bênção de Abraão, que é o perdão dos pecados mediante a justiça de Deus em Cristo, era para eles. Isso é mostrado pelas palavras, “Fendeu a rocha, e dela brotaram águas, que correram pelos lugares áridos como um rio. Porque se lembrou da Sua santa palavra, e de Abraão, Seu servo” (Sal. 105:41, 42).

Jesus Cristo é o “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apo. 13:8), “o Qual, na verdade, foi conhecido ainda antes da fundação do mundo” (1 Ped. 1:20). A cruz de Cristo não é coisa de um dia, mas permanece onde quer que haja pecadores para serem salvos, desde a queda. Está sempre presente, de modo que continuamente os crentes podem dizer com Paulo, “Estou crucificado com Cristo; e vivo,...” (Gál. 2:20). Não temos que olhar atrás para vermos a cruz, assim como os homens dos tempos mais remotos não tinham que olhar adiante para contemplá-la. Ela permanece com seus braços estendidos, abrangendo os séculos, desde o Éden perdido até o Éden restaurado, e [191] sempre e em todo lugar os homens têm somente que erguer os olhos e ver a Cristo, “levantado da terra[6], atraindo-os a Ele por Seu amor eterno que flui na direção deles como um córrego vivo.

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A Presença Real

Na sua murmuração por água o povo dissera, “Está o Senhor no meio nós ou não?” O Senhor respondeu esta pergunta numa maneira por demais prática. Ele postou-Se sobre a rocha em Horebe e lhes concedeu água para que pudessem beber e viver. Ele estava realmente ali em pessoa. Era a Sua Presença Real. Ali estava não obstante eles não O pudessem ver. E por lhes dar evidência de que não estava longe de cada um deles, de modo que se O tivessem sentido pela fé, O teriam encontrado e recebido, e a Sua presença real teria estado neles tão verdadeiramente quanto estava na água que beberam.

No maná, o pão do céu, que os israelitas estavam a comer todos os dias, e na água da Rocha, Cristo Jesus, temos o exato correspondente da Santa Ceia. O pão e a água não eram Cristo, assim como o pão e o vinho não podem ser transformados de forma alguma no corpo e sangue de Cristo. Não seria de nenhuma utilidade, ainda que pudessem ser transformados, pois “a carne para nada aproveita.[7] Mas revelaram a Sua real presença a todos quantos tinham olhos da fé para discernir o corpo do Senhor. Revelaram que Cristo habita no coração pela fé, exatamente como os emblemas são recebidos pelo corpo; e exatamente como os emblemas são assimilados e se tornam carne, do mesmo modo Cristo, a Palavra, se torna carne em todos quantos O recebem pela fé. Cristo é formado dentro pelo poder do Espírito.

Deus não é um mito. O Espírito Santo não é um mito. Sua presença é tão real quanto Ele próprio. Quando Cristo declara, “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele Comigo” (Apo. 3:20), Ele quer dizer que isso é verdadeiro, um fato real; e quando diz, “Se alguém Me amar, guardará a Minha palavra; e Meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada” (João 14:23), Ele não tenciona [192] enganar-nos com um fantasma. Ele vem na carne hoje, tão realmente quanto ocorria na Judéia. Seu aparecimento então era simplesmente para mostrar a todos os homens a possibilidade e a perfeição da mesma. E assim como Ele vem na carne agora, a todos quantos O recebem, o mesmo fazia nos tempos antigos, quando Israel estava no deserto; sim, até nos dias de Abraão e Abel. Podemos desgastar-nos em especulação sobre como isso é possível, e morrer de inanição espiritual por esse meio, ou podemos “provar e ver que o Senhor é bom” e encontrar em Sua presença satisfação e “alegria completa[8].

-- The Present Truth, 29 de outubro de 1896.



[1] HA, Hino 195, autor, Augustus M. Toplady;

[2] Atos 3: 15;

[3] Êxo. 17: 7;

[4] Salmo 92:15;

[5] João 1: 29;

[6] João 12: 32;

[7] João 6: 63;

[8] Salmo 34: 8 e João 17:13.