domingo, 1 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 11.

O Concerto Eterno, capítulo 11.

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O Chamado a Abraão

A Promessa de Vitória

Temos observado a repetição da promessa, e o juramento que a confirma. Mas há ainda um aspecto muito importante da promessa que não foi especialmente ressaltado. Trata-se disto: “e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos”. Gên. 22:17. Isso merece mais detida atenção, pois apresenta a consumação do Evangelho.

Que nunca seja esquecido que “as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência, não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo”. Gál. 3:16. E também, “se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa”, verso 29. A semente é Cristo e aqueles que são Seus, e nada mais. A Bíblia em parte alguma apresenta qualquer outra semente de Abraão. Portanto, a promessa a Abraão resumia-se nisso: Cristo, e aqueles que são dEle, —a tua descendência—possuirá as portas dos seus inimigos.

Por um homem o pecado adentrou o mundo. A tentação veio por intermédio de Satanás, o arquiinimigo de Cristo. Satanás e suas hostes são os inimigos de Cristo, e de tudo quanto se assemelhe a Cristo. São inimigos de todo o bem, e de todos os homens. O nome “Satanás” significa adversário. “O diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar”. I Ped. 5:8. A promessa de que a semente de Abraão possuirá os portões de seus inimigos, é a promessa de vitória sobre o pecado e Satanás, mediante Jesus Cristo. (91) Isso é mostrado pelas palavras do sacerdote Zacarias, quando ele foi cheio do Espírito Santo. Ele profetizou, dizendo, “Bendito o Senhor Deus de Israel, porque visitou e remiu o Seu povo, e nos levantou uma salvação poderosa na casa de Davi, Seu servo; como falou pela boca dos Seus santos profetas desde o princípio do mundo; para nos livrar dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam; para manifestar misericórdia a nossos pais, e lembrar-Se de Sua santa aliança e do juramento que jurou a Abrão, nosso pai, de conceder-nos que, libertados da mão de nossos inimigos, O serviríamos sem temor, em santidade e justiça perante Ele, todos os dias da nossa vida”. Luc. 1:68-75.

Essas palavras foram proferidas por ocasião do nascimento de João Batista, o precursor de Cristo. Elas fazem referência direta à promessa e ao juramento que estamos estudando. Foram inspiradas pelo Espírito Santo. Portanto, estamos simplesmente seguindo a direção do Espírito quando dizemos que a promessa de posse dos portões dos nossos inimigos significa libertação do poder das hostes de Satanás. Quando Cristo enviou os doze, Ele “deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios” Luc. 9:1. Esse poder é para estar com a Sua Igreja até o fim dos tempos, pois Cristo declarou: “estes sinais seguirão os que crerem: em Meu nome expulsarão os demônios,” etc., Mar. 16:17. E novamente, “Aquele que crê em Mim também fará as obras que Eu faço, e as fará maiores do que estas; porque Eu vou para Meu Pai”. João 14:12.

Mas a morte veio pelo pecado, e como Satanás é o autor do pecado, assim ele tem poder de morte. Uma teologia derivada do paganismo pode conduzir o homem a dizer que a morte é uma amiga; mas cada cortejo funerário e cada lágrima amarga, derramada pelos mortos, proclamam que é uma inimiga. A Bíblia assim o declara, e fala de sua destruição. Falando sobre e para os irmãos, declara:

“Porque assim como todos morreram em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na Sua vinda. Depois virá o fim, quando Ele tiver entregado o reino a Deus, o Pai, quando Ele (92) houver aniquilado todo o império, e toda potestade e força. Porque convém que Ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de Seus pés. Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.” I Cor. 15:22-26.

Isso nos diz que o fim será por ocasião da vinda do Senhor, e que quando isso tiver lugar todos os inimigos de Cristo terão sido postos sob os Seus pés, segundo a palavra do Pai ao Filho: “Assenta-te à Minha mão direita, até que Eu ponha os Teus inimigos por escabelo dos Teus pés.” Sal. 110:1. O último inimigo a ser destruído é a morte. João em visão viu os mortos, pequenos e grandes, comparecendo perante Deus para serem julgados, no último grande dia. Aqueles, cujos nomes não estiverem no livro da vida do Cordeiro, serão lançados no lago de fogo. “E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte”. “Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte”, Apo. 20:14 e 6.

A promessa, “tua semente possuirá a porta dos seus inimigos”1 não pode ser cumprida exceto pela vitória sobre todos os inimigos por toda a semente. Cristo venceu; e nós mesmo agora podemos dar graças a Deus, que “nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo”2; mas a batalha ainda não está concluída, mesmo a nosso respeito; há grande número dos que serão vitoriosos ao final, que ainda não se alistaram sob a bandeira do Senhor; e alguns que agora, sendo Seus, podem desviar-se da fé. A promessa, portanto, abarca nada menos do que a conclusão da obra do Evangelho, e a ressurreição de todos os justos—os filhos de Abraão—, e o revestimento da imortalidade, por ocasião da segunda vinda de Cristo.

“Se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa”3. Mas a posse do Espírito Santo é a característica que distingue os que são de Cristo. “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle”4. Mas a quantos tenham o Espírito, têm a garantia da ressurreição pois, “se o Espírito dAquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, Aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo Seu Espírito que em vós habita.” Rom. 8:11.

Assim vemos que a esperança da promessa feita a Abraão foi a ressurreição dos mortos, por ocasião da vinda do Senhor. A esperança da (93) vinda de Cristo é a “bem-aventurada esperança”5 que tem entusiasmado o povo de Deus desde os dias de Abraão, ou melhor, desde os dias de Adão. Muitas vezes dizemos que todos os sacrifícios apontavam a Cristo, e quase com a mesma freqüência perdemos de vista o sentido de tal declaração. Não pode significar que eles apontavam adiante, ao tempo quando o perdão dos pecados seria obtido, pois todos os patriarcas tinham isso tanto quanto todos quantos nasceram desde a crucifixão de Cristo. Abel e Enoque são especialmente mencionados entre a multidão de outros, como tendo sido justificados pela fé. A cruz de Cristo foi uma coisa real nos dias de Abraão, como é possível ser para qualquer um que viva hoje.

Qual é, então, o real significado da declaração de que todos os sacrifícios, desde Abel até o tempo de Cristo apontavam a Ele? Trata-se do seguinte: É evidente que eles revelavam a morte de Cristo: isso não precisa ser ressaltado. Mas o que é a morte de Cristo sem a ressurreição? Paulo pregou somente a Cristo e Este crucificado, contudo muito vigorosamente pregou a “Jesus e a ressurreição6”. Pregar a Cristo crucificado é pregar o Cristo ressuscitado. Mas a ressurreição de Cristo contém em si a ressurreição de todos quantos são dEle. O judeu bem instruído e crente, portanto, mostrava por seu sacrifício a sua fé na promessa feita Abraão, que devia ser cumprida por ocasião da segunda vinda do Senhor. A carne e o sangue da vítima representavam o corpo e o sangue de Cristo, da mesma forma como o pão e o vinho na Ceia do Senhor, pelos quais nós, tal como eles faziam, “anunciamos a morte do Senhor até que Ele venha”7.

The Present Truth, 16 de julho de 1896.

Notas desta edição:

1) Gênesis 22:17, ú. p.;

2) I Coríntios 15:57;

3) Gálatas 3:29;

4) Romanos 8;9;

5) Tito 2:13;

6) Atos 17:18 e Romanos 1:4;

7) I Coríntios 11:26.