Estimado leitor, o Novo Concerto ocasionalmente também recebeu o título de Antiga Aliança ou Velho Concerto, o que contribuiu para se estabelecer um equívoco na mente de muitos. Conforme se percebe no capítulo anterior (32, de O Concerto Eterno) o autor deixou de distinguir a diferença entre a Antiga Aliança de Êxodo 19 e 24 e a primeira etapa da Nova Aliança, i. é, a primeira fase, a de antes da cruz.
Graças a Deus, o Senhor nos legou uma excelente explanação, que elucida bem esse assunto, por intermédio de Ellen G. White, conforme se lê a seguir do livro Patriarcas e Profetas, sendo que as ênfases e as notas de referência foram-lhe todas acrescentadas:
[367] “A lei cerimonial[1] foi dada por Cristo. Mesmo depois que ela não mais devia ser observada, Paulo apresentou-a aos judeus em sua verdadeira posição e valor, mostrando o seu lugar no plano da redenção e sua relação para com a obra de Cristo; e o grande apóstolo declara gloriosa esta lei, digna de seu divino Originador. O serviço solene do santuário tipificava as grandiosas verdades que seriam reveladas durante gerações sucessivas. A nuvem de incenso que ascendia com as orações de Israel, representa a Sua justiça que unicamente pode tornar aceitável a Deus a oração do pecador; a vítima sangrenta sobre o altar do sacrifício, dava testemunho de um Redentor vindouro; e do santo dos santos resplandecia o sinal visível da presença divina. Assim, através de séculos e séculos de trevas e apostasia, a fé se conservou viva no coração dos homens até chegar o tempo para o advento do Messias prometido.” ...
[370] “Assim como a Bíblia apresenta duas leis, uma imutável e eterna, e outra provisória e temporária, assim há dois concertos. O concerto da graça[2] foi feito primeiramente com o homem no Éden, quando, depois da queda, foi feita uma promessa divina de que a semente da mulher feriria a cabeça da serpente. A todos os homens este concerto oferecia perdão, e a graça auxiliadora de Deus para a futura obediência mediante a fé
"Este mesmo concerto foi renovado a Abraão, na promessa: "Em tua semente serão benditas todas as nações da Terra." Gên. 22:18. Esta promessa apontava para Cristo. Assim Abraão a compreendeu (Gál. 3:8 e 16), e confiou em Cristo para o perdão dos pecados. Foi esta fé que lhe foi atribuída como justiça. O concerto com Abraão mantinha também a autoridade da lei de Deus. O Senhor apareceu a Abraão e disse: "Eu sou o Deus todo-poderoso, anda em Minha presença e sê perfeito." Gên. 17:1. O testemunho de Deus concernente a Seu fiel servo foi: "Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandado, os Meus preceitos, os Meus estatutos, e as Minhas leis." Gên. 26:5. E o Senhor lhe declarou: "Estabelecerei o Meu concerto entre Mim e ti e a tua semente depois de ti em suas gerações, por concerto perpétuo, para te ser a ti por Deus, e à tua semente depois de ti." Gên. 17:7.
“Se bem que este concerto houvesse sido feito com Adão e renovado a Abraão, não poderia ser ratificado antes da morte de Cristo. Existira pela promessa de Deus desde que se fez a [371] primeira indicação de redenção; fora aceito pela fé; contudo, ao ser ratificado por Cristo, é chamado um novo concerto. A lei de Deus foi a base deste concerto, que era simplesmente uma disposição destinada a levar os homens de novo à harmonia com a vontade divina, colocando-os onde poderiam obedecer à lei de Deus.
“Outro pacto[3], chamado nas Escrituras o "velho" concerto, foi formado entre Deus e Israel no Sinai, e foi então ratificado pelo sangue de um sacrifício[4]. O concerto abraâmico foi ratificado pelo sangue de Cristo, e é chamado o "segundo", ou o "novo" concerto, porque o sangue pelo qual foi selado foi vertido depois do sangue do primeiro[5] concerto. Que o novo concerto era válido nos dias de Abraão, evidencia-se do fato de que foi então confirmado tanto pela promessa como pelo juramento de Deus, "duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta". Heb. 6:18.
“Mas, se o concerto abraâmico continha a promessa da redenção, por que se formou outro concerto no Sinai[6]? - Em seu cativeiro, o povo em grande parte (a) perdera o conhecimento de Deus e os princípios do concerto abraâmico. Libertando-os do Egito, Deus procurou revelar-lhes Seu poder e misericórdia, a fim de que fossem levados a amá-Lo e confiar nEle. Trouxe-os ao Mar Vermelho — onde, perseguidos pelos egípcios, parecia impossível escaparem — a fim de que se compenetrassem de seu completo desamparo, e da necessidade de auxílio divino; e então lhes operou o livramento. Assim eles se encheram de amor e gratidão para com Deus, e de confiança em Seu poder para os ajudar. Ele os ligara a Si na qualidade de seu Libertador do cativeiro temporal.
“Havia, porém, uma verdade ainda maior a ser-lhes gravada na mente. Vivendo em meio de idolatria e corrupção, (b) não tinham uma concepção verdadeira da santidade de Deus, (c) da excessiva pecaminosidade de seu próprio coração, (d) de sua completa incapacidade para, por si mesmos, prestar obediência à lei de Deus, e (e) de sua necessidade de um Salvador. Tudo isto deveria ser-lhes ensinado.
“Deus os levou ao Sinai; manifestou Sua glória; deu-lhes Sua lei, com promessa de grandes bênçãos sob condição de obediência: "Se diligentemente ouvirdes a Minha voz, e guardardes o Meu concerto,[7] então... Me sereis um reino sacerdotal e o povo santo." Êxo. 19:5 e 6. O povo não compreendia a pecaminosidade [372] de seus corações, e que sem Cristo lhes era impossível guardar a lei de Deus; e prontamente entraram em concerto com Deus. Entendendo que eram capazes de estabelecer sua própria justiça, declararam: "Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos." Êxo. 24:7. Haviam testemunhado a proclamação da lei, com terrível majestade, e tremeram aterrorizados diante do monte; e, no entanto, apenas algumas semanas se passaram antes que violassem seu concerto com Deus e se curvassem para adorar uma imagem esculpida. Não poderiam esperar o favor de Deus mediante um concerto[8] que tinham violado; e agora, vendo sua índole pecaminosa e necessidade de perdão, foram levados a sentir que necessitavam do Salvador revelado no concerto abraâmico e prefigurado nas ofertas sacrificais[9]. Agora, pela fé e amor, uniram-se a Deus como seu Libertador do cativeiro do pecado. Estavam então, preparados para apreciar as bênçãos do novo concerto[10].
“As condições do "velho concerto"[11] eram: Obedece e vive - "cumprindo-os [estatutos e juízos] o homem, viverá por eles" (Ezeq. 20:11; Lev. 18:5); mas "maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei". Deut. 27:26. O "novo concerto" foi estabelecido com melhores promessas: promessas do perdão dos pecados, e da graça de Deus para renovar o coração, e levá-lo à harmonia com os princípios da lei de Deus. "Este é o concerto[12] que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a Minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração. ... Porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais Me lembrarei dos seus pecados." Jer. 31:33 e 34.
“A mesma lei que fora gravada em tábuas de pedra, é escrita pelo Espírito Santo nas tábuas do coração. Em vez de cuidarmos em estabelecer nossa própria justiça, aceitamos a justiça de Cristo. Seu sangue expia os nossos pecados. Sua obediência é aceita em nosso favor. Então o coração renovado pelo Espírito Santo produzirá os "frutos do Espírito". Mediante a graça de Cristo viveremos em obediência à lei de Deus, escrita em nosso coração. Tendo o Espírito de Cristo, andaremos como Ele andou. Pelo profeta Ele declarou a respeito de Si mesmo: "Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a tua lei está dentro do Meu coração." Sal. 40:8. E, quando esteve entre os homens, disse: "O Pai não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que Lhe agrada." João 8:29.
[373] “O apóstolo Paulo apresenta claramente a relação entre a fé e a lei, no novo concerto. Diz ele: "Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo." Rom. 5:1. "Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei." Rom. 3:31. "Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne — ou seja, ela não podia justificar o homem, porque em sua natureza pecaminosa este não a poderia guardar — "Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito." Rom. 8:3 e 4.
“A obra de Deus é a mesma em todos os tempos, embora haja graus diversos de desenvolvimento e diferentes manifestações de Seu poder, para satisfazerem as necessidades dos homens nas várias épocas. Começando com a primeira promessa evangélica, e vindo através da era patriarcal e judaica, e mesmo até ao presente, tem havido um desenvolvimento gradual dos propósitos de Deus no plano da redenção. O Salvador, tipificado nos ritos e cerimônias da lei judaica, é precisamente o mesmo que Se revela no evangelho. As nuvens que envolviam Sua divina pessoa foram removidas; o nevoeiro e as sombras desapareceram; e Jesus, o Redentor do mundo, Se acha revelado. Aquele que do Sinai proclamou a lei e entregou a Moisés os preceitos da lei ritual, é o mesmo que proferiu o sermão do monte. Os grandes princípios de amor a Deus, que estabeleceu como fundamento da lei e dos profetas, são apenas uma repetição do que Ele dissera por meio de Moisés ao povo hebreu: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder." Deut. 6:4 e 5. "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Lev. 19:18. O Ensinador é o mesmo em ambas[13] as dispensações. As reivindicações de Deus são as mesmas. Os mesmos são os princípios de Seu governo. Pois tudo procede dAquele "em Quem não há mudança nem sombra de variação". Tia. 1:17. [14]
Notas desta edição
[1] Como ela – a lei cerimonial – ‘foi dada por Cristo’ é inconcebível que ela fizesse parte daquela Antiga Aliança que ‘gera filhos para a escravidão’ (Gálatas 4.24) do pecado, simbolizada por Agar. A lei cerimonial faz, sim, parte da primeira fase da Nova Aliança.
[2] O ‘concerto da graça’ ou a ‘Nova Aliança’ teve duas etapas, fases ou dispensações: a primeira, antes da cruz; e a segunda, depois da cruz. Além do ‘concerto da graça’ há também o ‘concerto do Sinai’ ou a ‘Antiga Aliança’, a qual foi celebrada em uma cerimônia única, conforme se lê em Êxodo 24, por volta de
[3] O ‘outro pacto’ – aqui referido – trata-se do ‘concerto do Sinai’ ou a ‘Antiga Aliança’, referido em Êxodo 19 e 24. Este é o que ‘gera filhos para servidão’ (Gal. 4:24) do pecado. É o concerto da ‘justiça própria’, das ‘obras da lei’, a tentativa de se ‘justificar pela lei’ (Gálatas 5.4).
[4] Sacrifício de novilhos, conforme Êxodo 24.5.
[5] Primeiro concerto ou antiga aliança de Êxodo 19 e 24.
[6] Ou seja: se já, desde o Éden, existia a Nova Aliança – da graça – por qual razão foi feita a Antiga Aliança, o Concerto ‘das obras da lei’, que gera para escravidão? Deus fez com eles essa Antiga Aliança para que, após fracassarem, compreendessem a necessidade de crerem no verdadeiro e único concerto exequível, o concerto eterno.
[7] Qual concerto? O ‘abraâmico’ logicamente, pois não havia sido oficializado nenhum outro concerto entre o Senhor e os homens. Deus estava lhes propondo a renovação do Novo Concerto, porém eles – supondo-se capacitados de, por suas próprias forças, guardar a Lei de Deus– propuseram-Lhe o Antigo Concerto. Pelas cinco razões – supra expostas: a, b, c, d, e – o Senhor aceitou a proposta deles e firmou com eles o Antigo Concerto, o qual teve uma só e única cerimônia em toda a Bíblia. Entretanto o Antigo Concerto continua vigente e ‘gerando para a servidão’, até o dia de hoje.
Alguém está sob o Antigo Concerto ou Antiga Aliança sempre que pretende guardar a Lei de Deus, i. é, desenvolver um caráter cristão por suas próprias forças, buscando forçar sua natureza humana pecaminosa a agir corretamente. Em outras palavras, sempre que tentamos vencer uma tentação, sem citar a Palavra de Deus, com fé em Seu poder criador e transformador, estamos na Antiga Aliança.
Por outro lado, todos os que, seguindo o exemplo de Jesus, registrado em Mateus 4, enfrentam toda tentação, cientes de que a Palavra [Jesus] tem poder de criar em suas mentes o conteúdo da citação, estão na Nova Aliança, entraram, portanto, no ‘descanso de Deus’ (Heb. 4), abandonando suas ‘obras da lei’, seus ‘trapos da imundícia’ (Isaías 64.6). Obviamente a ‘obediência por fé’ (Rom. 1.5) no poder criador da Palavra de Deus não se trata de ‘trapos da imundícia’ e, sim, das vestes ‘de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos.’ (Apoc. 19.8).
[8] Primeiro concerto ou antiga aliança de Êxodo 19 e 24, que “gera filhos para a escravidão” (Gal. 4:24).
[9] Como está claramente declarado, o Santuário Terrestre com suas ofertas sacrificais sempre fizeram parte do concerto abraâmico – o Novo Concerto – exclusivamente.
[10] Primeiramente os israelitas fizeram com Deus o Velho Concerto: "Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos." Êxo. 24:7. Em bem pouco tempo romperam tal aliança – por terem adorado o bezerro de ouro – e: (a) após reconhecerem os princípios do concerto abraâmico; (b) reconhecendo a santidade de Deus, (c) dando-se conta da excessiva pecaminosidade de seu próprio coração, (d) e de sua completa incapacidade para, por si mesmos, prestar obediência à lei de Deus, e (e) de sua necessidade de um Salvador fizeram, com o Senhor, um outro concerto: O concerto da graça, a Nova Aliança, em sua primeira fase, mediante as ordenanças da Lei Cerimonial, Santuário Terrestre, Sacerdotes, sacrifícios, etc. Depois de romperem o Velho Concerto, aceitaram o Concerto Abraâmico, que Deus lhes tinha proposto inicialmente. Frisemos: o Concerto Abraâmico também se intitula Velho Concerto, entretanto trata-se de outra realidade, integralmente diversa daquela que “gera para a escravidão,” de Ex. 19 e 24.
[11] Primeiro concerto ou antiga aliança de Êxodo 19 e 24.
[12] Jeremias viveu cerca de 900 anos após o Êxodo. Ao fazer a promessa de um ‘novo concerto’ com a ‘casa de Israel’ [a Igreja cristã], o Senhor estava Se referindo, sim, à segunda fase da Nova Aliança – a de após a cruz – ocasião em que haveria a substituição do Santuário Terrestre pelo Celestial; do sacerdócio segundo a ordem de Levi pelo Sacerdócio ‘segundo a ordem de Melquisedeque’ (Heb. 6.20) e dos sacrifícios de animais pelo sacrifício do Cordeiro de Deus.
Em Hebreus 8.7 lemos: “Porque, se aquela primeira aliança – antes da cruz – tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para segunda.” Note-se que o defeito estava na aliança, não no povo. E qual era o defeito senão este: “Porque é impossível que sangue de touros e de bodes remova pecados” (Heb. 10.4)!
[13] Quais são as duas dispensações, referidas acima? São as duas dispensações da Nova Aliança: a primeira – antes da cruz – e a segunda – depois da cruz! Em Hebreus, a ‘primeira’ fase, etapa ou dispensação da Nova Aliança é denominada por Paulo como Antiga Aliança; e a ‘segunda’ fase, etapa ou dispensação da Nova Aliança ele a denomina Nova Aliança.
Alguém poderia buscar entender que as duas dispensações, supra referidas, seriam aquela Antiga Aliança, que gera para a escravidão do pecado – Êxodo 19 e 24 – e a Nova Aliança, iniciada no Éden e que vai até o Éden restaurado, entretanto tal entendimento laboraria em equívoco.
[14] Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, pág. 367-373.