domingo, 22 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 38

283

As Promessas Para Israel

O Prometido Descanso

(Parte 1)

Eu mesmo irei contigo, e eu te darei descanso”. Êxo. 33:14.

Foi com essas palavras que Deus encorajou Moisés a conduzir o povo de Israel após terem tão ofensivamente pecado em confeccionar e adorar um bezerro de ouro.

O Repouso de Cristo

Em nosso estudo do descanso que Deus prometeu a Seu povo, será bom recordar que a promessa aqui registrada é idêntica à de Mat. 11:28: Descanso foi prometido e só poderia ser encontrado na presença de Deus, que acompanharia o Seu povo. Assim, Cristo, que é “Deus conosco” (Mat. 1:23), e que está conosco “todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mat. 28:20), diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. O descanso que foi oferecido aos filhos de Israel no deserto, é exatamente o mesmo descanso que Cristo oferece a toda a humanidade, descanso em Deus, nos braços eternos — pois o Filho Unigênito “está no seio do Pai” (João 1:18). “Como alguém a quem consola sua mãe, assim eu vos consolarei” (Isa. 66:13).

Mas Deus sempre esteve e está presente em toda parte; por que, então, nem todas as pessoas obtêm descanso? — Pela simples razão que como via de regra (284) os homens não reconhecem a Sua presença, nem mesmo a Sua existência. Em lugar de levar em conta a Deus em todas as situações da vida, a maioria das pessoas vive como se Ele não existisse. “Sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que O buscam” (Heb. 11:6). Isso revela que a incapacidade geral de agradar a Deus, e assim encontrar o descanso, deriva da descrença real quanto a Sua existência.

Como podemos saber que Deus existe? — Desde a criação do mundo as coisas invisíveis de Deus, a saber, Seu eterno poder e Divindade, têm sido claramente reveladas nas coisas que Ele criou (ver Rom. 1:20), de modo que aqueles que não O conhecem estão sem desculpa. É como Criador que Deus Se revela, pois o fato de que Ele cria O torna o Deus que tem existência própria e O distingue dos falsos deuses. “Porque grande é o Senhor, e digno de ser louvado; Ele é mais temível do que todos os deuses. Porque todos os deuses dos povos são ídolos; mas o Senhor fez os céus” )Sal. 96:4, 5). “Mas o Senhor é o verdadeiro Deus; Ele é o Deus vivo e o Rei eterno. . . . Os deuses que não fizeram os céus e a terra, esses perecerão da terra e de debaixo dos céus. Ele fez a terra pelo Seu poder; Ele estabeleceu o mundo por Sua sabedoria e com a Sua inteligência estendeu os céus” (Jer. 10:10-12). “O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra” (Sal. 121:2). “O nosso socorro está no nome do Senhor, que fez os céus e a terra” (Sal. 124:8). E se o descanso é achado só na presença de Deus, e Sua presença é verdadeiramente conhecida e apreciada somente mediante Suas obras, é evidente que o prometido descanso deve estar mui intimamente ligado à criação.

O Descanso e Herança Inseparáveis

Isto descobrimos ser o caso, pois o descanso e a herança sempre estiveram intimamente associados na promessa. Quando os filhos de Israel estavam sendo instruídos no deserto foi-lhes dito: “Não fareis conforme tudo o que hoje fazemos aqui, cada qual tudo o que bem lhe parece aos olhos. Porque até agora não entrastes no descanso e na herança que o Senhor vosso Deus vos dá; mas quando passardes (285) o Jordão, e habitardes na terra que o senhor vosso Deus vos faz herdar, Ele vos dará repouso de todos os vossos inimigos em redor, e morareis seguros. Então haverá um lugar que o Senhor vosso Deus escolherá para ali fazer habitar o Seu nome” (Deut. 12:8-11). Assim também Moisés declarou às tribos que tinham sua parcela na parte leste do Jordão: “O Senhor vosso Deus vos deu esta terra, para a possuirdes; vós, todos os homens valentes, passareis armados adiante de vossos irmãos, os filhos de Israel. Tão-somente vossas mulheres, e vossos pequeninos, e vosso gado . . . ficarão nas cidades que já vos dei; até que o Senhor dê descanso a vossos irmãos como a vós, e eles também possuam a terra que o Senhor vosso Deus lhes dá além do Jordão” (Deut. 3:18-20). O descanso e a herança são inseparáveis. Em Cristo, que é “Deus conosco”, encontramos descanso, “no qual também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito Daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade”. O Espírito Santo representa os primeiros frutos dessa herança até que a posse adquirida seja redimida. Efé. 1:10-14. “Tu, Senhor, és a porção da minha herança”. Ele é tanto o nosso descanso quanto nossa herança; tendo a Ele, temos tudo.

Já vimos os filhos de Israel na terra da promessa; a terra, e, portanto, o descanso, era deles, pois lemos esta declaração do que era verdadeiro nos dias de Josué:--

“Desta maneira deu o Senhor a Israel toda a terra que, com juramento, prometera dar a seus pais; e eles a possuíram e habitaram nela. E o Senhor lhes deu repouso de todos os lados, conforme tudo quanto jurara a seus pais; nenhum de todos os seus inimigos pôde ficar de pé diante deles, mas a todos o Senhor lhes entregou nas mãos. Palavra alguma falhou de todas as boas coisas que o Senhor prometera à casa de Israel; tudo se cumpriu”. Josué 21:43-45.

Josué Recapitula a Fidelidade de Deus

Mas se nos detivéssemos aqui cairíamos em grave erro. Passando por um capítulo chegamos ao registro onde Josué disse a “todo o Israel” (286) e anciãos e juízes, etc., “Passados muitos dias, tendo o Senhor dado repouso a Israel de todos os seus inimigos em redor” (*Josué 23:1, 2). Após recordar-lhes do que o Senhor havia feito por eles, declarou: --

“Vede que vos reparti por sorte estas nações que restam, para serem herança das vossas tribos, juntamente com todas as nações que tenho destruído, desde o Jordão até o grande mar para o pôr do sol. E o Senhor vosso Deus as impelirá, e as expulsará de diante de vós; e vós possuireis a sua terra, como vos disse o Senhor vosso Deus. Esforçai-vos, pois, para guardar e cumprir tudo quanto está escrito no livro da lei de Moisés, para que dela não vos desvieis nem para a direita nem para a esquerda; para que não vos mistureis com estas nações que ainda restam entre vós; e dos nomes de seus deuses não façais menção, nem por eles façais jurar, nem os sirvais, nem a eles vos inclineis. Mas ao Senhor vosso Deus vos apegareis, como fizeste até o dia de hoje; pois o Senhor expulsou de diante de vós grandes e fortes nações, e, até o dia de hoje, ninguém vos tem podido resistir. um só homem dentre vós persegue a mil, pois o Senhor vosso Deus é quem peleja por vós, como já vos disse. Portanto, cuidai diligentemente de amar ao Senhor vosso Deus. Porque se de algum modo vos desviardes, e vos apegardes ao resto destas nações que ainda ficam entre vós, e com elas contrairdes matrimônio, e entrardes a elas, e elas a vós, sabei com certeza que o Senhor vosso Deus não continuará a expulsar estas nações de diante de vós; porém elas vos serão por laço e rede, e açoite às vossas ilhargas, e espinhos aos vossos olhos, até que pereçais desta boa terra que o Senhor (287) vosso Deus vos deu. Eis que vou hoje pelo caminho de toda a terra; e vós sabeis em vossos corações e em vossas almas que não tem falhado uma só palavra de todas as boas coisas que a vosso respeito falou o Senhor vosso Deus; nenhuma delas falhou, mas todas se cumpriram. E assim como vos sobrevieram todas estas boas coisas de que o Senhor vosso Deus vos falou, assim trará o Senhor sobre vós todas aquelas más coisas, até vos destruir de sobre esta boa terra que ele vos deu” (Josué 23:4-15).

O Descanso Assegurado Somente na Fé

Nesta porção das Escrituras temos evidência adicional de que a herança é o prometido descanso. É-nos dito claramente que Deus havia dado descanso a Israel e essa conversa é de muito tempo após isso; contudo, nesse mesmo discurso foram-lhes expostas as condições sob as quais poderiam com certeza obtê-lo, e sob as quais os inimigos que ainda estavam na terra seriam expulsos. Tudo dependia da fidelidade de Israel a Deus. Se eles recuassem de servir ao Senhor indo após outros deuses, então saberiam com certeza que Deus não mais expulsaria as nações remanescentes de diante deles, mas aquelas nações iriam continuamente perturbá-los, e o Senhor os destruiria completamente de sobre a face da terra que lhes havia confiado.

Agora, como podiam os filhos de Israel ser informados de que teriam descanso de todos os seus inimigos, e ter a terra sob sua posse, quando esses inimigos ainda estavam na terra, com possibilidade de poderem até expulsá-los de lá, em vez de serem expulsos? As Escrituras mesmas fornecem a resposta. Por exemplo, quando todos os reis dos amorreus ameaçaram os gibeonitas, que estavam em associação com os israelitas, o Senhor disse a Josué: “Não os temas, porque os entreguei na tua mão; nenhum deles te poderá resistir” (Josué 10:8). O que fez então Josué?—ele saiu e os tomou. Ele não ficou em dúvida, meditando, “Não vejo qualquer evidência de que o Senhor os entregou nas nossas mãos, pois não os tenho”, nem tolamente disse, “Uma vez que o Senhor os entregou nas minhas mãos, posso dispensar minhas forças e sossegar”. Em qualquer dos casos ele seria derrotado, mesmo depois de Deus ter-lhe assegurado vitória. Por sua atividade Josué demonstrou que realmente cria no que o Senhor dizia. A fé opera e continua a operar.

(288) Desse modo foi dito ao povo que Deus lhes havia concedido a vitória, enquanto ao mesmo tempo permaneciam fora dos elevados muros punham barreiras aos portões de Jericó. Era verdade que Deus lhes tinha dado a vitória, contudo, dependia só deles. Se tivessem recusado clamar, nunca teriam visto a vitória.

Em Cristo temos o descanso e a herança, mas a fim de sermos tornados participantes de Cristo, devemos guardar “firme até o fim a nossa confiança inicial” (Heb. 3:14). Jesus diz: “No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16:33). Entretanto, no mesmo discurso Ele declarou: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou” (João 14:27). O quê! Paz em meio a tribulações?! Sim, pois atentem ao que Ele também diz: “não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”. Ter tribulação, contudo não ser atribulado; estar no meio do perigo, porém não temer; estar no fragor da batalha, contudo desfrutar perfeita paz — verdadeiramente essa é uma concessão muito diferente da que o mundo dá.

A Guerra Já Cumprida

Ouçam à mensagem que o profeta Isaías foi comissionado a dar a Israel quando estavam passando pelas experiências mais probantes, uma mensagem que nos toca até mais do que aos homens que vivem quando foi proferida: “Consolai, consolai o Meu povo, diz o vosso Deus. Falai benignamente a Jerusalém, e bradai-lhe que já a sua malícia é acabada, que a sua iniquidade está expiada e que já recebeu em dobro da mão do Senhor, por todos os seus pecados” (Isa. 40:1, 2). Gloriosa certeza! A guerra já está cumprida, a batalha finda, a vitória conquistada! Concluiremos então que podemos ir dormir em segurança? De modo nenhum; precisamos estar despertos e fazer uso da vitória que o Senhor obteve por nós. O conflito é contra os principados e potestades, Efé. 6:12, mas Jesus tem “despojado os principados e potestades” e “os exibiu publicamente” (Col. 2:15), e foi assunto ao céu para assentar-Se em lugares celestiais, “muito acima de todo principado, e autoridade, e poder, e domínio, e de todo nome (289) que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro” (Efé. 1:20, 21); e Deus também nos ergueu com Ele para assentar-nos nos mesmos lugares celestiais, Efé. 2:1-6, e, consequentemente, de modo igual sobre todo principado e potestade e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro. Podemos, destarte, e certamente devemos dizer, de coração, “graças a Deus que nos dá vitória em Cristo Jesus”.1

Lições dos Salmos

Davi entendeu essa vitória e nela se regozijou. Ele foi caçado como um pássaro nas montanhas. Contudo, uma vez ele estava oculto numa caverna no deserto de Zife, e os zifeus foram até Saul e traiçoeiramente lhe revelaram o seu esconderijo, e disseram: “Agora, pois, ó rei, desce apressadamente, conforme todo o desejo da tua alma; a nós nos cumpre entregá-lo nas mãos do rei” (1ª Samuel 23:15-20). Não obstante, Davi sabendo de tudo isso tomou a sua harpa e compôs um salmo de louvor, dizendo: “De livre vontade Te oferecerei sacrifícios; louvarei o Teu nome, ó Senhor, porque é bom. Porque Tu me livraste de toda a angústia; e os meus olhos viram a ruína dos meus inimigos” (Sal. 54:6, 7). Leiam o salmo completo, inclusive sua introdução. Assim, ele pôde cantar: “Ainda que um exército se acampe contra mim, o meu coração não temerá” (Sal. 27:3). O terceiro salmo com suas expressões de firme confiança em Deus, e sua nota de vitória, foi composto enquanto ele era um refugiado de seu trono, fugindo de Absalaão.2 Precisamos aprender o Salmo vinte e três de modo a que não nos sejam meras palavras vazias quando dizemos, “Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos; unges com óleo a minha cabeça, o meu cálice transborda”.

O Homem Forte Vence

A vitória que tem vencido o mundo é a nossa fé.3 Oh, se pudéssemos reconhecer e sempre ter em mente o fato de que a vitória já está (290) conquistada; que Cristo, o Poderoso, veio sobre o homem forte, nosso adversário e opressor, e o derrotou, removendo dele toda armadura em que confiava de modo que temos de lutar somente com um inimigo vencido e desarmado. A razão por que somos vencidos é por não crermos, e sabemos desse fato. Se soubermos e nos lembrarmos disso nunca cairemos; pois quem seria tão tolo para permitir-se ser levado cativo por um inimigo sem armadura e sem força?

Quantas das bênçãos que o Senhor nos tem dado são perdidas simplesmente porque nossa fé não as agarra. Quantas bênçãos Ele não nos tem concedido: — “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo” (Efé. 1:3). “O Seu divino poder nos tem dado tudo o que diz respeito à vida e à piedade, pelo pleno conhecimento d’Aquele que nos chamou por Sua própria glória e virtude” (2ª Ped. 1:3). Não obstante, a despeito do fato de que todas as coisas são nossas, 1ª Cor. 3:21, amiúde agimos como se nada tivéssemos. Um homem, professor de religião e um líder na igreja, certa vez disse quando esses textos lhe foram citados para incentivá-lo: “Se Deus me deu todas essas coisas, por que não as possuo?” Sem dúvida haverá muitos que verão retratada sua própria experiência nessa indagação. A resposta era fácil; isso se dava porque ele não cria que Deus lhe tinha concedido isso. Ele não podia sentir que as possuía, daí que não cria que delas tinha posse: é a fé que deve agarrá-las, então um homem não pode esperar ser capaz de sentir algo que ele não toque. A vitória não é dúvida, nem visão, nem sentimento, mas fé.

O tema do Descanso Prometido será concluído na próxima semana.

-- The Present Truth, 21 de janeiro de 1897.


Nota destas edição:

1) 1ª Cor. 15:57;

2) Sendo perseguido Davi repousou: “Eu me deitei e dormi; acordei porque o Senhor me sustentou. Não temerei dez milhares de pessoas que se puseram contra mim e me cercaram” (Salmo 3: 5 e 6);

3) 1ª João 5:4, ú.p.