O Concerto Eterno, capítulo 8.
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O Chamado de Abraão
O Concerto Selado (Parte 2)
O sinal da circuncisão
E agora precisamos levar um pouco adiante o estudo do selo do concerto, qual seja, a circuncisão. O que significa e o que realmente é? Aprendemos que ele significa justificação pela fé. Foi dado a Abraão como um sinal de posse de tal justificação, ou, como uma garantia de que ele fora “aceito no Amado, em quem temos a redenção pelo Seu sangue, o perdão dos nossos pecados, segundo as riquezas da Sua graça”. Efé. 1:6, 7. O que realmente é a circuncisão pode ser aprendido da seguinte passagem:
“Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se guardares a lei; mas se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão tem-se tornado
(72) A circuncisão era o sinal da justificação pela fé. Essa justificação, porém, é a requerida pela lei de Deus. A circuncisão nunca teve qualquer valor a menos que a lei fosse observada. De fato, a observância da lei é verdadeira circuncisão. Mas o Senhor requer a verdade nas partes interiores. Uma demonstração exterior, sem justiça íntima, é para Ele uma abominação. A lei deve estar no coração para lá ser real circuncisão. Mas a lei pode estar no coração somente pelo poder do Senhor mediante o Espírito. “A lei é espiritual” (Rom. 7:14), ou seja, é da natureza do Espírito Santo, e a lei pode somente estar no coração quando ali habite o Espírito de Deus. A circuncisão, pois, não é nada mais do que o sela mento da justificação no coração pelo Espírito Santo. Isso foi o que Abraão recebeu. Sua circuncisão era o selo da justificação pela fé que ele possuía. Mas a justificação pela fé era aquilo pela qual ele herdaria a possessão prometida. Portanto, a circuncisão era o juramento de sua herança. Agora, lemos o texto seguinte:
“Em quem temos a redenção pelo Seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da Sua graça ... em quem também obtivemos uma herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito dAquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade; com o fim de sermos para louvor da Sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo; em Quem vós também confiastes, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nEle também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da Sua glória”. Efé. 1:7-14.
A palavra da verdade é o Evangelho da salvação. Quando cremos no Evangelho, somos selados pelo Espírito Santo, e esse selo é o penhor de nossa herança, até ser esta concedida por ocasião da vinda do Senhor. Abraão tinha, portanto, o Espírito Santo como penhor da herança que lhe fora prometida. A posse do Espírito mostra que temos direito à herança, porque o Espírito traz justiça, e a herança é uma de justiça. A justiça, e esta somente, habitará na nova Terra.
Em harmonia com o texto acima, temos também o seguinte: “E estais perfeitos nEle [Cristo], que é a cabeça de todo (73) principado e potestade; no qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mãos, no despojar do corpo da carne, a circuncisão de Cristo”. Col. 2:10, 11.
A promessa de Deus a Abraão havia sido feita muito antes do tempo do qual estamos escrevendo: a feitura do concerto está registrada no décimo quinto capítulo de Gênesis. Mas após o concerto ter sido feito, Abraão incorreu no erro registrado no capítulo décimo sexto. Ele viu o seu erro, e arrependeu-se do mesmo, voltando-se novamente ao Senhor em plena fé, com o que recebeu a garantia de perdão e aceitação; e circuncisão lhe foi dada como um lembrete disso.
As passagens que lemos no Novo Testamento com respeito à circuncisão não são a declaração de algo novo. A circuncisão sempre foi o que ali é dito que representa. Sempre significou justiça no coração, e não tinha qualquer significado quando quer que essa justiça estivesse ausente. Isso é plenamente indicado em Deu. 30:5, 6: “o Senhor teu Deus te trará à terra que teus pais possuíram, e a possuirás; e te fará bem, e te multiplicará mais do que a teus pais.E o Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, a fim de que ames ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma, para que vivas”.
Por que o Sinal Exterior?
Surge naturalmente a indagação, por que o sinal exterior da circuncisão foi dado a Abraão, se ele já era detentor de tudo quanto estava nele implícito? Uma vez que a circuncisão é a do coração, operada pelo Espírito, e nada mais é senão a posse da justiça da fé, e Abraão contava com isso antes de ter recebido o sinal da circuncisão, por que o sinal foi dado?
É uma pergunta razoável e felizmente pode ser respondida com facilidade. O leitor primeiro notará, contudo, que aquilo que Abraão recebeu é chamado em Rom. 4:11 de “sinal da circuncisão”. A circuncisão real ele já possuía. Em harmonia com isso há a declaração de que aquilo que havia na carne, feita por mãos, era apenas “chamada circuncisão”. Efé. 2:11. Não era circuncisão de fato.
(74) Agora, a razão por que esse sinal foi dado, que era somente um sinal, e que nada trouxe a seu possuidor, e que era um sinal falso, a menos que a justificação pela fé estivesse no coração, será visto quando considerarmos o que teve lugar após o concerto ter sido estabelecido com Abraão. Ele havia entrado num arranjo, cujo objeto era pôr em execução a promessa do Senhor. Abraão e Sara criam que a promessa era para ser deles, mas pensaram que podiam pô-la
Isso serviu também com o mesmo propósito para os seus descendentes. Era para ser mantido continuamente perante eles o erro do seu pai Abraão, e para alertá-los contra cometerem erro semelhante. Era para mostrar-lhes que “a carne nada aproveita”. Em tempos posteriores eles perverteram o sinal, presumindo que a posse do mesmo era garantia de sua justiça, observassem a lei ou não. Confiavam que aquilo lhes trazia justiça, e os tornavam os favoritos peculiares do Senhor. Mas o apóstolo Paulo demonstrou a verdade a respeito da questão, dizendo: “Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos
— The Present Truth, 25 de junho de 1896.