domingo, 1 de agosto de 2010

O Concerto Eterno, Capítulo 4.

O Concerto Eterno, capítulo 4.

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O Chamado de Abraão - 2

Edificando um Altar

Por onde quer que Abraão andasse, construía um altar ao SENHOR. Ao você ler isso, lembre-se de que a promessa de que todas as nações seriam abençoadas em Abraão, incluía até mesmo famílias. A religião de Abraão era uma religião da família. O altar da família nunca foi negligenciado em seu lar. Isto não é uma figura de linguagem vazia, mas vem da prática dos pais, a quem foi feita a promessa; e da qual compartilhamos se formos da fé e prática deles.

Um Exemplo para os Pais

Deus disse a Abraão: “Porque Eu o tenho conhecido e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho do SENHOR, para agir com justiça e juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado” (Gênesis 18:19).

Preste atenção nas palavras: “ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho do SENHOR, para agir com justiça e juízo”. Ele não simplesmente ordenaria que agissem, deixando o assunto quieto; mas Ele os ordenaria, e o resultado seria que guardariam o caminho do SENHOR. Seu ensinamento seria eficiente.

(46) Nós podemos estar certos de que os mandamentos de Abraão a seus filhos e a seu lar não eram severos nem arbitrários. Nós os compreenderemos melhor se considerarmos a natureza dos mandamentos de Deus. Eles “não são pesados.” “O Seu mandamento é a vida eterna.”1 Aquele que pensa seguir o exemplo de Abraão ao comandar sua família, com regras duras e arbitrárias, e agindo como um juiz severo, ou um tirano, fazendo ameaças do que irá fazer, se suas instruções não forem obedecidas, e executando suas leis, não no espírito de Amor, por que são corretas, mas por que ele é mais forte que seus filhos, e porque os tem sob o seu poder, necessita muito aprender do Deus de Abraão. “E vós, pais, não provoqueis à ira vossos filhos, mas criai-os na doutrina e na admoestação do SENHOR.” (Efésios 6:4).

Ao mesmo tempo devemos estar certos de que os mandamentos não sejam como os de Eli, repreensões fracas e impertinentes a seus maus e indignos filhos: “Por que fazeis tais coisas? Pois ouço de todo este povo os vossos malefícios. Não, filhos meus, porque não é boa esta fama que ouço.” (I Samuel 2:23 e 24). Juízo veio sobre ele e sua casa, “porque, fazendo-se os seus filhos execráveis, não os repreendeu.” (I Samuel 3:13). Por outro lado, Abraão transmitiu uma bênção para toda eternidade, porque os mandamentos, que deu a seus filhos, tinham poder refreador.

Abraão devia ser uma bênção para todos os povos. Por onde ele ia, era uma bênção. Mas essa bênção começou em sua família. Ela era o centro. Do círculo familiar a influência celestial chegou a seus vizinhos. E agora bem podemos prestar atenção particular à afirmação de que quando Abraão edificou um altar, “invocou o nome do SENHOR”. (Gênesis 12:8, 13:4). Na versão do Dr. Young, esse texto é assim traduzido: “Ele pregou em nome de Jeová”. Sem chamar atenção para os vários lugares, onde a mesma expressão é encontrada, é bom notar-se que os termos hebraicos são idênticos com os usados em Êxodo 35:5, onde lemos que o SENHOR desceu na nuvem, e Se pôs ao lado de Moisés, “e proclamou o nome do SENHOR”. Nós podemos, portanto, compreender que quando Abraão erigiu o altar da família, ele não somente ensinou sua família imediata, mas ele “proclamou o nome do SENHOR” a todos em volta dele. Como Noé, Abraão era um (47) “pregador de justiça”. (II Pedro 2:5). Como Deus pregou o evangelho a Abraão, assim Abraão pregou o evangelho a outros.

Abraão e Ló

“E era Abrão muito rico em gado, em prata e em ouro”. “E também Ló, que ia com Abrão, tinha rebanhos, gado e tendas. E não tinha capacidade a terra para poderem habitar juntos, porque os seus bens eram muitos; de maneira que não podiam habitar juntos. Houve contenda entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló; e os cananeus e os ferezeus habitavam então a terra. Disse Abrão a Ló: Ora, não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos irmãos.” (Gênesis 13:2, 5-8).

Quando entendemos a natureza da promessa de Deus a Abraão, podemos compreender o segredo de sua generosidade. Suponha que Ló escolhesse a melhor parte do país; isso não faria diferença para a herança de Abraão: Tendo a Cristo, ele tinha todas as coisas. Ele não olhava para suas possessões na vida presente, mas na vida futura. Aceitaria com gratidão qualquer prosperidade que o SENHOR lhe enviasse; porém, se suas riquezas nesta vida fossem pequenas, isso não diminuiria a herança que lhe foi prometida.

Não há nada como a presença e bênção de Cristo para pôr fim a todas as disputas, ou para evitá-las. Na ação de Abraão, temos um verdadeiro exemplo cristão. Como o mais idoso, poderia ter feito prevalecer sua dignidade e exigido seus “direitos”. Mas não poderia fazer tal como cristão. O Amor não busca os seus interesses.2 Abraão manifestou o verdadeiro espírito de Cristo. Quando os professos cristãos são ávidos em agarrar as coisas deste mundo, e temem ser privados de alguns de seus direitos, mostram indiferença para com a herança eterna que Cristo oferece.

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A Promessa Repetida

A cortesia cristã de Abraão, a qual era o resultado de sua fé na promessa por Cristo, era reconhecida pelo SENHOR. Lemos:

“Disse o SENHOR a Abrão, depois que Ló se apartou dele: Levanta agora os teus olhos, e olha desde o lugar onde estás, para o lado do norte, e do sul, e do oriente e do ocidente; Porque toda essa terra que vês, Eu hei de dar a ti, e à tua descendência, para sempre. E farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que se alguém puder contar o pó da terra, também a tua descendência será contada. Levanta-te, percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura; porque a ti a darei.” (Gênesis 13:14-17).

Não nos esqueceremos que “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo.” (Gálatas 3:16). Não existe outra descendência de Abraão fora de Cristo e os que são dEle. Portanto, essa incontável prosperidade que foi prometida a Abraão é idêntica à falada na passagem da Escritura:

“Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro”. “E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de vestes brancas, quem são, e de onde vieram? E eu disse-Lhe: SENHOR, tu sabes. E Ele disse-me: Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro.” (Apocalipse 7:9 -10, 13 -14).

Já aprendemos que a bênção de Abraão vem a todas as nações por meio da cruz de Cristo, assim que, na declaração de que esta inumerável multidão lavou suas vestes e as alvejou no sangue do Cordeiro, vemos o cumprimento da promessa (49) a Abraão, de uma descendência inumerável. “E, se sois de Cristo, então sois descendentes de Abraão e herdeiros conforme a promessa.” (Gálatas 3:29).

O leitor deve observar na repetição da promessa, no capítulo 13 de Gênesis, que a terra se destaca proeminentemente. Vimos no estudo anterior, e devemos encontrá-lo como aspecto fundamental da promessa onde quer que ela apareça.

Abraão e Melquisedeque

A breve história de Melquisedeque forma um elo que une a nós e o nosso tempo mais proximamente com Abraão e o seu tempo, e mostra que a “dispensação cristã”, como é chamada, existiu nos dias de Abraão tanto quanto agora.

O capítulo 14 de Gênesis nos diz tudo o que nós sabemos de Melquisedeque. O capítulo 7 de Hebreus repete a história, e faz alguns comentários sobre ela. Além disto, temos referências a Melquisedeque no sexto capítulo e em Salmo 110:4.

A história é esta: Abraão estava voltando de uma expedição contra os inimigos, que haviam sequestrado Ló, quando Melquisedeque o encontrou, trazendo pão e vinho. Melquisedeque era rei de Salém, e sacerdote do Deus Altíssimo. Neste ofício ele abençoou Abraão, que lhe deu um décimo do despojo que tinha recuperado. Esta é a história, mas dela há algumas importantes lições a se tirar.

Em primeiro lugar vemos que Melquisedeque era um homem mais importante do que Abraão, porque, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior” (Hebreus 7:7) e também porque Abraão lhe deu o dízimo de tudo.

Era um tipo de Cristo, e era como Ele: semelhante ao Filho de Deus. Ele era um tipo de Cristo, sendo ao mesmo tempo rei e sacerdote. Seu nome significa rei de justiça”,”3 e depois também rei de Salém, que é rei de paz”; assim que, não era apenas sacerdote, mas rei de justiça e rei de paz. Assim de Cristo é dito: “Disse o SENHOR ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que ponha os teus (50) inimigos por escabelo dos teus pés.” “Jurou o SENHOR, e não se arrependerá: Tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque” (Salmo 110:1, 4). E o nome pelo qual Ele será chamado é O SENHOR JUSTIÇA NOSSA (Jeremias 23:6).

O sacerdócio real de Cristo é assim estabelecido nas Escrituras: “E dize-lhe: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Eis aqui o Homem cujo nome é RENOVO; Ele brotará do Seu lugar e edificará o templo do SENHOR. Ele mesmo edificará o templo do SENHOR e levará a glória; assentar-Se-á no Seu trono e dominará, e será sacerdote no Seu trono; e conselho de paz haverá entre ambos os ofícios” (Zacarias 6:12 -13). O poder pelo qual Cristo, como sacerdote, faz reconciliação pelos pecados do povo, é o poder do trono de Deus, no qual Ele Se assenta.

Mas o ponto principal, em relação a Melquisedeque, é que Abraão viveu sob a mesma “dispensação” que nós vivemos. O sacerdócio era o mesmo que agora. Não somente somos nós os filhos de Abraão, se somos da fé, mas o nosso grande Sumo Sacerdote, que subiu aos céus, é, pelo juramento de Deus, feito Sumo Sacerdote para sempre “segundo a ordem de Melquisedeque”. Assim em um duplo sentido, é mostrado que “Se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.”4 “Abraão, vosso pai, exultou por ver o Meu dia, e viu-o, e alegrou-se.” (João 8:56).

Abraão foi assim um cristão tanto quanto qualquer um que tenha, em qualquer época, vivido desde a crucificação de Cristo. “Os discípulos foram chamados cristãos primeiramente em Antioquia.” (Atos 11:26). Mas os discípulos não eram diferentes depois de serem chamados cristãos, do que eles eram antes. Quando eram conhecidos simplesmente como judeus, eles eram cristãos, tanto quanto depois de serem chamados assim. O nome é apenas de pouca importância. O nome “cristãos” foi dado a eles porque eram seguidores de Cristo; mas eles eram seguidores de Cristo antes de serem chamados cristãos, tanto quanto o foram depois. Abraão, centenas de anos antes dos dias de Jesus de Nazaré, foi exatamente o que os discípulos foram na Antioquia onde chamaram-nos cristãos; ele foi um seguidor de Cristo. Assim ele foi, no mais completo sentido da palavra, um cristão. Todos os cristãos, e ninguém mais, são filhos de Abraão.

(51) O leitor há de notar que, no sétimo capítulo de Hebreus, somos referidos ao caso de Abraão e Melquisedeque como prova de que o pagamento de dízimos não é uma ordenança levítica. Muito antes de Levi ter nascido, Abraão pagou dízimos. E os pagou, também, a Melquisedeque, cujo sacerdócio era um sacerdócio cristão. Portanto, os que são de Cristo, e assim filhos de Abraão, darão também dízimo de tudo.

Notar-se-á que o dízimo era algo muito bem conhecido nos dias de Abraão. Ele deu os dízimos ao sacerdote de Deus como uma prática usual. Ele reconheceu o fato de que o dízimo é do SENHOR. Este registro em Levítico não é a origem do sistema do dízimo, mas simplesmente a declaração de um fato. Até mesmo a ordem levítica por meio de Abraão, até Levi, ... pagou dízimos.”5 Não nos é dito quando foi, pela primeira vez, tornado conhecido ao homem, mas vemos que a prática era bem conhecida nos dias de Abraão. No livro de Malaquias, que está especialmente dirigido àqueles que vivem justamente “antes que venha o grande e terrível dia do SENHOR”6 nos diz que aqueles que retém os dízimos estão roubando ao SENHOR.7

O argumento é muito simples: Abraão deu dízimos a Melquisedeque; o sacerdócio de Melquisedeque é um sacerdócio pelo qual vêm justiça e paz; é o sacerdócio pelo qual somos salvos. Abraão deu dízimos a Melquisedeque porque Melquisedeque era o representante do Deus Altíssimo, e o dízimo é do SENHOR. Se somos de Cristo, somos filhos de Abraão; e, portanto, se não somos filhos de Abraão, então não somos de Cristo. Mas, se somos filhos de Abraão, temos de fazer as obras de Abraão. De quem somos?

Um outro ponto não pode ser desprezado. O leitor cuidadoso raramente falhará em descobrir o fato de que Melquisedeque, que era rei de justiça e paz, e sacerdote do (52) Deus Altíssimo, trouxe a Abraão pão e vinho, os emblemas do corpo e sangue de nosso SENHOR. Pode-se dizer que o pão e o vinho tinham por objetivo o refrigério de Abraão e seu séquito. No entanto, isso em nada diminui o significado do fato. Melquisedeque veio em seu ofício de rei e sacerdote, e Abraão o reconheceu como tal. Note a conexão em Gênesis 14:18 e 19: “Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era sacerdote do Deus Altíssimo. E abençoou-o e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra”. É inteiramente evidente que o pão e o vinho, que Melquisedeque trouxe, adquiriu significado especial pelo fato de que ele era sacerdote do Deus Altíssimo. Os judeus no tempo de Cristo zombaram da afirmação de que Abraão se exultou por ver o Seu dia.8 Eles não podiam ver evidência alguma deste fato. Podemos nós ver, neste relato, uma evidência de que Abraão viu o dia de Cristo, que é o dia da salvação?

The Present Truth, 28 de maio de 1896

Notas desta edição:

1) I João 5:3, e João 12:50;

2) I Coríntios 13:5;

3) Hebreus 7:3, 2;

4) Gálatas 3:29;

5) Hebreus 7:9;

6) Malaquias 4:5 e 3:8 e 9;

7) Deve ser entendido que nenhum homem, nem poder humano algum, nem a igreja, nem o Estado, têm nada a ver com obrigar o povo a devolver o dízimo. “O dízimo ... é do Senhor” (Levítico 27:30), e somente com Ele as pessoas têm que ver este assunto dos dízimos. Os dízimos não pertencem ao estado, nem tem o estado o direito de os arrecadar para o Senhor. Se uma pessoa vai devolver o dízimo para o Senhor ou não, é um assunto para ela sozinha decidir, tanto quanto se vai ou não adorar a Deus, se vai guardar o Sábado ou não, etc. (esta nota é da edição Glad Tidings Publishers, Berrien Springs, MI., 2002).

8) João 8:56;